37 Habacuque

 Habacuque

Uvas, Frutas, Alimentos, Vinho, Planta

 

Introdução[1]

1.Talvez perguntemos se Deus faz alguma coisa contra as injustiças, principalmente, ao ler os profetas, pois são relatadas tantas injustiças e violências. O perverso está sempre prosperando, enquanto o justo está sempre sofrendo. Os fiéis oram, mas parece que não resolve... Estes problemas são levantados e resolvidos no livro do profeta Habacuque.

2.Habacuque, que significa “abraço” é o autor do livro. Profetizou a Judá quanto à invasão da Babilônia

(1.6). Habacuque amava, de fato, a nação de Judá. É provável que Habacuque fosse um levita e músico (3.19). Habacuque estava, sim, perplexo com os acontecimentos, vendo seu povo ser levado ao cativeiro babilônico, porém, ele não se perde em filosofias humanas e autocomiseração, pelo contrário, espera do próprio SENHOR a resposta (2.1).

 

3.O livro foi escrito aproximadamente em 610 a.C. Talvez 607 a.C. no começo do reinado de Jeoaquim.

 

4.Algumas coisas acontecerão e é só esperar. Este era o caso da invasão que Judá sofreria. Habacuque sentia-se angustiado, sabendo como profeta e, também, como observador que Judá seria uma das próximas presas da Babilônia (1.6-11 e 3.16). A Babilônia ganhou independência da Assíria em 626 a.C., em 612 a.C. destruiu Nínive, em 605 a.C. derrotou os egípcios e no mesmo ano invadiu Judá e em 587 a.C. assolou Jerusalém, queimando-a.

 

5.Habacuque começa o livro cheio de dúvidas, mas termina com certeza e confiança em Deus, tudo porque decidiu “ir à fonte” para saber de tudo o que estava acontecendo. Habacuque amava a justiça e sabia que o povo de Deus estava longe de Seus caminhos e precisava de julgamento (1.2-4), mas Habacuque, talvez não aceitava que o julgamento viesse da Babilônia, uma nação que não reconhecia NINGUÉM ou NADA acima de si e que tem o seu próprio poder como seu deus (1.7,11). Por isso, Habacuque está confuso: se alguém tem que disciplinar o seu povo, este deve ser o próprio Senhor, que é Santo. Babilônia, pensava Habacuque, foi feita para receber a disciplina de Deus (1.12).

 

6.Deus não precisa responder a ninguém, pois TUDO o que Ele faz é perfeito em Santidade e poder, mas mesmo assim, pacientemente Deus responde a Habacuque, mas a resposta limita-se a incentivar o profeta a confiar em Deus, pois no tempo certo Babilônia, também, será julgada (2.3-4).

 

7.Alguns eruditos discordam da tradução feita em 2.2, onde diz “para que possa ler até quem passa correndo”. A tradução correta, dizem os estudiosos, é a seguinte: “para que possa correr aquele que a ler”. Outros acham que se tratava de um cartaz enorme, sendo possível qualquer um ler, até quem estivesse correndo (compare com Zc 2.4-5). O capítulo três é dedicado ao serviço do Templo, endereçado ao músico (3.19).

 

8.Habacuque clama por justiça, assim como os mártires da Tribulação clamarão no céu, na Presença de Deus (Hc 1.2, Ap 6.10). A resposta para ambos é a mesma: Espere o tempo certo (Hc 1.5 e Ap 6.11).

 

9.Longe de Deus todos somos assim, iguais aos babilônios:

 

  1)Agressores injustos (2.6-8)

  2)Justificadores próprios dos maus caminhos (2.9-11)

  3)Assassinos em troca de vantagens pessoais (2.12-14)

  4)Enganadores (2.15-17)

  5)Confiantes nos ídolos (2.18-19)

 

10.Esboço simples

 

  I.O profeta perplexo (1)

 II.O profeta observando e esperando (2)

III.O profeta adorando (3)


Capítulo 1: Quando a disciplina vem de um instrumento indigno

1.Estar debaixo de um julgamento é diferente que ser sentenciado. Enquanto há julgamento, é possível provar inocência das acusações. A sentença é a palavra final sobre o julgamento. A nação de Judá teve o seu tempo de arrependimento, mas não aproveitou e, por isso, estava sentenciada a 70 anos de cativeiro na Babilônia. Alguns anos antes, a nação de Israel (o reino do norte) já havia recebido a sentença e foi cativo entre os assírios. Pecadores não salvos deviam se arrepender hoje, enquanto estão sob a condenação e julgamento de Cristo Jesus. Um dia será tarde demais e este dia pode ser hoje também. Crentes que estão em rebeldia contra o Senhor devem, da mesma maneira, se arrependerem hoje, confessando seus pecados e recebendo a purificação do Espírito Santo. Esta sentença não é invenção humana de algum pessimista, antes é a própria revelação de Deus para o profeta Habacuque. Se Deus sentencia pessoas, tanto crentes quanto incrédulos, não devemos zombar Dele, mas suplicar por Sua misericórdia para acharmos socorro. Nenhum pregador de uma mensagem severa deve sentir-se à vontade, mas sempre constrangido e em conflito entre a justiça de Deus e o amor pelos incrédulos e pelos crentes em desobediência (v.1).

 

2.Habacuque sentia-se abandonado por Deus diante de tanta violência. Conviver com a violência resulta em duas reações. Medo que também gera desconfiança e que gera solidão ou vingança que gera mais violência. Mas há outra saída diante da violência, que é o clamor a Deus. Ele ouve, mas Ele quer fazer-nos ver o quanto estamos interessados. É comum ver pessoas preocupadas com a violência apenas quando sofrem algum tipo de violência contra a sua própria vida. Mas o crente deve orar pelo seu bairro, cidade, Estado, país e pelo mundo, pois a violência é universal e qualquer um de nós pode, algum dia, ser vítima de um ato violento. Existe a violência explícita, mas existe a violência que embora não seja nada sutil, infelizmente é tolerada e quase ninguém se importa, como por exemplo, espancar filhos, mulher, bater ou chutar a porta, quebrar a louça por raiva, etc. A violência entre os crentes pode ocorrer no simples fato de levantar a voz ou apontar o dedo. Sim, entre o povo de Deus há violência, talvez não tão explícita como entre os incrédulos. Deus precisa vir em socorro e devemos clamar por isto (v.2).

 

3.O profeta está num conflito tão grande que, por ele mesmo, preferia não ver o que estava diante dele. Deus permite que o crente verdadeiro veja a iniquidade e a opressão com algum objetivo. Cada vez mais as pessoas não se importam e cada vez mais acham tudo normal. O problema do pecador é problema do crente fiel também. Saber fazer o bem e não praticar é pecado de omissão. Entre o povo de Deus há pecados e o crente fiel é chamado para alertar e proclamar o arrependimento. Infelizmente, entre o povo de Deus há contenda e litígio, ou seja, disputa. O profeta verdadeiro e amoroso clama a Deus e se aflige diante do estado de Seu povo (v.3).

 

4.Quando há violência e injustiça e as pessoas “passam de largo”, não se preocupam e não se importam, a tendência imediata é a lei se afrouxar. Quando se vive só para si mesmo, as leis precisam ser torcidas, burladas. A lei existe, mas se as pessoas não são obedientes e sinceras, ela é facilmente mudada para o benefício próprio. O perverso acaba injustiçando o justo. Toda vez que o crente usar a liberdade que tem em Cristo como pretexto da malícia, a Palavra de Deus será desrespeitada e a lei afrouxada. Quanto mais o incrédulo rejeita Jesus Cristo, mais longe de Deus estará e mais no lamaçal de pecado se encontrará. O crente fiel e verdadeiro levará até as últimas consequências a Lei do Senhor. A Palavra de Deus não se afrouxa diante dele, mesmo que ele tenha que padecer muito por isto (v.4).

 

5.Acreditar que Deus é amor parece até certo ponto fácil para muitos, mas acreditar que o mesmo Deus de amor, também, é o Deus Justo não parece ser tão aceito no meio dos próprios crentes. Até mesmo em relação aos perdidos, alguns crentes não aceitam o fato de que Deus os lançará para sempre no Lago de Fogo e, por isso mesmo não dão a atenção devida à obra missionária. “Vede entre as nações” é a frase imperativa de Deus através do profeta para os que insistem em não crer no juízo de Deus. Devemos fazer o que Deus mandou para a nação de Judá: ver entre as nações. Se Deus fez isto com as nações, Judá deve se maravilhar e sentir-se pequena (desvanecida). Do mesmo modo que Deus fez com estas nações, Ele podia abater o Seu próprio povo que estava em rebeldia. As grandes e poderosas nações caíram pelo poder de Deus. Quem imaginaria a queda da Rússia, por exemplo? Deus está no controle de tudo. Deus tem um tempo para tudo. Ninguém deve dizer que Deus é demorado e nem zombar, achando que nunca Ele pesará Sua mão. As pessoas, de modo geral, não acreditam que Deus julga, por isso, é preciso “ver entre as nações”. Mas é possível que nem assim as pessoas acreditarão. Jesus falou do rico que desprezava Lázaro. Os dois morreram: Lázaro estava no Paraíso e o rico estava em tormentos. O rico rogou que Deus enviasse Lázaro para avisar os seus parentes para que se arrependessem e não fossem para o inferno, pois ouvindo os mortos ficariam impressionados. Abraão recusou e disse que eles têm Moisés e os profetas e que não mandaria nenhum morto para pregar para os vivos. É melhor ouvir hoje e não rejeitar o que está sendo contado e ensinado. Deus ainda pesa a mão sobre as nações, sobre indivíduos rebeldes, sejam incrédulos ou crentes. Com a frase: “Deus não age mais como nos dias do Velho Testamento”, muitos se tornaram levianos para com as coisas sagradas de Deus. Devemos ver mais a mão de Deus nas situações da vida: no terremoto que destrói casas e desabriga famílias, nas enchentes, nas rebeliões em presídios, nas doenças, nos desastres, na perda dos bens, etc. Além de “ver entre as nações”, devíamos observar o que Deus fez entre as pessoas também. Algumas vezes Deus pesou a mão sobre indivíduos que se rebelaram contra a vontade de Deus (v.5).

 

1.Olhe para os povos na época do dilúvio - Zombaram de Deus e Ele submergiu-os.

2.Olhe para Babel - Aliás ali começaram as nações com línguas diferentes. Deus pesou a mão, espalhando as pessoas e formandos povos distintos.

3.Olhe para Sodoma e Gomorra - Deus fez dessas duas cidades fornalhas por causa de suas perversidades.

4.Olhe para o Egito - Deus feriu com pragas aquela nação rebelde.

5.Olhe para Moabe - Essa nação quis impedir que o povo de Deus passasse pelo seu território e Deus consumiu da face da terra. Amom e Moabe se juntaram no caso Balaão contra Israel.

6.Olhe para Edom - Que ajudaria entregar Judá para os caldeus. Deus destruiu a lembrança dessa nação na terra.

7.Olhe para Jericó, Ai e todas as nações de Canaã - Deus desbaratou a todas por causa de sua idolatria e colocou o Seu povo na terra.

8.Olhe para Midiã, Filistia e outras nações - Receberam o juízo de Deus.

9.Olhe para Babilônia, Média e Pérsia, Assíria, Grécia, Roma e a Babilônia espiritual, a nação do Anticristo - Nenhum povo que tentou desafiar a Deus ficou impune.

 

Portanto, isto deveria causar temor em Judá “Vede as nações”.

 

Olhe para: Adão e Eva, Caim, Lameque, a mulher de Ló, Esaú, Faraó, Balaão, Miriã, Coré, Acã, Sansão, Eli, Saul, Davi, Salomão, os vários reis desobedientes, Hamã, Jonas, Nabucodonozor,  Judas, Ananias, Safira, Simão (o mágico), o incestuoso de 1 Cor 5, Himineu, Fileto, Alexandre (o latoeiro)

 

6.O profeta Habacuque não tinha problema em aceitar a verdade de um Deus que julga o pecado, como talvez muitos crentes não tenham nenhuma dificuldade em crer num Deus justo. Mas o que Habacuque não esperava era que Deus usaria um povo mais perverso que a própria nação de Judá que precisava da disciplina do Senhor. Os caldeus são os babilônios, descendentes do irmão de Abraão, Quesede, o filho de Naor. A Babilônia estava debaixo do controle de Deus, assim como qualquer governo. Deus pode usar as nações como seus agentes. Ele usa até os próprios demônios e Satanás para o Seu serviço. A Babilônia não tinha todo aquele potencial por força própria. Deus permitiu que chegasse até aquele estado de poderio mundial para os Seus próprios propósitos. A Igreja do final do século 19 estava muito orgulhosa e perdendo o amor pelo Senhor. No início do século 20 estourou a 1a Guerra Mundial e em 1943 a 2a Guerra Mundial. Seria obra do acaso? No V.T. a História das nações tinha importância quando relacionada com Israel. Hoje, a importância da História está em relação à Igreja do Senhor Jesus Cristo e a Israel também. Israel é o relógio de Deus. Quando acontece algo no Oriente Médio devemos perguntar: “Será que está próximo o tempo que Deus tratará com a nação de Israel e que levará a Sua Igreja?” Quando acontece algo com o crente, este também deve perguntar: “O que isto tem a ver comigo? O que Deus quer de mim? Que há em mim que precisa de correção?” Davi aceitava o castigo de Deus, mas preferia que viesse do próprio Deus, pois Ele é misericordioso. Habacuque preferia que o castigo viesse de Deus e não dos caldeus (ver 1 Cr 21.8-13). Deus, às vezes, usa incrédulos para ensinar os crentes. Por vezes o crente tem que sofrer nas mãos de homens ímpios para aprender algo. Não discutamos com Deus sobre os Seus métodos. A Babilônia era uma nação amarga e impetuosa, invadia outras nações para roubá-las e fazer escravos. O exército era carrancudo e cruel, avassalador. A Babilônia invadiu Judá três vezes e na 3a vez colocou fogo em suas portas. Cair nas mãos de perversos é muito duro, pois eles não têm piedade. É melhor receber a repreensão pelas mãos do Senhor, pois Ele repreende com amor (1 Co 11.30-32). Mas o melhor mesmo é não precisar de repreensão (Hb 10.30-31) (v.6).

 

7.Deus usa instrumentos para repreender o crente e nem sempre esses instrumentos são irrepreensíveis. Às vezes, Deus usa crentes fiéis, outras vezes usa crentes que estão andando em pecado. Mas também usa incrédulos honestos e de moral elevada na sociedade. Mas pode usar, também, incrédulos perversos. Deus usa doenças, tragédias, situações embaraçosas. Ele permite até que o próprio inimigo, Satanás com seus agentes malignos, aflija o crente com o fim de repreendê-lo para o arrependimento e fortalecimento. Habacuque descreve a Babilônia, o instrumento de Deus nessa época para repreender Judá. Não havia nenhuma nação que não tivesse pavor da Babilônia, por isso, era chamada pavorosa e terrível. A repreensão de Deus quando vem pode ser suave, mas também pode causar pavor e ser terrível. Paulo disse aos coríntios que podia ir até eles para repreendê-los com vara ou mansidão (1 Co 4.21). A repreensão para a mulher adúltera foi suave (“vai e não peques mais”, Jo 8.11). Por outro lado, para Ananias e Safira foi pavorosa e terrível (“não mentiste aos homens, mas a Deus”, At 5.4). A dificuldade de Judá é que não acreditava nos profetas e por isso não temia juízo. A dificuldade hoje em dia é que os profetas estão sumindo e quase não há mais pregadores que denunciem o pecado e, dessa forma, os crentes afrouxam os princípios da vida cristã. Diz o texto que “cria ela mesma o seu direito e sua dignidade”. Os caldeus não reconheciam nenhuma autoridade acima de seu reino. Deus usa um instrumento de repreensão que o próprio profeta Habacuque não compreendia. Os instrumentos de Deus nem sempre são lógicos para nós e nem submissos a Ele, simplesmente são induzidos a agirem para atingir o objetivo de disciplina na vida do pecador (v.7).

 

8.Ainda que a nação quisesse fugir seria em vão, pois os caldeus com seus cavalos velozes alcançariam qualquer fugitivo. Alguém em desobediência não pode fugir de Deus, pois Ele usa instrumentos velozes para alcançá-lo. Assim como o leopardo e os cavalos da Babilônia eram ligeiros, Deus nos alcança a qualquer momento que Ele quiser. Não adianta fugir. O quadro é mais pavoroso ainda quando se pensa em lobos famintos e ferozes ao anoitecer espalhados por todo o canto. Se alguém se esconde de lobos, não pode se esconder da águia que vê de cima e desce certeira contra sua vítima (v.8).

 

9.No versículo 2, Habacuque clamava a Deus que salvasse a nação da violência que ocorria entre os próprios irmãos, mas o profeta não conhecia o que, de fato, era violência. Há crentes que se desviam do povo de Deus achando que há injustiça, mas quando se deparam com os perversos do mundo, descobrem de fato o que é injustiça. Há segurança entre o povo de Deus, apesar das dificuldades, mas cair nas mãos do sistema de Satanás, que é o mundo, é incalculavelmente pior. “Eles todos vêm para fazer violência”, isto é, não há piedade em ninguém. Nos rostos dos caldeus há uma determinação de fazer muitos cativos.  Satanás só está esperando a permissão de Deus para afligir o crente. Foi assim com Jó, com Pedro e com discípulos e continua sendo assim hoje. O crente não deve encher o cálice da ira de Deus, é melhor se arrepender hoje dos pecados (v.9).

 

10.Os caldeus eram arrogantes, confiavam somente em sua própria força. Não tinham medo de reis e príncipes e nem obedeciam nenhuma autoridade. Não havia fortaleza que os caldeus não derrubassem. As portas de Jerusalém foram queimadas e os muros se tornaram ruína. O crente não precisa ser escarnecido, ele pode ser honrado por Deus, sendo obediente (v.10).

 

11.A Babilônia podia ser arrogante, mas Deus sempre foi maior que qualquer potência mundial. Deus usa instrumentos para nos repreender, mas estes estão nas mãos de Deus e também receberão juízo. Não devemos questionar os métodos de repreensão de Deus, pois cada um deve prestar contas diante Dele. Os caldeus faziam do seu poder o seu deus, mas diante do Deus verdadeiro são culpados. Sim, Deus usa pessoas piores do que nós para nos repreender. A culpa delas não isenta os nossos pecados. O crente que despreza a repreensão de outro pecador não facilitará em nada o seu relacionamento com Deus que tudo vê (v.11).

 

12.É difícil aceitar a repreensão de Deus, quando Ele usa pessoas ou instrumentos que não são melhores do que nós. Fere o orgulho de qualquer pessoa. Habacuque amava o povo de Deus e não podia entender porque Deus insistia em usar a Babilônia, que era muito mais perversa que Judá. Habacuque passa a pensar, agora, não no deus dos caldeus, mas no Deus verdadeiro, o nosso Deus. Deus é Eterno. Deus não precisa se desculpar por usar os caldeus ou qualquer outro instrumento para repreender o Seu povo. Tudo o que acontece Deus sabe antes que aconteça. O tempo não limita Deus, Ele é Eterno. Embora Deus seja Eterno, Ele pode muito bem usar coisas terrenas e passageiras, como a Babilônia, para repreender o Seu povo. O crente deve aceitar as coisas mais humildes e até as menos dignas para o seu próprio bem. Há crentes que só aceitam uma repreensão se vier de alguém mais espiritual que eles, mas o Deus Eterno não se limita às nossas preferências. Deus é Santo e por isso Habacuque pensava que Deus usaria um instrumento santo para repreender o Seu povo e jamais os caldeus, com seu exército pecador e pagão. Deus não dependia da Babilônia, mas Ele quis usá-la como instrumento e não cabe ao crente discutir com Deus. Quando Deus levanta a Sua mão para repreender o crente, este deve aceitar, pois Ele é Santo e não comete nenhuma injustiça. Apesar dos questionamentos, o profeta Habacuque está convencido de que Deus cuidará do Seu povo e, por isso, confiadamente diz: “Não morreremos”. Deus não apagou Israel de sua agenda. O crente precisa confiar que Deus quer o Seu bem, mesmo em meio à disciplina e sofrimento. Os instrumentos de disciplina de Deus sobre as nossas vidas são para nos restabelecer à comunhão com Deus e não para nos matar. Habacuque começa a compreender que Deus fundou a Babilônia para disciplinar Israel (Judá). Deus é a Rocha e não é a Babilônia que conseguirá enfraquecer o alicerce da nação. Jesus Cristo é a Rocha e Ele disse que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja (Mt 16.18). O crente está firmado na Rocha que é Cristo e ainda que vier a ser disciplinado pelo Senhor, terá sempre a segurança de ser Dele e estar totalmente protegido por Ele. É um grande perigo estar fora da proteção dessa Rocha, pois os instrumentos de Deus que são para a nossa disciplina podem se tornar a nossa queda irremediável. Por isso, o crente não deve rejeitar a disciplina e os instrumentos de disciplina do Senhor (v.12).

 

“Sejam como forem as coisas, Deus é o Senhor, o nosso Deus, o nosso santo. Somos um povo ofensor; Ele é o Deus ofendido, e não abrigamos pensamentos maus sobre Ele ou sobre o seu serviço. Independente das maldades que os homens concebam, o Senhor concebe o bem, e estamos seguros de que o seu conselho resistirá. Ainda que a maldade possa prosperar por um momento. Deus é santo e não a aprova.”[2]

 

13.Não é pecado, de modo algum, questionar com o fim de entender os métodos de Deus. Infelizmente muitos crentes têm a ideia errada que Deus deixará de responder as orações se começarem a fazer muitas perguntas para Ele. Deus não ficou zangado porque Jó O questionou sobre o sofrimento. Ele também não se irritou com Abraão quando este perguntava se Deus pouparia 50, 45, 40, 30, 20 e 10 justos em Sodoma. Mesmo que Abraão teve muito medo de perguntar (Gn 18.22-33). Jesus nunca ficou furioso das inúmeras perguntas de seus discípulos, principalmente do arrojado Pedro. Habacuque já reconhecia a Eternidade e Santidade de Deus, ele só queria entender porque Deus usaria a Babilônia e não um instrumento mais santo e espiritual. Pessoas que não têm liberdade em conversar com Deus acabam conversando com homens que muitas vezes não conhecem a Deus ou não usam os recursos de Deus, como os doutores em psicologia. Se entendêssemos os caminhos de Deus totalmente seríamos Deus e nós não somos. Isaías disse que os caminhos de Deus não são os nossos caminhos e vice-versa (Is 55.8). Os caminhos de Deus são muito altos para entendermos (Sl 139.6). O desabafo é muito saudável, enquanto a rebeldia é prejudicial e a amargura é autodestrutiva. A partir do versículo 13 até o v.17, Habacuque faz muitas perguntas de desabafo a Deus. Habacuque sabe que Deus é puro de olhos, que Ele não pode ver o mal e a opressão. Nenhum pecador pode chegar-se até Deus por esforço próprio, pois todos somos maus aos Seus olhos. Só Jesus Cristo, Justo, abriu o caminho para nós através de Sua morte, justificando-nos diante de Deus. Deus não negocia com a opressão, com a maldade e com a impureza. Todos os que praticam tais coisas são rejeitados por Deus, que é puro de olhos. Habacuque entende bem o caráter Santo de Deus e, por isso, mesmo faz a pergunta tão difícil de ser respondida no versículo 13. Se Deus não pode ver o mal e a opressão, por que permite que os caldeus machuquem o povo de Deus, que é melhor do que eles, mesmo estando em rebeldia? (v.13).

 

14.No v.14 Habacuque sente-se como animais sem defesa. Peixes e répteis se tornam caça fácil de seus predadores. Às vezes o filho de Deus se sente como se não tivesse a proteção de Deus, entregue aos inimigos de sua alma. Sente-se como se não tivesse um Deus que o governe. Esta dúvida nem sempre dura uma semana, mas às vezes anos a fio. O correto não é desistir de crer na Santidade e Retidão de Deus, mas entregar a Ele nossos problemas. As dúvidas surgem em situações adversas jamais imaginadas. Coisas que pensamos acontecer apenas com os outros. Nesses momentos chegamos a pensar se Deus nos governa, se Ele se importa conosco. Em algumas situações da vida, tomamos a mesma ira da mulher de Jó: amaldiçoar a Deus e morrer (Jó 2.9). O próprio Jesus se deparou com uma situação desesperadora (Mt 26.39). Eis algumas situações que pessoas já se depararam. Poderia ser qualquer um de nós (v.14).

 

A criança que perde o pai e nem pode entender como viverá daqui para frente

Filhos que são abandonados pelos seus pais bem novinhos

A esposa fiel que é traída pelo marido

Pai de família que no auge de sua vida descobre ter câncer

Os pais que perdem seu filho de modo violento

Calúnia que vem a destruir todos os planos

O missionário que é desprezado pela Igreja

Profissional que no auge do seu sucesso é demitido

Os pais que são abandonados pelos filhos depois de velhos

Escorregão que arrasa todo o futuro e honra

 

15.Habacuque foi corajoso o suficiente para dizer que a vida não é tão maravilhosa como pensam alguns. No v.15, ele considera como a situação é cruel. O inimigo pesca de arrastão e não só de anzol. Os instrumentos de Deus muitas vezes são perversos e se alegram com a nossa desgraça. A morte é, sem dúvida, o instrumento de Deus mais ousado, intrometido e cruel. A morte zomba de suas vítimas. Paulo reconhecia isto muito bem e chegou a zombar da morte (1 Co 15.54-57) (v.15).

 

16.No v.16 vemos o cúmulo do paganismo. Os caldeus faziam cultos aos seus deuses, pensando que eles davam êxito às suas guerras. Os instrumentos que Deus usa se gabam de nos destruir, pensando que têm poder em si mesmos. Satanás não teria nem poder sobre ninguém se Deus não permitisse. Lembre-se do que Jesus falou a Pilatos (Jo 19.10-11) (v.16).

 

17.Habacuque, inconformado, questiona com Deus, no v.17, se Ele ainda permitirá que a Babilônia continue sua “pescaria”. Há uma expressão que devíamos usar mais em oração, pois mostra nosso desespero e pressa diante de Deus. A expressão é “Até quando, Senhor?” (v.17).

 

Jó 7.19 - Jó sentia a presença castigadora de Deus por causa de seus sofrimentos, através de Elifaz, instrumento de Deus.

Jó 19.2 - Jó sentia-se aflito e quebrantado, por causa das palavras de Bildade, instrumento de Deus.

Sl 4.2 - Davi, alvo da vaidade e mentira dos homens, instrumentos de Deus.

Sl 6.3 - Davi clama a Deus, pois está profundamente perturbado.

Sl 13.1-2 - Davi sente-se sozinho e abandonado por Deus em sua tristeza e perseguição.

Sl 35.17 - Davi sente que Deus só fica olhando, enquanto os inimigos, instrumentos de Deus, são violentos contra a sua vida.

Sl 62.3 - Davi clama a Deus contra os seus destruidores, instrumentos de Deus.

Sl 74.9-10 - Asafe clama a Deus contra os blasfemos, mesmo sendo instrumentos de Deus

Sl 79.5 - Asafe entende que a ira de Deus cai sobre o Seu povo.

Sl 80.4 - Asafe, entende também, que Deus fica indignado até contra a oração dos crentes.

Sl 82.2 - Asafe ora sobre os juízes humanos que são injustos.

Sl 89.46 - Etã também sentiu a ira de Deus e precisou clamar por piedade.

Sl 90.13 - Moisés sentia a falta de compaixão de Deus e clamou para que Ele voltasse.

Sl 94.3 - O salmista ora a Deus por vingança.

Jr 12.4 - Jeremias clama a Deus para parar de castigar o povo com seus instrumentos.

Hq 1.2 - O profeta Habacuque clama a Deus sobre a violência que está perto dele.

Zc 1.12 - O próprio Anjo do Senhor (Jesus) coloca na boca do Seu povo o clamor a Deus.

Ap 6.10 - Os mártires da Tribulação clamarão por vingança, no céu, debaixo do altar de Deus.

 

18.Deus, também pergunta para nós “Até quando?”. Devíamos observar quando Ele faz esta pergunta, pois Ele também tem interesse e pressa.

 

Êx 10.3 - Deus exige explicações dos perseguidores de Seu povo.

Êx 16.28 - Deus exige explicações de Seu povo, quando este se torna rebelde.

Nm 14.11 - Deus espera que creiamos nEle.

Nm 14.27 - Deus espera que as murmurações de Seu povo findem.

Js 18.3 - Deus, através de Josué, incentiva o povo a conquistar as bênçãos (terras).

1 Sm 16.1 - Deus não quer que tenhamos esperança naquilo que Ele não aprova.

1 Rs 18.21 - Deus, através de Elias, exige de nós uma decisão em segui-Lo ou abandoná-Lo.

Pv 1.22 - A sabedoria de Deus clama para que os tolos se aproximem dela.

Pv 6.9 - Deus está tentando nos despertar da preguiça.

Jr 4.14 - Deus quer que deixemos os maus pensamentos urgentemente.

Jr 4.21 - Deus quer que nos arrependamos sem que Ele precise usar instrumentos destruidores.

Jr 23.26 - Deus se cansa dos falsos mestres e falsos profetas.

Jr 31.22 - Deus não quer que o Seu povo seja mais rebelde e infiel.

Jr 47.5-6 - Deus, o próprio Deus coloca na boca dos pecadores a oração que estes deviam fazer.

Os 8.5 - Deus quer ver o povo inocente de pecados.

Hq 2.6 - Deus se cansa dos ladrões.

Mt 17.17 - Jesus quer ousadia na fé dos seus discípulos.

Capítulo 2: Esperando a resposta de Deus

1.Aqui está uma grande falha em nossas orações: não esperamos por resposta. Talvez porque não creiamos que Deus responderá ou porque não temos paciência para esperar pela resposta Dele. Seja como for, nós somos muito prejudicados na vida cristã por causa dessa incredulidade, pois Deus poderia fazer muito mais por nós e a nossa fé seria cada vez mais consolidada. Não há pecado em questionar diante do Senhor aquilo que não entendemos, mas se fizermos isto devemos esperar o que Ele tem para dizer, pois do contrário, acabaremos nos rebelando contra os Seus métodos de trabalho em nossas vidas. Habacuque se pôs na torre de vigia. É diferente do que distrair a mente para não pensar nas grandes questões. Ele estava realmente interessado em que Deus lhe explicasse porque usaria os caldeus para disciplinar o Seu povo. A torre de vigia era um lugar alto preparado para a sentinela avisar de algum perigo iminente ou de algum mensageiro ou forasteiro que se aproximava da cidade murada. Mais tarde introduziram também nos navios mercantes do século XV. Um vigia ficava dentro de uma espécie de cesto no mais alto mastro para avisar de perigos de navios piratas que singravam os mares. Uma sentinela jamais pode cochilar e muito menos dormir. Está sempre atento, esperando. Habacuque quer a resposta de sua queixa e não mede esforços para esperar. O crente não deve apenas orar, lançar sua ansiedade diante de Deus, mas deve ir além e esperar pela resposta. O profeta Habacuque quando diz que está na torre de vigia, sobre a fortaleza, vigiando e esperando, tem algo muito importante a nos ensinar (v.1).

 

1º) Habacuque entregou o seu problema (ansiedade) a Deus. Agora ele apenas espera a resposta.

2º) Habacuque descansou e ficou numa posição vantajosa. A visão dele agora é do alto, ampla.

3º) Habacuque sai do “vale” e colocou-se nos lugares altos. Ele não ficou no nível do chão, falando para os outros sobre os seus problemas.

4º) Habacuque não olhava mais para o problema, mas para Deus.

 

2.O Dr.Martyn Lloyd-Jones em seu livro “Do temor à fé” diz que Deus responde de várias maneiras as nossas orações e não está limitado a apenas uma forma.[3]

 

1) Podemos esperar que Deus responda enquanto lemos a Sua Palavra, a Bíblia.

2) Deus também às vezes responde diretamente ao nosso espírito (mente).

3) Outras vezes Deus responde às nossas orações ordenando situações e acontecimentos cotidianos da vida.

 

3.O importante é esperarmos a resposta de Deus. Devemos buscar a vontade Dele. Talvez uma pessoa de fé não devesse ser avaliada pelo o que ela recebe de Deus, pois Deus é misericordioso e nos dá até mesmo quando não pedimos, mas uma pessoa de fé deve ser medida pelo o que ela faz depois de ter orado. Alguém que espera em oração é mais seguro do que aquele que é arrogante e confia em si mesmo. A seguir dez exemplos bíblicos de pessoas que esperaram em Deus por uma resposta.

 

 

 

 

Personagem

O que esperava de Deus

O que fez enquanto esperava

Ref.

Abraão

Livramento da morte de Isaque

Pegou a lenha, o fogo e o cutelo, edificou o altar, amarrou Isaque e se preparou para o sacrifício.

Gn 22.1-14 “Deus proverá”

Moisés

Pão para o povo

Disse ao povo: “Pela manhã vereis a glória do Senhor”

Êx 16.4-15 “Jesus é o Pão da Vida”

Josué

Que o rio Jordão se abrisse

Mandou o povo marchar sob a ordem de Deus

Js 3.1-17 “Deus abre as águas”

Rute

Um resgatador para si e sua sogra

Encontrou-se com Boaz, obedecendo Noemi, sua sogra e apenas esperou

Rt 3.1-18 “Cristo é o nosso Resgatador”

Ana

Um filho

Orava

1 Sm 1.1-18 “Deus ouve”

Jesus

Livrar-se do cálice da morte

Orava repetidas vezes e fazia vigília

Mt 26.36-39,42-46 “Seja feita a vontade do Pai”

O publicano

Ser aceito por Deus

Orava arrependido e contrito

Lc 18.13-14 “Jesus é a nossa Propiciação”

O ladrão na Cruz

Entrar no Paraíso

Sofria

Lc 23.39-43 “Jesus é Salvador”

Paulo

Que ficasse livre do espinho na carne, mensageiro de Satanás

Pediu três vezes e recebeu não a cura, mas a graça

2 Co 12.7-10 “A  graça de Deus é melhor que a vida”

Todos os crentes

Ficarmos livres da ansiedade por causa dos problemas da vida

Lançar sobre o Senhor a ansiedade e esperarmos

1 Pe 5.8 “Ele tem cuidado de nós”

 

4.Que recompensa para o crente quando ora, muitas vezes angustiado, espera na torre de vigia e a resposta vem! É como a água refrescante para o sedento. O Senhor respondeu para Habacuque e responderá a todo o crente que diligentemente orar e esperar pela resposta. Deus entende a perplexidade de Habacuque, ou seja, Deus sabe que os caldeus são piores que o povo de Israel e, por isso, também castigará a Babilônia. Deus respondeu a Habacuque através de uma visão e ele deveria escrever numa tábua. O sentido da frase “para que a possa ler até quem passa correndo”, pode ser entendido de duas formas (v.2).

 

1) A placa é grande (um “outdoor”) e qualquer um, mesmo que estiver correndo, pode ler.

2) Aquele que passa e lê, toma ânimo e corre para obedecer, pois Deus destruirá os inimigos.

 

Seja como for é uma placa que dá para todos ler e a mensagem é animadora para os sofredores.

 

5.As profecias dos homens do passado que eram dirigidos por Deus eram verdadeiras, pois não vinham da opinião deles, mas eram a própria palavra de Deus (“escreve a visão e grava-a”). Muitos enganadores surgem em todas as épocas predizendo o futuro, mas só Deus é verdadeiro e a Sua Palavra. Não é necessário e nem permitido acrescentar mais nada à Palavra de Deus. Deus revelou para Habacuque que levantaria os caldeus para castigar o povo, mas também revelou que Deus destruiria os caldeus após usá-los para o Seu propósito. Quem espera tem a segurança da resposta de Deus, mas quem é arrogante e não consegue esperar, de Deus verá a repreensão (v.2).

 

6.Tudo o que Deus começa Ele termina. Deus nunca deixou uma obra incompleta, ainda que para nós pareça que Deus se atrase. Deus tem um tempo para dar a resposta para nós. Só Ele sabe esse tempo, mas Ele nunca falha. Para manter a calma nos momentos difíceis é necessário crer que Deus responde no momento certo. Hoje, podemos não entender onde Deus quer chegar, mas podemos crer que Ele nos levará a um lugar seguro. No caso da nação de Judá, Deus os ensinaria uma lição pelas mãos dos caldeus durante 70 anos. Deus usa instrumentos que não entendemos e, por vezes, esses instrumentos também precisam de disciplina e Deus também reserva um tempo determinado para isto. Se hoje Deus trabalha conosco, então a nossa atenção deve se fixar naquilo que Ele quer para nós e não em que Ele fará com outros. Algum dia Deus dará respostas a todas as nossas questões que tanto nos perturbam hoje. Vernon McGee, comentarista bíblico, disse: “Eu não estou interessado nas ruas de ouro do céu, mas eu estou muito interessado em obter as respostas para as grandes questões que confundem a humanidade em nossos dias”. Quem espera no Senhor obterá as respostas, mas mesmo que não obtivermos respostas aqui devemos perseverar em confiar só Nele (v.3).

 

7.Se por um lado aquele que espera no Senhor experimenta segurança, aquele que confia em seu próprio “relógio” é arrogante e experimentará muita insegurança. Este é um dos mais importantes versículos da Bíblia. Paulo e o escritor aos Hebreus citaram este versículo em suas epístolas (Rm 1.17, Gl 3.11, Hb 10.38). Este versículo menciona os dois tipos de pessoas que há em toda e qualquer parte do mundo: os que não confiam em Deus e os que confiam em Deus. Os que não confiam em Deus são os que não esperam Nele e não ficam na torre de vigia. Deus os considera soberbos. A alma deles não é reta diante de Deus. Aqueles que não esperam somente em Jesus Cristo para a sua salvação são arrogantes e estão perdidos. Aqueles que são salvos, porém, não esperam o livramento Dele para as suas vidas, também são arrogantes. Alguns não creem nas promessas de Deus, pois não conseguem entender porque uma pessoa começa a servir a Deus, passa a ter sofrimentos maiores do que quando não servia a Deus. Tais pessoas são arrogantes porque amam mais as coisas do mundo do que a Deus. Não há promessa alguma que o crente não passará por sofrimentos, mas há uma maravilhosa promessa: “O justo viverá pela fé”. Só há duas maneiras de viver neste mundo: ou vive-se pela fé ou vive-se em incredulidade. Alguém pode defender uma doutrina, uma denominação ou qualquer outra opinião, mas se não andar por fé é arrogante e incrédulo. Quem não anda por fé, anda em incredulidade e em arrogância e, portanto, anda em pecado e precisa confessar humildemente diante de Deus o seu pecado. Todos sabem que Deus age, porém, nem todos creem que Ele agirá na situação que está passando. Habacuque era um homem de fé. Ele teve problema em aceitar as situações da vida, mas orou ao Senhor e esperou na torre de vigia pela resposta. O arrogante é inseguro porque confia em si mesmo. A pressão é muito grande quando afirmamos coisas que não podemos manter. Por exemplo, afirmar que o fiel é próspero financeiramente e saudável fisicamente se torna uma pressão enorme. A insegurança desses é algum dia passar por aperto financeiro e debilidade física. É arrogância não esperar em Deus somente (v.4).

 

8.Quem não vive pela fé é arrogante, pois confia em si mesmo, achando que não precisa de Deus. Os caldeus são o exemplo de arrogância, pois eles fazem suas próprias regras e são o seu próprio deus. Ainda que demore um pouco aos nossos olhos, para Deus o juízo sobre o arrogante é certo. A arrogância é como a bebedeira. Por um tempo a pessoa se sente dona de si mesma, até que chega o juízo novamente e a vergonha prevalece. A história da lebre e a tartaruga tem muito a nos ensinar a respeito da humildade e arrogância. Enquanto o arrogante zomba do humilde, este prossegue em seu caminho, não se detendo às zombarias contra ele proferidas e o resultado é a queda do arrogante e a exaltação do humilde. Um dos pecados mais comuns da Babilônia era a bebedice. As festas eram momentos degradantes nas quais príncipes se embebedavam e perdiam o seu juízo. Os caldeus eram gananciosos por conquistar os povos inocentes. A boca deles destruía. Deus levantou os reinos da Média e da Pérsia para destruir a Babilônia. Deus também ajuntou as nações para rirem da Babilônia. Toda arrogância será derrubada por Deus. Seja o incrédulo que não crê na Palavra de Deus ou seja o crente que anda em desobediência ao seu Senhor. Não há segurança alguma no orgulho, mas em esperar em Deus o crente está totalmente seguro (v.5).

 

“Além de torná-Ias arrogantes, o que o orgulho faz com as pessoas? Ele as distorce interiormente, pois a alma do incrédulo ‘não é reta’, o que significa que os apetites de seu ser interior são depravados e pecaminosos. Ele se deleita com aquilo que Deus abomina, com o que Deus condena nos cinco ‘ais’ deste capítulo. Uma das principais causas da corrupção deste mundo é aquilo que Pedro chama de ‘corrupção das paixões’ (2 Pe 1:4), que quer dizer simplesmente ‘desejos perversos, concupiscências’. Se não fosse por esses apetites mais baixos que as pessoas anseiam por satisfazer, as ‘indústrias do pecado’ jamais prosperariam.”[4]

 

9.A nação da Babilônia foi o instrumento usado por Deus para repreender a nação de Judá. Mas isto não significa que a Babilônia era uma nação melhor do que Judá e muito menos mais santa. Deus usa quem Ele quiser para repreender o Seu povo e no momento certo repreende também os seus instrumentos de justiça. A Babilônia foi perversa e Deus também repreendeu. Os gemidos dos caldeus devem ser ouvidos por todos os que não estão andando corretamente quanto ao dinheiro, violência, alcoolismo e idolatria. Os caldeus despojavam aqueles que invadiam. Judá foi despojada. Todas as suas riquezas foram aproveitadas pelos caldeus. Até mesmo as pessoas se tornaram mão de obra barata para a nação da Babilônia. A Palavra de Deus condena aquele que toma penhores, tornando as pessoas fracassadas e desmoralizadas. Um crente deve sempre ter em mente que ser agiota é algo intolerável (v.6).

 

10.Aqueles que quiserem lucros fáceis terão de responder ao maior credor, que é o próprio Deus com Sua justiça. Neste mundo não há justiça imediata, mas o Senhor julgará todas as coisas aqui ou na eternidade. A Babilônia ao ser dominada pelos medos-persas foi despojada imediatamente de seu rio, o Eufrates. Passou a gerar riquezas para o seu inimigo. Todos os que pensam em se enriquecer de modo fácil e ilícito, devem se lembrar do exemplo da Babilônia. Deus é tão justo com indivíduos quanto o é para com as nações. O enriquecimento ilícito é um pecado e este não ficará sem gemido. Cada um deve examinar sua fonte de renda para saber se tem sido totalmente honesto (v.7-8).

 

11.A violência é uma covardia ao mesmo tempo, pois a força adquirida através da violência é feita a partir de sangue inocente. Assim como algumas poucas aves fazem seu ninho em penhascos, protegendo os seus filhotes, pessoas violentas se mantêm numa aparente segurança. Deus trouxe vergonha para a segura e violenta Babilônia. Ao destruir povos, a Babilônia estava destruindo a si mesma pelo julgamento divino. Os caldeus podiam perceber o juízo de Deus em sua própria casa. Cada pecador pode ver, por si mesmo, e sua consciência que não está agradando a Deus. A arrogância contra os mais fracos é uma forma de violência. Os que se sobressaem através da humilhação das pessoas já são violentos e isto Deus quer mudar em Seus filhos. Deus permite aos violentos um certo espaço, porém, é a forma de Deus trazer juízo contra eles próprios. Desde que Caim “abriu a torneira”, os assassinatos não cessaram. O mundo é sanguinário porque Satanás, o seu deus, é mentiroso e assassino. Um dia não haverá violência no mundo, mas o conhecimento completo da glória do Senhor (v.9-14).

 

12.O alcoolismo é alarmante em todos os lugares do mundo. A ideia de que só os países de terceiro mundo ingerem bebida é muito mentirosa. A diferença é que os ricos ficam bêbados em casa e os pobres nas sarjetas. Os famosos pubs ingleses são prova de que os ricos e os jovens de famílias também estão escravizados. Os jovens têm buscado a bebida como pretexto para praticarem a imoralidade. Rapazes seduzem moças com bebidas para terem relações sexuais com elas. Se os pais bebem um pouquinho, não devem se impressionar se os seus filhos se tornarem beberrões e devassos. A bebida já é repugnante e pior se torna ao incentivar o sexo ilícito. As filhas de Ló o embebedaram para terem relação sexual com o próprio pai. A bebida esteve ligada com a nudez na casa de Noé. A bebida e a nudez também foram parceiras no episódio no bezerro de ouro. Portanto, a bebida está intimamente ligada à nudez pecaminosa (v.15).

 

13.Deus também fez com que a Babilônia se embriagasse de vergonha e expusesse a sua nudez diante dos povos. O beberrão sempre será envergonhado e ficará desnudo diante das pessoas. Moralmente e, talvez, até literalmente. A Babilônia para vencer Israel e os outros povos teve de enfrentar as feras. Mas Deus voltou todo esse medo contra os caldeus quando invadidos pela governo medo-persa (v.16-17).

 

14.O ídolo nada mais é do que a obra de arte de alguém. Todos sabemos que nenhum pedaço de pau, pedra, gesso, ferro ou qualquer material tem poder espiritual. Os materiais de um ídolo podem ser os mais caros, ainda assim não tem nenhum valor de transformar qualquer situação. A adoração é espiritual. Jesus disse que “importa que os adoradores adorem em espírito e verdade”. A idolatria é totalmente física e não tem nada a ver com a verdade. Deus continua soberano e todos devem se calar diante Dele. Abaixo algumas características dos ídolos que mostram sua ineficácia para socorrer-nos (v.19-20).

 

1ª) É feito por um homem como nós. Um trabalhador que precisa sustentar sua família.

2ª) É esculpido e por isso mesmo é feito com material que não é Deus e pode ter falhas.

3ª) Alguns ídolos são de fundição, um processo de calor realizado por trabalhadores comuns.

4ª) Ídolos são mestres de mentiras. É tudo engano.

5ª) Ídolos não falam e se falassem seria por alguma tecnologia ou por obra do maligno.

6ª) Os ídolos não ouvem o clamor de ninguém.

7ª) Os ídolos não podem ensinar.

8ª) Os ídolos, apesar de alguns serem de materiais caros não têm vida interior.

 

Os Cinco ais da Babilônia (Hc 2.5-20)

O primeiro ai contra a Babilônia é por causa do enriquecimento ilícito (v.5-8)

O segundo ai contra a Babilônia é por causa da cobiça (v.9-11)

O terceiro ai contra a Babilônia é por causa da violência e iniquidade (v.12-14)

O quarto ai contra a Babilônia é por causa da sedução contra outros por meio da bebida (v.15-17)

O quinto ai contra a Babilônia é por causa da idolatria (v.18-20)

 

 

Capítulo 3: O canto do profeta Habacuque diante do poder de Deus

1.Habacuque começou o livro orando, ficou esperando e termina o livro orando. A primeira vez que orou estava perplexo e questionador e a segunda vez, depois de esperar e receber a resposta, orou glorificando a Deus pelo Seu caráter e Seu poder em toda situação adversa. Jó também teve essa experiência de orar questionando e depois reconhecer a soberania de Deus. O crente deve começar suas lutas em oração, passar as lutas esperando e glorificar a Deus no final. A oração faz parte do culto público e do relacionamento individual do crente para com Deus. Todo o crente deve orar em todas as situações da vida.

 

quando um bebê nasce

antes de viajar

quando vamos falar

ao tomar decisões

quando alguém morre

ao chegar de viagem

depois de falar

depois das decisões

quando alguém perde o emprego

ao levantar

na angústia

para se conhecer

quando alguém acha um emprego

ao dormir

na alegria

para conhecer a Deus

 

2.Habacuque não apenas orava, mas também cantava. Neste caso a oração era um cântico. Habacuque compôs este cântico e passou para o regente, o mestre de canto, com as instruções de como era para ser cantado e tocado, ou seja, com instrumentos de cordas. Em outra versão da Bíblia aparece o termo original “Sigionote”, que também é usado no título do Salmo 7. Não se sabe ao certo o que significa este termo, somente que se refere à música. Talvez, o andamento da música ou até mesmo algum instrumento musical. O culto a Deus sem música é incompleto, assim como o culto sem oração e sem pregação. Através da música expressamos nossos sentimentos a Deus. Nossa alegria, aflição, reconhecimento de sua majestade, bondade, soberania, etc. A música deveria inspirar calma, tranquilidade, alegria, reflexão e até mesmo a tristeza pelos nossos pecados. Todo sentimento de ódio, rebelião, desrespeito, e outros que estão contra a vontade de Deus deveriam ser evitados na música, pois como todos sabem a música não é neutra, mas é ativa sobre nossos sentimentos e até ações. A liberdade de expressão deveria ser respeitada, mas também deveria existir a liberdade de ouvir. Portanto, a música deve fazer parte de nossa adoração a Deus (v.1 e 19).

 

3.A oração de Habacuque é clara e cheia de sentimento. Assim deveria ser a oração do crente atual e mais importante: que seja individual, também e não só em público. Habacuque estava alarmado porque pensava que Deus não estava fazendo nada, mas ao ouvir as declarações do capítulo 2 mudou de opinião. Deus está agindo em todas as situações e ficaremos alarmados se orarmos e esperarmos na torre de vigia. Ele faz grandes coisas somente por aqueles que perseveram em oração. A atitude de Habacuque mudou quando ele parou de olhar só para a sua nação e para os caldeus e começou a olhar Deus em primeiro lugar. Os problemas imediatos não são a prioridade e sim o conhecimento de Deus nas situações. Quando discutimos com Deus sobre os instrumentos que Ele usa para nos corrigir, começamos a machucar as pessoas, tentando achar alguma justificativa, acusando-as de serem injustas. Devíamos ficar mais alarmados. Se a Igreja está passando por heresias e falta de amor a culpa não é apenas de Satanás e dos hereges, mas de nós mesmos. A nossa frieza e descaso para com a obra de Deus nos deixaram neste estado. Não importa que os caldeus são piores, importa que Judá, o povo de Deus desobedeceu. Olhamos para alguém pior do que nós e ficamos aliviados, quando deveríamos olhar para nós mesmos e ficar alarmados com a nossa falta de obediência ao evangelho verdadeiro. Porque existe alguém pior do eu, isto não me faz estar certo. Só importa a santidade de Deus. A oração de Habacuque é uma responsabilidade da Igreja atual. “Aviva a tua obra, ó Senhor”. O avivamento é a operação de Deus sobre um povo frio e sem vida. Ninguém promove avivamento, só o Espírito Santo. Não existem reuniões de avivamento, pois este não pode ser programado. “No decorrer dos anos e no decurso dos anos” significa que Habacuque pedia que durante o cativeiro do povo, a desobediência fosse sarada e a obra de Deus avivada. Habacuque não mais discute sobre a perversidade dos caldeus, mas ora que durante a ira de Deus, Ele se lembre também da misericórdia. O crente deve perguntar a Deus: mereço a repreensão do Senhor? Estou sendo aquilo que deveria ser? Portanto, devemos parar de pensar nos defeitos dos outros e ficar alarmado consigo mesmo. Que o Senhor nos corrija, mas enquanto isto peçamos a Ele que a Sua obra seja avivada para que não nos tornemos inúteis durante e após a disciplina do Senhor. Que na disciplina do Senhor, recebamos também a sua misericórdia (v.2).

 

4.Habacuque menciona dois lugares de onde vem Deus. É claro que é apenas uma forma de dizer, pois Deus é onipresente, está em todos os lugares ao mesmo tempo e não precisa vir de nenhum lugar para chegar até um ponto. Temã ficava em Edom, terra de Esaú e Parã na Península do Sinai, onde Moisés recebeu a Lei. O fato de mencionar estes lugares apenas mostra que o Deus que fala hoje com Habacuque é o mesmo que guiou Abraão no Egito, o povo de Israel no Sinai e na conquista de Canaã, quando o povo teve que passar pelas terras de Edom. Quando o crente passa por lutas ele tem que lembrar-se que o Deus que socorrerá é o mesmo que já esteve com ele em outras situações e lugares. Deus vem de Temã e de Parã. “Selá” é uma palavra comum nos Salmos e este capítulo é um Salmo. Provavelmente a palavra “Selá” era a indicação de uma pausa na música para reflexão, enquanto instrumentos eram tocados. Quem está vindo é o Santo, Aquele que colocará um fim no assunto. Julgará os judeus e julgará os caldeus. A glória do Santo Deus cobre os céus. Se olharmos o céu físico veremos a glória de Deus e se contemplarmos a segunda vinda de Jesus Cristo veremos a glória Dele nos céus. A terra se enche do louvor. Deus sempre triunfa e leva as suas criaturas a adorarem o Seu nome. Até os demônios se prostrarão diante do Senhor. Quanto mais nós que podemos louvar o Senhor apenas em reconhecimento de sua santidade e de sua glória (v.3).

 

5.A pessoa do Senhor Jesus Cristo é majestosa. Quando Ele voltar haverá raios de luz e poder. Ele habita em luz inacessível. Só temos a luz de Deus porque Ele de modo misericordioso resolveu se manifestar a nós pecadores. No Egito Deus provocou contaminação das águas, feridas, insetos e outras pragas. Ele pode incomodar pessoas rebeldes apenas tocando o seu físico. Satanás só pode fazer estas coisas se Deus permitir, mas o próprio Deus não precisa pedir permissão para ninguém. Ele podia acabar com os caldeus simplesmente enviando qualquer praga. Deus pode acalmar qualquer coração irrequieto simplesmente tocando em seu físico (v.4-5).

 

6.Aquilo que para nós é impossível, Deus faz sem nenhum esforço. Deus tem abalado muitos lugares com terremotos. O Chile é um país em nossos dias que tem sofrido abalos, mas outros lugares já sofreram como Kobe no Japão. Em abril e maio de 2015 Katmandu, capital do Nepal, sofreu um grande terremoto. Em Amós 1.1 e Zacarias 14.5 há uma profecia de um terremoto que abalaria a nação de Israel. O centurião e alguns soldados que participaram da crucificação de Cristo Jesus creram Nele por causa do terremoto que houve assim que Ele entregou o seu espírito. Com isto, também, sepulcros foram abertos e mortos ressuscitaram (Mt 27.54-55). Também houve um terremoto para remoção da pedra do sepulcro que guardava Jesus (Mt 28.2). Em At 16.26 há o registro de um terremoto que livrou Paulo e Silas da prisão e foi o meio que Deus usou para a conversão do carcereiro de Filipos. Mas nem sempre o Senhor se manifesta no terremoto, como foi no caso de Elias em 1 Rs 19.11-13. Mesmo que tudo se abale o Senhor Deus continua eterno, inabalável. Habacuque vê as tendas de Cusã em aflição e os acampamentos de Midiã tremendo. Cusã fica na Etiópia e Midiã foi o lugar onde Moisés morou após fugir do Egito. Deus tem o domínio sobre todos os povos. Nenhuma nação deixou de existir sem a atuação de Deus e nenhuma nação subsiste sem a sustentação Dele. Ele é soberano sobre todas as nações (v.6-7).

 

7.Deus treme a terra, causa furacões e catástrofes, mas será que Ele está irado com a sua criação? A figura que Habacuque usa em sua oração-canto é de Deus preparado para guerra com poderosos cavalos, os quais sairão para vencer. Quando o povo de Israel estava fugindo de Faraó e o seu exército, o mar os impedia de passar. Mas Deus não estava furioso com o mar, pois este o obedece. Deus não fica furioso contra quem não é rebelde, a ira Dele só se manifesta contra aqueles que “detém a verdade pela injustiça” (Rm 1.18). Outra vez, o povo precisava passar o rio Jordão e Deus abriu aquele rio. Não é contra os rios e mares que Ele se enfurece. Ele trabalha a favor dos crentes que lhe obedecem. O arco de Deus está descoberto e não guardado. Isto significa que Ele usará contra algum alvo. A aljava é um tipo de bolsa para carregar as flechas. O texto diz que a aljava de Deus está cheia. Portanto, os que julgam demorado o juízo de Deus devem considerar que Ele sempre está preparado, nós é que devemos nos preparar. Assim como Deus é um atirador certo com arco e flechas de sobra, as promessas que Ele fez a Israel também são seguras. A terra está no domínio de Deus. Ele recortou toda a terra com os rios. Novamente, o termo Selá, alertando a todos que devem parar para pensar na grandeza de Deus. No v.10, vemos o quadro quando Moisés subiu no monte Horebe. O povo ficou muito amedrontado, pois havia fumaça, raios e fogo. Deus disse que qualquer pessoa ou animal que passasse a linha demarcada morreria. Quando o povo de Israel chegou ao mar vermelho, as profundezas do mar ouviram a voz de Deus e levantaram suas mãos bem alto, dividindo as águas. Ao mesmo tempo em que Deus amedronta, Ele também salva. Por isso, devemos temer e confiar somente Nele. No v.11, o quadro é claro. Josué mandou o sol parar para o povo de Israel vencer a batalha. As flechas podiam resplandecer na luz do dia, mesmo que em situações normais seria noite (Js 10.12-13). Deus pode modificar situações normais para o seu povo. Ele faz tremer montes, abrir o mar e parar o movimento da terra em redor do sol. No v.12, o quadro é do povo de Israel quando entra em Canaã. Deus destruiu aquelas nações idólatras. Portanto, a ira de Deus se revela contra as nações. Se Ele controla todas as nações no curso de toda a História, não é certo pensar que Deus também está olhando para nós individualmente? (v.8-12).

 

8.Depois de presenciar a profecia, Habacuque podia ficar desanimado com tamanha fúria de Deus contra as nações, mas ele sabe que a ira de Deus é contra os desobedientes apenas. O povo de Deus pode ser disciplinado, mas nunca destruído. Deus salva o Seu povo ungido. Nós somos ungidos pelo Espírito Santo, separados para Cristo Jesus. As portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja. Já o perverso está em situação terrível. Desde o telhado até o fundamento de sua casa Deus destruirá. Faz-nos lembrar da casa edificada na areia em Mt 7.24-27. Novamente, a pausa musical “Selah”. É o momento de meditar nesta verdade, ou seja, o salvo está protegido e o incrédulo não tem nenhuma segurança fora de Deus. O exército inimigo é destruído com as próprias armas dele. Os instrumentos de Deus sobre nós, às vezes, são como uma tempestade. O crente fiel é como o pobre sendo devorado às ocultas. O povo de Israel marchou pelo mar, a pé, sem cavalos, mas foi como se estivesse sobre os cavalos de Deus. Enquanto Faraó e seu exército não tiveram sucesso ao atravessar o mar, apesar dos cavalos velozes. O crente fiel e sofredor tira forças de onde não há forças. Quando é fraco, então é que é forte. Apesar da nossa rebeldia, Deus nos protege por sermos o seu povo (v.13-15).

 

9.Habacuque ouviu de Deus tudo o que precisava. O livro começou com uma queixa, um questionamento e terminou com a maravilhosa resposta de Deus. Habacuque se comoveu. Comoção é sentir-se perturbado, pasmado. É uma emoção forte. No caso de Habacuque, a emoção era tão forte que não foi possível ignorar.

- os lábios dele começaram a tremer (medo)

- as pernas ficaram fracas (“entrou a podridão nos meus ossos”)

- os joelhos vacilaram (não conseguia ficar em pé)

- não conseguia falar (“em silêncio”)

 

10.Os caldeus seriam exterminados. Embora fosse o inimigo do povo de Deus, Habacuque estava apavorado diante da poderosa mão de Deus. Se Deus pode pesar a mão sobre o seu instrumento, os caldeus, o qual Ele não tem intimidade, o que Ele não poderia fazer com o seu povo desobediente? Portanto, antes de pensar em vingança, o crente deve pensar que ele não está isento da disciplina do Senhor. Um menino não deve se empolgar que o pai tenha ido atrás do outro que cometeu injustiça contra ele. Mas este menino deve se preocupar quando o pai retornar para acertar as contas com ele agora. Como diz o ditado popular: “Uma vez é da caça e a outra do caçador.” O crente precisa desviar os olhos dos instrumentos que Deus usa e refletir na sua própria vida, no seu andar com Deus e na sua própria desobediência (1 Co 5.12-13, 10.12 e Gl 6.4-5, 1 Co 3.10, 2 Co 5.10 e Rm 14.10) (v.16).

 

11.Não ficou nenhuma dúvida para Habacuque que Deus usa quem ou o que Ele quiser para disciplinar o Seu povo. Também não permaneceu o questionamento de Habacuque sobre os caldeus e a justiça de Deus. Habacuque aceitou que Deus julgaria Israel e os caldeus no tempo certo. Habacuque soube esperar em Deus pela resposta e O louvou quando Ele respondeu. Habacuque aprendeu que orar e cantar é uma maneira de engrandecer o Senhor. Habacuque aprendeu que não pode fugir da realidade por mais dura que esta seja. O crente deve se preparar para os dias maus e ainda assim extrair alegria sincera do Senhor Jesus Cristo. Habacuque está se preparando para o que o povo de Judá iria enfrentar por causa do julgamento. Agora ele não pensa mais nos caldeus, mas na dura realidade de seu próprio povo. Às vezes, lemos estes versículos e imaginamos que seja apenas uma possibilidade passar pela escassez. Para Habacuque não era uma possibilidade, mas uma certeza. Com os caldeus invadindo Judá, o sofrimento, a morte e a fome prevaleceriam. Portanto, era verdade! Deus não voltou atrás na repreensão do povo, por isso, era preciso arrancar forças e esperança para continuar a sobreviver. Ninguém sobrevive sem esperança. A figueira continuaria florescendo, mas o povo de Deus não aproveitaria os figos, pois estaria longe de sua terra. Quando estamos sob a disciplina do Senhor, os frutos celestiais continuam a produzir na Igreja, entre os irmãos, mas nós somos impedidos de aproveitar até que nos arrependamos e Deus cumpra o seu propósito e tempo em nossas vidas. Quando falta uva na vide, falta o vinho também, que é o símbolo da alegria. Em alguns momentos da vida temos que aprender a experimentar a alegria sem os motivos que normalmente nos fazem alegres. Se a oliveira não produzir azeitonas, não haverá azeite e sem azeite não haverá honra, pois o óleo escorrendo pela cabeça era sinal de honra (Sl 133). É um privilégio ser honrado, porém, às vezes, Deus nos deixa faltar a honra para honrarmos mais o Senhor. Quando não há nenhum lavrador para cuidar dos campos que produzem trigo, não há pão. Deveríamos agradecer pelo pão de cada dia que Deus está nos concedendo e pelo alimento espiritual que estamos recebendo diariamente. Sem as ovelhas não haverá roupas e nem sacrifício para adorar o Senhor. Paulo disse que tendo o que comer e vestir devemos nos dar por satisfeitos. Deus tem dado muito mais do que isto e nem por isso somos tão gratos. Hoje, não precisamos de ovelhas no aprisco para sacrificar a Deus, mas temos Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Ninguém O arrebatará do nosso aprisco (nosso coração). E também não seremos arrebatados por ninguém, exceto por Ele mesmo quando vier buscar a Sua Igreja. Se não houver gado nos currais não haverá força para o trabalho e nem leite para o alimento. Deus nos tem dado forças na vida cristã para trabalharmos para Ele. O leite da Palavra é o que nos alimenta e é o leite puro. O povo de Israel podia ficar sem essas provisões, mas nós nunca poderemos sobreviver na vida cristã sem as provisões do Espírito Santo. Mas ainda que passarmos por tribulações, vamos nos alegrar no Senhor, o Deus da nossa salvação. Os judeus tinham muros em volta de Jerusalém que eram sua fortaleza, mas os caldeus derrubaram os muros e queimaram as portas. O crente em Cristo, porém, tem uma fortaleza inabalável. Quem vive o cântico de Habacuque tem os pés como os da corça, nunca param no chão, estão sempre saltitando. É um andar altaneiro, digno e alegre (v.17-19).

 

“A menção da figueira, da videira, da oliveira, dos cereais e dos rebanhos abrange toda a linha dos produtos agrícolas dos quais a nação dependia. Presumivelmente a razão para o fracasso das colheitas fosse a invasão caldeia. As tropas inimigas não só acabavam com a terra mas com frequência e deliberadamente destruíam árvores e colheitas. Uma antiga crônica egípcia gaba-se de que os soldados egípcios arruinaram as árvores frutíferas de uma planície costeira da Palestina.”[5]

 

A resposta de oração (Hc 3)

1.Leva o crente a clamar pela obra do Senhor (v.1-2)

2.Leva o crente a reconhecer a glória e poder do Senhor (v.3-12)

3.Leva o crente a reconhecer o livramento do Senhor (v.13-16)

4.Leva o crente a alegrar-se, em toda circunstância, no Senhor (v.17-19)


Pércio Coutinho Pereira, 2020 – 1ª ed. Em 2000

 

Notas

 

1.     Introdução

1.Explore the book - J.Sidlow Baxter

 2.Merece confiança o AT? - Gleason L.Archer, Jr

 3.Manual Bíblico - H.H.Halley

 4.Estudo Panorâmico da Bíblia - Henrietta C.Mears

 5.Christian Workers' Commentary on The Old e New Testaments - James M.Gray

 6.Análise Bíblica Elementar - James M.Gray

 7.O livro dos livros - H.I.Hester

 8.Conheça sua Bíblia - Júlio Andrade Ferreira 

 9.A História de Israel - Samuel J.Schultz

10.Através da Bíblia - Myer Pearlman

11.Introdução ao Velho Testamento -  H.E.Alexander

12.De Adão a Malaquias - P.E.Burroughs

13.O Novo Dicionário da Bíblia

14.Bíblia anotada pelo Dr. Scofield

15.Expository outlines on Old Testament - Warren W.Wiersbe

16.A Short introduction to the Pentateuch - G.Ch. Aalders

17.Comentários da Bíblia Vida Nova

 

2.     Comentário Bíblico de Matthew Henry – Êxodo, pg.2 (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - 3ª Edição - 2003)

3.     Do temor à fé – Estudos no livro de Habacuque, pg. 20-21 - D. Martyn Lloyd-Jones (Editora Vida – São Paulo - 5ª impr. 1995)

4.     Comentário Bíblico Expositivo do VT, pg. 514 – Hc 2.4-5 – Warren W. Wiersbe (Editora Geográfica – 1ª edição 2006)

  1. Comentário Bíblico Moody – Habacuque, pg. 24 (Editado por Charles F. Pfeiffer – Imprensa Batista Regular 4ª impressão 2001)


[1] 1.Explore the book - J.Sidlow Baxter

 2.Merece confiança o AT? - Gleason L.Archer, Jr

 3.Manual Bíblico - H.H.Halley

 4.Estudo Panorâmico da Bíblia - Henrietta C.Mears

 5.Christian Workers' Commentary on The Old e New Testaments - James M.Gray

 6.Análise Bíblica Elementar - James M.Gray

 7.O livro dos livros - H.I.Hester

 8.Conheça sua Bíblia - Júlio Andrade Ferreira 

 9.A História de Israel - Samuel J.Schultz

10.Através da Bíblia - Myer Pearlman

11.Introdução ao Velho Testamento -  H.E.Alexander

12.De Adão a Malaquias - P.E.Burroughs

13.O Novo Dicionário da Bíblia

14.Bíblia anotada pelo Dr. Scofield

15.Expository outlines on Old Testament - Warren W.Wiersbe

16.A Short introduction to the Pentateuch - G.Ch. Aalders

17.Comentários da Bíblia Vida Nova

 

[2] Comentário Bíblico de Matthew Henry – Êxodo, pg.2 (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - 3ª Edição - 2003)

[3] Do temor à fé – Estudos no livro de Habacuque, pg. 20-21 - D. Martyn Lloyd-Jones (Editora Vida – São Paulo - 5ª impr. 1995)

[4] Comentário Bíblico Expositivo do VT, pg. 514 – Hc 2.4-5 – Warren W. Wiersbe (Editora Geográfica – 1ª edição 2006)

[5] Comentário Bíblico Moody – Habacuque, pg. 24 (Editado por Charles F. Pfeiffer – Imprensa Batista Regular 4ª impressão 2001)

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