45 João

 João

Adler, Águia Rabalva, Águia Careca, Bird

 

Introdução[1]

O Evangelho de João (Jesus, como o Filho Eterno de Deus, 20:31)

1.O autor é João, o apóstolo e a data é incerta. Provavelmente na última parte do primeiro século. A palavra-chave é “crer”. O propósito principal deste evangelho é inspirar a fé em Jesus Cristo como o

filho de Deus. No Evangelho de João há sete “Eu Sou”.

 

EU SOU

Referência

O Pão da Vida

6:35

A Luz do Mundo

8:12

A Porta

10:9

O Bom Pastor

10:11

A Ressurreição e a Vida

11:25

O Caminho, a Verdade e a Vida

14:6

A Videira Verdadeira

15:1

 

2.Talvez a mais notável de todas as características distintivas deste Evangelho seja o fato de que mais da metade do espaço do livro seja dedicada a eventos da vida de Cristo e suas palavras durante seus últimos dias. É o último dos Evangelhos, escrito pelo menos cinquenta anos após a ascensão do Senhor, e é o mais profundo de todos. Únicas passagens em João que se repetem em algum outro evangelho (1.19-28, 32-34, 6.1-21, 12.1-8, 12-19, 13.36-38, 18.1-11, 15-18, 18.28-40, 19.17-22, 28-30, 38-42, 20.1-23).

 

3.João, o autor deste Evangelho, era filho de um mestre-pescador, (seu pai tinha “os jornaleiros”, Marcos 1:20) e Salomé, uma das mulheres que ajudavam ao Senhor com suas fazendas (Mateus 27:55, 56 e Lucas 8:3) disto e do fato de residir em Jerusalém (João 19:27), é evidente que desfrutava vida confortável.

 

4.O autor deste evangelho é João, filho de Zebedeu. Era um dos Doze. Ele, seu irmão Tiago e Pedro, irmão de André, eram os mais íntimos de Jesus. O livro não cita o autor, mas em Jo 21.20,23,24, sabemos que é João. Foi o último escrito da Bíblia, exceto Apocalipse. Final do 1º século (85-90 a.D.). Foi escrito quando João estava em Éfeso, onde foi gasto os últimos anos da vida de João antes de ser exilado na ilha de Patmos. Conforme Jo 20.31 o livro foi escrito para todos os crentes. Para firmá-los, dar certeza da salvação, servir de instrumento para convicção dos ímpios. O tema principal do evangelho de João é a divindade de Jesus.

 

5.A palavra-chave é “crer”. Neste Evangelho, Jesus Cristo é apresentado como Aquele em quem devemos crer. Nas Epístolas de João, Jesus é Aquele a quem devemos amar. Em Apocalipse Jesus é Aquele que devemos esperar. João diz que devemos crer na Divindade do Homem Cristo Jesus (20:31).

 

6.Sinópticos significa “olhar junto”. Os três primeiros evangelhos, Mateus, Marcos e Lucas devem ser observados juntos, mas o evangelho de João é especial, pois não segue a mesma ordem paralela dos demais evangelhos. Algumas observações em relação aos sinópticos:

 

        SINÓPTICOS

O EVANGELHO DE JOÃO

Todos escritos antes de 70 a.D.

Salientam biografia

Relatam muitas parábolas

 

 

Narram 23 milagres

Enfatizam discursos públicos

Contam o que Jesus fez

Ministério de Jesus ao Norte (Galileia)

Ênfase na herança do reino

A História terrena

Escrito de 80 a.D. em diante

Salienta doutrina

Não relata nenhuma parábola, exceto cap.10 (O Bom Pastor) e Cap.15 (A Videira), se considerarmos como parábolas

Narra apenas 7 milagres

Enfatiza entrevistas ocultas

Conta porque o fez

Ministério de Jesus ao Sul (Judeia)

Ênfase na Pessoa de Jesus e na herança da vida eterna

O significado espiritual


Capítulo 1: O Verbo de Deus. João Batista. Os primeiros discípulos

1.“Verbo” é a tentativa de tradução da palavra logos (logos) que pode ser traduzida por “palavra, pensamento”. A filosofia grega usava este termo para descrever a essência de qualquer existência. Ou seja, nada existe sem o Logos. Portanto, esta palavra foi emprestada da filosofia grega, e foi muito oportuno, pois os leitores aos quais se destinou este escrito eram gregos. O Logos não foi criado como deixa claro o pensamento dos versículos. Em Gênesis 1.1 afirma que foi “no princípio”. O Verbo foi o Criador do Universo. O Logos está onde Deus está e é o que Deus é (Ap 19.13) (v.1).

 

“Portanto, quando céu e terra foram criados, o Verbo de Deus estava lá, já existia em relação íntima com Ele e fazia parte da Sua essência. Não importa até onde tentemos fazer voltar nossa imaginação, nunca alcançaremos um ponto em que poderemos dizer do Verbo divino, como Ário: ‘Houve um dia em que ele não era’”.[2]

 

2.O Logos estava com Deus, portanto, refere-se à Eternidade, pois nem os anjos estavam com Deus. Somente o próprio Deus não foi criado, por isso, é fácil chegar à conclusão que o Logos é Deus. Além de sabermos neste verso que o verbo é Criador, sabemos também que o mundo não é eterno. Havia um tempo em que não existia. Outras referências para Jesus Cristo como Criador são as seguintes: Hb 1.1, 10-12, Cl 1.16, Ap 3.14. Talvez tenha muitos crentes, que sem conhecimento não sabem que Jesus também criou o universo. Esta ênfase deve existir desde o ensino para as crianças e nos evangelismos, para que saibam que Jesus não entrou na História da Redenção de última hora (v.2-3).

 

3.Ele não apenas gerou moléculas, mas gerou vida. Esta vida gera luz, ou seja, cada pessoa pode perceber que Deus é o Criador Poderoso. A Criação é um bom testemunho para que alguém perceba que existe um Criador. Não fosse Ele nada haveria, nem mesmo a escuridão, que também foi criada. O conhecimento de Deus é a Luz gerada pelo Verbo e prevalece contra a ignorância espiritual. Não se pode apagar o testemunho da Criação. Portanto, esta Luz está prevalecendo contra todas as trevas. A palavra luz aqui é usada de modo literal, ou seja, se refere à Criação, quando Deus disse: “Haja luz”, mas também de modo espiritual, referindo-se ao conhecimento de Deus (v.4-5).

 

4.O escritor nem precisou dizer João Batista, pois nunca cita o seu próprio nome. A ênfase que o escritor colocou sobre Deus foi muito coerente ao seu ensino. Sendo que o Verbo é Deus e não João Batista, fez por bem expressar-se dessa forma, “homem enviado por Deus”, mostrando que o homem foi apenas enviado, mas Deus é o responsável pela luz. Infelizmente muitos seguidores de João Batista não compreenderam que eles deviam deixar João Batista e seguir a Jesus, o Verbo, a Luz. João Batista não quis arrebanhar discípulos, mas transferi-los para Jesus. A tarefa de João Batista era apresentar Jesus como o Salvador, e isso ele fez muito bem, ainda que como pagamento tenha sido decapitado. João Batista veio para modificar a maneira dos religiosos da época pensarem. Talvez João Batista seja o exemplo mais fiel de um pregador que transferiu a glória para Deus. Jesus citou-o como o homem mais importante nascido de mulher (v.6-7).

 

5.Os discípulos de João Batista demoraram a descobrir que João Batista não era a luz (At 18.24-26, 18.1-7). João Batista abalou todas as classes da época, até o chamaram de Elias, por isso, é importante insistir em dizer que não era a luz. Em 5.35 há um esclarecimento da função de João Batista como “lâmpada”, que é apenas um instrumento pelo qual a luz brilha, muito embora seja muito importante, a lâmpada não toma o lugar da luz. Durante 400 anos o povo de Israel não teve um mestre notável, agora, com o ministério de João Batista podiam confundi-lo com a luz. A verdadeira luz é Jesus. Não significa que João Batista seja uma luz falsa, e sim, que o título “luz” pertence somente a Jesus Cristo antes mesmo da Criação. A Luz ilumina a todo o homem. Se alguns permanecem nas trevas, não é por falta de iluminação, mas porque preferem as trevas. O versículo não está ensinando a Universalidade da Salvação, mas apenas que não falta iluminação neste mundo que ignora Deus (v.8-9).

 

6.Os povos fizeram imagens e ídolos porque não conheceram a Jesus. Quem não conhece o Verbo vive somente pelos sentidos e estabelece sua própria religião. Antes da Encarnação, Deus se revelou pelos profetas, pela criação e pelo cuidado para com o povo de Israel. Alguns ficam desapontados por não serem reconhecidos, mas o que diremos de Jesus que não teve reconhecimento quando da Sua Encarnação? “O que era seu” refere-se à nação de Israel, os judeus. A Encarnação é o cumprimento da profecia do Velho Testamento. Os judeus da época de Jesus esperavam um líder de reformas sociais e políticas. Tinham pouca atração pelos assuntos espirituais. Este verso não trata da rejeição dos profetas do Velho Testamento, mas especificamente da vinda de Jesus em Israel. Não providenciaram hospedagem para a mãe dele, foi perseguido, confrontado e morto. A neutralidade não existe quando se trata das coisas de Deus (v.10-11).

 

7.Alguns não acharam tropeço em Jesus (Mt 11.6). Quem deu as boas-vindas a Jesus recebeu o direito de herança com tudo o que envolve as bênçãos celestiais. Só o fato de ser aceito na Família de Deus, resulta em bênçãos que não podem ser enumeradas. Agora o caminho a Deus não é mais pela nação de Israel, mas pela Pessoa de Jesus. Não adianta ser descendente de Abraão, nem participar dos rituais judaicos para se tornar um filho de Deus. Essa nova filiação é sobrenatural. É impossível ao homem fazer algo para sua salvação. Ele precisa somente crer na maneira de Deus, aceitando a Salvação que Ele providenciou em Cristo Jesus (v.12-13).

 

8.Jesus não veio em “semelhança de homem” (conforme afirmavam os gnósticos), mas veio como homem perfeito. Ele habitou entre os homens. Isto lembra Êx 40.34. Moisés orou para ver a glória que, hoje, temos o grande privilégio de desfrutar (Êx 33.18). Não deve ser entendido que Cristo vivia na História antiga, apenas, mas que vivia antes mesmo da Criação e que sempre existiu. João Batista diz que Jesus é “antes de mim”. Lembre-se que João Batista foi considerado o maior dos profetas e exaltou Jesus como maior do que si mesmo (v.14-15).

 

9.Somos perfeitos Nele, participamos de Sua natureza, portanto, temos Sua plenitude, pois Ele enche o nosso ser. João se expressa de modo lindo ao dizer “graça sobre graça”, dando a certeza de que cada bênção que retiramos, outra está reservada para nós. Nada falta, tudo ali está! É como tirar um copo de água do oceano. Sempre haverá abundância da graça de Deus sobre seus filhos. João não está menosprezando a Lei, antes mostra que a exigência da Lei é satisfeita em Cristo, que morreu sob o regime da Lei. Enquanto o medo dos que estão debaixo da Lei é morrer, os que estão sob a graça não precisam temer, pois estão debaixo de Cristo que já sofreu a morte que a Lei exige. Moisés trouxe a Lei que condena e Jesus trouxe a graça que redime. Ambos trouxeram algo de Deus (v.16-17).

 

10.Nem Moisés viu a Deus, mas viu mais do que outros que só viram manifestações. Moisés viu um clarão vindo do próprio Deus. Um dia todos verão a glória direta de Deus, ou para viver com Ele ou para ser condenado por Ele.  Jesus estava no “seio do Pai”, indicando relação eterna de comunhão. Neste texto vimos as razões para louvarmos o Verbo de Deus. Nós O louvamos porque o Verbo é Jesus e é Deus. Também O louvamos porque o Verbo é a luz dos homens e porque o Verbo veio a fim de nos alcançar (v.18).

 

11.João Batista já sabia o que os fariseus queriam, por isso, confessou com uma negativa: “Eu não sou o Cristo”. Ninguém pode tomar o lugar de Cristo, pois Ele é o único Deus verdadeiro. A humildade não é pretensiosa. Nós temos a tendência de dizer de nós mesmos além do que convém para impressionar os outros. João não esperou que perguntassem, mas ele mesmo se apressou a dizer que não era o Cristo (v.19-20).

 

12.João Batista não era Elias em pessoa, mas era em função. O profeta Malaquias disse que antes da vinda de Cristo, Elias devia vir. João Batista se vestia como Elias e anunciava salvação. O próprio Jesus disse que João era o Elias que devia vir, mas que virá no futuro. É muito provável que uma das duas testemunhas em Apocalipse seja Elias do Velho Testamento. João respondeu que não era profeta. Não do modo como eles pensavam, ou seja, algum profeta ressuscitado. João Batista deve ser considerado como o último profeta do Velho Testamento. Não o último em importância, mas em ordem cronológica (v.21, Ml 4.5, Mt 17.10-13).

 

13.Os mensageiros dos fariseus estavam impacientes, pois precisavam noticiar com fidelidade ao sinédrio o que viram. Eles esbarraram na humildade de João que não se exaltava e nem mesmo se dava título de si mesmo. Assim devemos aprender, também. Não é o que falamos de nós mesmos que nos coloca nos melhores lugares, mas o que Deus diz sobre nossa vida é o que importa (v.22-23).

 

14.João não deu um título para si mesmo, antes citou a profecia de Isaías que estava relacionada ao seu ministério. Quem lesse o profeta entenderia que João era o precursor do Messias. Os fariseus não eram humildes como João. Eles se achavam especiais, pois até o título “fariseu” significa “separado” que é o correspondente de “nazireu”. Eram zelosos nos aspectos exteriores da lei, indo até mesmo além do que estava escrito (v.24, Is 40.3).

 

15.Para os fariseus a autoridade e credencial eram tudo, por isso, exigem uma explicação para o batismo de João. Se ele próprio afirmou não ser o Messias e nem Elias qual a autoridade que tinha de chamar as pessoas ao arrependimento e batismo? João Batista reconhece a sua limitação. O batismo com água é apenas um prenúncio da vinda do Messias. As pessoas que estavam interessadas na vinda do Messias aceitariam terem seus caminhos aplainados, ou seja, uma vida entregue às coisas de Deus. Podíamos nos perguntar, hoje, se estamos, de fato, aguardando o Noivo para buscar a Sua amada Igreja, a Noiva (v.25-26).

 

16.A humildade de João é vista sob o aspecto de não tomar para si mesmo a responsabilidade de Cristo. Ele nem mesmo se sentia digno de desatar as tiras das sandálias do Messias e lembremos que para fazer isto só é possível ajoelhado. Era o trabalho de um servo, o de tirar o calçado do dono da casa e lavar-lhe os pés. O batismo era praticado pelos judeus sobre os prosélitos, mas João Batista convoca os judeus de nascimento a serem batizados. (v.27-28, Jo 11).

17.João Batista não tomou o lugar de Cristo, mas pelo contrário, apresentou às pessoas o verdadeiro Cristo. A mensagem era quase conhecida, pois o cordeiro era o animal exigido para os sacrifícios, mas o cordeiro servia para uma pessoa ou no máximo para a nação toda de Israel, mas João Batista afirma que o Cordeiro que está pregando é para o mundo todo. Os fariseus já tinham ido embora. No momento eles não suportariam mais esta mensagem. Muitos não aceitam que um homem possa tirar o pecado do mundo todo, mas Ele não é um homem comum, cheio de pecados, Ele é o próprio Deus. É o Verbo eterno, o Cordeiro de Deus. Ele tem a primazia antes de tudo e de todos (v.29-30).

 

18.O próprio João não conhecia Jesus. Ele nasceu na mesma época. Era o seu primo, mas João se ausentou da sociedade para o deserto. João Batista batizava para convidar pessoas e prepará-las para Jesus, o Messias. João Batista não conhecia Jesus pessoalmente. Soube quem era Jesus somente no dia que Jesus veio para ser batizado. Deus declarou a ele antes mesmo do sinal do batismo, pois O reconheceu de longe (v.31).

 

19.João Batista teve a confirmação da divindade de Jesus (Is 11.2, 42.1). A pomba foi o animal escolhido por Deus para simbolizar o Espírito Santo. É um animal amável com os filhotes e que ilustra muito bem a pureza e o cuidado fiel. João estava somente abrindo o caminho para Aquele que não batizaria com água, mas com o próprio Espírito Santo. A Este o mundo devia seguir e não a João (v.32-33).

 

20.João Batista foi humilde em reconhecer Jesus como Deus. Assim como João, cada um precisa testificar que Jesus é Deus e é o Salvador. Ninguém pode decidir pelo outro. O filho precisa reconhecer por si mesmo diante de Deus que Jesus é o seu Salvador pessoal. João Batista tinha muitos discípulos, os quais foram orientados sobre o novo mestre que viria. Apenas estes dois estavam ansiosos, no momento, para conhecer Jesus, o Cordeiro de Deus, do qual João Batista tanto falou. Nem todos estão tão interessados nas coisas espirituais. Alguns têm mais pressa. Se o Cordeiro de Deus chegou, então, o único assunto que importa no momento é conhecê-Lo pessoalmente (v.34-35).

 

21.É como se João Batista dissesse: “Vejam, este é o novo Mestre. Despeçam-se de mim e sigam-No, que é o próprio Deus”. Dois dos discípulos não discutiram nem perguntaram mais nada sobre o Cordeiro de Deus. Tudo o que queriam saber de Jesus, agora, saberiam à medida que O seguissem. Um pastor, um conselheiro e um mestre podem apresentar o caminho, mas cada um precisa ter um interesse de conhecer melhor o Mestre dos mestres (v.36-37).

 

22.João Batista foi humilde não tomando o lugar e Cristo, mas apresentando-O às pessoas para que estas O seguissem. Os dois discípulos de João Batista se interessaram por Jesus. Depois que os discípulos ouviram de João Batista que deviam seguir a Jesus não pensemos que foi fácil para eles. Ninguém se sente bem imediatamente com mudanças. É necessária alguma adaptação. Os amigos mudam, os lugares que frequentamos são outros e, por vezes a saudade da antiga vida nos assola. No caso dos discípulos de João não havia nada de errado em segui-lo, mas com o novo relacionamento com Jesus eles deviam deixar João Batista. No caso de alguém, hoje, seguir a Jesus deixando a antiga vida de pecado, também é necessária alguma adaptação. Muita coisa muda ao seguir a Jesus e é bom pensar nas condições do discipulado. O Senhor Jesus está fazendo a mesma pergunta para nós. O que estamos buscando, de verdade? É possível que os discípulos de João Batista nem mesmo sabiam que o que estavam procurando. Estavam agindo mais em obediência ao próprio João, uma vez que nem mesmo sabiam que era esse Jesus. A primeira pergunta deles era onde Ele morava. Quando temos novos amigos queremos saber onde moram. Alguns querem avaliar as pessoas conforme a casa que possuem (v.38).

 

23.É exagero dizer que Jesus não tinha onde morar, conforme estes versículos. Talvez a casa não tenha impressionado aos discípulos, mas as palavras de Jesus foram suficientes para que O seguissem até o fim. Eles ficaram aquele dia com Jesus, conhecendo-O. Jesus foi gentil, não apenas respondeu onde morava, mas convidou os seus novos amigos a conhecerem sua casa. É um tabu que precisa ser quebrado. Quem segue a Jesus nunca ficará sem amigos. O primeiro novo amigo, logo de início, é o próprio Jesus. Além Dele há muitas novas amizades. É verdade que as velhas amizades acabarão no caminho antigo, não porque quebraremos relacionamentos, mas quando seguimos a Jesus alguns amigos, e até parentes, nos abandonam (v.39).

 

24.Um discípulo era André e o outro, possivelmente, era João, o escritor que nunca mencionava o seu próprio nome. André aparece três vezes neste Evangelho e sempre que é mencionado está levando alguém até Jesus (1.40-41, 6.8-9, 12.20-22). Além dos dois discípulos, mais um torna-se discípulo de Jesus, que é Pedro ou Cefas, cujo nome significa “pedra”. Messias é uma palavra hebraica, Cristo é uma palavra grega e Ungido é a palavra portuguesa. Muitas religiões têm os seus “Messias”, mas somente Jesus Cristo veio ao mundo ungido pelo Pai. A unção foi o Espírito Santo que desceu em forma de pomba. Somente Ele veio do céu e somente Ele ressuscitou e somente Ele voltará, portanto, ele é o único Messias (v.40-42).

 

25.Quem segue a Jesus não ficará sem amigos. André, Pedro e João agora construíram um relacionamento melhor, pois aprenderiam do novo mestre, Jesus Cristo. Jesus quis ir para a Galileia porque ali encontraria mais discípulos. O próximo amigo é Filipe. O círculo de amizades está se abrindo. Ele era de Betsaida que significa “casa da pesca”, a principal atividade da região. Jesus ia direto ao assunto. Ele estava chamando somente aqueles que era do Seu plano treiná-los para apóstolos. Isto não significa que ele não tinha outros discípulos. Na Sua ressurreição foi visto de uma só vez por mais de 500 irmãos que eram Seus discípulos (v.43-44).

 

26.O evangelho tem bases remotas que precisam ser enfatizadas, como deixam claras as palavras “de quem Moisés escreveu” e “a quem se referiram os profetas”. Filipe conhecia as profecias. Moisés escreveu sobre o profeta que viria depois dele em Dt 18.15. Os profetas se referiram a Jesus Cristo de várias maneiras (v.45).

 

Descrição do Messias

Referência

Aflito, ferido de Deus e oprimido

Is 53.4

Um Renovo de justiça

Jr 33.15

O Pastor

Ez 34.23

O Messias, o Príncipe

Dn 9.25

O orvalho para Israel

Os 14.5

O Senhor que habita em Sião

Jl 3.17,21

O Senhor, o Deus dos Exércitos

Am 4.12

Aquele que vem no dia do Senhor

Ob 15

Do Senhor vem a salvação

Jn 2.9

A nossa paz

Mq 5.5

Fortaleza no dia da angústia

Na 1.7

O Deus da minha salvação

Hc 3.18

O poderoso que está no meio de ti

Sf 3.17

O Senhor dos Exércitos

Ag 2.9

O Pastor ferido

Zc 13.7

O sol da justiça

Ml 4.2

 

27.Natanael zombou do lugar referido, Nazaré. Ele estava cheio de preconceito a respeito de Nazaré e quase perdeu a bênção por causa disto. Quantas bênçãos perdemos por causa dos nossos preconceitos. Aqueles que rejeitam o evangelho porque pensam que não existe nada bom entre os crentes estão perdendo a maravilhosa chance de verem o que Deus pode fazer com um povo desprezível aos olhos da sociedade. A experiência tem grande valor no reconhecimento das verdades espirituais, por isso, Filipe desafiou Natanael com o convite “vem e vê” (v.46).

 

28.Natanael zombou, porém, Jesus fez uma importante observação sobre ele. Jesus reconheceu em Natanael um verdadeiro israelita. Natanael não era apenas um descendente de Abraão por nascimento, mas um religioso sincero, que esperava o Messias ansiosamente. Jesus disse que não havia dolo em Natanael, fazendo um contraste com o nome de Jacó, que significa “usurpador, enganador”. Portanto, é um israelita em quem não há “Jacó” (v.47).

 

29.Jesus mencionou algo conhecido apenas pelo próprio Natanael. Toda a dúvida que tinha, naquele momento fora dissipada. Jesus sabia onde Natanael estava antes mesmo de encontrá-lo. Todo o preconceito de Natanael se quebrou, pois Jesus era onisciente. Não apenas veio algo bom de Nazaré, mas o próprio Deus. Natanael ficou convencido que Aquele só podia ser o Filho de Deus. Rei de Israel era o título máximo, um israelita sincero não podia esperar Pessoa mais significativa (v.48-49).

 

30.Jesus prometeu a Natanael mais evidências de Sua divindade. Ele relembra a “escada de Jacó”, onde os anjos desciam e subiam. Naquele momento Jacó soube que Deus estava ali e chamou o lugar Betel, casa de Deus (Gn 28.12,19). “Filho do homem” é um título escatológico (Dn 7.13, Mt 26.64). “Vem e vê” é o conselho de Filipe para Natanael. Precisamos convidar as pessoas a se tornarem amigas dos crentes e verem por si mesmas o que Deus pode fazer nesse meio (v.50-51).

 

A quem estamos seguindo? (Jo 1.29-51)

1.Ao Cordeiro de Deus (v.29,35,36)

2.Ao eterno (v.30)

3.Ao que veio para Israel (v.31)

4.Ao que teve confirmação do céu (v.32)

5.Ao que recebeu o Espírito Santo (v.33)

6.Ao Filho de Deus (v.34)

7.Ao que se deve seguir (v.37)

8.Ao que nos convida para conhecê-Lo (v.38-39,43-44)

9.Ao Messias (v.40-41)

10.Ao que muda o nosso nome (v.42-43)

11.Ao que é o cumprimento das Escrituras (v.45)

12.Ao que deve ser provado (v.46)

13.Ao rei de Israel (v.47-49)

14.Ao que faz grandes maravilhas (v.50-51)

Capítulo 2: O casamento em Caná da Galileia. A purificação do Templo

1.Três dias depois de ganhar Natanael, Jesus vai para um casamento. Agora eram cinco: João, André, Pedro, Natanael e Filipe. O texto faz uma observação oportuna, “a mãe de Jesus estava ali”, pois ela teve grande participação neste acontecimento. Maria deve ser observada como uma mulher humilde e obediente a Jesus. Ela também precisou de redenção, pois embora sendo a mãe de Jesus na terra, era uma descendente de Adão e, portanto, pecadora. O texto diz que “Jesus foi convidado” e, obviamente, aceitou, pois seria a oportunidade de exercer seu ministério entre os judeus. Os liberais que dizem que aqui se trata do casamento de Jesus se esquecem de que ninguém precisa ser convidado para o seu próprio casamento. Jesus foi convidado e bem aceito. Outras vezes era convidado e desprezado. Algumas vezes era convidado só para ser confrontado. Portanto, soube viver em todas as circunstâncias. José nunca é mencionado com Jesus em seu estado adulto. Muitos admitem que José tenha morrido na meninice de Jesus. É certo que na morte de Jesus, seu pai, José, não era mais vivo (v.1-2).

 

“Sete milagres selecionados de Jesus formam a estrutura deste livro (oito se incluirmos a ressurreição de Cristo). João escolheu esses sinais para servir a seu propósito imediato. A palavra traduzida por sinal é uma das quatro palavras para milagres no Novo Testamento. A ênfase, quando essa palavra é usada, está naquilo que o milagre significa... neste caso, que Jesus é o Messias, o Filho de Deus.”[3]

 

2.Nenhum casamento devia ficar sem a presença de Jesus. Ele é o principal convidado no lar. Ele bate à porta e quer cear com o crente. Não é diferente no casamento. O casamento do crente sempre deve ser a três. Em um casamento pode faltar luxo, casa própria e até mesmo filhos, mas nunca pode faltar a maravilhosa pessoa de Jesus Cristo. O vinho para os judeus simbolizava “alegria”, portanto, acabar o vinho era o mesmo que terminar a alegria da festa. Em nossa vida ou em nosso casamento a alegria pode findar. O que fazer? Maria foi logo a Jesus. E nós, para quem iremos? A alegria é um ingrediente que revela muito da nossa vida. As pessoas tristes não encontraram em Jesus a razão de viver. As pessoas alegres, porém, independentes de Jesus, não encontraram a fonte da verdadeira alegria. Maria era a mãe de Jesus e não mais do que isso. Ele nunca mandou que adorássemos Maria como eterna. Ele é o verbo eterno e não a mãe dele. Jesus disse à mãe que “não é chegada a minha hora”. Este termo “minha hora”, normalmente era usado em outro contexto por Jesus, isto é, para Sua crucificação, que está ligada com Sua glorificação. Aqui é usado para dizer que, ainda, não é o tempo de sua atuação naquela festa. Maria devia esperar e obedecer. Agora Jesus exerce o ministério de Filho de Deus e não a de filho de Maria (v.3-4).

 

3.Ela sabia a quem estava obedecendo, por isso, foi convicta. Embora Maria não soubesse o que Jesus faria, certamente, esperava Dele o melhor. Não importa o que Deus fará por nós, Ele sempre faz o melhor. Ele faz milagres em casamentos. Os casais deviam confiar em Jesus e na alegria que Ele pode restaurar nos lares. As talhas de pedra eram para purificação (Mt 15.2, Mc 7.3, Lc 11.39). Sempre há lugar em nossas vidas para ser enchido com a alegria do Senhor. Ninguém pode dispensar a alegria do Senhor. Quanto mais nos oferecemos para o Espírito Santo nos encher, mais teremos Dele e de Sua alegria (v.5-7).

 

4.A ordem de Jesus foi para os servos levarem as talhas para o mestre-sala, pessoa responsável pela festa. O mestre-sala não sabia a origem daquele vinho, mas notou que a qualidade era excelente. Quando transbordamos da alegria do Senhor as pessoas vão notar. Elas não sabem explicar de onde vem a alegria, mas nós podemos apresentar-lhes a pessoa de Jesus Cristo. Era costume servir o vinho inferior no fim da festa por uma questão de economia. Usando a simbologia do vinho, podemos nos alegrar no fato de que Jesus não diminui a qualidade da nossa vida. É possível alegria na velhice e no final da vida. A alegria não é apenas no início do casamento, mas por toda a vida, juntos, até que a morte venha a separar o casal (v.8-10).

 

5.Este foi o primeiro sinal. Se iriam segui-Lo era bom saber de Quem se tratava logo no início. Sendo que este foi o primeiro sinal-milagre de Jesus, caiu por terra o ensino de que Jesus fazia milagres quando era criança. A glória de Deus foi manifestada naquele casamento. Um casamento não pode ficar sem a glória de Deus. O templo de Israel perdeu a glória de Deus por causa do pecado. Um casamento perde a glória de Deus quando a infidelidade entra no lar. O texto diz que “os discípulos creram”. Podemos mesmo afirmar que o alvo de Jesus nesta festa eram seus discípulos. O Senhor quer nos alcançar com a Sua presença, Sua alegria e Sua glória. Nunca devemos pensar que somente os incrédulos é que precisam do Salvador. Os milagres de Jesus ou quaisquer outros dos tipos encontrados em Atos dos Apóstolos, por exemplo, não são sem propósito, mas são sempre sinais com um objetivo específico, além de curar, de ressuscitar, de expulsar demônios ou de chamar a atenção (v.11-12).

 

6.O evangelho de João aborda os acontecimentos ocorridos durante as principais festas dos judeus. Páscoa vem do hebraico, “pesah” que significa “passar por cima” com o sentido de “poupar” (Êx 12.13,27). Os judeus comemoram a libertação de Israel do Egito. Essa festa é realizada no dia 14 do mês de nisan (março/abril) e era seguida pela festa dos Pães Asmos para lembrar que Deus mandou o povo fazer pão sem fermento porque saíram rápido do Egito e não esperariam a massa do pão crescer com o fermento. Jesus era zeloso e participava de todas as festas que Deus instituiu para o Seu povo. O povo vinha de longe e não trazia animais, esperando encontrar vendedores nas imediações do Templo. O povo que vinha de longe tinha moeda estrangeira e precisava fazer a conversão para o dinheiro judaico, porém, os cambistas ganhavam muito além do que o necessário e justo. Os animais, também eram caríssimos. As ofertas de sangue eram as mais caras devido ao uso de animais. Na Lei de Deus isso já era previsto (Lv 12.8).  Os pais de Jesus ofereceram pequenos animais, devido à sua condição financeira (Lc 2.24). Deus nunca exigiu do homem aquilo que ele não podia oferecer, mas os homens exploram os seus semelhantes sem piedade (v.13-14).

 

7.Em Zc 14.21 e Ml 3.1-3 há profecias sobre o zelo do Messias. As cordas possivelmente eram dos que vendiam os animais. Toda aquela atitude de Jesus precisava de uma justificativa e a que Ele usou foi “a casa de meu Pai não é casa de negócio”, ou seja, colocou-se com guardião do Templo para o Seu Pai, Deus. Isso soava aos ouvidos dos judeus como blasfêmia. Ele chicoteava os animais e não os cambistas. As pombas eram tiradas do local. Não sabemos se lembraram no momento que aconteceu esse incidente ou mais tarde, quando refletiam sobre a ressurreição (v.22). O texto que lembraram foi Sl 69.9. O zelo pela casa do Pai realmente consumiu Jesus, pois custou para Ele oposição e, por fim, a morte. Embora, esse registro venha logo depois do registro do milagre em Caná da Galileia, não se trata no início do ministério de Jesus, mas sim do fim, da última semana, quando Ele visitou Jerusalém para ser preso e crucificado (v.15-17).

 

8.O erro não estava em negociar os animais e nem fazer transação cambial das moedas, mas o erro estava em fazer tudo aquilo nas dependências do Templo e não nas imediações, pelo caminho. Com toda a certeza Jesus também não apoiava a exploração nos preços. Jesus é Deus e Sua autenticidade é vista nesta atitude. É o zelo de Deus. Os judeus pediram um sinal como prova de Sua autoridade para aquela atitude. Houve muitos impostores do Messias. Eles não eram autênticos, assim como há muitos falsos profetas, impostores, os quais pregam um falso evangelho e não o Evangelho autêntico de Jesus Cristo. Jesus respondeu com uma metáfora, colocando-Se como o Templo que é destruído e reconstruído em apenas três dias. A interpretação para nós, hoje, é fácil. Ele estava falando de Sua morte e ressurreição, mas não foi tão fácil assim para os que estavam ali naquele momento (v.18-19).

 

9.Os judeus pensavam que Ele estava falando do Templo literal. O Templo foi destruído em 70 a.D. Ele se referia ao Seu próprio corpo como o santuário. Os discípulos “creram na Escritura”. Como a palavra “crer” neste Evangelho é usada de forma diferente da que usamos, não podemos pensar que os discípulos foram salvos aqui, mas apenas que firmaram mais ainda sua confiança na inerrância das Escrituras e na Pessoa de Jesus Cristo. Talvez todos, exceto Judas, já fossem salvos ou, talvez, alguns foram salvos durante o ministério de Jesus na terra. A autenticidade de Jesus como Deus, também é vista na Sua autoridade que é a de dar a Sua vida e ressuscitar. Os grandes mestres mundiais ofereceram ensino e exemplo, mas não ressuscitaram (v.20-22).

 

10.O texto diz que “muitos creram vendo os sinais”. Novamente a palavra “crer” não tem o sentido que usamos para indicar que foram salvos. Jesus não ficou satisfeito, pois sabia que não era fé genuína. Jesus menospreza a fé que precisa ser reforçada por algum sinal. Tanto é assim, que no meio do povo de Israel, Ele realizou muitos sinais, porém, houve muita rejeição. Os não-judeus, no entanto, faziam lindas declarações sobre Sua Pessoa, sem duvidarem de Sua divindade, pelo contrário, chegavam diante Dele com essa certeza, vindo suplicar-Lhe algum favor. A nossa autoridade é limitada, pois podemos ter muita percepção sobre as pessoas, mas podemos nos enganar. Jesus não tem percepção, apenas, Ele é onisciente. Ele conhece cada pessoa sem que elas pronunciem palavras. Jesus é autêntico. Ele é Deus, pois Ele é zeloso pela casa do Pai. Ele tem autoridade baseada na Sua ressurreição e Ele sabe todas as coisas, pois é onisciente (v.23-25).

 

Capítulo 3: O Novo Nascimento. João Batista

1.Nicodemos era membro do Sinédrio, um fariseu. Aparentemente, um homem sincero, impressionado com os sinais que Jesus fazia. Nicodemos ilustra bem o estado da nação de Israel, que não sabe o real significado das verdades espirituais. Nicodemos encontrou-se com Jesus “de noite”, em segredo, por prudência, já que Jesus era “perigoso” aos olhos dos fariseus. Nicodemos quer explicação dos sinais que Ele realiza. Quando Nicodemos diz “sabemos”, indica que outros já suspeitavam que Jesus tinha algo de sobrenatural em sua essência. Nicodemos usa o termo “Rabi”, reconhecendo a alta posição de Jesus. O próprio Nicodemos é Rabi (v.1-2).

 

2.Jesus disse para Nicodemos o que ele já sabia, ou pelo menos pensava que soubesse. Somente Deus pode dizer ao pecador o que este precisa. Se Nicodemos quer ver o reino de Deus e participar deste precisa nascer de novo, ou seja, ser transformado e ganhar uma nova vida. Parece que Nicodemos era um homem sincero em sua busca pela verdade. Quanto ao nascimento físico ninguém pode escolher os pais, o local e o nível social, mas quanto à mudança de vida espiritual o pecador é convidado a crer em Jesus Cristo, ou seja, fazer a melhor escolha de sua vida (v.3-4).

 

 

 

 

 

 

“Da perspectiva humana, um dos maiores candidatos a entrar no reino de Deus seria Nicodemos. Ainda assim, como muitos em nossos dias, ele era religioso, mas não regenerado. Ele tinha nascido uma vez, mas precisava nascer pela segunda vez. Embora ele fosse um filho de Abraão, ele não era um filho de Deus. Enquanto Nicodemos estava procurando ser justo diante de Deus, ele estava indo ao inferno com o Antigo Testamento debaixo do braço. Infelizmente, com o passar do tempo esse problema não foi remediado por muitas pessoas religiosas e o “clero” no século XX [e XXI também]. A menos que as pessoas vejam sua necessidade de nascer de novo, elas nunca nascerão.”[4]

 

3.Os instrumentos que Deus usa para o Novo Nascimento são a água e o Espírito Santo. A Palavra de Deus é a água que purifica. Somente a Bíblia pode limpar o pecador. A moralização da sociedade, ainda que boa e urgente não é suficiente para purificar o pecador. As boas obras que o pecador pratica, embora importantes para os necessitados, não podem lavar os pecados nem daquele que é alvo das boas obras e nem daquele que as pratica. Quem nasce de novo entra em um novo relacionamento com Deus (v.5-7).

 

4.A palavra “pneuma” em grego quer dizer “vento”, mas também é a mesma palavra usada para “espírito”. Portanto, quando Ele está falando do soprar do vento para os lugares, está usando de analogia, ou seja, o Espírito Santo é Quem opera nos corações. Assim como alguém pode fechar as portas e janelas para impedir que o vento entre em sua casa, o pecador tolo fechará as portas do seu coração e rejeitar a verdade e a graça da salvação. Nicodemos está como uma criança desesperada por respostas. Mesmo sendo um mestre, Nicodemos nunca chegou nessa lição. Ele nunca aprendeu e jamais poderia ensinar. Os fariseus eram cegos guiando outros cegos e todos estavam se perdendo eternamente. É maravilhoso quando pecadores, ávidos pelo conhecimento verdadeiro, se chegam diante do Salvador Jesus Cristo. Ele tem todas as respostas (v.8-10).

 

5.Jesus reconhece que outros pregadores pregam o mesmo ensino espiritual. Não sabemos a quem exatamente Ele se refere, mas podemos incluir todos os profetas e, recentemente, João Batista. Jesus acusa os fariseus de receberem o testemunho da verdade, porém rejeitarem. Se rejeitam aquilo que veem bem perto deles, como entenderão as verdades profundas do céu? É muito perigoso receber o testemunho verdadeiro da Salvação pela Palavra de Deus, mas somente por curiosidade e por conveniência. Se não há um novo nascimento toda a luz do conhecimento se apagará. O encontro de Nicodemos com Jesus, talvez tenha aberto o maior diálogo sobre a salvação já visto na Palavra de Deus. Não é surpresa que todos os que evangelizam usem este capítulo. O pecador se encontra com o Salvador. Este encontro em si não é a salvação, mas é o mais próximo que o pecador pode chegar da salvação. É bom que cada pecador aproveite esta oportunidade. Mas não é só o pecador que se encontra com o salvador. O salvador tem todo o interesse de se encontrar com o pecador, como veremos nos próximos versículos (v.11-12).

 

6.O maior presente de Deus para o homem foi a dádiva do Seu próprio Filho. Jesus Cristo deixou a Sua glória para habitar neste mundo pecador. É o salvador se encontrando com o pecador. Ele não veio passear neste mundo, pois Ele conhece a humanidade e todas as suas motivações. Aqui nunca foi o melhor lugar para um Deus santo morar. Ele veio para buscar e salvar todo aquele que se havia perdido. Jesus menciona o incidente da serpente de bronze no deserto que foi levantada para a cura das picadas das serpentes. A serpente não é tipo de Cristo, como facilmente podemos interpretar por engano, mas o “levantar da serpente” é que é tipo do levantamento de Cristo na Cruz. No caso da serpente de bronze no deserto o pecador precisa tomar a iniciativa de olhar para o objeto de salvação. Hoje também o pecador precisa olhar para a cruz de Cristo. Ele fez tudo o que era necessário para a salvação, veio para se encontrar com o pecador em seus pecados, morreu e ressuscitou, abrindo o caminho para o céu. O que mais é necessário? Nada senão apenas aceitar este presente. Por que alguém morreria em seus pecados, sendo que há um recurso de salvação? (v.13-15).

 

7.O versículo 16 certamente é o versículo mais conhecido dos crentes, o mais traduzido e aquele que quase todos os crentes já memorizaram. É o mais belo encontro do salvador com o pecador. Paulo, citando as palavras de Jesus, disse que “mais bem-aventurada coisa é dar do que receber”. O próprio Jesus deu a Sua vida para nos receber em Sua glória. A especialidade de Deus é dar. Ele tem prazer em dar ao pecador a salvação que tanto necessita. Deus é amor e, por isso, quis se encontrar conosco para nos salvar. Enquanto o pecador se encontra com o salvador e o salvador se encontra com o pecador há possibilidade de salvação. O salvador não veio ao mundo para condenar as pessoas, mas para salvá-las. Há esperança de salvação para os vivos. É só aceitá-Lo como o salvador enquanto há tempo (v.16-17).

 

8.A oportunidade de salvação está nesses encontros com o salvador. Um dia o pecador não salvo terá o pior encontro de sua vida. Será o assustador encontro com o supremo juiz. Todas as possibilidades de salvação serão passadas e só restará trevas e separação eternas. Sempre se pensa em condenação para o futuro e por esta razão muitos são preguiçosos para com as coisas espirituais. Não é tanto que as pessoas não acreditem que o supremo juiz pedirá contas desta vida, mas que as pessoas acham que este julgamento está muito distante e que no final da vida é o momento mais apropriado para pensar nisto. O fato é que nunca se sabe quando é o final da vida. Hoje é o dia mais apropriado para aceitar o salvador. Aquele que não crê no Filho de Deus, Jesus Cristo, como o Salvador de sua alma, inevitavelmente terá de enfrentar o juízo diante do supremo juiz. Naquele dia não haverá discussão ou desculpas, só condenação. Para os que não creem no Salvador a condenação já é uma realidade, pois a qualquer momento poderão deixar esta vida (v.18).

 

9.Esse é o mais assombroso, assustador e inevitável encontro que o pecador enfrentará. O julgamento está baseado nas más obras do pecador. As boas obras não contam para este julgamento. As boas obras não são deduzidas para salvar o pecador. A questão fundamental é que o pecador está separado da luz e não poderá ser salvo naquele dia. O desejo pelas trevas é maior do que o desejo pela luz e isto condena o pecador. A solução está em aceitar o Salvador Jesus Cristo. Quem tem esta oportunidade deve aproveitá-la e não adiar mais. A luz é o único instrumento de verificação do pecador. Através da luz de Cristo o pecador é imediatamente julgado e na cruz de Cristo está a salvação de seus pecados. É bom aceitar esta luz. Esses três encontros são os mais importantes. O crente não participará do encontro com o supremo juiz, pois em Cristo Jesus já está afastado de qualquer condenação (v.19-21).

 

10.Não só João Batista batizava, mas Jesus também por intermédio de seus discípulos. O próprio Jesus não batizava. Ele não queria levantar contendas entre os discípulos de João Batista, porém, acabou acontecendo exatamente isto, pois como sabemos pela Palavra, o coração do homem é invejoso e contencioso. Jesus não veio usurpar a missão de João Batista e, como já vimos no capítulo 1, João Batista nunca pretendeu usurpar a Jesus, pois Ele é Deus. A razão dos discípulos de Jesus convocarem pessoas ao batismo é a mesma de João Batista, aliás é a continuidade do batismo de João, apontando para uma nova fase: o ministério do Messias. Todos os que ouviam e criam eram identificados com o batismo. João Batista não abandonou a sua missão de apresentar o Messias para os pecadores. O batismo continuava a ser o ato exterior que indicava que o pecador aceitara a mensagem (v.22-23).

 

11.Houve uma discussão teológica entre os discípulos. Começaram a fazer partidos. Nem João Batista e nem Jesus Cristo pretendiam formar partidos. Simplesmente, João indicava o caminho ao pecador e este devia seguir a Jesus. O assunto era sobre a purificação. A Lei de Moisés previa vários rituais de purificação e os fariseus aumentaram bastante a lista, exigindo das pessoas práticas que o próprio Deus nunca ordenou. A maneira de lavar as mãos e os utensílios, a quantidade de água, e muitas outras regras. Quando nos perdemos em questões que só causam contendas o resultado é sempre desastroso. A pessoa de Cristo fica anulada e os legalistas acabam usurpando o lugar de Deus (v.24-25).

 

12.Aqui, provavelmente, os discípulos de João estavam discutindo sobre os discípulos de Jesus fazerem o mesmo que o seu mestre, isto é, batizando. Os discípulos de João Batista estavam enciumados por causa da popularidade de Jesus. Isso sempre acontecerá quando não se entende o plano de Deus, pois não era para existir discípulos com João Batista, exceto os que ainda não entenderam a vinda do Cordeiro. Os discípulos de João Batista estavam preocupados com o “declínio” de seu líder, mas não entendiam que não era um declínio de qualidade, mas simplesmente que era o cumprimento de sua tarefa, ou seja, por já ter apresentado Jesus Cristo ao mundo, era a hora de “sair de cena”. João Batista ao ouvir exalta o Cordeiro diante de seus discípulos e defende a Divindade de Cristo Jesus. Ele mostrou que o homem não pode fazer nada se do céu não vier o poder. Jesus não é um simples homem, mas o próprio Filho de Deus (v.26-27).

 

13.João não usurpou ser igual a Jesus Cristo, mas se colocou como precursor de seus caminhos. O crente não deve ir além daquilo para o que o Senhor o tem chamado. Somos servos de Cristo e devemos testemunhar com uma vida exemplar que, de fato, somos obedientes à Cruz de Cristo, ou seja, ao Evangelho. O noivo é Cristo. O amigo do noivo é João e a noiva é a Igreja, ainda não formada. João Batista se alegrava por ter cumprido a sua missão. A usurpação do amigo do noivo seria se ele roubasse para si a noiva do amigo. João não monopolizou os discípulos, mas os conduziu a Cristo (v.28-29).

 

14.As palavras de João são fáceis de pronunciar, mas praticá-las requer humildade. Os crentes podem se tornar usurpadores quando não obedecem humildemente à ordem de Jesus Cristo. Por exemplo, não estamos em posição de discutir se alguém vai aceitar o evangelho ou não, a ordem de Jesus é que preguemos o evangelho. O Espírito Santo é quem decide sobre o nosso futuro. Ele deve crescer e nós devemos diminuir (v.30).

 

As seguintes expressões indicam a divindade de Jesus, defendida por João Batista: v.27 (do céu), v.28 (o Cristo), v.30 (que Ele cresça), v.31 (Alturas e céu), v.33 (Deus é verdadeiro), v.35 (Pai e Filho) e v.36 (Filho).

 

Portanto, João Batista menciona e enfatiza 7 vezes a divindade Daquele a quem teve a grande honra de abrir caminho para seu ministério, Jesus Cristo.

 

15.Há um tipo de usurpação que também não devia existir. É quando os assuntos terrenos querem tomar o lugar dos assuntos celestiais. Nós nem mesmo sabemos do que falamos. Nossos pensamentos são presunçosos e arrogantes. Devemos deixar que Deus assuma o controle de nossos pensamentos. O nosso mundo é totalmente direcionado ao humanismo. O homem é quem decide e deixa Deus de fora de todos os assuntos. Somente Jesus podia ensinar o caminho da salvação para aquelas pessoas. Quando não aceitavam o testemunho de Jesus que viveu com o Pai e no momento estava vivendo entre os homens, eles estavam deixando que os pensamentos terrenos usurpassem a verdade celestial. Quando o pecador deixa todos os seus argumentos por um momento e ouve o Salvador encontrará a perfeita salvação e não a ilusão de bem-estar. O testemunho de Jesus é verdadeiro. Ele é Deus (v.31-33).

 

16.Jesus veio ao mundo não para usurpar o lugar do Pai. Ele “não teve por usurpação ser igual a Deus”. Jesus, sendo o próprio Deus e não tendo pensamentos terrenos obedeceu em tudo ao Pai, quanto mais nós que temos a natureza terrena, devemos ouvi-Lo em tudo. Jesus foi ungido pelo Espírito Santo. Deus derramou o Espírito sobre Jesus. Ele não recebeu o Espírito por medida, mas foi totalmente pleno do Espírito. Alguns ensinam que Jesus era um homem muito iluminado, mas não é isto que a Bíblia ensina. Ele é totalmente Deus (v.34, Fp 2.6). Quem diz crer em Deus, mas rejeita o Filho não é salvo, pois tudo o que Deus é está em Jesus. Quem vê o Filho vê o Pai. Qualquer um que exaltar outro ser mais do que Jesus Cristo é um idólatra, pois Jesus é Deus (v.34-35).

 

17.A ira de Deus está sobre todos os que não creem em Jesus Cristo, como o verdadeiro Salvador e Deus. Muitos transferem a fé para Maria, mãe de Jesus na terra, nos apóstolos que viveram para servir a Jesus e nos Pais da Igreja, homens que aprenderam dos ensinos de Jesus. Chegam a fazer estátuas e imagens dessas pessoas. Tudo para desviar do único alvo verdadeiro, Jesus Cristo, o salvador. São usurpadores de Sua glória e receberão a justa ira de Deus sobre as suas vidas se não se arrependerem de seus pecados. São rebeldes e só alcançarão a vida eterna em Cristo Jesus (v.36).

 

Capítulo 4: A mulher samaritana. A cura do filho de um nobre

1.Se João Batista foi investigado pelo Sinédrio, muito mais Jesus que fazia mais discípulos que o próprio João Batista. O batismo era a continuação do ministério de João Batista, e muito provavelmente, apenas nos primeiros meses do ministério de Jesus. Jesus mesmo não batizava, talvez pela mesma razão que Paulo anos mais tarde, ou seja, para dar prioridade ao ensino e evitar partidarismo, deixando pessoas enciumadas por terem sido batizadas pelo Mestre. Os discípulos de João Batista e os discípulos de Jesus ardiam em ciúmes e os fariseus podiam usar isto para prejudicar tanto João Batista como Jesus (v.1-2).

 

2.Jesus sempre despistava os seus assassinos, pois sabia a hora exata de ser exposto à morte. E aqui também como em outras situações, fugia de tumultos que envolviam Sua Pessoa, não para se defender, mas para evitar uma projeção muito grande de Sua Pessoa como Messias, até que fosse cumprido todo o Seu ministério entre o povo de Israel. Quando a Pessoa de Jesus começava a ficar muito em evidência em Jerusalém e regiões da Judeia, logo Ele se despistava para a Galileia (v.3).

 

3.Jesus queria passar por Samaria. O texto diz que “era necessário”, isto é, Jesus via a necessidade, pois não era o trajeto normal de um judeu que normalmente se desviava pela Transjordânia, na região da Pereia, só para não passar pela terra dos samaritanos. A inimizade era bem conhecida. Havia uma forte divergência religiosa, principalmente, quanto ao lugar da adoração. No Monte Gerizim, que é em Samaria, havia um Templo e era ali o lugar que entendiam ser o lugar santo da adoração instituído por Moisés. Os samaritanos eram uma mistura de judeus com pagãos (2 Rs 17.24). Os samaritanos só aceitavam como fonte divina o Pentateuco de Moisés. Esperavam Moisés retornar como uma espécie de Messias. Era uma má compreensão do texto de Dt 18.15,18. Havia um laço forte que ligava Jesus ao pecador, por isso, Ele tinha de passar por Samaria para provocar um encontro com os pecadores dali (v.4).

 

4.Jacó fez um poço naquele lugar (Gn 33.19, 48.22). Naquela região, as águas corriam pelas montanhas, por isso, havia água suficiente para cavar poços. Jesus estava cansado. A hora sexta era meio-dia, um horário não concorrido para buscar água no poço, pois buscavam pela manhã (v.5-6)

 

5.A mulher que o texto focaliza não tinha a companhia das vizinhas e é provável que fosse desprezada. Além do cansaço, Jesus tinha sede, mostrando e provando a Sua Humanidade. O pedido de Jesus foi muito natural para um viajante sem vasilha para pegar água num poço. Os discípulos tinham ido comprar alimento. Talvez não estava sendo nada fácil para eles, pois um judeu dificilmente entraria numa cidade samaritana e com toda a certeza jamais compraria comida naquele lugar. Qualquer judeu sentiria contaminado se comesse ou bebesse em Samaria (v.7-8).

 

6.Novamente o escritor adiciona uma explicação para quem não é judeu. É dada bastante ênfase sobre a divergência que o judeu tem para com o samaritano, mas o samaritano também não se dá com o judeu. Portanto, não existe nenhum grupo passivo nessa rivalidade (v.9).

 

7.Jesus Cristo, Salvador, está ligado ao pecador nesse laço. Ele provoca encontros, pois Ele ama o pecador e quer salvá-lo. Se Ele fizesse o que o pecador merece era só deixá-lo na condição que está, perdido e separado eternamente do criador e salvador.

 

8.Se a mulher samaritana soubesse que Ele era o Salvador, ela pediria o Espírito Santo que é a água viva que flui de Deus para o pecador. Ela estaria saciada. O Senhor Jesus é o único que pode saciar a sede espiritual do pecador (v.10).

 

9.De onde o pecador poderia tirar água viva para saciar a sua sede? As pessoas estão procurando algo que lhes satisfaça, mas deviam deixar-s enlaçar com o Salvador Jesus (v.11-12).

 

10.A “água natural” não resolve totalmente a sede, mas a “água viva” resolve totalmente a sede espiritual. Jesus afirma que pode satisfazer os desejos mais íntimos do coração. Pode-se fazer uma comparação entre a “água natural” e a “água viva” que Jesus oferece com os sacrifícios do Velho Testamento e o sacrifício de Cristo. Os sacrifícios de animais precisavam de repetição constante, enquanto Jesus Cristo, o sacrifício perfeito é único (v.13-14).

 

11.A mulher tinha uma necessidade imediata que era não precisar mais frequentar aquele poço que por algum motivo era vergonhoso para ela. O pecador tem necessidades imediatas, mas ele precisa saciar a sua sede eterna. Jesus Cristo tem um laço que O liga com o pecador. Ele quer conceder ao pecador a salvação eterna. Ele não deixará o pecador sem que insista em apresentar-lhe essa água viva que sacia a sede eterna (v.15).

 

12.Outro laço que prende Jesus ao pecador é que Ele sabe tudo sobre o ser humano e seus pecados. Não se pode esconder nada do Senhor. Não é muito provável que os outros cinco maridos da mulher tenham morrido, pois senão, ela não teria se impressionado com as palavras de Jesus, que soaram como uma reprovação e acusação, além disso, o “último não era marido”. A vida daquela mulher era um declínio moral. Jesus mostra que ela era pecadora e precisava de águas jorrando de seu interior para a vida eterna. O pecador precisa desse alívio, que é a salvação (v.16-19).

 

13.A mulher aproveita a presença de Jesus o qual ela considera um profeta e quer se aprofundar nos assuntos religiosos. A mulher samaritana, agora, dando crédito a Jesus quer saber “donde vem a salvação”. O Salmista disse alguns séculos atrás: “Para o monte olharei donde vem a salvação” (Sl 121.1), mas referia-se ao monte Sião e não ao monte Gerizim. Em Dt 27.4 é mencionado o monte Ebal, que também fica em Siquém. A mulher samaritana não se refere ao monte Ebal, mas ao monte Gerizim. O fato é que em Dt 11.29 e 27.12 é-nos explicado que o monte Ebal é o “monte das maldições”, enquanto o monte Gerizim é o “monte das bênçãos”. Ebal significa “amaldiçoar” e Gerizim significa “abençoar” (v.20).

 

14.Jesus mostra que a fé judaica é superior, porém, vem a hora (e é agora) em que os verdadeiros adoradores não darão mais importância ao lugar em si, mas à Pessoa de Jesus Cristo. ”A salvação vem dos judeus” (Gn 49.10, onde “Siló” significa “a quem pertence aquele que traz paz, referindo-se ao Messias). Os sacrifícios, promessas, história da redenção pertencem ao judaísmo. Se algum povo possui salvação no Messias é por ter recebido de Israel. O Senhor Jesus busca adoradores verdadeiros. Hoje, os verdadeiros adoradores são os que aceitam Jesus Cristo como Filho de Deus, Salvador e não buscam ser merecedores através das próprias justiças, tais como as boas obras (v.21-24).

 

15.Ela precisa deixar a sua própria maneira de pensar e crer Naquele que falava com ela, Jesus Cristo. O pecador não pode ter crenças particulares, mas deve crer na Palavra de Deus que diz que somente Jesus Cristo é o Salvador (v.25-26).

 

16.Para o judeu não era permitido ao homem e mulher conversarem, só os dois, publicamente. Os discípulos, por respeito, nada perguntaram a Jesus (ainda que pensavam que Ele estava abaixo da dignidade) (v.27).

 

17.Ela nem se preocupou com o cântaro, tamanha a alegria que sentia. Isso simboliza a renúncia da religião formal para algo mais importante: o conhecimento do Messias. Ela não foi categórica com os outros, mas foi fazê-los pensar: “Será que é Aquele que Moisés profetizou que viria?” (v.28-29).

 

18.As pessoas da cidade foram até Jesus, pois também tinham necessidades a serem preenchidas. Há uma sede universal de um salvador. Ele conhece a todos e sabe que o pecador quer muito encontrar a salvação. Ele espera, mas não por muito tempo. Um dia o Salvador não estará mais disponível para o pecador, por isso, este deve aproveitar as oportunidades tanto aquelas em que o evangelho chega até o pecador como aquelas oportunidades em que o pecador vai ao encontro do evangelho por alguma necessidade imediata (v.30).

 

19.A história da mulher samaritana termina com um avivamento. Muitos samaritanos creram em Jesus por causa do testemunho daquela mulher. A “água viva” já começa a transbordar da mulher samaritana. O testemunho pessoal é muito importante, pois é único e não tem como contestar (v.39).

 

20.Os próprios samaritanos foram a Jesus, a mulher não precisou levá-los. Enquanto os judeus expulsavam Jesus, esses samaritanos convidavam-No para ficar. Essa atitude de Jesus custou-lhe caro (8.48). Jesus ficou dois dias ensinando e outros também creram. Jesus deixou as portas abertas para Filipe (At 8.5-6), assim como nós podemos deixar portas abertas ou fechá-las. Observe que Jesus comprovou Seu poder Salvador sem operar nenhum milagre (sinal) em Samaria. O testemunho da mulher samaritana foi apenas a “porta de entrada”. Assim deve ser o objetivo do crente ao evangelizar, levar homens a Cristo e não atrair para si a atenção, mostrando e provando nossa eficiência. A expressão “Salvador do mundo” é muito importante, pois mostra que não existem barreiras culturais (no caso, samaritanos versus judeus) (v.40-42).

 

21.Jesus estava faminto, mas revigorado com o diálogo com a mulher samaritana, pois conforme afirmou, Sua comida consistia em fazer a vontade Daquele que O enviara. O texto não se prende ao detalhe que antes era o assunto principal, isto é, se Jesus bebeu ou não a água. Os discípulos se preocupavam com o bem-estar do Mestre, mas não viam a prioridade de uma alma (v.31).

 

22.Há uma comida cheia de nutrientes espirituais que precisamos conhecer. Jesus Cristo mostrou aos discípulos que obedecer a Deus satisfaz mais do que o pão que perece. Há uma comida que precisamos conhecer, que é fazer a vontade do Pai (v.32).

 

23.Os discípulos chegaram a pensar que o Mestre tinha recebido comida de alguém. Certa vez Jesus falou assim com respeito ao fermento dos fariseus e eles achavam que Ele se referia ao pão literal (v. 33, Mc 8.15-16).

 

24.As palavras de Jesus careciam de uma interpretação, pois os discípulos entenderam literalmente, isto é, na ausência deles Jesus teria recebido alguma comida e por isso não estava com fome. O que Ele queria que os discípulos entendessem era que há uma prioridade que deve ser obedecida. O corpo deve esperar até que algo mais importante tenha sido feito. Às vezes deixamos de comer no horário correto para socorrer alguma necessidade mais urgente e era exatamente isto que o Senhor estava fazendo. Vemos muito disto na obra do Senhor pelos missionários dedicados. A nossa maior nutrição é fazer a vontade de Deus. No entanto, primeiro nos fartamos e depois estamos muito sonolentos para servir a Deus (v.34).

 

25.Os “campos brancos” referem-se à plantação de cevada ou trigo. Há uma colheita maravilhosa no mundo, mas há outros que podiam ser colhidos e não podem porque não há obreiros suficientes. Na lavoura é muito comum serem contratados colhedores de outras cidades e Estados. Na obra missionária também há necessidade de se buscar obreiros de todos os cantos da terra, pois não há obreiros suficientes para suprir essa carência. Devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para contribuir com esses obreiros (v.35).

 

26.Naquele lugar, Samaria, isto foi uma realidade, pois a mulher samaritana foi a colheita imediata após ter semeado. Os moradores da cidade também foram colhidos como frutos maduros imediatamente após ouvirem a mulher. Tanto aquele que semeia quanto aquele que colhe tem recompensas, isto é, participam do mesmo fruto. A participação na obra missionária rende frutos eternos, pois aquele que fica e aquele que vai alcançar pecadores estão recebendo a recompensa do Senhor (v.36).

 

27.Os discípulos não semearam. Quem semeou foi Jesus e também a mulher samaritana e eles próprios são os que colhem. Todos somos apenas cooperadores, pois um planta, outro rega, mas Deus dá o crescimento. Nem todos colheremos os frutos maduros, mas podemos regar através da insistência na pregação da Palavra. Os missionários precisam do suprimento para continuar a obra. No dia dos prêmios do Senhor saberemos o quanto fomos úteis na obra, indo, orando ou contribuindo[5] (v.37-38, leia 1 Sm 30.22-26).

 

A comida de Jesus (Jo 4.31-42)

1.A comida de Jesus não é conhecida por todos (v.31-32)

2.A comida de Jesus é fazer a vontade do Pai (v.33-34)

3.A comida de Jesus está à mesa, agora (v.35)

4.A comida de Jesus é eterna (v.36)

5.A comida de Jesus é para se comer acompanhado (v.37)

6.A comida de Jesus sobra para outros, tem para todos (v.38-39)

7.A comida de Jesus é apreciada por aqueles que saboreiam (v.40-41)

8.A comida de Jesus é melhor servida na hora, não requentada (v.42)

 

28.Seguraram Jesus o quanto puderam em Samaria, mas agora Ele precisava ir, pois Samaria era apenas o meio do caminho para a Galileia. O Senhor Jesus está à procura de pecadores arrependidos. Ele está salvando ainda hoje. Ele quer pessoas que creem na salvação que Ele pode proporcionar (v.43).

 

29.Alguns pensam que Jesus está-se referindo à Judeia, onde não teve honra, sendo que na Galileia foi bem recebido (mas, compare com Mt 13.53-58, Mc 6.4-6). Com o tempo algumas pessoas creram em Jesus, mas outras O rejeitaram. Tanto em Jerusalém como na Galileia Ele foi rejeitado e foi crido. Assim acontece em todos os lugares, ainda hoje, alguns aceitam a salvação em Cristo, mas outros preferem ficar tentando ser salvo com o esforço próprio (v.44).

 

30.Era rejeitado em Jerusalém, mas bem recebido por galileus. Porém, “bem recebido” deve ser entendido por causa dos sinais e milagres. Os galileus estavam orgulhosos, pois sempre eram desprezados, mas visto que Jesus fora criado ali na Galileia e fizera muitos sinais em Jerusalém, todos se sentiam importantes. O Senhor Jesus não queria melhorar a popularidade de nenhuma cidade, mas queria que os pecadores O aceitassem. Os galileus eram uma geração que cria somente por causa dos feitos de Jesus. Ainda hoje, muitos querem igrejas que prometem cura, mas não se importam com a salvação de suas almas. Queremos Jesus o Salvador ou somente um ser poderoso que pode realizar os nossos desejos e suprir nossas necessidades temporais? Essa geração de “crentes” passa quando não têm os seus desejos satisfeitos. Bem-aventurados os que não viram e creram (v.45).

 

31.O Senhor quer ver uma geração que crê antes de ver. Os que confiam na Pessoa de Jesus Cristo têm interesse não apenas pelo o que Ele faz, mas pelo o que Ele é. Vemos uma história de fé. Jesus morava em Cafarnaum (v.46).

 

32.As notícias dos sinais que Jesus realizou em Jerusalém chegaram por toda a Galileia, através dos peregrinos que voltavam da páscoa. O pai estava esperançoso em Jesus, sua última opção para a cura de seu filho. O pedido era urgente. O homem queria que Jesus fosse até o filho doente, talvez crendo que impondo as mãos a cura seria certa. Em todo o pedido urgente há o perigo de uma fé cega (v.47).

 

33.A declaração de Jesus era muito dura, mas era uma realidade, pois as pessoas querem os benefícios da salvação, mas não querem se submeter ao salvador. No momento, mais importante que a saúde do filho era a fé do pai. Sabemos que as pessoas precisam reforçar sua fé com sinais. A fé superficial não diminui o valor dos sinais, mas Jesus falou assim para aprofundar a fé daquele oficial que só conseguia enxergar a necessidade óbvia, a cura do filho. Conhecemos um pouco sobre os nossos desejos, mas pouco sabemos das nossas necessidades. Certa vez Jesus disse que as pessoas têm mais medo dos ladrões que podem tirar a vida do que Daquele que tem poder para lançar os pecadores para o Inferno (v.48).

 

34.O oficial não estava disposto a discutir a natureza de sua fé, mas no momento a cura era mais importante para ele (não que Jesus visse dessa forma). O oficial queria a presença de Jesus em Cafarnaum e convidou-o para ir com ele, provavelmente de carruagem. Algumas vezes Deus socorre os incrédulos com aquilo que precisam no momento, dando-lhes a oportunidade de crerem depois. A geração dos que creem antes de verem é escassa, mas esses têm uma fé excelente. Jó disse: “Ainda que Ele me mate, Nele eu esperarei”. Esta geração de crentes pode confiar mesmo em momentos de angústia, esperando somente pela Sua vontade. Os que não fazem parte dessa geração de crentes só aceitam a cura, a prosperidade e o sucesso de modo geral (v.49).

 

35.Jesus já reprovou o homem com palavras, mas agora interrompe seu ensino verbal, o homem aprenderia depois. As palavras de Jesus bastavam para ele crer. A fé não é um pulo no escuro, mas a certeza das coisas que não se esperam e a convicção de fatos que se não veem (v.50).

 

36.Há ainda a geração dos que creem depois de ser provada a intervenção de Deus. Quando os servos trouxeram a notícia da cura não era mais novidade para o oficial, pois ele creu assim que deixou a conversa com Jesus. Houve um desenvolvimento da fé daquele oficial, já que teve que crer na palavra de Jesus e não contar com a presença de Jesus no leito de seu filho. O fato dele ir só no dia seguinte mostra o grau de sua confiança, pois de tão urgente que era seu pedido pela presença de Jesus, agora, nem ele mesmo estava com pressa de ver o filho. O horário da cura foi às 13 horas (7ª hora) (v.51-52).

 

37.O oficial “creu” (veja o v.48). Jesus disse que teria que ver os sinais para crer. Embora o homem tivesse crido antes (fé superficial), agora toda a sua casa crê (fé genuína). Deus sempre ouvirá as nossas preces, porém, a resposta, embora, perfeita, nem sempre é aquela que desejamos. O oficial acabou confirmando as duras palavras de Jesus que as pessoas precisavam ver para crer. Devemos ter a atitude de crer que Deus é Quem opera. Quando estamos em contato com Deus em oração a respeito de algum assunto não pode haver dúvida de que o resultado sempre será consequência da oração (v.53).

 

38.Foi o segundo sinal que Jesus fez ali. O primeiro foi a transformação da água em vinho. Naquela ocasião os discípulos creram, ou seja, firmaram mais a sua fé em Jesus Cristo. Neste episódio a família do oficial creu (v.54).

 

 

 

 

 

 

“Nos três anos nos quais os discípulos estiveram com Jesus, Ele revelou o Pai a eles. Eles viram o poder miraculoso de Deus quando o Filho transformou água em vinho (2.1-11); curou o doente (4.46-54), o aleijado (5.1-15) e o cego (9.1-41); alimentou cinco mil pessoas com cinco pães e dois peixes (6.1-13) e ressuscitou os mortos (11.1-44). Eles sentiram a ira de Deus sobre o pecado quando o Filho expulsou os mercadores do templo (2.13-17). Eles ouviram a sabedoria do Pai quando o Filho pregava e ensinava.”[6]

 

Capítulo 5: A cura do enfermo no tanque de Betesda. A honra do Pai e do Filho

1.Claro que João não cria nisto, mas simplesmente relata a crença do povo. Em Israel havia muitos aleijados e doentes (ver Êx 15.26). A superstição tem levado pessoas a acreditar nas mais absurdas crenças. Por muitos anos este homem confiava naquele “anjo” que moveria a água enquanto ele seria curado. Jesus, em Sua Onisciência, já sabia dos anseios daquele homem e de sua esperança vã. A doença e sofrimento prolongados fazem com que as pessoas busquem as ajudas mais absurdas e nessa busca acabam se esquecendo de que há um Deus criador do céu e da terra e tudo que neles há, inclusive a humanidade. Se todos sofrem doenças deve haver uma explicação e todos devem buscar ajuda na mesma fonte. Se cada crendice resolve alguma doença, então não há explicação plausível para a doença. Mas sabemos que há. A doença e a morte existem por causa do pecado de Adão e Eva. Toda a humanidade veio a sofrer as consequências do pecado original e, além disso, sofrem a consequência de seus próprios pecados. Portanto, o pecado é a razão da existência das doenças. A solução imediata é a cura para a alma, a salvação em Cristo, depois a procura por tratamento. Se não há cura ou alívio, só resta esperar a redenção do corpo. Este homem estava sofrendo há 38 anos. Veremos que o caso específico dele, além da herança do pecado vinda de Adão, era por causa de um pecado específico em sua vida (v.1-5).

 

2.Não sabemos há quanto tempo o homem era levado ao tanque esperando ser o primeiro quando a água mexesse. Jesus sabia disso e também o tempo de sua doença. Talvez o homem já havia tentado tudo, médicos e remédios. O problema daquele homem era por causa do pecado. A pergunta de Jesus parecia desnecessária: “Queres ser curado?”. Parece estranha, mas é possível entender que alguém acostumado a viver dependendo de outros por 38 anos, não saberia viver como um homem sadio novamente (v.6).

 

3.Embora o homem quisesse a cura, não havia como acontecer, segundo sua esperança, que era superstição. O homem sempre ficava para trás. No entanto, lá estava aquele homem, confiando e tentando ser curado por aquele meio. Podemos compreender, pois aquele homem conhecia o tanque e a superstição, mas não conhecia Jesus. A pergunta é oportuna: “Queres ser curado?” Nesta pergunta envolve a renúncia dos próprios esforços e de toda a crendice. Será que as pessoas querem deixar tudo aquilo que lhes acompanha como seus santos, rezas, velas, pensamento positivo, crença na reencarnação, no karma, fetiches, amuletos e toda essa montanha de crendices e superstições? Se não vier a Jesus somente não pode haver salvação. Ao pé da cruz toda essa parafernália deve cair (v.7)

 

4.A cura foi instantânea. Para levar o leito era preciso, primeiro, ser curado. Aquela doença era consequência de algum pecado na juventude, o que não significa de modo algum que toda a pessoa doente carrega algum pecado não confessado em sua vida. Era sábado e, portanto, todas as atividades que denotavam algum tipo de trabalho eram proibidas. Para aqueles judeus, o sábado tinha mais importância do que a cura daquele homem. Por mais irônico que pareça, se aquele homem fosse curado naquele tanque não haveria nenhuma reprimenda (v.8-9).

5.Lembre-se que em João o termo “judeus” refere-se aos líderes religiosos. Carregar cargas em dia de sábado era uma violação contra a Lei (Jr 17.21). Isto se agravava quando a carga fosse carregada na entrada de Jerusalém. Os fariseus seguiam à risca toda a Lei. Os rabinos permitiam atos de misericórdia no sábado, porém, é possível que neste caso pensassem: “Se durante 38 anos este homem está aleijado, podia esperar mais um dia”. Quando alguém carrega algum peso de pecado, como esse homem, nenhum dia a mais é suportado. A oportunidade era única, o legalismo podia esperar (v.10).

 

6.O homem responsabilizou Jesus pelo “crime” religioso. Vemos isto na expressão “Ele mandou”. O fato é que o homem nem teve tempo de conversar com Jesus para saber melhor como deveria responder aos fariseus. Jesus ensinava que o sábado era um dia de bênçãos e não de escravidão. Jesus evitava ser reconhecido como Messias, devido ao aspecto político que isso representava, o que não era errado, mas dentro da circunstância de rejeição de Israel, esse aspecto político ficaria para mais tarde, no Milênio (v.11-13).

 

7.A advertência era estranha comparada com Jo 9.3. O caso desse homem era uma doença por castigo de desobediência e Jesus em Sua Onisciência sabia disso. Não significa que toda doença seja castigo por algum pecado. Jesus advertiu que o homem cuidasse em não pecar mais, em algum aspecto que ele mesmo sabia, pois poderia acontecer “coisa pior”. Não sabemos o que poderia ser, mas certamente para aquele homem que sofreu durante 38 anos não queria “coisa pior”. Talvez fosse a morte (v.14).

 

8.João deixa de enfatizar o estado da alma daquele homem e no milagre em si, mas interessa-se mais pela controvérsia que a declaração daquele ex-paralítico suscitou. O homem foi informar as autoridades judaicas sobre o ocorrido. Claro que ao relatar sua cura por Jesus, estava contribuindo para que os ânimos dos fariseus fervessem. O povo em geral não sabia o grau da controvérsia que havia entre as autoridades judaicas e Jesus (v.15).

 

9.A “contravenção” principal de Jesus era curar no sábado, mas os judeus estavam tentando formular uma lista de “crimes” que comprometeriam a Jesus seriamente. De acordo com Êx 35.1-3, a violação do sábado era motivo de morte (v.16).

 

10.Claro que Deus trabalhou no sábado. Ele está sempre ativo. Quando em Gênesis 2 diz que “Deus descansou” significa que parou com toda a obra da Criação, mas, evidentemente, o Seu cuidado para com a Criação continuou mesmo no sétimo dia, pois nada perduraria sem a mão preservadora do Criador. Se Jesus falasse que “Deus trabalha até agora” já seria uma ofensa por ensinar os fariseus, mas dizer “Meu Pai trabalha até agora” chegava ao extremo de blasfêmia. Os judeus sempre diziam “Nosso Pai”. Ao dizer “Meu Pai”, Jesus coloca-se como o próprio Deus (v.17).

 

11.Curar no sábado era um ato de misericórdia, por isso seria difícil comprovar um crime, baseado nisso, mas carregar carga no sábado ou mandar alguém fazer isso era considerado um crime, conforme já vimos, e a violação do sábado, segundo Êx 35 era um crime de morte. Outro motivo, este era mais fácil para os judeus apanharem Jesus, era o crime de declarar-se Deus e, exigia-se a morte, também (v.18, ver 6.30).

 

12.Jesus não se intimida diante das ameaças dos fariseus, mas mostra que não age independente do Pai, ou seja, se o Pai trabalha no sábado, Ele também, pois é Deus Quem tem autoridade sobre o sábado. O ensino de que Deus trabalha no sábado não surpreendia os fariseus, e sim, o fato de Jesus declarar-se Deus. As obras de Jesus são as mesmas obras do Pai, pois Ele é amado do Pai. Deus quer maravilhar o homem através do Seu Filho, Jesus Cristo (v.19-20).

 

13.Jesus tem o poder do Pai e, por isso, curou o paralítico. Ele pode fazer tudo o que o Pai faz, inclusive ressuscitar mortos. Ele faz o que quiser, portanto, Ele é Deus. Jesus especifica sua função de Juiz, no futuro, e não apenas de salvador no presente. No momento de Sua primeira vinda, Jesus não veio para julgar, mas para salvar os pecadores. Hoje, ainda, Ele está dando a oportunidade aos pecadores para serem salvos da ira que virá (v.21-22).

 

14.Muitos dizem acreditar em Deus e se escandalizam daqueles que se declaram ateus, mas aqui está bem claro que os que não creem no Filho, Jesus Cristo, não creem em Deus, o Pai. Muitas seitas têm Deus como base de tudo, mas rejeitam a Jesus Cristo como o Filho de Deus, e, portanto, o próprio Deus. Ensinam que Jesus foi um bom homem ou um grande profeta. Essas seitas não são verdadeiras pelo fato de rejeitar Jesus Cristo, o Filho de Deus (v.23).

 

“Qual é a vontade do Pai em transferir a Jesus os dois mais altos atributos da divindade, vivificar e julgar? Ele quer que a adoração que a humanidade rende a Ele seja estendida ao próprio Filho.”[7]

 

15.Outra certeza que podemos ter a respeito de Jesus Cristo é que Ele concede vida eterna ao pecador. A única maneira de se livrar da condenação eterna é crer somente em Jesus Cristo, o Filho do Deus verdadeiro. A conversão é a passagem da morte para a vida eterna. Antes mesmo de partirmos desse mundo podemos morrer para o mundo crendo em Jesus Cristo, o Salvador (v.24).

 

16.Um dia todos ressuscitarão para ouvir o Filho de Deus. Isto acontecerá duas vezes, uma no Arrebatamento, quando somente os crentes em Cristo Jesus ressuscitarão ganhando seus corpos de volta, mas desta vez glorificados. Outra vez será no final do Milênio quando somente os perdidos de todas as épocas ressuscitarão para horror eterno. No tempo em que Jesus exerceu Seu ministério na terra alguns ressuscitaram e já experimentaram o poder de Sua ressurreição, porém, foi por pouco tempo, pois logo morreram novamente. Na ressurreição eterna os que ouvirem a voz de Jesus terão seu destino selado de uma vez por todas (v.25).

 

17.Podemos ter certeza que Jesus é o Filho de Deus e que Ele concede a vida eterna. O Pai tem vida própria, assim como o Filho. Ambos são o mesmo Deus, juntamente com o Espírito Santo. Filho do Homem é um termo escatológico, usado no livro do profeta Daniel. Jesus Cristo, o Filho de Deus exercerá a autoridade para julgar os perdidos (v.26-27).

 

18.A referência é de Dn 12.2. Os justos além de uma vida sem fim, eterna, terão uma vida de qualidade. Só há um modo de “praticar o bem para a salvação”, que é crer em Jesus Cristo como salvador pessoal e único. As boas obras que praticamos para nada servem, pois são considerados como trapos de imundície. Nascemos com a inclinação para praticar o mal e, de fato, praticamos sem aprender com ninguém. Todos merecemos a ira eterna (v.28-29).

 

19.Jesus, enquanto esteve na terra, obedeceu em tudo a vontade do Pai. Ele veio satisfazer os planos de Deus. Ele nunca deixou de ser Deus, mas voluntariamente se submeteu ao Pai. Ambos são Deus. Jesus foi justo em tudo, por isso, declara que é o Filho de Deus, pois não está mentindo. O homem precisa aceitar esta verdade (v.30).

20.Jesus mostrando o testemunho que dão sobre Ele, aumenta a culpa dos judeus que o rejeitam, pois são testemunhos ao alcance deles. Se Jesus não tivesse autorização do Pai, os judeus não teriam nenhuma obrigação de ouvi-Lo. O “outro” que dá testemunho de Jesus é o Pai. Uma só testemunha não era base para Jesus estabelecer a verdade, segundo a mentalidade dos judeus. Jesus podia testemunhar de Si mesmo, pois Deus pode jurar por Si mesmo, sendo que não há ninguém maior que Deus, mas Jesus prefere seguir as normas dadas por Deus para as relações humanas, isto é, de chamar outras testemunhas (v.30-32, Nm 35.30).

 

21.Jesus oferecia esses testemunhos para salvá-los. Os mensageiros dos quais Jesus menciona são aqueles enviados pelas autoridades religiosas para verificar os acontecimentos religiosos ou qualquer movimento entre o povo. Lembre-se que enviaram mensageiros para investigar o batismo de João. João dava testemunho de que viria o Libertador, o Filho de Deus. Jesus não “aceitava testemunho humano”, pois nenhum homem pode servir de testemunha de Deus, pois não há Quem seja Eterno e Pré-Existente como Ele. Portanto, Jesus não precisa do testemunho de João Batista, mas mencionou porque os judeus queriam um testemunho humano. João Batista era a “lâmpada”. Os judeus tinham alguma esperança nas palavras de João Batista, por isso Jesus diz que “quiseram alegrar-se com a sua Luz” que era insuficiente, sendo que era apenas lâmpada. Quando chega o momento de alegrar-se com a verdadeira Luz, os judeus simplesmente rejeitam (v.33-35).

 

22.Ninguém podia rejeitar o poder messiânico, mas surpreendentemente, os judeus estavam rejeitando. Se reconhecessem aqueles sinais como poder do Messias, profetizado por Isaías e outros profetas, seriam obrigados a admitir que estavam vencidos, confessando seu pecado de orgulho. Antes, preferiam rejeitá-Lo ignorando o poder de Suas obras (o poder dos sinais do Messias). Jesus curou o filho do oficial de Herodes, o homem enfermo por 38 anos e outros sinais, mas o preconceito por causa do sábado e o legalismo cegou os fariseus. As obras de Jesus são testemunhas de Sua divindade (v.36).

 

23.O testemunho do Pai é maior porque ele é maior que João Batista e mais importante que as próprias obras de Jesus. Deus mostrou Sua voz no Velho Testamento, mas os judeus rejeitaram. Quem estava no batismo de Jesus ouviu a voz de Deus. Deus “mostrou” Sua forma no Velho Testamento através das Teofanias e agora, mostra Sua forma através de Jesus, mas os judeus continuam rejeitando. O Deus Pai é testemunha de que Jesus é Deus. Negar Jesus é negar o testemunho do Pai (37-38).

 

24.Os judeus (fariseus) liam as Escrituras com superioridade. Se obedecessem às palavras de Moisés, como pensavam que faziam, creriam em Jesus como o Messias (Dt 18.15). A Bíblia é o único mapa para a vida eterna. A Palavra de Deus é uma testemunha documentada. O maior problema não é a falta de testemunhas, mas a rejeição. As pessoas estão “rodeadas de uma nuvem de testemunhas”, no entanto, rejeitam a salvação (v.39-40).

 

25.O Senhor Jesus não precisa de testemunhas humanas, pois Ele não recebe glória dos homens, somente se o Espírito Santo os convence a aceitá-Lo como salvador. Apesar das quatro testemunhas tão claras, os judeus não aceitavam o Salvador Jesus, pois não estavam agindo pelo amor de Deus. Enquanto os homens buscam honra uns dos outros jamais aceitarão essas testemunhas. Os pecadores se juntam para abafar suas consciências, pois só Deus através de Sua Palavra pode dizer qual a necessidade deles. O padrão dos judeus, que era Moisés, condenava-os. Jesus não veio para condenar, mas para salvar. As obras e a incredulidade dos pecadores já os condenam. Essas quatro testemunhas só comprovam a sua condenação. João Batista, As obras de Jesus, Deus o Pai e a Palavra são testemunhas que Jesus é Deus e é o Salvador. É muito perigoso rejeitar essa abundância de testemunhas. Elas testemunharão contra os pecadores que deviam seguir o Salvador, mas O rejeitaram (v.41-47).

 

O risco de morte eterna (Jo 1-5)

1.Quando não aceitamos a luz e a vida (1.4)

2.Quando não aceitamos Aquele que veio para salvar (1.11-12)

3.Quando não temos o nosso Cordeiro para morrer por nós (1.29)

4.Quando não encontramos o nosso Messias (1.41)

5.Quando não cremos em Jesus (2.11,23-25)

6.Quando não nascemos de novo (3.3,5)

7.Quando não cremos no Filho enviado ao mundo (3.16-21,36)

8.Quando não bebemos da água viva que o Filho oferece (4.10,14)

9.Quando não adoramos em espírito e verdade (4.22-24)

10.Quando não somos vivificados pelo Filho (5.21,24-29)

11.Quando não vamos até Jesus (5.39-40)

 

Capítulo 6: A multiplicação dos pães. Jesus anda sobre as águas. Jesus, o Pão da Vida. A murmuração dos judeus e a deserção dos discípulos

1.Este é o único milagre comum aos quatro evangelhos. A multidão seguia a Jesus com uma fé superficial, pois viram os sinais em Jerusalém, mas de qualquer forma os sinais serviam para manter os olhos fixos em Jesus Cristo, o Messias de Israel. Há muitas pessoas, hoje, que têm curiosidade pelas coisas de Deus. A nossa atitude como crentes deve ser a de permitir que sigam superficialmente, pois pode ser que alguns se convertam, de fato (v.1-2).

 

2.A Páscoa estava próxima e esta é a explicação para muitos estarem ali. Conforme Lc 9.9 e Mt 14.12, este acontecimento foi logo após à morte de João Batista. Jesus certamente sentiu muito a morte de seu precursor e primo. Jesus subiu ao monte, talvez com seus discípulos mais íntimos, isolando-se um pouco da multidão (v.3-4).

 

3.Em Marcos diz que Ele ensinou a multidão o dia inteiro. Sabe-se que aquele que ensina um grupo por um tempo assim, fica responsável por alimentar as pessoas, não só com o ensino, mas com o pão. Em Mateus diz que Ele curou enfermos. A hora era por volta das 17 hr, ao pôr do sol. Despedir a multidão era o mesmo que deixá-la faminta, pois era tarde. A principal questão de Filipe é: “Onde comprar e com que dinheiro?”. Jesus via a necessidade da multidão, mas também via a necessidade dos discípulos, por isso, fez a pergunta para experimentar a fé dos discípulos (v.5-6).

 

4.A multidão via os sinais, Jesus via a multidão necessitada e os discípulos viam a impossibilidade de saciar aquela multidão. Deus quer homens e mulheres que veem com os olhos da fé (v.7).

 

5.Arrumar dinheiro para tantas pessoas era impossível. André leva um rapaz com 5 pães e 2 peixes, o que não resolveria o grande problema. O texto ilustra a pobreza do povo, visto que cevada era o alimento dos pobres. Os nossos problemas podem se avolumar tanto em nossa mente e em nossa incredulidade a ponto de não podermos ver Jesus, o grande sustentador. Enquanto todos veem um grande problema, Jesus vê uma oportunidade de agir (v.8-9).

 

6.Eram contados apenas os homens (Mt 14.21). Filipe calculou o quanto precisaria para cada um comer um “pedaço”, mas Jesus deu em abundância, para comerem o quanto quisessem. Foi fácil contar aquela multidão, pois dividiram-se de 100 em 100 e 50 em 50 (Mc 6.39-40) (v.10-11).

 

7.Os cestos eram grandes. Jesus não aprecia o desperdício e nem a sujeira. Em um piquenique para umas 15 mil pessoas muita sobra seria espalhada pela relva, mas o Senhor não permitiu que nada fosse desperdiçado e nem que o local ficasse sujo. Ainda outra lição é que Jesus não era avarento. Todos podiam comer o quanto desejassem para se saciar. Isto aconteceu também quando Deus mandou o maná do céu. Se pudéssemos ver longe como Jesus, veríamos uma necessidade que só podia ser preenchida com fé, mas se olharmos como os discípulos, veremos apenas uma impossibilidade (v.12-13).

 

8.Há mais um olhar que faz toda a diferença neste incidente, é olhar daqueles que se saciaram. Eles viam não apenas um homem bom, mas o profeta que deveria vir o qual foi profetizado por Moisés. Eles viram em Jesus o Messias. No tempo de Moisés o maná caiu do céu e, agora, Aquele homem, Jesus, multiplica pães e peixes bem à vista de todos. É claro que nem todos viam da mesma maneira, mas os que conseguiram enxergar o Messias receberam a salvação (v.14).

 

9.Depois disso é claro que desejavam proclamá-Lo Messias. Talvez lembraram do maná para o povo no deserto. Jesus não queria se comprometer com este título, pois para o povo envolvia o aspecto político. A multidão não errou em dizer que Jesus é o profeta prometido, mas errou em reconhecer apenas o aspecto externo desse profeta, ou seja, dar pão para comer. Jesus fugiu porque ninguém podia fazê-Lo Rei. Não havia “terreno preparado” para Ele em Israel, pois ainda era desprezado e rejeitado. Ainda nem se arrependeram e queriam fazê-Lo rei (v.15).

 

10.Jesus foi ao monte para orar sozinho e, isso, com o propósito de encontrar os discípulos no mar. Possivelmente, Jesus tenha ficado um dia inteiro no monte. A escuridão, certamente, agravou aquela situação que já era difícil. A distância da viagem era o mar da Galileia em toda a sua extensão. Às vezes nos sentimos no escuro sem Jesus no barco. A escuridão pode roubar a nossa fé, mas devemos nos lembrar que o Senhor também está na escuridão da noite conosco (v.16-17).

 

11.Além da escuridão assustadora, o vento era severo e contrário (Mc 6.48, Mt 14.24). A Palavra de Deus nos alerta contra os ventos da doutrina falsa que podem roubar a nossa fé. Não é fácil lutar contra o vento contrário, pois dependendo da força ele leva as pessoas. As falsas doutrinas têm arrastado muitos irmãos que poderiam ser fieis. Não só o escuro é um ladrão da fé, mas também o vento forte (v.18).

 

12.Além do medo da tempestade, agora, havia o medo daquela aparição. Em Mt 14.26 diz que gritaram de medo: “É um fantasma!”, voltando assim, à velha crença dos pescadores. O escuro rouba a nossa fé, bem como o vento forte e, é claro, o medo. O medo nos leva para longe do Senhor. O salmista disse: “ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum...” A consciência da presença de Deus deve nos fortalecer (v.19).

 

13.Jesus os acalma com a expressão “sou eu”. O título traduzido do nome de Deus (“Eu Sou”). Neste evangelho há outras referências que dão a entender que, embora, tradução de “Jeová” causou um grande efeito vindo da boca de Jesus. Se o medo quer roubar a nossa fé devemos ouvir o “não temais” de Jesus (v.20).

 

14.Em Mc 6.51 diz que o vento cessou assim que Ele entrou no barco. Quando recebemos Jesus no barco, que é a nossa vida, os ladrões vão embora. Logo chega a luz do dia, o vento se acalma e o medo se vai (v.21).

 

“Aqui estavam os discípulos de Cristo no caminho de seu dever, e Cristo ora a favor deles; contudo, estão aflitos. Podem haver perigos e aflições neste tempo presente, mesmo aonde exista o interesse em Cristo. As nuvens e as trevas costumam rodear os filhos da luz e do dia. Veem Jesus caminhando sobre o mar. Mesmo quando a libertação e o consolo se aproximam, costumam entendê-los tão mal, que convertem-se em ocasião para temer.”[8]

 

15.A multidão sabia que Jesus não estava com os discípulos no barco e que não havia outro barco para Ele atravessar o lago, mesmo assim, Ele não estava ali pela manhã. Outros barquinhos chegaram de Tiberíades, cidade do lado ocidental do mar da Galileia. As pessoas que vinham eram as mesmas que presenciaram a multiplicação dos pães e que queriam exaltar Jesus à posição de rei. A humanidade é sempre assim, tem um desejo compulsivo de exaltar que pessoas que fazem algum bem. O povo não descansaria de sua busca até encontrar Jesus (v.22-24).

 

16.Ainda queriam fazê-Lo rei, mas Ele estava dificultando a ação dos manifestantes. Jesus chegou ali sem que vissem porque Ele andou sobre as águas, mas se Ele dissesse não haveria nenhuma dúvida que era o rei ideal para um povo que procura sinais espetaculares. A humanidade sempre exaltará aquele que a impressionar (v.25).

 

17.Jesus nem sequer tomou tempo para satisfazer a curiosidade do povo, mas dirigiu-lhe uma palavra de reprovação. A humanidade não deseja as coisas espirituais verdadeiras, mas somente o resultado que pode beneficiar sua condição perecível. A multiplicação dos pães não foi apenas para saciar a fome, mas para chamar a atenção do povo de que Ele é o Deus eterno e salvador. A humanidade não quer a salvação de sua alma, mas o bem-estar de seu corpo. Escolhem o pão que perece juntamente com sua alma (v.26).

 

18.A necessidade da multidão é salvação (Is 55.1,2,7). O título “Filho do Homem” era preferido por Jesus em lugar de “Messias”, pois não deseja satisfazer a ansiedade política do povo, no momento. A comida que subsiste para a vida eterna é o ato de crer (conforme Rm 4.5). A confirmação com o selo, provavelmente, seja o batismo de Jesus, quando o Espírito Santo desceu sobre Ele (v.27).

 

19.Jesus falou de trabalho. Que trabalho é esse? Que obra é preciso realizar? A obra realizada na salvação é a obra da fé. Crer só vem pelo ensino. O objeto da nossa fé deve ser a Pessoa de Jesus Cristo, o enviado de Deus. O pão que perece é ganho com muito trabalho e suor, mas o Pão da Vida é de graça, ou seja, pela graça de Deus (v.28-29).

 

20.As pessoas queriam uma garantia para crerem Nele, pois Jesus quer que creiam “Naquele que por Ele foi enviado”. Jesus não está simplesmente dizendo que a multidão deve crer em Deus, mas crer Nele próprio, o enviado de Deus. Os judeus pedem sinais, mas será que as obras de Jesus até aqui não são suficientes para crer que Ele é o Messias de Israel? (v.30).

 

21.O maná foi o pão do céu, pois Deus Quem deu, contudo, era perecível. Referências sobre o maná, inclusive o significado (Sl 78.24, 105.40, Êx 16.14-22). Jesus acabara de multiplicar pães e eles ainda queriam um sinal semelhante ao maná no deserto. A humanidade quer evidências daquilo que está muito claro (v.31).

 

22.Moisés não foi o autor daquele milagre. O verdadeiro pão do céu não é perecível e dá vida ao mundo. O verdadeiro pão do céu é o próprio Jesus. Havia uma tradição entre os rabinos que Deus voltaria a dar o maná ao povo de Israel através do Messias. Portanto, o assunto de Ap 2.17, não era novo para os judeus do tempo de Cristo. Jesus é o Pão da vida e está ao alcance de todos, mas a humanidade está cega (v.32-33).

 

23.A mulher samaritana fez um pedido assim, também. Ela pediu água e eles pedem pão. Jesus sacia a sede com Água viva e satisfaz a fome com o Pão da vida. A humanidade quer a satisfação de seus desejos, mas não quer aceitar Jesus como Deus e salvador. Jesus não estava falando do pão material, assim como antes, não estava falando da água do poço ou de ribeiros (v.34-35).

 

24.As pessoas daquela multidão perderam o privilégio de crer em Jesus. A humanidade perde a oportunidade de receber o Pão da vida, mesmo que a Palavra de Deus seja tão clara. O Senhor Jesus não está lançando ninguém fora, mas as próprias pessoas estão se desviando do caminho da salvação. Cada pessoa é responsável de ir até Jesus, o Pão da vida. Ele não lançará fora nem rejeitará o contrito de coração. Deus está dando a oportunidade para a humanidade através do testemunho da criação e da consciência, porém, quando rejeitam não há mais nada a fazer, a condenação é certa (v.36-37).

 

25.A humanidade poderia escolher a vida eterna. Jesus Cristo cumpriu o propósito de Sua vinda, mas nem todos O aceitaram. Os que aceitaram não perderão a salvação, mas serão ressuscitados para a vida eterna (v.38-39).

 

26.A vontade de Deus é que todos se salvem, mas isto não acontecerá, pois o homem é duro de coração e prefere o pão que perece e não o Pão eterno que alimenta com a vida eterna. O ensino de que Jesus é o Pão que desceu do céu escandalizou os judeus, por isso, tentavam contradizer as palavras de Jesus indicando o pai terreno. Jesus ser o filho de José e Maria não o deprecia, pelo contrário, só prova que Ele viveu como homem na terra, mesmo sendo Deus (v.40-42).

 

27.Jesus sabe dos pensamentos e das murmurações dos judeus. Eles estão duvidando dos elementos da fé mais consistentes, ou seja, a Encarnação de Deus e a morte em favor dos pecadores. A salvação é iniciativa do Pai. Se Deus não oferecesse esse meio de salvação o pecador podia buscar a Deus e não seria achado. O pecador não teve participação no meio de salvação, porém, tem participação do seu próprio juízo e vontade, aceitando ou rejeitando essa salvação (v.43-44).

 

28.A Bíblia judaica compreendia a Lei, os Salmos e os Profetas e era suficiente para dar entendimento aos judeus, muito mais com a revelação de Jesus como o Pão que desceu do céu. Jesus apela para o ensino do profeta Isaías (54.13), mostrando que só é possível chegar ao Messias por meio do ensino de Deus. A fé vem por ouvir a Palavra de Deus (v.45).

 

29.O v.46 combina com Jo 1.18. Só é possível conhecer o Messias recebendo o ensino de Deus, mas como pode isto acontecer, sendo que ninguém recebeu algum ensino imediato de Deus, exceto Moisés? A resposta é dada pelo próprio Jesus, aquele que é de Deus, viu o Pai (v.46).

 

30.O mundo não aprecia mais o absoluto. Quanto menos fundamentalista nas declarações e ensinos haverá mais aceitação nos tempos pós-modernos. Há um esforço para enfatizar a subjetividade. Porém, Jesus afirmou categoricamente que só há um caminho para o Pai e para a vida eterna e este caminho é Ele próprio, o Pão da vida. Este elemento da fé cristã não pode ser facilitado para aceitar outros ensinos (v.47-48).

 

31.Até mesmo Moisés precisou do pão espiritual, pois ele mesmo não era o salvador. A morte de Moisés revela que ele era o libertador do povo, mas não era Deus. O fato de não entrar na terra prometida por causa do seu pecado também mostra a sua pecaminosidade e necessidade de um salvador. O maná veio do céu, mas podia criar bichos, pois era a provisão para o corpo físico. Jesus Cristo é o alimento espiritual para livrar o pecador da morte eterna (v.49-50).

 

32.O v.51 está longe de ser entendido como canibalismo. Os próprios judeus sabiam que ele não estava se referindo a isso, mas ao seu próprio corpo com Sua morte. A carne de Jesus foi perfurada na cruz. Ele entregou o Seu próprio corpo para ser maltratado a fim de pagar o preço que a lei exige pelo pecado, a morte (v.51).

 

O pão da vida (Jo 6.35-51)

1.O pão da vida, Jesus, sacia somente os que vêm a Ele (v.35-37)

2.O pão da vida, Jesus, veio do céu (v.38)

3.O pão da vida, Jesus, ressuscitará os que Dele comerem (v.39-40)

4.O pão da vida, Jesus, não é provado pelos que não querem (v.41-42)

5.O pão da vida, Jesus, alimenta a todos que virem até Ele (v.43-45)

6.O pão da vida, Jesus, veio do Pai e nos convida a ir até Ele (v.46-48)

7.O pão da vida, Jesus, é alimento eterno para todos (v.49-51)

 

33.O outro elemento da fé cristã é o sangue, ou seja, a morte de Cristo. As palavras de Jesus trouxeram grande discussão, pois se Ele é Deus como pode oferecer o corpo físico? Deus é espírito e não morre. Se a discussão sobre a carne já causava irritação, o clima piorou, pois Jesus apresenta o outro elemento da fé, o Seu próprio sangue. O Messias devia derramar sangue como de um cordeiro e assim se tornar aquele que expiaria o pecado da nação e de todos os que cressem Nele (v.52-53).

 

34.Sabemos que o judeu não podia beber uma gota sequer de sangue. Jesus não está incentivando a desobedecer a lei de Deus dada ao homem em Gênesis 9, ou seja, a proibição de comer carne com sangue sufocado. Ele diz que é necessário crer que o Filho de Deus veio como homem e derramou o Seu sangue para remissão dos pecados. Jesus ensina que os que comem e bebem Dele será ressuscitado e têm união com Sua Pessoa. Este ensino reforça o valor do assunto “Crucificação e Morte de Cristo” (v.54-58).

 

35.Todo este ensino estava sendo proferido em uma sinagoga. Os judeus estavam aprendendo o verdadeiro significado dos Salmos 16 e 22 e de Isaías 53. Agora estava tudo esclarecido, o Messias é Jesus e Ele deve morrer e ressuscitar. Todos os que depositarem sua fé Nele serão salvos (v.59).

 

36.Alguns seguidores de Jesus não continuam por várias razões, mas todas convergem para uma única razão que é a falta de perseverança. Era escandaloso ouvir que o Messias devia morrer. Esta foi a razão de acharem o discurso muito duro e, ainda mais, porque Jesus não deixou outra alternativa para a vida eterna. Além de falar de um Messias sofredor e morto, constantemente disse que era maior que Moisés. Essa também foi uma grande ofensa e, portanto, um duro discurso. O seguidor de Cristo deve saber desde o início que se não seguir conforme a verdade absoluta que Ele ensina em Sua Palavra não há como ser um discípulo verdadeiro (v.60).

 

37.Jesus é onisciente e sabe de todas as murmurações íntimas de cada pessoa. O que nos escandaliza no discipulado? É bom sermos claros com Deus, pois Ele sabe tudo sobre nós. Alguns querem seguir a Jesus, porém, não aceitam as prerrogativas Dele. Ele tem todo o direito sobre os discípulos e por esta causa alguns não permanecem, pois querem ser independentes (v.61).

 

38.Falar na Ascensão significava confirmar Sua morte, e ainda, significava para eles que o Messias deixaria a terra sem fazer a reforma política que deveria ser feita. Os discípulos que não permanecem não estão prontos a aceitar o cronograma de Cristo. Eles queriam um restaurador e doador de pão, mas não um Deus sofredor que passaria pela vergonha da cruz (v.62).

 

39.As palavras de Jesus, “o Espírito vivifica”, apontava para Sua morte, porém, o mau discípulo rejeita esse caminho, pois quer um caminho mais fácil, sem sofrimento e sem vergonha. A carne quer glória para si. O povo de Deus anda pelo Espírito e este é o caminho de privações, minoria, escândalo para os sábios deste mundo, porém, este é o caminho traz glória para Deus (v.63).

 

40.No meio dos crentes há descrentes. Não cabe a nós separarmos, pois podemos nos enganar, mas Deus sabe tudo. O Senhor Jesus já sabia quem O trairia. O discípulo que não permanece pode ser crente, porém, desobediente. Este precisa mudar de mente e de atitude e voltar-se para o Senhor e para o caminho estreito. Fica claro que Judas não era verdadeiramente discípulo de Jesus (v.64).

 

41.Não há um atalho para o discipulado. Não há um caminho mais fácil para seguir a Jesus. O seguidor de Cristo deve calcular o preço antes e seguir pelo caminho de exclusividade. O Pai já concedeu o modo de ser salvo e este é através de Seu Filho. Ninguém chega até Cristo do modo que desejar, mas somente através daquilo que já foi concedido pelo Pai, isto é, pela fé. Não é o caminho das boas obras feitas pelo homem, mas pela fé no Filho de Deus. Isto envolve a vontade do homem em aceitar este caminho ou rejeitar o discipulado e perecer eternamente (v.65).

 

42.Não podiam ser os Doze, senão não restaria quase ninguém seguindo Jesus. Os que abandonaram eram os discípulos temporários. A vida cristã é um teste e o resultado é o abandono ou a perseverança. Os que se escandalizaram do discurso de Jesus “não andavam mais com Ele”. Isto vai além do que apenas acompanhá-lo, pois nem todos faziam isto constantemente, mas não estariam mais com Ele em companhia com seus ensinos. Enquanto pregadores querem encher auditórios, Jesus consegue esvaziá-los, o que exige muita coragem. Para defender a verdade, o custo pode ser a perda de amigos. Talvez haveria uma seleção mais exata dos seguidores de Cristo se as mensagens fossem mais diretas a respeito do preço do discipulado. Não podemos impedir de pessoas chegarem até Cristo, mas não podemos facilitar a mensagem para termos mais seguidores, pois poderão ser falsos discípulos (v.66).

 

43.A mesma pergunta ecoa em nossos dias. Jesus quer seguidores que permaneçam, mas sempre haverá aqueles que estão indecisos e aqueles que já O abandonaram. Quem quer continuar? Pedro estava convencido do seu discipulado. Ele seguiria Jesus em todos os momentos. É claro que ele falhou e isto acontecerá conosco também mas ele permaneceu pela graça de Cristo que o acompanhou até nos momentos de falhas. O discípulo que permanece não é aquele sem pecado, mas é aquele que é levantado por Cristo para continuar a segui-Lo. Pedro reconhecia que fora de Jesus não há vida eterna. O discurso podia ser duro, mas eram palavras de vida eterna (v.67-68).

 

44.A declaração de Pedro resume a nossa fé. Nós cremos e experimentamos que Jesus é o Santo de Deus. Ele não é um simples homem, mas é o próprio Deus. Ele é Santo e nós pecadores. Pedro falou em nome de todos, mas Jesus só podia aceitar essa declaração de onze deles, pois um é do diabo. Judas abriu o coração para as influências satânicas e, finalmente, para a possessão demoníaca. Portanto, não é base para dizer que um crente pode ficar possesso, pois Judas não era crente. Não podemos confundir “Judas Iscariotes” com o outro discípulo, “Judas, filho de Tiago ou Labeu” (Mt 10.3) ou Tadeu (Mc 3.18). Quem segue a Jesus, mas não é um discípulo verdadeiro acaba se tornando um traidor (v.69-71).

 

Capítulo 7: Os irmãos de Jesus. Jesus na festa dos tabernáculos. A promessa do Espírito Santo

1.Agora Jesus já possuía inimigos em Jerusalém e também na Galileia, mas em Jerusalém era mais perigoso. Jesus nunca “antecipou” a hora de Sua morte. Ele devia ser crucificado depois de todos os incidentes relatados nas profecias. Exemplo: Entrar de jumentinho em Jerusalém. Deveria ser nos dias da Páscoa, a fim de se cumprirem todos os tipos do Velho Testamento. O fato é que o mundo odeia a Cristo e os Seus ensinos. No capítulo anterior Ele se declarou o Salvador através de Sua morte. Foi um discurso duro para quem queria um Messias glorioso que continuasse a satisfazer os desejos terreais e nada mais. Tornar-se um seguidor de Cristo seria aceitar a Sua morte e o Seu ensino de renúncia (v.1).

 

2.A Festa dos tabernáculos era conhecida como a “Festa das Tendas”. Oravam durante uma semana e moravam em barracas feitas de galhos e folhas (Lv 23.40-43). Os moradores das cidades construíam em seu quintal ou sobre o telhado plano essas tendas (Nee 8.16-17). O motivo dessa comemoração era para relembrar que os judeus fugidos do Egito habitaram em tendas no deserto (v.2).

 

3.Jesus tinha outros irmãos. Isto desfaz o falso ensino de que Maria era virgem durante toda a sua vida. Os irmãos de Jesus queriam que Ele mostrasse Seu poder na Judeia, pois nessa época de festa a região estava repleta de judeus de todos os cantos (Sl 69.8). O raciocínio deles era coerente, pois Jerusalém é o lugar onde o Messias deve frequentar, se quer ser reconhecido. Jerusalém é o centro religioso. O fato é que Jesus não estava se esforçando para ser reconhecido como Messias para uma nação que já o havia rejeitado (v.3-4).

 

“Com a aproximação desta festa outonal, que atraía judeus de toda parte para as alegres festividades, os irmãos de Jesus acharam que a ocasião era unta oportunidade capital para ele estender sua influência. Seus discípulos na Judéia, talvez incluindo muitos galileus que se sentiram ofendidos e esfriaram em sua atitude, poderiam ser reconquistados vendo suas obras. Os irmãos eram uma miniatura da massa da nação, não duvidando da veracidade das obras, mas não crendo Nele. Seu conselho era que, enquanto Jesus permanecia oculto, precisava ser conhecido pelo mundo. Substancialmente foi isso que Satanás tentou sugerir ao nosso Senhor na segunda tentação.”[9]

 

4.Os irmãos de Jesus não entendiam como o Messias podia evitar a popularidade. Os irmãos de Jesus não criam Nele, talvez, pela mesma razão que os outros incrédulos, isto é, pensavam apenas no aspecto político do Messias. A descrença por esse motivo permeou a mentalidade da época, inclusive bem retratado no romance de Lewis Wallace em 1880, chamado “Ben-Hur”. Os irmãos de Jesus foram salvos posteriormente (At 1.14). É bom lembrarmos que “tornar-se famoso ou público” foi a segunda tentação contra Jesus por Satanás em Mt 4. Nem os irmãos de Jesus criam no Seu ensino. Isto nos faz mais realistas quanto ao mundo não aceitar a mensagem de salvação e os princípios éticos do reino (v.5).

 

5.O tempo Dele não chegou, ou seja, o tempo de Sua morte. O tempo dos irmãos era sempre presente, ou seja, podiam ir à festa a qualquer hora, pois estão em harmonia com o espírito deste mundo, sem perigo de morrer. Para quem deseja viver neste mundo sem conflitos basta seguir a mentalidade sempre presente no mundo, ou seja, satisfazer-se a si próprio e ao mesmo tempo esforçar-se para ser uma boa pessoa com o objetivo de receber alguma graça de Deus. Nós que cremos em Cristo e nos Seus ensinos sabemos que isto é o engano de Satanás para desviar a humanidade de Deus (v.6).

 

6.O mundo odeia a Cristo. Este fato não pode ser mudado, ainda que muitos incrédulos falem o contrário. Alguns apreciam alguns aspectos éticos dos ensinos de Cristo, mas o que não sabem é que não se pode aceitar um princípio e rejeitar outro. A mensagem de Cristo é completa. Aceita-se toda a mensagem, juntamente com o estilo de vida ou se rejeita tudo. Quem diz aceitar a Cristo deve aceitar que é um pecador e que nada pode fazer para se salvar a não ser aceitar o Seu sacrifício como única maneira de se aproximar de Deus. Por isso, o mundo odeia a Cristo e os Seus ensinos, pois eles vão diretamente contra a prática humana de tentar esconder os seus pecados (v.7).

 

7.Jesus subiria à festa em tempo oportuno. Ele não queria chamar a atenção com Sua presença, por isso, continuou um tempo na Galileia. Os irmãos de Jesus queriam a Sua publicidade, mas Ele foi em oculto. Costumavam ir caravanas para Jerusalém, mas Jesus não foi em nenhuma dessas. É possível que tenha ido com alguns discípulos ou com todos os doze. A atração das festas começou a ser a presença de Jesus, pois onde Ele estivesse haveria curas e polêmicas. Os judeus (líderes religiosos) eram hostis e o perseguiram até à morte. Os membros do Sinédrio não podiam prender Jesus na Galileia porque Herodes Antipas governava lá e não estava sob a jurisdição de Jerusalém. Entre o povo havia conversas confidenciais, pois declarar algo sobre um homem perseguido seria muito perigoso. O mundo ainda está falando sobre Cristo e Seus ensinos, mas a divisão de opiniões continua. Uns creem que é Deus e outros acham que é um enganador. O povo tinha medo dos judeus, isto é, das autoridades religiosas (9.22), pois podiam ser expulsos das sinagogas (v.8-13).

 

8.Jesus chegou no meio da semana festiva. Ele chegou como um peregrino, mas lá revelou ser um profeta. Os judeus ficaram maravilhados do conhecimento de Jesus sobre as Escrituras. É bem provável que tinham até inveja do conhecimento que Ele tinha. Jesus tinha a Lei na mente e no coração. Os ensinos de Cristo são verdadeiros e únicos, pois exaltam a Deus. Os ensinos de filosofia e seitas exaltam homens que viveram nesta terra, mas argumentam contra a Palavra de Deus e contra Cristo como Salvador. Todo aquele que ensinava tinha orgulho em dizer de quem ele aprendeu. O apóstolo Paulo citou algumas vezes seu mestre, que era Gamaliel. Jesus também citava Seu Mestre como “Aquele que me enviou”. Jesus agia semelhante aos profetas, mas com uma diferença: enquanto os profetas diziam “assim diz o Senhor”, Jesus dizia “Eu vos digo” (v.15-16).

 

9.Quem quer seguir a Cristo têm maneiras de comprovar os Seus ensinos, basta ler o Pentateuco, os livros históricos, os salmos, os profetas, os evangelhos e as epístolas. Os pensadores eram homens em conflito existencial, os filantropos são presos pelo dinheiro e a culpa de ter tanto e outros tão pouco e assim por diante, o homem está aprisionado pelos seus próprios conflitos, mas Cristo tem autoridade no Seu ensino porque Ele exalta ao Pai que O enviou (v.17-18).

 

10.Os líderes religiosos estavam tão preocupados com o cumprimento da lei que se esqueceram do próprio Deus que instituiu a lei através de Seu servo Moisés. Embora quisessem exaltar a Lei de Moisés não estavam observando e isto se chama hipocrisia. A pergunta que Jesus fez estava baseada na Lei de Moisés que diz “não matarás”. Todos foram pegos desprevenidos, pois aquela pergunta parecia totalmente fora de contexto, pois afinal de contas quem disse a Ele que queriam matá-Lo? (v.19).

 

11.A multidão passa, agora, para o lado dos líderes religiosos e se opõe a Jesus. O que a multidão desconhece até o momento é que os líderes religiosos pretendem matar Jesus e, naquela ocasião Jesus já sabia disso, mas nunca revelou para o povo. Pensavam que Jesus fosse um louco com mania de perseguição. É curioso notar que no Evangelho de João não há nenhum registro de Jesus expulsando demônios (v.20).

 

12.Curar alguém mesmo em dia de sábado é uma boa ação. Da mesma forma que a circuncisão era importante para o judeu e, por isso, era feita ao oitavo dia do recém-nascido, mesmo que fosse um sábado. Jesus enfatiza que não foi Moisés quem instituiu a circuncisão, mas o próprio Deus no tempo de Abraão (Gn 17.1-55). Jesus curou um homem que estava enfermo há 38 anos, o que não era tão urgente. No caso da circuncisão, devia ser realizada no dia exato, ainda que caísse em um sábado. Portanto, estavam presos à aparência e não à justiça (v.21-24).

 

13.O homem é hipócrita quanto à sua conduta e quanto ao conhecimento, é superficial. Ninguém gosta de admitir que não sabe por causa do orgulho, mas diante de Deus não há sabedoria humana que se sustente. O povo já sabia da intenção dos líderes religiosos de matar a Jesus, portanto, Ele não estava louco como O acusavam, mas tinha todo o conhecimento da situação porque Ele é Deus. A multidão, impressionada com a coragem de Jesus falar abertamente, pensava que o Sinédrio reconhecia que Jesus era o Cristo (v.25-26).

 

14.O povo rejeitava Cristo como Messias, por ser Ele da Galileia. De fato, Ele não tinha nascido na Galileia, mas em Belém da Judeia, mas não estavam interessados em reparar este equívoco. Estavam muito mal informados quando disseram que quando viesse o Cristo ninguém saberia de onde Ele viria, pois Miqueias profetizou 700 anos antes que Ele viria de Belém-Efrata (Mq 5.2). Assim é o ser humano, fala daquilo que não sabe, mas não quer aprender a verdadeira sabedoria. Aqui uma desarmonia entre o povo e o Sinédrio. Se a multidão pensa que o Sinédrio reconhece Jesus como o Cristo, por que não segue o Sinédrio? (v.27).

 

15.Eles não sabiam de onde Ele era. Ele veio do céu. Se nem ao menos no plano terreno estavam informados sobre Jesus, pois Ele nasceu na Judeia, na cidade de Belém, muito menos, ainda, sabiam de Sua origem celestial. O conhecimento do homem é superficial, pois não conhece Jesus, não sabe que Ele veio do céu e não conhece o Seu Pai (v.28-29).

 

16.Sete vezes, no Evangelho de João, tentaram prender Jesus, mas sem sucesso. A explicação básica para isso é porque “não era chegada Sua hora”, mas houve alguma razão secundária porque não prenderam Jesus. O medo das multidões que criam Nele, mesmo que de modo superficial e interesseiro, assustava o Sinédrio. O Sinédrio não tinha medo e respeito pelo povo em si, mas medo e respeito pelas autoridades romanas que podiam destituir a nação de seus privilégios naquele território, caso houvesse algum tipo de revolução (v.30).

 

17.Com toda aquela confusão e descrença, alguns, contudo, creram, pois afinal, quem faria aqueles sinais, senão o Messias? Portanto, a fé desafia qualquer tipo de resistência, mesmo que seja a opinião pública. Ninguém poderia ultrapassar Jesus em sinais e maravilhas. Ele é único, os outros são imitação (v.31).

 

18.Durante o ministério de Jesus na terra, as pessoas tiveram a oportunidade de aceitá-Lo como Salvador e Messias. Muitos aceitaram, porém, muitos outros não creram Nele. Os fariseus e os principais sacerdotes, além de não crerem Nele, quiseram prendê-lo devido à Sua popularidade crescer muito (v.32).

 

19.O próprio Jesus disse que o tempo de O encontrarem estava se acabando. Ele voltaria para o Pai. É claro que poderiam aceitar a salvação mais tarde, como aconteceu com muitos sacerdotes, conforme lemos em Atos, mas ninguém pode garantir que a sua vida se estenderá até um momento apropriado. Hoje é o dia de buscar a Jesus. Os fariseus queriam a Jesus para prendê-Lo, mas deveriam buscá-Lo como salvador. Alguns querem o nome Jesus para o seu sucesso pessoal, talvez dinheiro ou cura, mas hoje é tempo de buscá-Lo como salvador (v.33).

 

20.O Senhor Jesus os alertou de Sua partida. Haverá um momento em que será tarde para buscar o salvador. Após a morte será tarde, depois de aceitar a marca da Besta na tribulação também será tarde e no juízo do grande dia não haverá mais salvação, somente condenação. Embora Jesus ainda não estivesse, no momento, no céu, Ele já Se considera com o Pai, pois o ministério Dele com os incrédulos estava se encerrando, pois logo teria um tempo mais íntimo com os seus discípulos, antes de ser preso (v.34).

 

21.As pessoas que não desejam entender as verdades espirituais não veem sentido nessas palavras e nessa urgência. Os fariseus pensavam que ampliaria o Seu ministério para a dispersão dos judeus entre os gregos a fim de alcançar os gregos nas sinagogas judaicas. Esse não era o plano de Jesus que nunca saiu do território de Israel. Através de Paulo, isso aconteceria, alguns anos mais tarde. Houve três dispersões:  A Dispersão Egípcia, a Dispersão Babilônica e a Dispersão Síria (v.35).

 

22.O texto termina com uma dúvida, não por parte daqueles que creem, mas por parte dos que querem Jesus somente para prendê-Lo. As palavras da verdade são compreendidas somente por aqueles que recebem a iluminação do Espírito Santo, pois estes não rejeitam a Cristo Jesus. Aqueles que O rejeitam não compreendem as palavras mais simples (v.36).

 

23.Jesus faz uma alusão a essa festa e aos acontecimentos do deserto quando diz “quem tem sede”, referindo-se à sede no deserto e à Rocha de onde jorrou água. Rocha que prefigurava Ele mesmo. Jesus diz que águas fluirão do crente, ou seja, o crente será um canal de bênçãos para saciar o sedento (Zc 14.8, Ez 47.1, Is 44.3, Pv 18.4, Is 12.3) (v.37-38).

 

24.Ainda faltava a glorificação de Cristo, ou seja, Sua morte, como obra consumada para que o Espírito Santo viesse para habitar o crente. Neste Evangelho aparece diversas vezes a expressão “glorificação, ser glorificado” como a “hora” de Cristo (v.39).

 

25.As pessoas questionam muito sobre Ele. Alguns imaginavam que Ele era o Profeta que Moisés falou, mas não colocavam sua confiança Nele. As pessoas são muito tardias para confiar em Jesus Cristo. O fato Dele ser da Galileia perturbava a mente do povo porque sabiam que o Cristo viria de Belém. Podiam evitar toda aquela dissensão se apenas perguntassem a Ele ou procurassem saber o local de Seu nascimento. Muita confusão doutrinária não existiria se as pessoas deixassem de lado os seus sentimentos e facções e procurassem estudar os assuntos profundamente. Portanto, este é o primeiro grupo de questões sobre Jesus, “De onde Ele é?” (v.40-44).

 

26.O outro grupo de questões sobre Jesus é “O que Ele faz?”. Se não tivermos certeza que Jesus age no coração e na mente das pessoas não podemos testemunhar Dele. Aqueles que receberam a responsabilidade de prender a Jesus não o fizeram. “Por que?” era a pergunta dos fariseus. O que este homem faz que impede de ser preso? A diferença estava na autoridade de Jesus. Ele tem mais autoridade do que os fariseus. Cada pessoa deve provar de Jesus. O melhor conselho para alguém que deseja saber o que Jesus faz é pedir que leia os quatro evangelhos. Não há nada comparável. Os outros falam, mas Jesus Cristo faz. (v.45-46).

 

27.Os fariseus, novamente, movidos de inveja, zombam dos guardas. O que este homem fez com vocês, será que conseguiu enganá-los? Jesus Cristo faz com que as pessoas que O conhecem fiquem impressionadas. Ele não força ninguém ao Seu amor, porém, as pessoas acabam sendo atraídas pela Sua autoridade e atenção (v.47).

 

28.Observe o orgulho de ser fariseu (“Nós não somos enganados”). Será que nenhum fariseu creu em Jesus? E o que dizer de Nicodemos? Os fariseus chamam o povo de “plebe maldita” (Dt 28.15). Este desrespeito para com o povo seria suficiente para que deixassem de seguir homens hipócritas. Jesus Cristo não faz assim. Ele trata bem os que desejam se aproximar Dele e, até mesmo aqueles que O rejeitam (v.48-49).

 

29.O protesto de Nicodemos mostra que Ele creu no Messias, pois quem defenderia Jesus numa situação dessa? Entre os rabinos havia esta lei: ouvir antes de dar o veredicto. Se julgassem corretamente Jesus, veriam que Ele só fez o bem para as pessoas (v.50-51).

 

30.Ridicularizaram Nicodemos, chamando-o de galileu. Vemos a ignorância no Sinédrio, pois da Galileia vieram dois profetas: Jonas (2 Rs 14.25, Js 19.13) e Naum (Na 1.1). Pior do que especular é fazer afirmações mentirosas para convencer as pessoas de seus argumentos. Os fariseus não queriam a verdade, mas estavam obstinados em prender e matar a Jesus. Eles tropeçavam em suas próprias leis. Nicodemos protesta que não era correto condenar Jesus antes de ouvi-Lo (v.52).

 

31.A festa teve um final dramático. O Sinédrio se dividiu e o povo perceberia a falta de união no Sinédrio, pois os seus próprios guardas se admiraram da autoridade de Jesus. Cada um foi para a sua casa, certamente com a mente cheia de questões, ira e desapontamento (v.53).

 

Capítulo 8: A mulher adúltera. Jesus, a Luz do mundo. Jesus é maior do que o pai Abraão

1.Jesus passou a noite no Monte das Oliveiras, como era já o Seu costume, quando estava em Jerusalém. Um dia Ele voltará e pisará os Seus pés nesse monte o qual se abrirá. Precisamos conhecer mais a Jesus neste monte. Depois de discussões com os fariseus, as quais sempre terminavam com acusações contra Ele e tentativa de prendê-Lo, Ele se recolhia para o monte das Oliveiras. O crente precisa se recolher mais quando acusado, entristecido ou injustiçado. Há um refúgio no Senhor (v.1).

 

2.Muitos escribas deviam tirar as dúvidas do povo, mas não nos esqueçamos que eles acabaram de dizer que o povo não sabe nada. Não nos admira, pois estão tendo os piores professores. Jesus é o mestre por excelência. Aonde Ele chegava o povo queria ouvi-Lo (v.2).

 

3.O homem natural quer se justificar diante dos outros e de si mesmo, porém, se esquece que somente Deus pode justificar o pecador através de Jesus Cristo. Os fariseus queriam se justificar diante Daquele que se dizia Deus, por isso, conseguiram alguém para acusar, no caso, uma mulher pega em adultério. O homem, surpreendido, fugiu ou não quiseram trazê-lo por conveniência. É muito mais fácil tratar o pecado próprio buscando exemplos de pessoas piores, mas o pecado é individual e cada um deverá prestar contas a Deus de seus próprios atos (v.3-4).

 

4.Tentaram colocar Jesus num grande dilema: A Lei de Moisés manda apedrejar (Dt 22.23-24), porém, se Jesus fizesse isso, entraria em conflito com a Lei Romana, que proibia tal ato. Com isso, estavam resolvendo dois problemas. Um, seria o de desmascarar Jesus diante do povo. Se Ele perdoar a mulher estará contra a Lei de Moisés e não pode ser Deus, pois a Lei vem de Deus e também resolveram o seu próprio problema com o pecado, pois ninguém podia, no momento, ser pior que a mulher adúltera. Assim é o homem com suas justificativas para não se aproximar de Deus. Sempre acham que há pessoas mais pecadoras. É inútil tentar afirmar o que Ele escreveu na areia, porém, é a única menção de Jesus escrevendo. Em Nm 5 há um relato sobre como faziam num caso assim, era o “teste da água amargosa”. Já não se usava esse método nos tempos de Jesus (v.5-6).

 

“A história da mulher pega em adultério e trazida diante do Senhor Jesus Cristo para julgamento é um incidente rico de significado espiritual. Apesar de um forte consenso entre os eruditos que esse texto deveria ser excluído do evangelho de João, o poder inerente da própria história e sua inconfundível ligação com a verdade permanece inalteráveis. Assim como o resto das Escrituras, esse texto produz benefício espiritual substancial àqueles que o estudam com um genuíno respeito por sua integridade e divina autoridade.”[10]

 

5.Muitos deviam viver em adultério. A consciência acusava a todos. Quantos ali deviam ser apedrejados e nunca foram? Os mais velhos tinham mais pecados e, portanto, maior peso em suas mentes. O pecador precisa ser bombardeado com mensagens sobre o pecado e a falta de justificação diante do próprio Deus. Se as pessoas não temem a Deus não há porque se preocuparem com os seus próprios pecados. Jesus, porém, desafiou as consciências adormecidas a refletirem sobre seus próprios pecados (v.7-9).

 

6.Jesus só levantou os olhos depois que todos saíram. Ele despediu a mulher em paz, mas o pecado continuou horrível para Ele, porque Ele é santo. O maior ofendido é o próprio Jesus Cristo. A mulher pecou contra a Sua Lei. Ele é o único que pode perdoar. Ele perdoou a mulher, não só por misericórdia do momento, mas sob o penhor de Sua morte na Cruz que logo aconteceria. Só há perdão e justificação quando o pecador aceita a Cristo como Seu único e suficiente salvador (v.10-11).

 

7.O mundo está em trevas desde que Adão e Eva pecaram e se afastaram de Deus. Embora o mundo esteja em trevas há testemunhos por toda a natureza de que existe um Criador. Jesus é a revelação máxima desse testemunho. Jesus é a luz do mundo e quem não O segue continuará sem direção e nas trevas. Ninguém mais tem essa credencial, só Jesus. Alguém não credenciado é um impostor. Se alguém fala de si mesmo é arrogante e pretensioso. Jesus teria credencial de falar de si mesmo? Sim, Ele é Deus. O próprio Pai o credenciou no batismo de João Batista (v.12-13).

 

8.Anteriormente, Ele usou outros testemunhos para Si. Aqui Ele não quis. O único testemunho que usou foi o do Pai. Ele é Deus e sabe de onde veio e para onde vai. O conhecimento próprio lhe dá credencial. A filosofia diz que as três maiores perguntas do homem são: “De onde vim, o que estou fazendo aqui e para onde vou?”. Todos os homens sem Cristo estão desorientados. O problema do homem é que ele só pode ver com os olhos físicos. A credencial de Jesus não está estampada em algum cartão de visita, mas é espiritual. Somente os que aceitam o Seu testemunho podem crer na Sua credencial. Jesus pode testemunhar de Si mesmo e, além disso, Ele tem a confirmação do Pai. Ninguém dos ouvintes duvida da credencial de Deus invisível, no entanto, estão duvidando de Jesus visível em corpo e obras. Ele não veio para julgar, mas para salvar (v.14-16).

 

9.O testemunho de Jesus respeita a lei dos judeus de somente aceitar o testemunho de pelo menos duas pessoas. Ele é credenciado pelo Pai. Eles mesmos podiam julgar pelo que ouviram no batismo de Jesus, pois os fariseus mandaram pessoas credenciadas para testemunhar. Podiam também julgar pelas obras que Jesus operou entre eles. Eles endureceram os seus corações com a pergunta: “Onde está o teu Pai?”. Eles podiam ver, mas se recusavam a admitir que Ele só podia ser a luz do mundo. Não há dúvidas sobre a Sua credencial. As evidências são claras. Jesus respondeu a eles que se o aceitassem veriam o Seu Pai. Jesus é a luz do mundo. Esta é a Sua credencial. Todos os que estão cegos e sem luz podem ver porque a luz de Deus desceu ao mundo para curar toda a cegueira (v.17-20).

 

10.Outra credencial de Jesus é a Sua origem. Ele é de cima. Eles morreriam em seus pecados se não O aceitassem. Pensavam que Ele ia se suicidar. Ainda estavam rejeitando a Sua credencial e, por isso, não queriam aceitar que Ele voltaria para o céu de onde Ele é. O problema não é a falta de entendimento, mas é o pecado da incredulidade e dureza de coração (v.21-23).

 

11.Ele é o eterno “Eu sou”. Essa é a credencial que dava a Moisés autoridade de se apresentar diante de Faraó, mas não significa que o soberano do Egito o aceitou. Da mesma forma, Jesus se apresenta como o Deus eterno, mas não quer dizer que os fariseus O aceitaram (v.24 com Êx 3.14).

 

12.A mensagem naquela altura não era mais salvadora para eles, pelo contrário, era condenatória, pois estavam relutantes em crer em Jesus como o Deus eterno, o grande EU SOU. A graça de Deus é apresentada, mas alguns a resistem e sofrem a consequência. Desde o princípio Jesus está dizendo que Deus é Seu Pai, mas eles não aceitam isto, e o resultado foi que a sua rejeição os cegou. Se por muitas oportunidades as pessoas rejeitam, logo ficaram cegas às verdades tão claras. Os fariseus, cinicamente, perguntam a Jesus de onde Ele é (v.25).

 

13.Jesus já podia decretar a condenação dos fariseus, mas Ele, insistentemente, tentava os ganhar. Bastava se arrependerem e se converterem ao Senhor Jesus e estariam salvos. Muitos se endurecem por um orgulho que só os leva à perdição. Eles estavam tão obstinados com a ideia de que Jesus não era Deus que nem percebiam que Ele falava do Pai. Não aceitavam a credencial de Jesus e, por isso, se fecharam para toda evidência de Seu ministério. Note a pessoa do verbo: “tiverdes”. Isso indica que os judeus é que levantarão Jesus na Cruz. Não importa muito que os instrumentos foram os romanos, a responsabilidade recai sobre os judeus como aqueles que crucificaram Jesus (v.26-28).

 

14.A obediência de Jesus ao Pai mantinha a credencial, pois o Pai estava sempre com Ele. Jesus é do alto e não podia falar palavras que não viessem do alto. Os fariseus precisam ver as profecias e saber que Ele tinha todas as credenciais do Profeta prometido. Apesar da incredulidade dos fariseus, muitos creram. Isto prova que as credenciais de Jesus são verdadeiras. Porém, o evangelho de João mostra pessoas que creem, mas não para a salvação, pois elas não pretendem mudar o seu estilo de vida. Elas se admiram das palavras e até as acham bonitas, mas quando Jesus se aprofunda no assunto de discipulado, elas mostram que, de fato, não se arrependeram e não se converteram. Há muitos que admiram os crentes e os ensinos de Jesus, mas não estão dispostos a se entregarem totalmente. Aceitam a credencial, mas não aceitam serem acusadas. É como o criminoso que aceita a credencial do investigador criminal, mas não se submete à acusação de seus crimes (v.29-30).

 

15.No contexto dos judeus em relação Jesus, permanecer Nele era o requisito para conhecê-Lo e, consequentemente, ser liberto. Os que “creram” deviam orientar a própria vida com os ensinos de Jesus e deixar de ouvir o Sinédrio, pois já ficou evidente a falta de competência desses líderes. As sementes germinam, mas nem todos os frutos são bons. Os que nascem do alto produziram frutos para a vida eterna, mas os fariseus germinam para a perdição, pois estão presos à filiação humana de Abraão, mas servindo ao diabo (v.31).

 

16.Jesus promete libertação, mas libertação de quê? No caso dos judeus, a libertação da escravidão dos padrões que parecem corretos, mas são apenas legalismo ditado pelo Sinédrio e seus membros, os fariseus e saduceus. A semente da verdade é a única que germina libertação e vida eterna (v.32).

 

17.As mesmas pessoas que “creram” não aceitam a semente da verdade. Querem seguir a Jesus, mas continuar com suas próprias obras. Estes dizem que “jamais foram escravos de ninguém”. Isso não era verdade, pois o povo de Israel foi escravo dos babilônios, dos egípcios, dos assírios, dos persas e, agora, de certa forma, são escravos dos romanos (v.33).

 

18.O próprio Abraão nasceu em pecado, por isso, dependeu da fé. Ele creu e isto lhe foi imputado por justiça. A semente da verdade cresce regada pela fé no Libertador, Jesus Cristo. Os judeus não queriam aceitar este discurso, pois se achavam livres de pecado (v.34).

 

19.Eles não podiam permanecer na Casa do Pai porque são escravos do pecado. Nenhum pecador pode ficar na casa do pai porque não é filho, isto é, não é da semente do pai, é um escravo. Um escravo era facilmente vendido e deixava a casa. Um escravo não tinha residência fixa. Com o filho é diferente, pois o filho pertence à casa. O Filho tem liberdade. O Filho é Jesus, não vendido ao pecado. Ele é livre e liberta. Todos os que são semente de Cristo, ou seja, nascidos de Cristo pertencem à mesma casa e podem permanecer. São livres (v.35-36).

 

20.A semente deles era outra e, por isso, não aceitavam a semente da verdade. Eles eram descendentes de Abraão e nisto não há nada de errado, pois Abraão creu. No entanto, eles eram sementes físicas e não espirituais de Abraão, pois se fossem não teriam a intenção de matar Jesus. A semente da verdade não estava neles. Jesus tem um Pai que é Deus, mas os judeus não seguem o mesmo Pai, pois têm outra filiação. A semente da verdade não pode produzir frutos de incredulidade e rejeição. A semente física de Abraão não produz espiritualidade e fé, simplesmente prova que são judeus e este fato não salva ninguém. Se fossem sementes espirituais de Abraão praticariam as obras de Abraão (v.37-40).

 

21.Os judeus achavam que além de serem sementes de Abraão eram sementes de Deus, pois O consideravam como Pai. Eles se consideravam a pura semente de Deus, sem nenhuma mancha. Consideravam-se raça pura e superior. De modo algum gostamos de pensar nos dias de Hitler, mas foi exatamente isto que ele pregou para matar os judeus. Toda vez que alguém superestima a sua própria posição na sociedade acaba subestimando o seu semelhante. Deus não vê as pessoas pelo seu status social (v.41).

 

22.Jesus não somente apresenta a semente da verdade como esclarece que eles que não são semente espiritual de Abraão. Eles pensavam que o nascimento físico dentro da semente de Israel já lhes dava o direito de serem salvos. A prova é sempre a Pessoa de Jesus Cristo e é nisto que as seitas esbarram, pois colocam Jesus acima de todos os homens, mas abaixo de Deus. Se os judeus fossem semente espiritual de Abraão, seriam semente da verdade e aceitariam Jesus como Deus e salvador (v.42).

 

23.Eles não podem entender a linguagem de Jesus porque não são semente espiritual que germina para a vida eterna. A semente carnal não pode germinar para a vida eterna. Ouvem, mas não têm discernimento espiritual. Jesus falou claramente qual semente eles eram. Uma semente má produz maus frutos e a explicação está toda neste fato. Eles são sementes do diabo e, por isso, querem matar Jesus. Essa semente maldita produz três pecados mencionados neste versículo. O primeiro pecado é o egoísmo, o segundo é o assassinato e o terceiro é a mentira. Pensando em Caim aconteceram estes três pecados. Ele só pensou em si mesmo, por isso, matou Abel e mentiu quando disse “sou guardador de meu irmão?”. Os judeus só pensam em si e querem matar Jesus e são mentirosos como se vê claramente nos Evangelhos, principalmente, no julgamento de Jesus. Como provêm de uma semente mentirosa, o diabo, os opositores de Jesus não creem Nele (v.43-45).

 

24.Ninguém pode acusar Jesus de pecado, pois a semente Dele é sem pecado. Ele é o primogênito de Deus. Gerado de Deus, não no sentido de nascimento, mas em sujeição ao Pai. Os judeus obstinados são sementes do diabo e não creem em Jesus. Se eles fossem sementes de Deus dariam ouvidos a Deus, mas são sementes do diabo. Eles não aceitavam que Jesus era semente divina, mas acusavam que Ele era uma semente maldita de samaritano e do diabo. Os judeus, furiosos, xingam Jesus com os piores palavrões da época. Diziam que era um samaritano, indicando que a fé de Jesus era uma fé corrompida, um herege e, também diziam que era um endemoninhado, indicando que os demônios incentivam Jesus à heresia e à blasfêmia (v.46-48).

 

25.Jesus confirma que a sua semente é divina. Os judeus, no entanto, desonravam a Deus rejeitando a Jesus. A glória de Jesus era confirmada pelo Pai. Deus busca glorificar o Filho e julga a obediência Dele, aprovando-a. Jesus continua dizendo que “aquele que guardar a minha palavra não morrerá eternamente”. Eles deviam deixar que a semente da verdade e da descendência espiritual de Abraão germinasse em seus corações. Os judeus confirmavam que eram semente do diabo. A dúvida deles era: se Abraão e os profetas morreram, quem é este para dizer isto? Eles nem mesmo criam que o pai Abraão e os profetas viviam. Eles não cogitavam as coisas de Deus (v.49-53).

26.A glória de Jesus vem diretamente do Pai. Eles se achavam sementes de Deus, mas não aceitavam Jesus. Jesus conhece o Pai, mas os judeus não conhecem. Eles são mentirosos, pois são da mesma semente que o diabo. Para o judeu não era estranha a ideia de que “Abraão se alegrou por ver, profeticamente, o dia do Messias, no sacrifício de Isaque. O problema é que Jesus disse: “Abraão se alegrou por ver o ‘meu dia’”. Em outras palavras, Jesus diz que é o Messias esperado por Abraão (v.54-56).

 

27.Jesus não tinha nem 50 anos. Para conhecer Abraão deveria ter, pelo menos, 1700 anos. Jesus diz que é o eterno “Eu Sou”. Isto era demais para os judeus. Eles se achavam semente de Abraão e bem na frente deles aquele homem diz que Ele existe antes de Abraão. O fato de pegarem em pedras para matá-Lo, indica que esses judeus entenderam que Jesus estava dizendo que Ele é Eterno e, portanto, que é Deus. Com essa atitude acabaram de confirmar que Jesus é um profeta, pois Ele disse que queriam matá-Lo e eles O acusaram de endemoninhado (v.57-59).

 

Capítulo 9: A cura de um cego de nascença

1.A presença de Jesus estava transtornando a todos, pois estava tirando a ordem de como a vida dos judeus se conduzia. As situações que se apresentavam só pioravam as coisas. Jesus incomodava aqueles que supunham serem corretos. A cura de um cego de nascença se transformou num campo de batalha teológica causando transtorno entre todos (v.1).

 

2.O cego estava sem defesa contra as línguas cruéis e, até os discípulos de Jesus tinham um conceito de pecado errado. Acusavam ou os pais ou o próprio cego. Alguns rabinos chegavam a atribuir a algum pecado no ventre da mãe. Qualquer teologia diferente podia causar um transtorno na cabeça das pessoas (v.2, Dt 28.18).

 

3.Jesus via naquele homem um alvo das misericórdias de Deus, enquanto outros viam nele um alvo de discussões teológicas. É uma afronta ao caráter de Deus pensar que Ele fez nascer um cego para depois de muitos anos curá-lo. Porém, não podemos duvidar que Deus acabou se utilizando dessa situação para a Sua própria glória. O fato dele ter nascido cego só prova que o mundo é habitado pelo pecado, pois a cegueira é um transtorno para todos que sofrem dela. É verdade que quase todos os cegos se superam e, até superam os que veem, em muitas habilidades, mas isto também só prova que Deus capacitou o homem para se adaptar a muitas situações desfavoráveis. Não há transtorno que Deus não possa corrigir em nossas vidas (v.3).

 

Cegueira[11]

 A primeira escola para cegos foi fundada em Paris, em 1784, por Valentin Hauy, que criou uma escrita em relevo, capaz de permitir a leitura pelo tato, sentido altamente desenvolvido nos cegos. Um de seus discípulos, Louis Braille, que perdera a visão aos três anos de idade, aperfeiçoou o sistema, que além das letras passou a contar também com números e notações musicais. Com o impulso dado pelo sistema Braille, surgiram na Europa diversas escolas para cegos, algumas notáveis, como a inglesa St. Dunstan, que dava ênfase aos aspectos psicológicos dos alunos. Seguiu-se a criação, nas escolas públicas, de classes especiais para crianças cegas, a primeira das quais foi fundada nos Estados Unidos em 1900. A Perkins School, de Boston, conseguiu um feito extraordinário com a educação primorosa de Helen Keller, cega, surda e muda aos 19 meses de idade, que conseguiu graduação superior e escreveu diversos livros sobre a educação de deficientes. A partir daí os livros em Braille proliferaram a tal ponto que a National Library for the Blind, em Westminster, Inglaterra, conta com um acervo de milhares de volumes.

 

4.Ao invés de ficarem discutindo questões teológicas ou crendices, para ser mais exato, Jesus exige ação. O trabalho de Jesus é feito “enquanto é dia”, ou seja, enquanto Ele está no mundo. A noite virá quando Jesus não mais estiver na terra desempenhando Seu ministério, que envolvia curas. O trabalho era tanto de Jesus como de seus discípulos, por isso, Ele disse “façamos”. Ainda que Ele realizasse sozinho as curas. Nos transtornos da vida temos a opção de não fazer nada ou trabalhar para reverter a situação. Temos de fazer alguma coisa quando vemos algo transtornado que pode ser contornado por nós. Jesus tem o poder de curar, por isso, faria alguma coisa em benefício daquele homem (v.4).

 

5.O problema do cego era a falta de luz em seus olhos. Jesus faz uma declaração muito oportuna neste caso: “Eu sou a Luz do mundo”. Jesus está no mundo por pouco tempo, por isso, é a Luz enquanto estiver no mundo, quando sair do mundo, os crentes serão a luz do mundo (v.5).

 

6.O cego teria de se submeter a esse gesto pouco decoroso, assim como Naamã teve que banhar-se no lamacento rio Jordão. Siloé significa “Enviado”, tendo sentido duplo: porque as águas são enviadas das fontes e, principalmente, porque é um dos títulos do Messias. Foi nesse local que foi construída uma Torre que desabou, matando 18 pessoas, catástrofe bem conhecida nos tempos de Jesus (Lc 13.4). Se a vida de alguém está transtornada ela não se incomodará em se humilhar para colocar a sua vida em ordem novamente. O cego não se preocupou em se submeter àquele ato (v.6-7).

 

7.Ele era conhecido como um pedinte. Alguns até duvidaram da identidade do ex-cego. Quando a vida transtornada é colocada em ordem a primeira coisa que acontece é a curiosidade de todos ao redor. A vida do crente deve impressionar a todos. A nossa mudança incentiva a todos a se aproximarem de nós para saber o que aconteceu (v.8-9).

 

8.A curiosidade deve ser satisfeita com testemunhos que vão se aprofundando. Por enquanto o ex-cego se limitou a dizer o que aconteceu com ele. Ele não podia ir além disso, pois nem conhecia a Pessoa de Jesus suficientemente. Aquilo que Deus coloca em ordem na vida do crente nem sempre é percebido de imediato. Outros podem perceber antes de nós mesmos (v.10-12).

 

9.A pior cegueira não é a cegueira física, mas a cegueira espiritual. Os fariseus foram levados até aquela situação porque achavam que era um problema religioso e, certamente, os líderes religiosos saberiam dar a interpretação correta do ocorrido, mas como estavam cegos espiritualmente as suas vidas estavam muito transtornadas para compreenderem o poder e o amor de Jesus Cristo (v.13).

 

10.Jesus repetiu a ofensa da visita anterior, curando no sábado, propositadamente. Desta vez também, não só porque curou no sábado, mas pelo trabalho realizado. Antes mandou o homem carregar o leito (carga) e, agora, fez pasta de terra e saliva. Entendemos que Ele usou esse método de cura para provocar os judeus e não porque há alguma substância miraculosa na saliva para curar a cegueira. Havia na interpretação tradicional da Lei, que em dia de sábado era proibido amassar pão ou algo parecido, o que incluía fazer massa com terra para construções. O transtorno estava instaurado entre o Sinédrio (v.14-16).

 

11.O ex-cego aprofundou seu testemunho, dizendo que Jesus é profeta. Aos vizinhos disse que não sabia quem Ele era e para os fariseus respondeu: “É profeta”. A que profeta pode ser comparado? Ao profeta Eliseu que mandou Naamã banhar-se no Jordão? Jesus mandou o cego banhar-se no Tanque de Siloé. Ele era mais do que o profeta Eliseu. Ele é o profeta que Moisés profetizou. A cegueira espiritual é um transtorno maior do que a cegueira física (v.17).

 

12.Colocaram em dúvida a cegueira do homem, por isso, perguntaram aos pais. Alguém transtornado pela cegueira espiritual duvida da ação de Deus na vida de outras pessoas. Os pais creditavam a cura de seu filho a Jesus, homem muito falado durante a festa, mas por medo de envolvimento e comprometimento com o Sinédrio, fingiram inocência. Nesta altura do estudo do livro de João, devemos entender que “judeus” refere-se às autoridades religiosas e não ao povo judeu em geral. Talvez os pais quisessem proteger o filho por ter confessado que Jesus é o Messias (ou “O Profeta”) (v.18-23).

 

13.O termo “Dá glória a Deus” é sinônimo para “fala a verdade” (veja Js 7.19). Novamente, o ex-cego não se intrometeu em assuntos que pertencem às autoridades religiosas. Se Jesus é pecador ou não é assunto para o Sinédrio e não para um do povo. Corajosamente o homem afirmou: “Eu era cego, agora vejo”. Isto já foi provado aos fariseus, comprovando a identidade do ex-cego (v.24-25).

 

14.O objetivo dos líderes religiosos não era descobrir a verdade, pois já sabiam, mas fazer o ex-cego “escorregar” em seu testemunho, para incriminá-lo e também Jesus. O ex-cego irrita os líderes quando pergunta se eles também querem se tornar discípulos Dele, indicando que a partir de agora ele seguiria a Jesus. A cegueira espiritual causa transtorno por causa do orgulho em reconhecer o Cristo (v.26-27).

 

15.Os judeus apoiavam-se em Moisés, mas este os condenava. Ser discípulo de Jesus é o mesmo que ser discípulo de um “ninguém” sem origem, pois veio da Galileia que não tinha nenhuma tradição em autoridade espiritual. Moisés era profeta por autoridade divina, mas este Jesus, de onde vinha sua autoridade? (v.28-29).

 

16.O ex-cego estranha o fato deles cuidarem de assuntos religiosos e, ainda, não saberem a origem de Jesus. Deus não ouve pecadores, conforme Sl 66.18, Is 1.15 e 59.1-2. Os fariseus deviam saber disto. Os fariseus estavam tão transtornados que tiveram de apelar para sua teológica fraca e errada, ou seja, o pecado dos pais e dele mesmo foram responsáveis pela cegueira física. O ex-cego foi expulso da sinagoga como já tinham advertido a todos que aceitassem os ensinos de Jesus. O ex-cego já havia declarado que Jesus é profeta. Agora, o próprio Jesus pergunta a ele se crê no Filho do Homem. Se aquele homem estivesse transtornado pela cegueira espiritual de nada valeria ser curado da cegueira física (v.30-35).

 

17.Ele podia ter sido um cego, mas agora mostra que não teria sua fé cega em qualquer um, mas somente Naquele que lhe restaurara a visão. Este homem estava amaldiçoado pela sociedade. Jesus se apresenta como Aquele que o curou. Quando ele se lavou no Tanque de Siloé é bem provável que não tenha visto Jesus e, agora, é a primeira vez que vê Jesus. Ele já havia crido, e só queria a identificação para “Filho do Homem”, título muito obscuro para ele naquele momento. Em João, quando se diz que alguém creu, é muito difícil saber qual tipo de fé que se trata. No caso, é fácil saber, pois este homem foi até as últimas consequências em sua fé: a expulsão da sinagoga. Um cego dificilmente é enganado pela voz, pois por falta de visão desenvolve muito mais outros sentidos, como a audição. Ele foi um cego, mas a sua visão espiritual só aberta, o que era infinitamente mais importante (v.36-38).

 

18.Em outro lugar Jesus disse que não veio para julgar o mundo, e aqui diz que “veio a este mundo para juízo”. Não significa que veio exercer juízo formal, mas que a própria presença Dele neste mundo é um julgamento, pelo fato de obrigar as pessoas a se posicionarem de um lado ou de outro, a favor ou contra Ele (veja Mt 12.30-32). Aqui Jesus afirma em outras palavras que a cegueira espiritual causa muito mais transtorno do que a cegueira física (v.39).

 

19.Com a vinda de Jesus ao mundo, muitos que não viam, passaram a ver e muitos que viam, ou melhor, pensavam que viam, aprofundaram-se na escuridão. Eles não entendiam ou não queriam entender? É claro que Jesus falava da cegueira espiritual e eles sabiam disso. A pior cegueira é aquela em que a pessoa pensa que vê, porém, é cega. Não há transtorno e engano pior (v.40).

 

20.Jesus responde que se fossem cegos, isto é, ignorantes quanto à Pessoa de Jesus, haveria solução para eles, mas porque veem, isto é, conheceram a Pessoa de Jesus e, contudo, rejeitaram-No, estão atolados na escuridão do pecado. O juízo para quem rejeita a Cristo deliberadamente é maior do que aquele que não teve oportunidade. E quem rejeita a Cristo deliberada e pessoalmente, como só os da época de Jesus puderam fazer, têm, ainda, maior juízo (v.41).

 

A maturidade do nosso testemunho (João 9)

1.Reconhecer a cegueira do povo (v.1-3)

2.Reconhecer a urgência da obra (v.4-5)

3.Reconhecer o poder transformador de Jesus em nossas vidas (v.6-12)

4.Reconhecer que as pessoas ficarão um pouco confusas com o que éramos e o que somos (v.13-17)

5.Reconhecer que precisamos da coragem do Senhor para testemunhar (v.18-34)

6.Reconhecer que teremos de prestar contas a Jesus pelo nosso testemunho ou a falta dele (v.35-41)

 

Capítulo 10: Jesus, o Bom Pastor. A festa da dedicação

1.O mundo está em trevas e desamparado. Só Jesus Cristo pode amparar o pecador. O aprisco só tinha uma porta. Quem quisesse roubar daria a volta e pularia o muro, que era baixo. O Pastor vinha pela manhã buscar suas ovelhas. O porteiro passava a noite, servindo de porta para o aprisco. O porteiro só dava passagem para o Pastor. Quando o Pastor não podia pagar um porteiro, ele mesmo fazia essa função, dormindo ao relento (v.1-2).

 

2.Mais de um rebanho podia ser abrigado em um mesmo aprisco. O Pastor só precisava chegar à entrada e chamar suas ovelhas, e estas, como reconheciam a voz de seu Pastor se aproximavam da saída. Os rebanhos não eram tão grandes, por isso, o pastor podia até reconhecer cada ovelha por seu nome. Hoje em dia, os grandes criadores de ovelhas, possuem cães treinados para conduzi-las. O pastor vai a frente, as ovelhas seguem. Ele não vai atrás enxotando-as, como fazem os fariseus com o povo. O povo precisa de amparo. O povo precisa ouvir e seguir uma voz meiga e suave. O pecador precisa do amparo da direção. Jesus conduz o pecador ao caminho correto. As igrejas são agências que guiam o pecador a Cristo, o Bom Pastor. Quando uma igreja não apresenta Jesus como o caminho, ela deixa de ser a igreja verdadeira (v.3-4).

 

3.Nenhum estranho consegue fazer as ovelhas o seguirem. Nenhuma ovelha se sente amparada quando o caminho é outro que não seja em direção a Deus.  Dizem que ovelhas enxergam mal, por isso, seguem a voz conhecida. O pecador não tem olhos espirituais para enxergar a Deus, por isso, a Palavra deve ser apresentada a Ele para ouvir a voz meiga do Bom Pastor e receber a direção correta. A salvação vem pelo ouvir e ouvir a Palavra de Deus (v.5).

 

4.O Pastor é o próprio Jesus. Ele vem para o aprisco judaico e chama seus discípulos para fora. Uns ouviram antes, outros demorariam mais um pouco. Os fariseus não eram pastores, por isso, não conseguiram se comunicar com o ex-cego. Quando o verdadeiro Pastor chamou, o ex-cego saiu para fora imediatamente. Portanto, longe de considerar a expulsão da sinagoga como o fator mais drástico, devemos enfatizar que o chamado de Jesus para aquele homem foi mais forte. O Sinédrio já não tinha valor para aquele homem. Evidentemente, todos os líderes religiosos entenderam a ilustração, quase infantil por sinal, mas não entenderam o sentido profundo. O pecador está desamparado pelos falsos líderes e falsos ensinos. O amparo da direção só é encontrado em Jesus Cristo (v.6).

 

5.Era comum no Oriente Médio, o pastor deitar-se à porta, tornando-se uma espécie de porta. Neste caso, o Pastor e a Porta têm a mesma função. A salvação é exclusivamente de Jesus Cristo. Ele é o Pastor e também é a Porta. O pecador precisa do amparo da salvação. Ele precisa que alguém diga onde está a porta para a salvação. Os fariseus são ladrões, pois estão roubando o coração das pessoas. Ninguém quer ser amparado por um ladrão, pois não é certo e é perigoso. Todos os ensinos fora da Bíblia são ladrões e roubam as almas dos perdidos. Há amparo de salvação em Jesus Cristo porque Ele é o Bom Pastor. Os demais são ladrões (v.7-8).

 

6.A fome de pastos verdes faz com que as pessoas busquem amparo em qualquer um que oferece alguma pastagem, mas só em Jesus Cristo, o salvador alguém pode se alimentar. Ele ampara o pecador com a salvação. O ladrão não ampara ninguém. O ladrão tira a fé das pessoas e as conduz à perdição. Jesus é o amparo verdadeiro. Ele é o único que oferece vida em abundância (v.9-10).

 

7.O mercenário vê o lobo e foge. O mercenário não tem más intenções como o ladrão, mas também, não se arrisca pelas ovelhas. Só cuida pelo salário. Se alguma ovelha se perder só deixará de ganhar o salário e procurará outro emprego, mas o pastor precisa das ovelhas para seu sustento diário e, se for o caso, ele lutará pelas suas ovelhas. O mercenário não ampara a ovelha (v.11-14, veja 1 Sm 17.34-37).

 

8.O amparo do salvador de Jesus é completo e seguro. Ele salva e mantém seguro todos os salvos. Quem é amparado por Ele conhece a Sua voz porque ele é o único que deu a vida pelos pecadores. Ele é o amparo do crente, mas Ele quer amparar a todos. Há um amparo chamado busca. Ele está atrás de pecadores perdidos. As ovelhas de “outro aprisco” são os gentios. Os apriscos podem ser muitos, mas o rebanho é apenas um. Judeus e gentios, juntos, em um só rebanho são o “mistério” da epístola aos Efésios. O objetivo não é colocar ovelhas de um aprisco em outro, mas tirar de ambos e reunir-se com o pastor. O funcionamento seria assim: as autoridades judaicas deviam reunir no aprisco judaico todas as ovelhas (tanto judeus como gentios), até que viesse o Messias que reuniria a todos para Si, mas não foi isto que aconteceu, como bem sabemos (v.15-16).

 

9.Jesus dá a vida para depois reassumi-la. Alguns entendem que Jesus dá a Sua vida para reassumir “Suas ovelhas”. Embora seja verdade, a interpretação correta é que Jesus dá a Sua vida e reassume a Sua vida, indicando que Ele “entrega o espírito”, mas depois é “ressuscitado”. Podemos dizer que ninguém matou Jesus, pois Ele é a fonte de vida e ninguém pode tirar a vida do doador de toda a existência. Mas também é correto dizer, para efeito de responsabilidade humana, que “mataram Jesus”. Ele é o amparo das ovelhas desgarradas. Ele busca a todos, porém, nem todos querem vir até Ele (v.17-18).

 

10.Este é o Bom Pastor. Ele dá direção. Ele salva e Ele busca, mas nem todos aceitam estas palavras. Novamente, é impossível ficar neutro nesta discussão. Por isso, confirma-se o que Jesus disse anteriormente, sobre o juízo que Ele exerce neste mundo. Esta é a terceira dissensão entre os judeus por causa de Jesus (7.43, 9.16, 10.19). Possivelmente por causa da declaração “Eu sou o Bom Pastor”, que corresponde a declarar-se Deus, os judeus acusavam Jesus de um endemoninhado. Junto com a possessão demoníaca, normalmente, está relacionada a insanidade mental, por isso disseram que estava louco. Enquanto da parte de Jesus há o amparo da busca, por parte dos pecadores há uma resistência ao amor de Deus (v.19-20).

 

11.Os que não tinham preconceito diziam que as palavras sensatas e o poder de curar um cego de nascença não combinam com a acusação de possessão demoníaca. O Bom Pastor dirige, salva e busca. É uma acusação séria chamá-Lo de endemoninhado e louco. O Bom Pastor fornece amparo às Suas ovelhas e até busca aquelas que estão perdidas e rebeldes. Ele dirige, mostrando o caminho da salvação. Ele salva, mostrando-Se como o salvador e Ele busca com o fim de alcançar outros para Si. O fato de ser inverno explica porque Jesus não estava ensinando ao ar livre, mas no pórtico de Salomão, que é um alpendre coberto, um corredor de 12 metros de largura com colunas dos dois lados. Foi desse lugar, registrado em Atos, que Pedro falou à multidão e era nesse lugar onde os crentes de Jerusalém se reuniam quando iam para o Templo (v.21-23).

 

12.Os judeus querem uma resposta direta e definitiva: “És o Cristo ou não?” O pecador é carente da verdade, embora isto não significa que deseja seguir a verdade. Há um livreto da série Discovery da RBC Ministries, com o título “E se for verdade?”. O ser humano que se depara com a Bíblia deve se perguntar “e se for verdade?”.[12] Por causa do orgulho muitos estão indo para o inferno. Pilatos fez a pergunta antes de entregar Cristo para ser crucificado: “O que é a verdade?” Porém, ele não esperou para ouvir a verdade. As pessoas não estão parando para ouvir a verdade e pagarão um alto preço por isto, o inferno (v.24).

 

13.Jesus novamente apela para as Suas obras. A cura do cego já seria suficiente para eles crerem, mas como não são ovelhas do rebanho de Jesus, não ouviram Sua voz, pelo menos até esse momento. O v.28 reforça o ensino da segurança da salvação. O pecador carece da verdade que pode liberta-lo para sempre. Para aos que têm dúvida se realmente é verdade que Jesus é Deus, este versículo esclarece que não há diferença entre Jesus e Deus. Eles são um e vivem em duas pessoas ou três mais o Espírito Santo. O pecador carente da verdade não pode se perder porque não entende a verdade da trindade. Alguns limitam a sua própria salvação porque não querem aceitar esta verdade fundamental (v.25-30).

 

14.O ser humano é carente, mas ao mesmo tempo é orgulho e incrédulo. Já temos a verdade de Deus em Sua Palavra, agora só precisamos depositar a nossa confiança nesta verdade absoluta. A maior blasfêmia para o judeu é alguém se declarar Deus, por isso, queriam matar Jesus. Esta é a segunda vez que pegaram em pedras para matá-Lo (v.31, ver 8.59).

 

15.Pediram para que Ele falasse francamente (v.24). Ele falou, mas não estavam preocupados com a verdade, mas sim em pegá-Lo em blasfêmia. Quando as pessoas deixam de se interessar pela verdade elas tomam a atitude de superioridade e passam a julgar a verdade com os seus próprios pensamentos. Os judeus resolveram em seus corações não aceitar a verdade e apedrejar a Jesus (v.32).

 

16.Claro que nenhum judeu admitiria a morte de alguém simplesmente por ter realizado uma boa obra, por isso, não podiam contestá-Lo dessa forma, ou seja, duvidando de Suas obras, embora tentassem, mas em vão. Porém, “conseguiram” uma acusação contra Ele: “declarou-se Deus”. Este era o maior trunfo dos judeus contra Jesus e ao mesmo tempo o maior erro. Recusando a verdade, não agiram com humildade e foram incrédulos (v.33).

 

17.Jesus citou o Salmo 82.6 que condena os que fazem injustiça, sendo que a condenação é a morte. Os juízes são chamados pelo próprio Deus de “deuses”. Não porque Deus aprova o politeísmo ou a divinização do homem, mas porque um juiz tem a função de Deus, embora não o é em Pessoa. Jesus podia chamar-se Deus, pois além da função de julgar, através de suas palavras e obras, também é Deus em Pessoa (v.34-38).

 

18.A ira dos judeus só aumentou e tentaram prendê-Lo, mas Ele escapou como sempre. Não sabemos como se dava essa fuga, somente sabemos que “não era chegada a Sua hora”. Jesus deixou Jerusalém e só voltaria quatro meses mais tarde, na “entrada triunfal”. Jesus foi para a região da Pereia, além do Jordão. Foi um forte refúgio e consolo para Jesus e Seus discípulos, sair de um lugar cheio de apostasia e chegar num lugar onde os corações estão preparados (v.39-41).

 

19.João Batista era um profeta simples, pois não operava milagres, mas Jesus é poderoso em sinais e o povo reconheceu Nele o Messias que tanto João Batista pregou naquele lugar. Neste Evangelho nem sempre sabemos a profundidade do termo “crer”, por isso, não podemos afirmar categoricamente, mas baseado no fato que foram discípulos de João Batista é bem possível que creram em Jesus para a salvação (v.42).

 

O que precisamos ouvir novamente (Jo 6-10)

1.Precisamos ouvir que Jesus é o Profeta prometido por Moisés (6.14, Dt 18.15)

2.Precisamos ouvir de Jesus: Não temais (6.20)

3.Precisamos ouvir que não devemos trabalhar pela comida que perece (6.27,29)

4.Precisamos ouvir que Jesus é o Pão da Vida (6.35,48,50-51,58)

5.Precisamos ouvir que quem crer em Jesus terá a vida eterna (6.40,47,63)

6.Precisamos ouvir que Jesus tem as palavras da vida eterna (6.68-69)

7.Precisamos ouvir que quem crer em Jesus de seu interior fluirão rios de água viva (7.37-38)

8.Precisamos ouvir de Jesus: Quem não tem pecado atire a primeira pedra (8.7)

9.Precisamos ouvir de Jesus: Nem eu também te condeno (8.11)

10.Precisamos ouvir que Jesus é a Luz do mundo (8.12)

11.Precisamos ouvir que Jesus não é deste mundo (8.23)

12.Precisamos ouvir que se conhecemos a verdade, a verdade nos libertará (8.32,36)

13.Precisamos ouvir que se somos filhos de Abraão devemos praticar as obras de Abraão (8.39)

14.Precisamos ouvir que os incrédulos são filhos do diabo (8.44,47)

15.Precisamos ouvir que quem guarda a palavra de Jesus não morrerá eternamente (8.51-52)

16.Precisamos ouvir que Jesus é o EU SOU antes de Abraão existir (8.58)

17.Precisamos ouvir que as obras de Jesus precisam ser feitas enquanto é dia (9.4)

18.Precisamos ouvir: Eu era cego e agora eu vejo (9.25)

19.Precisamos ouvir que Deus não ouve a pecadores (9.31)

20.Precisamos ouvir que Jesus é a Porta (10.9)

21.Precisamos ouvir que Jesus é o Bom Pastor (10.11,14)

22.Precisamos ouvir que as ovelhas de Jesus ouvem a voz Dele e O seguem (10.27)

23.Precisamos ouvir que ninguém arrebatará o crente das mãos de Jesus (10.28)

24.Precisamos ouvir que Jesus e o Pai são Um (10.30)

 

Capítulo 11: Jesus ressuscita Lázaro. O plano para matar Jesus

1.Lázaro significa “Eleazar” (“Deus, meu socorro). A Maria, irmã de Lázaro é a mesma que derramara mirra sobre os pés de Jesus e enxugara com seu cabelo, conforme veremos no capítulo 12. Jesus era muito amigo de Lázaro. Elas nada pediram, mas só a menção do amor de Jesus por Lázaro já era um pedido, ainda que muito delicado. Jesus não ouve com indiferença (Ef 3.20). Talvez, as irmãs não insistissem no pedido de ressurreição, pois sabiam do perigo que Jesus corria naquelas regiões e os fariseus já tinham se pronunciado contra Jesus (v.1-3).

 

2.Não era um otimismo cego, mas Jesus falou aquilo para a glorificação de Filho, ou seja, Dele mesmo. A enfermidade de Lázaro afetaria extremamente o ministério de Jesus (v.4).

 

3.Se Ele ama de fato, por que demorou dois dias para chegar até o amigo enfermo? A resposta é simples, pois o próprio texto oferece uma resposta, ou seja, para mostrar a glória de Deus. Olhando para o aspecto explicativo podemos afirmar que Jesus precisava demorar dois dias para dar tempo de Lázaro morrer e, ainda mais, para que o processo de putrefação avançar mais. Se Jesus estivesse lá enquanto Lázaro ainda estivesse vivo, não seria possível este milagre, pois nunca ninguém morreu na presença de Jesus, nem mesmo os malfeitores na cruz. Se parece um desinteresse é apenas impressão, pois o texto mostra como Jesus amava o amigo (v.5-6).

 

4.Betânia ficava na Judeia. Ele estava em outra Betânia, na Pereia. As expressões “doze horas do dia” e “quem anda de dia não tropeça” significam que enquanto é dia Jesus deve obedecer ao Pai, pois logo será preso, ou seja, a noite cairá sobre o mundo. Os discípulos não querem que Ele vá, pois já quiseram apedrejá-Lo naquela região. Ele podia curar à distância, como já fez em outras vezes (v.7-10).

 

O amor de Jesus por seus amigos (Jo 11.1-10)

1.O amor de Jesus pelos doentes (v.1)

2.O amor de Jesus por quem demonstrou amor por Ele (v.2)

3.O amor de Jesus por quem clama (v.3)

4.O amor de Jesus pela glória do Pai (v.4)

5.O amor de Jesus pelos seus amigos (v.5)

6.O amor de Jesus, às vezes, parece demorado (v.6)

7.O amor de Jesus enfrenta perigos pelos amigos (v.7-8)

8.O amor de Jesus vê a urgência da obra (v.9-10)

 

5.Sono é um eufemismo para morte, que soa agressivamente aos ouvidos de qualquer um e em qualquer cultura. A expressão “sono” é importante, comparando com o raiar celestial. Jesus ia até lá para os discípulos firmarem a fé. Tomé, por causa de sua dúvida, quando da ressurreição de Cristo, é sempre visto como alguém sem qualidade de fé, mas aqui vemos a coragem e a fé de Tomé. Quando ele disse: “vamos ter com ele”, Tomé já esperava que pudessem morrer com Jesus. Tomé é palavra aramaica e Dídimo, palavra grega, o significado é igual para os dois idiomas, ou seja, “gêmeo”. Ele não estava ironizando, pois chegar perto de Jerusalém era risco de morte com certeza (v.11-16).

 

6.A distância de uma Betânia à outra era de 32 Km. Pessoas iam até a casa de Lázaro dar os pêsames. Marta fala como alguém que tem fé: “Se estivesse aqui ele não teria morrido”. Isto não é uma reclamação, mas uma declaração de fé no poder de Jesus. Ela cria que era possível, inclusive a ressurreição (v.17-22).

 

7.Marta demonstrou fé crendo na ressurreição do último dia. Jesus não disse: “Eu prometo”, “Eu dou”, mas “EU SOU a ressurreição e a vida”. Quem está em Jesus não pode morrer, apenas, ser transferido. A morte não tem mais poder sobre o crente. A morte nem chega a ser um estado na vida do crente, pois não há sono ou intervalo até encontrar-se com o Senhor, portanto, a morte é apenas um meio de promoção à presença de Deus. Jesus é o próprio poder de ressurreição. Ele não tem dúvida alguma do que estava para fazer. Tudo estava sob o Seu controle (v.23-27).

 

8.Maria sentia-se segura ao lado de Jesus em um momento como este. O mestre nos chama para nos confortar. Não há ninguém que possa nos ajudar em um momento de luto como o próprio Jesus. Além de desejar nos confortar Ele quer dar salvação para quem ainda teme a morte eterna. Jesus atuava como alguém que tem o poder da ressurreição. Ele chamou as irmãs de Lázaro antes de chegar até à multidão (v.28-30).

 

9.As pessoas pensavam que Maria tivesse ido ao sepulcro para chorar, mas ela queria ir até aquele que podia fazer o seu irmão viver novamente. As pessoas querem muito trazer os seus queridos de volta e temem muito pela morte, mas se pudessem buscar a Jesus resolveriam o seu problema diante da morte, pois Ele tem o poder da ressurreição. Maria cria no poder de Jesus (v.31-32).

 

10.Jesus chorou. Isto mostra que Ele era totalmente homem e totalmente Deus. Não apenas o homem chora. Podemos dizer que o coração de Deus chora. Ele se entristece pelo pecado dos homens. Ele se entristece que pessoas morrem sem a salvação. Jesus pode condoer-se, pois Ele mesmo sofreu (Hb 5.1-3). Houve censura, pois alguns achavam que se Ele amasse tanto o amigo, não podia deixá-lo morrer. Ele que é o próprio poder ressuscitador ouvia as acusações e nada falava (v.35-37).

 

11.As atuações de Jesus no momento da morte do amigo no início pareciam de indiferença, porém, Ele é o próprio poder ressuscitador. Jesus agradeceu ao Pai diante de todos e mandou Lázaro sair. Jesus reconhecia o Seu próprio poder que é o mesmo poder do Pai. Na oração de gratidão que Jesus faz, Ele menciona que o Seu desejo de que todos ao redor O reconheçam como Filho de Deus Salvador. Jesus não tinha dúvida alguma do Seu poder ressuscitador e, por isso, clamou com voz poderosa. Ele sabia exatamente o que fazer. Lázaro estava vivo novamente. Muitos creram, mas como a obstinação do pecador é muito forte, alguns rejeitaram. Não estavam rejeitando porque achavam que era tudo uma farsa, mas porque não queriam aceitar Jesus como o Cristo. Apesar das evidências, o orgulho era muito grande. Queriam ter a glória do Sinédrio e deixavam escapar a salvação de suas almas (v.38-46).

 

 

“A autenticidade da oração de Jesus para ressuscitar Lázaro é colocada em dúvida [pelos liberais] e mais alguns estudiosos dão a impressão que esse material não precisava estar na narrativa de João. O fato é que a oração de agradecimento não é apenas pública, mas também é endereçada à multidão bem como a Deus e isso é ofensivo para vários intérpretes. O material, frequentemente, é considerado como uma literatura fabricada pelo evangelista e que nunca acontece a oração, de fato. Esse estudo indica que esse tipo de abordagem não se apoia pela evidência.”[13]

 

12.Deus avisa o pecador de várias formas. Ele deseja que todos cheguem ao conhecimento do salvador. Os fariseus ao sabiam o que fazer. De um lado eles possuíam a consciência de que Jesus só podia ser Deus, porém, de outro lado tinham os seus interesses políticos. Os romanos não queriam ninguém muito popular entre os judeus, pois isto poderia resultar em alguma rebelião. Note que o Sinédrio desistiu da ideia de tentar negar a veracidade dos sinais de Jesus, pois é indubitável que os sinais que Ele realizava eram verdadeiros e não fraude ou feitiçaria (v.47-48).

 

13.Caifás diz que se para a nação não correr perigo precisar morrer alguém, então que morra este. O pecador se sente incomodado com a Palavra de Deus que está além das páginas impressas em papel. O conhecimento de Deus está na natureza e na consciência do pecador. Ele sente que algo precisa ser feito para poder ter paz sem Deus. No caso de Jesus parecia simples: matava-se o homem e resolvia todo o problema da consciência. Porém, como sabemos não é simples assim (v.49-50).

 

14.Seja qual for o grau de entendimento de Caifás, João o escritor, viu ali palavras proféticas. Note que os v.51-52 não são palavras de Caifás, mas comentário adicional do escritor, João. Caifás, à semelhança de Balaão, foi usado por Deus para os Seus propósitos, mesmo que não tinha um coração voltado ao Senhor (v.51-52).

 

15.A ideia de matar Jesus não era nova, porém, nesse momento, tornou-se uma decisão oficial. A questão agora não era se Jesus deveria ser executado ou não, mas sim como prendê-Lo sem causar tumulto, o que não era fácil, já que era o governador romano quem dava a permissão para a execução de alguém, dentro da nação dos judeus (v.53).

 

16.O pecador está recusando o aviso de Deus de que ele precisa buscar o Salvador. Jesus foi para Efraim que ficava 20 Km ao norte de Jerusalém. Era perigoso ficar em Jerusalém em circunstâncias como estas. É de se admirar que o Doador da vida, respeitou Seu próprio curso de vida na terra, não adiantando o momento de Sua morte (v.54).

 

17.Faltava menos de um mês para Páscoa. Jesus ficou mais de um mês em Efraim e ninguém o denunciou. Jesus, mesmo sendo rejeitado, voltou para Jerusalém a fim de celebrar a Páscoa e ser morto, completando Sua obra. Jesus terminou o que começou (v.55).

 

18.As pessoas não paravam de buscar a Jesus. O pecador recebe um aviso de Deus, mas nem sempre ele atende aos avisos de Deus. O pecador sabe que precisa buscar o Salvador, mas ele vai protelando até o dia em que não é mais possível buscá-Lo. Depois da morte vem o juízo. O momento de buscar Jesus é enquanto estamos com vida. Foi dada uma ordem para buscar a Jesus, mas para denunciá-Lo e prendê-Lo. O pecador não pode passar sua vida ignorando o aviso de Deus. De alguma forma as pessoas buscam a Jesus, ou para aceitá-Lo ou para acusá-Lo (v.56-57).

Capítulo 12: Maria unge os pés de Jesus. Entrada de Jesus em Jerusalém. Jesus prediz a Sua crucificação

1.A história se confunde um pouco devido às narrativas. Alguns pensam até que houve duas manifestações desse tipo (Mt 26.6ss, Mc 14.3ss, Lc 7.36ss, esta era prostituta, e Jo 12.1ss). Um dos motivos do jantar, possivelmente, foi celebrar a ressurreição de Lázaro. Observe que Marta servia e Maria cultuava. Provavelmente, isto tenha acontecido na casa de Simão (Mc 14.3), que devia ser parente de Lázaro, Marta e Maria. É possível que este Simão, que era leproso, tenha sido curado por Jesus. Jesus tinha livre acesso nesse lar (v.1-2).

 

“A situação cronológica, os pormenores e ênfase geral deste Evangelho são diferentes dos que se encontram nas narrativas sinóticas. Cf. Mc 14.3-9; Mt 26.6-13; Lc 7.37-50. O problema que se nos apresenta é de ordem crítica e cronológica. A versão que João oferece se compara, em muito, com a narrativa de Lucas, concernente à pecadora que ungiu Jesus. Este último incidente ocorreu muito antes da morte de Jesus. Na narrativa de João vê-se também evidência da fonte original em Marcos e Mateus. Entretanto, João identifica a mulher incógnita com Maria, irmã de Marta. A Igreja Latina pensou que Maria ungiu Jesus em duas ocasiões, primeiro quando foi salva do caminho de pecado e, depois, em Betânia.”[14]

 

2.Só João diz o nome, enquanto Mateus e Marcos não dizem. Colocavam-se unguentos caros em recipiente de alabastro. O fato de Maria ter este unguento sugere que era rica, o que já foi provado com o sepultamento de Lázaro. João enfatiza que o nardo era puro, pois eram comum as falsificações. O nardo era um tipo de óleo de uma planta importada da Índia. Bálsamo é o mesmo que resina. Portanto, tanto o unguento como o frasco eram importados e caros. Maria enxugou com os cabelos. A extravagância não estava tanto em inclinar-se e ungir os pés e, até mesmo enxugar com os cabelos, mas sim usar objetos tão caros em algo, aparentemente simples como lavar os pés. O auditório de Jesus é composto de verdadeiros adoradores. As motivações das pessoas mudam diante de um mesmo assunto. Diante de Jesus as pessoas têm as mais diversas motivações. Maria dava aquilo que lhe era importante para alguém que ela considerava importante. Não é desperdício devotar toda a nossa vida para Aquele que entregou a Sua vida por nós. Talvez falta-nos um desprendimento das coisas deste mundo. Guardamos a nossa vida para usar com mais intensidade e energia para alguma coisa. Maria guardou aquela preciosidade para Jesus em vida. Era comum guardar especiarias para quando algum querido morresse, pois perfumar o cadáver era sinal de respeito e estima. Para quem, para que e para quando estamos guardando o nosso melhor? (v.3).

 

3.O auditório de Jesus não é composto somente pelos verdadeiros adoradores. Há entre os que ouvem a Palavra de Deus aqueles que procuram a satisfação de seus desejos carnais. Alguns pregadores ficam ricos por causa da mensagem do evangelho. Jesus sabia que Judas era ladrão, mas nunca denunciou este fato. Parece que não era preciso um relatório das finanças. Fica claro em Mateus que os outros discípulos também acharam um desperdício, embora não por motivos desonestos (v.4-6).

 

4.Ninguém quer mostrar as verdadeiras intenções para os outros. Todos querem mostrar um caráter melhor do que possui ou motivação mais limpa do que realmente tem. Há várias formas de roubar a Deus. Podemos deixar de servir ao Senhor com as capacidades que Ele nos deu. Podemos deixar de dar o dinheiro que Ele nos dá para a obra Dele. Podemos deixar de falar de Cristo aos perdidos. Ele nos deu uma ordem, a de pregar o evangelho a toda criatura. Não fazer isto é roubar a Deus. Enfim, há pessoas no auditório de Jesus que roubam aquilo que pertence a Ele. Em Mateus diz “Por que estais perturbando?” e aqui “Por que molestais esta mulher?”. Jesus não ensina que devemos negligenciar os pobres, mas o utilitarismo, ou seja, ajudar os pobres, não teria esse louvor. Em Mateus diz “para o meu sepultamento”. Não sabemos até onde ela sabia da morte de Jesus, mas em parte ela sabia e demonstrou todo o seu conforto para Ele. O tempo do verbo é passado. Ela guardou aquele perfume para o dia de sua morte. Jesus não mandou que ela guardasse para o Seu sepultamento, mas estava totalmente satisfeito que foi usado para Ele enquanto em vida (v.7-8).

 

5.Há no auditório de Jesus pessoas que creem Nele como Salvador e outros que perseguem por não amarem a Sua Palavra. Lázaro era testemunha viva da Pessoa e Obra de Jesus. Talvez até o momento as irmãs de Lázaro o protegeram, porém, este jantar foi mais ou menos notório às pessoas. O Sinédrio viu em Lázaro um homem perigoso, pois muitos criam em Jesus por causa dele. Jesus não é uma pessoa que se passa despercebido entre as pessoas. Todos fazem parte do auditório de Jesus, mas não significa que todos O amem. Alguns O adoram de verdade, outros usam o nome Dele para se enriquecerem. Alguns criticam a obra de Deus. Há os que creem Nele, mas há os que O perseguem e isto fazem até hoje perseguindo os Seus servos. Qual tipo de auditório somos? (v.9-11).

 

6.Poderíamos facilmente pensar que estas pessoas seriam verdadeiros adoradores, porém, temos os relatos posteriores que mostram que não tomaram os devidos cuidados com sua fé. As pessoas ouviram que Jesus viria a Jerusalém e queriam vê-Lo, pois se tornou muito famoso depois da ressurreição de Lázaro (v.12).

 

7.Jesus não rejeitou o título “Rei de Israel”, nesse momento, porém, repudiou as ideias militares e políticas que este título sugeria. O modo como Ele entrou às portas de Jerusalém mostram claramente isso, pois que rei há que se apresente em um desfile em um jumentinho? Jesus tomou todos os cuidados para a Sua entrada em Jerusalém e o adorador também deve tomar todos os cuidados para que as suas motivações não se misturem (v.13-14).

 

8.Apenas João explica o porquê da saudação do povo (v.18). Esperavam Dele reformas políticas, pois se ressuscitou Lázaro poderia perfeitamente derrubar Roma. Era o tipo de fé superficial. Eram dois animais, pois não se separavam o filhote da mãe. Embora Is 40.9 refira-se à segunda vinda do Messias, em Zc 9.9 a referência é à “entrada triunfal” que está acontecendo neste incidente. Quais os cuidados que estamos tendo para apresentar a nossa vida ao Rei de Israel? É necessário estar no lugar certo, ou seja, em Sião que é Jerusalém. O verdadeiro adorador deve ter uma vida limpa e pronta para adorar. As palmeiras falam de alegria. Temos de agitar os ramos de alegria para Ele e preparar o caminho para Ele passar, ou seja, deixar o nosso coração aberto para que Cristo tenha acesso livre em nossas vidas (v.15).

 

9.O crente deve ter o cuidado de compreender a Palavra de Deus, pois ela apresenta a Jesus Cristo. A glorificação de Jesus baseia-se na Sua morte e os acontecimentos estão levando-O exatamente para isto. Os discípulos entenderam aquela “entrada triunfal” somente quando o Espírito Santo desceu sobre eles. Nós só podemos compreender as Escrituras com a iluminação do Espírito Santo. Quais os cuidados que estamos tendo para conhecer melhor as Escrituras? É necessário ler a Palavra de Deus, pois ela testifica de Jesus Cristo. O adorador verdadeiro toma o cuidado de gastar tempo refletindo na Palavra de Deus (v.16).

 

10.A grande motivação dessa saudação era a ressurreição de Lázaro. O povo via a entronização do “Libertador dos judeus em relação à opressão política de Roma”. Eles não estavam pensando no cumprimento das Escrituras, mas quanto pão e liberdade teriam seguindo aquele homem. Os fariseus estavam desanimados vendo como o povo venerava Jesus. Eles precisariam de mais argumentos contra Jesus do que apenas acusá-Lo de desrespeitar o sábado. A multidão O seguia (v.17-19).

 

11.O verdadeiro adorador deve tomar o cuidado de buscar a Jesus e vê-Lo diariamente em sua vida. Vieram pessoas de todos os cantos, inclusive gregos, devido à preparação para a Páscoa, mas a atração principal não estava mais sendo a Páscoa, mas “o homem poderoso”. Eram prosélitos do judaísmo ou apenas simpatizantes. Não eram pagãos, no sentido em que se usa esta palavra, pois foram adorar Jeová em Jerusalém. Muitos eram gregos convertidos ao judaísmo. Possivelmente vieram de alguma cidade grega perto da Palestina, onde havia colônia judaica. O título para gentios simpatizantes do Judaísmo era “tementes a Deus”, como no caso de Cornélio em At 10.2 (v.20).

 

12.Filipe é um nome grego (“amigo de cavalo”). Ele foi um contato para aqueles gregos, pois é bem provável que fosse de origem grega, sendo que os judeus não davam nomes gregos aos seus filhos. André, também é um nome grego (“viril”, “varão”). Este discípulo aparece neste Evangelho sempre levando alguém a Cristo (1.41, 6.8-9 e aqui). Procuraram Filipe e André, pois eram de Betsaida da Galileia, uma cidade onde moravam muitos gregos. Jesus não desprezou aqueles gregos, mas primeiro teria de morrer (ser glorificado) para depois, oferecer alegria para os gregos. Não sabemos se esses gregos chegaram a vê-Lo. Antes da cruz não havia mensagem para os gentios, mas eles não teriam que esperar muito tempo (v.21-23).

 

13.Jesus prediz a Sua morte. Ele não ama a vida a ponto de poupá-la, pois senão o mundo não pode ser salvo. Jesus, aproveitando-se do momento, faz conhecido aos discípulos o serviço futuro, com promessas de quem O servir será honrado pelo Pai. A vida cristã é cheia de paradoxos e um deles é o de perder para ganhar. Cristo estava para morrer para ganhar discípulos. Os discípulos têm de ter a mesma atitude de entrega para servir a Deus. Não se pode seguir a Jesus sem pagar o preço da entrega de si mesmo (v.24-26).

 

14.Jesus não é uma pessoa desprovida de sentimentos. Ele veio para morrer, mas a separação do Pai O abala profundamente. A glorificação de Jesus estava em Sua morte na cruz. Ele não fugiu de Sua missão, porém, nunca foi fácil para Ele, pois sendo Deus não precisava passar pela dor da separação que o pecado traz, mas por amor a nós bebeu o cálice da cruz. A multidão ouviu a voz, mas somente Jesus entendeu o significado. O Pai glorificou Jesus com os sinais e ainda O glorificará na morte. Não há contradição alguma em Deus responder para Jesus, mas uma aparente contradição viria na cruz quando Jesus foi abandonado por causa dos nossos pecados (v.27-28).

 

15.Alguns atribuíram aquele som à natureza, dizendo ser um trovão; outros atribuíram ao mundo espiritual, afirmando ser um anjo. Nenhum dos dois grupos acertou. Jesus explica que a voz não foi apenas para confortá-Lo ante a expectativa da separação do Pai na morte, mas aquela voz servia para que o povo soubesse que Jesus é o Messias aprovado de Deus e que não estavam seguindo alguém sem autoridade do céu (v.29).

 

16.A morte de Cristo na cruz era a maneira de julgar os pecados daquele que cresse. Além disso, com a morte de Cristo Satanás cairia em ruína, pois deixaria de ter domínio sobre muitas vidas. A expressão “levantado da terra” indica o modo da morte de Cristo, que seria a crucificação. Cristo atrairá todas as nações para Si, através da crucificação, não só naquela época, mas por todas as épocas. Imediatamente atrairá aqueles gregos para Si (v.30-33).

 

17.Toda Escritura fala do Messias triunfante, o qual estabelecerá Seu reino para sempre (Is 9.7), porém, poucas referências para o Messias sofredor (Sl 22 e Is 53). As esperanças alimentadas quando da entrada triunfal estavam perdidas agora. Depois de dar mais esta oportunidade, Jesus se retira. O tempo do ministério Dele na terra está cessando. Logo mais, Ele terá comunhão com Seus discípulos e será entregue à morte e só aparecerá aos crentes (v.34-36).

 

18.Os últimos anúncios para o pecador são feitos agora, porém, as pessoas da época de Jesus rejeitaram a salvação. Deus cegou o entendimento dos judeus porque fizeram um firme propósito de não crerem em Cristo (Is 6.9-10). Por essa mesma razão Jesus falava em parábolas, registradas nos outros evangelhos (Mc 4.11-12). Essa maneira enigmática de Deus não é para tornar a fé impossível, mas é a resposta Dele à incredulidade do homem. O Senhor Os teria curado da cegueira, mas não quiseram. No v.41 há referência à visão que Isaías recebeu (Is 6.1). Isaías VIU o Senhor, por isso falou. Isso faz um contraste com os fariseus e Israel em geral que não viram o Senhor, pois estavam cegos (v.37-41).

 

19.Os que creram não sabemos. Também não sabemos se a fé foi superficial ou sincera para a salvação, o que nem sempre é fácil descobrir neste evangelho. Seja como for, estes líderes que creram amaram mais a glória dos homens, pois não confessaram diante do Sinédrio e do povo, pelo menos não há registro de tão importante decisão. Mesmo Nicodemos e José de Arimateia declararam com as atitudes no sepultamento de Jesus, mas nunca abertamente com palavras (v.42-43).

 

20.Jesus insiste que Ele está obedecendo o Pai. O anúncio para as gerações seguintes é o mesmo. Ninguém verá a vida eterna se não for por intermédio de Jesus Cristo. Ele é a luz para o mundo em trevas espirituais. Jesus não veio para julgar o mundo, mesmo assim, apenas Sua presença já era um julgamento, pois as pessoas sentiam-se obrigadas a ficar ao lado Dele ou rejeitá-Lo. O “último dia” é o dia do juízo final, o Grande Trono Branco. Haverá grande punição. Só o fato de estar separado da Luz já é sofrimento imensurável. O anúncio de Jesus vem do Pai. Ele é o Salvador para aqueles que estão separados de Deus. A amizade do homem com Deus é restabelecida através de Jesus Cristo (v.44-50).

 

Capítulo 13: Jesus lava os pés aos discípulos. O traidor. O amor entre os crentes

1.Jesus amou até o fim, pois já está em Seus últimos momentos de vida na terra. Os discípulos ainda tinham os olhos vendados para a situação real: Jesus ia ser morto. Fica claro que aqui trata-se da última Páscoa. O diabo é quem planejou a traição de Jesus e Judas foi o instrumento. Jesus sabia Sua origem e Seu destino e sabia também que estava diante do traidor. Tudo devia acontecer para Ele voltar para o Pai e para realizar o plano da redenção completamente. Lavar os pés era um costume dos povos orientais, mas isso acontecia bem antes da refeição, no momento em que o visitante entrava na casa. Neste episódio, parece que aconteceu durante a Ceia. Tudo para o ato de lavar os pés estava ali, mas não o escravo que fazia isso na chegado dos convidados. Os discípulos eram orgulhosos demais para isso. Se alguém quisesse servir deveria chegar um pouco mais cedo e esperar os onze para lavar os pés na entrada. Jesus “tomou uma toalha”, assumindo a forma de servo (Fp 2). O escravo cingia-se assim para ter sempre à disposição a toalha para enxugar os pés do convidado (v.1-5).

 

2.Pedro ficou embaraçado em ver o Mestre fazendo um serviço tão humilhante. Pedro falou o que, provavelmente, todos pensavam. Jesus diz que se não deixasse ser lavado “não teria parte com Ele”, ou seja, não teria comunhão e vida em Cristo, enfim não podia ser companheiro de Cristo. É claro que Jesus figurou um ensino espiritual. O ensino era sobre lavagem para salvação, ou seja, quem não for lavado espiritualmente não é salvo. Pedro, percebendo o perigo de não deixar Jesus lhe lavar os pés, permitiu e exigiu que todos o corpo fosse lavado, pois não queria perder nada da comunhão com o Mestre. Judas estava impuro, embora Jesus tenha lavado os pés dele, também. A limpeza de Judas se resumia no “lava-pés”, mas em sua vida espiritual ainda havia sujeira, não era salvo (v.6-11).

 

“Jesus distinguiu os dois tipos de limpeza espiritual que os crentes experimentam: perdão forense e familiar. Quando uma pessoa crê em Jesus como Salvador, Deus remove toda a culpa daquela pessoa pelos pecados cometidos no passado, presente e futuro (Rm 5.1, 8.1). Jesus falou de seu perdão forense ou legal como um ‘banho’ total’ (no grego, louo). Após uma pessoa crer em Jesus como Salvador, ela comete pecados e esses pecados impedem a comunhão do crente com Deus (Mt 6.12,14-15, Lc 11.4). Jesus comparou esse perdão na família de lavar os pés (no grego, nipto).”[15]

 

3.Jesus lavou os pés dos discípulos para dar exemplo para eles, mostrando que Ele sendo Mestre e Senhor, humilhou-Se diante dos servos, portanto, deveriam imitá-Lo, obedecendo. Jesus enfatizou o ensino espiritual e não o ato cerimonial, porém, há de se respeitar o grupo que faça isso em reuniões solenes como a Ceia do Senhor. O símbolo demonstra respeito à verdade apresentada, mas o símbolo nunca pode ser maior que a verdade. Assim, a verdade é que os irmãos são conservos e devem servir uns aos outros (v.12-17).

 

4.Jesus não estava falando de todos (v.10), mas do traidor, o qual já foi antecipado pela profecia de Sl 41.9. Apesar disso, Judas não estava lutando contra um destino impossível de mudar: a responsabilidade era dele e não culpa da profecia. Jesus escolheu todos ali para fazerem parte dos “Doze” (ver 6.70). Judas, embora tenha sido escolhido para fazer parte dos “Doze”, não se tornou um salvo, pois amou mais as coisas de Satanás. Receber um bocado de pão molhado do hospedeiro era sinal de favor especial para o convidado. Parece que ficou claro, neste momento, que todos souberam que Judas era o traidor, o que não sabiam (v.28) era o que Jesus pensava (v.27), ver Mt 26.25. O discípulo amado é o João, escritor, que nunca menciona seu próprio nome em seu relato. Era fácil reclinar-se ao peito, devido à posição que ficavam nos divãs. Os discípulos entenderam que Jesus mudou de assunto (v.18-30).

 

5.Após a saída de Judas, Jesus prediz novamente que a hora de ser glorificado o Filho está próxima. Jesus considera a glorificação já realizada, pois Ele é Deus e pode dizer isto e também porque toda a vida de Jesus foi demonstração da glória. O novo mandamento é o amor mútuo e a motivação é Jesus. O momento era muito íntimo, por isso, Jesus usou o termo “filhinhos”. João, o escritor, gostou tanto desse termo que passou a usar em suas epístolas. O mandamento em si não é novo, mas Jesus deu uma nova profundidade no assunto. O amor mútuo é a marca registrada dos crentes. Jesus será “glorificado imediatamente” na cruz (v.31-35).

 

6.Pedro pensou que o Mestre precisaria de companhia, por isso, estava à disposição. A resposta de Jesus não foi entendida por Pedro, pelo menos naquele momento. Pedro nem mesmo confessará Jesus com a boca e, aqui está indo muito além, dizendo que dará a vida por Jesus (v.36-38).

Capítulo 14: Jesus é o caminho, a verdade e a vida. Jesus promete o Espírito Santo. A paz de Jesus

1.A tristeza pela morte de Jesus era desnecessária. É claro que os discípulos sem Jesus ficariam com medo e também tristes e muito mais agora ao ouvirem que o “líder” do grupo, Pedro, negará o Mestre. Tudo está em colapso, por isso, era preciso renovar a fé na Pessoa de Jesus. Os discípulos estavam intranquilos. Jesus promete ir para preparar lugar, assim como João e Pedro foram a frente preparar o cenáculo para a Ceia. Jesus vai preparar “cenáculos”. Jesus desafia a fé dos discípulos quando diz “se assim não fora, eu vo-lo teria dito”. Portanto, a palavra de Jesus está em questão. Se não houvesse lugar e esperança, Ele diria. Jesus promete também que voltará pessoalmente para buscar Seu povo. A vinda do Senhor sempre deve ser considerada iminente, ou seja, a qualquer hora. Os discípulos, a Igreja Primitiva e Paulo esperavam ansiosamente pela vida do Senhor. Jesus não deixa dúvida alguma sobre o caminho para o Pai. O tipo de pergunta de Tomé nunca foi desprezado por Jesus, mas sempre usava este tipo de pergunta para expandir Seu ensino. Se o próprio Verbo Encarnado disse qual é o único caminho, então fica estabelecido que nenhum povo chegará a Deus se não ouvir a Salvação que há em Jesus Cristo (v.1-6).

 

2.Os discípulos, ainda, não tinham total compreensão sobre Cristo como caminho para o Pai (v.7). Filipe, assim como os outros, talvez, não entendia todo o ensino envolvido sobre a divindade de Jesus. Filipe desejava uma teofania (o Anjo do Senhor), mas não entendia em profundidade que o próprio Jesus é o Verbo Encarnado. Jesus fala de Sua união com o Pai em termos de igualdade e não apenas de Comunhão e Companheirismo. Os discípulos farão “maiores obras” não em qualidade, nem em sinais, mas em extensão. Hoje em dia, a Igreja avançou muito mais que os discípulos e Paulo fizeram (v.7-12).

 

3.Os pedidos são feitos ao Pai, em nome de Jesus. O Pai não nega nada ao Filho, por isso, um pedido feito em nome de Jesus é como se o Filho mesmo estivesse pedindo. Orar em nome de Jesus significa mais do que meras palavras “em nome de Jesus”, mas significa comunhão com Ele e com Sua vontade. O Filho responde para o bem-estar dos crentes e também para a glorificação do Pai. Toda resposta de oração, seja qual for, é a glorificação do Pai (v.13-14).

 

4.O amor a Deus sempre resultará em obediência. Prova-se que se ama a Cristo, quando há obediência a Ele. O amor é antes de tudo obediência e submissão a alguém. Quem cumpre os mandamentos do Senhor, de fato, O ama. Os mandamentos não se resumem nos “Dez Mandamentos” e nem às diversas instruções que Jesus deu aos Seus discípulos, mas os “mandamentos” são tudo o que o crente pode aprender com Jesus, inclusive o “novo mandamento”. Jesus deixou a promessa do Consolador e também Advogado. O Consolador, desta vez, não estaria apenas com eles, mas dentro deles. Esse Consolador é também o Espírito da Verdade. Os discípulos estavam se sentindo “órfãos”, mas o Espírito Santo não vai deixá-Los assim. Jesus diz que logo não estará aqui, mas os discípulos O verão, porque Ele vive e os discípulos, também. Isto significa que quando Ele ressuscitar, os discípulos ainda estarão vivos e Jesus só aparecerá a eles. Quando os discípulos virem Jesus ressurreto entenderão o “mistério”, que no caso, é a Unidade de Jesus no Pai, os discípulos em Jesus e Jesus nos discípulos (v.15-22).

 

5.Jesus se manifestará somente aos que O amam. Jesus só pode vir onde há comunhão e amor. O Judas mencionado é o Tadeu. Quase não era preciso fazer distinção, pois o Iscariotes já tinha deixado o recinto, mas mesmo assim, João não quer nenhuma confusão a este respeito. A dúvida de Judas Tadeu era porque o Messias não surgiria ao mundo todo, mas só aos discípulos. Grande parte da tarefa do Consolador é lembrar-nos dos ensinos de Jesus (v.23-26).

6.Jesus estava se despedindo dos discípulos e não tinha nada para deixar para eles, no que diz respeito às necessidades físicas, pois até as Suas vestes logo seriam propriedade dos soldados romanos. Contudo, o Mestre deixaria uma herança muito rica: a paz consoladora. Jesus tentou acalmá-los com as palavras “não se atemorize”, o que era isso mesmo que aconteceria, assim que Jesus fosse preso. O momento é de alegria e não de tristeza, pois Jesus vai para o Pai, o Seu lugar, e logo buscará os Seus na terra. Jesus diz que “o Pai é maior do que Eu”. Entendemos que seja em função, sendo que, voluntariamente, Jesus se sujeitou ao Pai. O amor dos discípulos ainda é incompleto. O amor deseja o melhor e no momento o melhor é que o Mestre volte para o Pai. A exaltação de Jesus fará com que o “Príncipe deste mundo” seja rebaixado. Jesus diz que “nada tem em mim”, referindo-se a Satanás e que, portanto, este não poderá se aproveitar em nada de Jesus na cruz (v.27-31).

 

“Assim, em Sua calma antecipação, Jesus se coloca em pé aguardando pela condenação do inimigo, sabendo que todas as suas forças [do mal] serão quebradas por Sua pureza imaculada e que Ele será... triunfante para sempre.”[16]

 

Capítulo 15: A Videira Verdadeira

1.A videira é uma figura usada para o povo de Israel (veja Is 5.1-7). Israel se tornou a “videira falsa” em comparação a Jesus, que é a Videira Verdadeira. Os ramos precisam ser podados. Alguns dizem que se trata de Judas, mas Jesus está falando a todos os que ficaram. Judas não está mais incluído na comunhão dos crentes. Esta poda é um aspecto espiritual, mais especificamente, o assunto é santidade. O Senhor corta aquilo em nós que não é espiritual. Os ramos são os crentes e o que está cortando são as más atitudes e pensamentos.Se o crente sofre algum corte, isso é uma disciplina da parte de Deus, mas nisso há também benefícios. A seiva viva flui pelo caule e capacita o ramo a produzir uvas. Se o ramo não está ligado à videira não pode produzir nada e o resultado será secar-se e para nada mais servirá, senão para ser ajuntado, juntamente com as folhas secas e queimado (v.1-11).

 

“A bela e profunda analogia da vinha e os ramos em João 15.1-6 tem encorajado os crentes durante os séculos. Também tem se tornado, infelizmente, uma passagem controversa quanto à segurança eterna dos santos. Três abordagens têm sido usadas nesta passagem. Alguns dizem que a pessoa que ‘não produz fruto’ (Jo 15.2a) não pode ser um crente porque todo o verdadeiro crente produz fruto. Outros dizem que os ramos ‘em Mim’, os quais são levados embora referem-se aos cristãos que perderam sua salvação. Nessa visão, quando um crente para de produzir fruto, ele perde a justificação. Outros dizem que João 15.2a e 6 referem-se aos cristãos que não produzem fruto e que, portanto, experimentarão o divino julgamento e perderão recompensa no tribunal de Cristo.”[17]

 

2.Jesus confirma o novo mandamento. O padrão não é somente alto, mas inatingível pelos próprios esforços. O amor é o próprio amor de Jesus derramado nos corações dos crentes. Embora recebemos o amor de Jesus no coração, é preciso desenvolvimento neste amor, e para isto é perfeitamente correto pedir a Deus que nos encha desse amor, com o sentido de crescermos no amor que Ele nos tem dado. Ninguém tem maior amor do que o de Jesus Cristo, pois o amor Dele é impraticável por qualquer pessoa, pois é remidor. Jesus quer os discípulos mais achegados a Ele e, por isso, passa a tratá-los como amigos e não como servos, apenas. Um servo não precisa saber a razão de uma ordem, mas os amigos merecem saber quais são os planos do maior amigo (v.12-15).

 

3.Jesus fez os crentes merecedores de Sua amizade, mas note que amizade não exclui a obediência e submissão. Jesus trata os discípulos com muita especialidade, mas estes devem entender que não é para o orgulho pessoal, pois não foram os discípulos quem O escolheram, mas Jesus Quem os escolheu. Jesus deseja que os discípulos produzam frutos, o que inclui TUDO o que Ele ordena, incluindo sair pelo mundo e ganhar pessoas para o Senhor Jesus Cristo, mas que não exclui outras ordens. Portanto, a Obra Missionária é apenas um aspecto da Vida Cristã e não a sua totalidade. Infelizmente é possível para muitos cuidar da Obra Missionária e negligenciar as outras ordens, deixando atrás de si atitudes desamorosas para com Deus e os homens. Jesus conclui este assunto com a repetição do Novo Mandamento: o amor mútuo (v.16-17).

 

4.Jesus falou anteriormente “vades”, isto é, os discípulos sairão para o mundo, mas Jesus não deixa ninguém desavisado sobre a hostilidade do mundo em relação ao crente. O ódio que o mundo tem não é exatamente pelos crentes, mas é a continuação do ódio por Jesus. O ódio pelo crente é por causa da falta de semelhança espiritual. O mundo está confortavelmente bem para o que é seu. O mundo trata os crentes como estrangeiros. O servo está em harmonia com o Senhor. Se as pessoas do mundo gostarem das palavras de Jesus, gostarão também das palavras dos servos, mas se odiarem as palavras de Jesus também odiarão os servos Dele. O ânimo para o servo é que se está sendo perseguido é mais uma evidência que pertence a Jesus. O crente não deve procurar perseguições, (elas virão), antes deve orar pelas autoridades para que o evangelho tenha livre acesso (1 Tm 2.2, Cl 4.3). Toda a ofensa é dirigida a Jesus. O texto é específico para os judeus, com aplicação para os nossos dias. Toda a ofensa contra Jesus é dirigida a Deus-Pai. É impossível amar o Pai e odiar o Filho. Dessa forma, os judeus incrédulos dizem que amam Jeová, mas O rejeitam, pois rejeitam o Seu Filho Jesus Cristo (v.18-23).

 

5.No v.24, mostra que o pecado dos judeus fica confirmado, pronunciando a sentença contra eles mesmos, pois viram e ouviram dos sinais de Jesus, mas O rejeitaram como o Cristo. Portanto, ao tentarem enfrentar a Rocha, foram despedaçados (1 Pe 2.6-8). O ódio por Jesus é profético (Sl 35.19, 69.). Sem motivo odiaram Jesus, isto é, faltou razão para odiá-Lo e condená-Lo. O crente, mesmo sendo odiado pelo mundo pode, através do Espírito Santo, testemunhar de Jesus. Os discípulos não enfrentariam o mundo sozinhos, mas com a ajuda do Espírito Santo. O testemunho dos discípulos era a continuação daquilo que ouviram desde o início do ministério de Jesus (v.24-27).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os temas mais extremos e importantes da vida (Jo 11-15)

1.A morte (11.14,39)

2.A ressurreição (11.23-26)

3.O choro de Jesus (11.35-36)

4.A glória de Deus (11.40)

5.A rendição a Jesus (11.45)

6.A morte de Jesus pelo mundo (11.51-52)

7.A adoração sacrificial (12.3)

8.O rei montado num jumentinho (12.14)

9.A perda da vida terrena para ganhar a vida eterna (12.25)

10.A angústia de Jesus (12.27)

11.O endurecimento do coração contra Deus (12.40)

12.O temor aos homens mais do que a Deus (12.42-43)

13.A humildade de Jesus lavando os pés aos discípulos (13.4-5)

14.A traição pelo amigo (13.18,21,26)

15.O amor fraternal (13.34-35)

16.O caminho, a verdade e a vida (14.6)

17.A paz de Jesus (14.27)

18.A permanência em Jesus (15.4)

19.A amizade com Jesus (15.15)

20.O ódio do mundo pelos crentes (15.18-19)

21.A vinda do Espírito Santo (15.26)

 

Capítulo 16: O Consolador

1.Jesus não queria que os discípulos se escandalizassem do ódio que o mundo terá por eles. No contexto e época que Jesus fala, os discípulos continuarão ao redor do Templo em Jerusalém e também frequentarão as sinagogas. Serão desprezados e presos; os que assim fizerem pensarão que estão agradando a Deus e defendendo a fé judaica, como foi o caso de Saulo de Tarso. Jesus nunca ordenou que deviam deixar as sinagogas, sendo que isto aconteceria mesmo, pois seriam expulsos. Jesus reservou algumas palavras para o final da vida Dele na terra e estas palavras incluíam a advertência sobre a perseguição que os discípulos enfrentariam. Dificilmente os discípulos suportariam estas palavras no início de sua caminhada com Jesus. Os discípulos, ainda não estão sendo perseguidos, mas quando forem, lembrarão destas palavras e serão consolados. Note que desta vez não perguntaram: “Para onde vais?”, pois tudo estava claro para eles: o Mestre estava falando muito sério, chegou o momento em que Jesus partiria deste mundo (v.1-6).

 

2.O melhor para os discípulos não é que Jesus fique, mas que Ele vá e o Espírito os habite, ainda que isto signifique também o início da perseguição. Enquanto Jesus estava com eles, o desenvolvimento foi lento, mas quando começaram a viver na dependência do Espírito Santo e tomando decisões sem a presença física de Jesus com eles, o avanço em maturidade foi notório. Pedro, por exemplo, negou Jesus, mas note a diferença em 1 Pe 3.15, o mesmo Pedro ensinando os crentes a testemunharem com coragem. O ministério do Espírito Santo em relação ao mundo é convencê-lo do pecado, da justiça e do juízo. Do pecado: O ministério do Espírito Santo é também fazer com que o pecador sinta o peso do seu pecado, pois só assim é possível haver arrependimento. Da justiça: O Espírito Santo coloca na mente do incrédulo um novo padrão de justiça, desconhecido por ele, sendo que toda a base da justiça está na injustiça da crucificação de Cristo, por parte de homens perversos, porém, aceita por Deus para remissão dos pecados. Do juízo: Os incrédulos, através do Espírito Santo, ficarão avisados do juízo de Deus, o que possibilitará o arrependimento diante da expectativa de ficar eternamente separado de Deus (v.7-11).

 

“A doutrina do ministério de convencimento do Espírito Santo se aplica diretamente ao evangelismo: A mensagem deve ser bíblica... A convicção é obra do Espírito Santo... O homem não pode convencer o incrédulo, Deus pode. O crente deve depender da obra do Espírito Santo. Essa dependência é fé. O crente deveria se atentar para se identificar com aqueles que o Espírito Santo está convencendo e se concentrar neles. Plante a semente original do evangelho com eles. Não tome para si mesmo as vitórias ou rejeições evangelísticas. O ministério do evangelismo é a obra da graça de Deus.” [18]

 

3.Jesus reserva algumas palavras para adiante, pois estão além do que os discípulos podem ouvir sem a habitação do Espírito Santo. O ministério de Jesus foi muito curto, pois três anos não são suficientes para todo o ensino Dele, por isso que Atos dos Apóstolos são a continuação do ensino de Jesus. Muitos ensinos não cabem na mente dos discípulos nessa altura, tais como: Igreja e seu funcionamento, seus líderes, disciplina, batismo, Ceia, etc. O ministério do Espírito Santo em relação aos crentes é guiar a toda a verdade, continuando assim, os ensinos de Jesus. “Toda a verdade”, evidentemente trata-se de verdades espirituais e não os setores do conhecimento geral. O ministério do Espírito Santo em relação a Jesus é glorificá-Lo. Assim como o Filho glorificou o Pai na terra, o Espírito Santo glorificará o Filho na terra, através de seus discípulos. Jesus recebeu do Pai, por isso, o que o Pai tem é de Jesus, por isso também o Espírito Santo anunciará o que é do Pai e do Filho, ou seja, essa união do Pai com o Filho. Assim os crentes passarão a ser iguais a Cristo, em uma união espiritual (v.12-15).

 

4.Em breve Jesus voltará para a Sua Eternidade, sem limitação de tempo e espaço. Mas antes, passará quarenta dias na terra. Portanto, o primeiro “por um pouco” são essas últimas horas em que Ele passa com eles. O outro “por um pouco” é quando Jesus ressuscitasse e os discípulos veriam Jesus, mas ainda assim, por pouco tempo (40 dias). Quando Jesus fosse morto, os judeus incrédulos se alegrariam e os discípulos ficariam tristes, mas a tristeza duraria pouco (20.20). Antes, Jesus disse que Ele mesmo responderia (14.13), agora acrescenta que o próprio Pai responderá a oração. Os ensinos são novos, pois os judeus nunca oraram em nome de ninguém. O Espírito Santo ensinará tudo o que virá, pois serão novidades para os discípulos com mente judaica. Por enquanto, Jesus fala em “figuras”, de modo obscuro, mas o Espírito Santo esclarecerá os corações para um novo contexto: judeus e gentios, juntos em um só Corpo, Cristo. Finalmente os discípulos entendem que Jesus deve voltar para o Pai. Agora não precisam mais perguntar (v.29-30). Ficarão tão extasiados com essa descoberta que declararam a divindade de Jesus. Jesus prediz a dispersão dos discípulos com a prisão no Getsêmane. É possível que nesta altura já estivessem a caminho. Após uma linda declaração dos discípulos, Jesus responde da mesma maneira de que quando Pedro disse que O seguiria. Jesus é claro em dizer que os discípulos O abandonariam quando fosse preso. Somente João e Pedro O seguiram no momento da prisão e julgamento, mas só João seguiu até ao pé da cruz. Jesus estava reiterando a profecia de Zc 13.7, mas ao mesmo tempo dá ânimo para os discípulos naquele momento de aflição (v.16-33).

 

Capítulo 17: A oração sacerdotal de Jesus

1.Jesus orou ao Pai na presença dos discípulos. Jesus pede ao Pai para glorificá-Lo, pois só assim poderá glorificar o Pai. Jesus glorificou o Pai em todo o tempo em que esteve na terra, obedecendo-O fielmente e cuidando daqueles que foram salvos, conduzindo-os até o Pai, dando vida eterna. Embora, ainda faltasse consumar a crucificação, Jesus falava ao Pai em oração como se já estivesse consumada. Isso não é nenhum problema em se tratando da palavra onisciente e soberana de Jesus. Jesus pede a glória que teve nos céus. E o Pai devolverá a glória de Jesus, que é o Logos eterno. A glória será maior, pois Jesus levará consigo muitos salvos (Hb 2.9-10). Isso, de modo algum fere a imutabilidade de Jesus, mas enfatiza e explica a razão de Deus permitir o pecado entrar no mundo, pois isto Lhe confere glória de corações voluntários e remidos, muito mais que qualquer anjo pode glorificá-Lo (v.1-5).

 

2.A oração de Jesus é estritamente ligada aos salvos, os incrédulos não têm parte neste plano, exceto pelo fato de que Ele orou pelos que se tornarão seus discípulos e para isto se converterão. Os discípulos têm “guardado a Palavra”, ou seja, crido em Jesus como o Messias. Isto não está limitado aos “onze” discípulos, mas a todos que creram. Jesus diz que os que creram eram de Deus, pois ninguém que é do Senhor se perderá por causa da proteção que o Senhor Jesus concede. Jesus pode deixá-los, pois o Espírito Santo os conduzirá de agora em diante (v.6-8).

 

3.Jesus não inclui neste momento os perdidos, mas apenas os salvos. Jesus pede proteção para os salvos. Jesus ora também pela santificação dos salvos, que continuarão neste mundo. Como o Pai enviou o Filho ao mundo, Jesus envia os Seus discípulos ao mundo. Este texto mostra claramente que a Salvação é totalmente garantida por Jesus e não por causa da fidelidade do crente. Judas foi o único discípulo de Jesus que se perdeu, mas pela razão de não ser de Deus, pois se fosse teria segurança para ele, também. Santificação tem o sentido de “separação”. Jesus Se santifica pelos crentes. Jesus Se separou da glória que tinha no céu e Jesus também Se separou da comunhão com o Pai na Cruz (v.9-19).

 

“Que maravilhoso ouvir Sua intercessão diante de Seu Pai! Ele não orou pelo mundo. De fato, para o mundo, como um sistema afastado de Deus, não há esperança: é apontado um julgamento (At 17.31), mas os verdadeiros discípulos são o presente do Pai para Seu Filho; e, sendo que Ele está deixando-os por um tempo, Ele, especialmente, entrega-os ao cuidado do Pai, pois eles permanecem assim, como realmente o Filho e o Pai, um com o outro.”[19]

 

4.Jesus pede pela unidade dos crentes com Ele e o objetivo é para que o mundo conheça Jesus como Deus. Portanto, os crentes em unidade com Jesus testemunham a vida eterna para o mundo. Se na prática os crentes não mostram a unidade com Jesus e entre si, muito provavelmente haverá prejuízo na obra de Deus. Jesus é fiel em guardar os crentes seguros e deseja mostrar aos discípulos a Sua glória. Todos os crentes participarão com Jesus da gloriosa presença do Pai, mas por enquanto, os que estão nesta terra se alegram nessa união, mas terão a alegria completa quando a promessa se tornar em posse, na presença de Deus (v.20-26).

 

Capítulo 18: A prisão de Jesus. Jesus perante Anás e Caifás. Jesus perante Pilatos

1.João, o escritor, simplesmente omite a agonia no Getsêmane. Já era costume de Jesus visitar aquele jardim, pois quando ia para as festas passava as noites ali com os discípulos e Judas, lógico, já sabia desse costume de Jesus. Jesus nem por isso, mudou seu trajeto, sabendo o que Lhe esperava desta vez (v.1-2).

 

2.Os soldados eram romanos e havia também soldados judeus que guardavam o Templo. Os guardas romanos são identificados como “coorte”. Sendo que Jesus era “infrator perigoso”, esperavam alguma resistência por parte Dele e Seus seguidores. Para os romanos, Jesus era suspeito de “alta traição” contra o governo romano, autodenominando-se “Reis dos Judeus” (v.3).

 

3.Jesus Se entregou, foi uma atitude voluntária, sem resistência alguma. Jesus declarou-se o “Eterno ‘Eu Sou’”. Estas palavras proferidas pelo próprio Deus causou a demonstração de poder, pois “recuaram e caíram por terra” (Sl 27.2). Jesus pede para não prenderem Seus discípulos, cumprindo assim a profecia Dele mesmo (17.12). Ser entregue por um amigo foi um castigo que Jesus sofreu sem ter feito nada contra Judas (v.4-9).

 

4.É possível que se Pedro não oferecesse essa resistência, os guardas romanos não entrariam em ação (v.12). O surpreendente é que deixaram os discípulos irem embora. Não é de se admirar se lembrarmos que o próprio Jesus foi quem pediu isto. No texto de Lucas “basta” tem o sentido de “deixe dessa ideia, chega” (v.10-11).

 

“A atitude de Pedro em recorrer ao uso da espada é compreensível à vista de sua declaração de lealdade em Jo 13:37. A posse da espada explica-se pelo conselho de Cristo em Lc 22:35-38. A espada era um símbolo dos dias de luta que estavam à frente, mas não era destinada ao uso literal. Eis aí o porquê da repreensão de Jesus. O fato de João mencionar o nome do servo e especificar a orelha é uma indicação de que foi testemunha ocular. Malco não era um dos oficiais mas um escravo pessoal do sumo sacerdote.”[20]

 

5.Ele foi entregue aos soldados romanos e aos fariseus pelo próprio amigo. Judas foi ingrato a respeito de todas as oportunidades recebidas. Antes de levar Jesus ao sumo-sacerdote “oficial”, que era Caifás, levaram-No à presença de Anás, o “sumo-sacerdote” suplantador. Esta entrevista foi na mesma noite (v.12-14, ver João 11.47-52).

 

6.Certo discípulo tinha privilégio diante do sumo sacerdote. Sendo que João nunca mencionava o seu nome neste Evangelho, é certo que está se referindo a si mesmo. Ele era conhecido do sumo sacerdote, no caso Anás. A palavra “conhecido” (“gnostos”) é usada para indicar parentesco. Pedro conseguiu entrar por causa de João, que pediu para a porteira deixá-lo entrar, também. Era madrugada fria, os empregados e guardas fizeram uma fogueira no pátio interno. Pedro ficou em apuros, pois a porteira sabia que João tinha ligação com Jesus e quis entrar por causa de Jesus. Se Pedro entrou a pedido de João, é claro, a porteira deduziu que Pedro também tinha ligação com o “assunto Jesus”, mas Pedro negou, foi a primeira negação (v.15-18).

 

7.O sumo-sacerdote aqui refere-se a Anás. Anás quer saber sobre Jesus e Seus discípulos. Era um interrogatório para obter provas para apresentá-las ao Sinédrio. Jesus não escondeu nada, embora não tenha falado nada sobre os discípulos, não para protegê-los, mas porque considerava-se o único responsável pelos ensinos e sinais. Jesus sempre ensinou publicamente. Nenhum revolucionário subversivo ensinaria publicamente, por isso, Jesus perguntou: “Por que me interrogas?”, mostrando que o Seu ensino era tão público que não precisava de tudo aquilo para saber sobre Seus ensinos. Podiam perguntar aos que O ouviram, como por exemplo, os próprios emissários do Sinédrio e até para o próprio Nicodemos (v.19-21).

 

8.Quando o Apóstolo Paulo chamou Ananias, que era o sumo-sacerdote, de “parede branqueada” levou uma bofetada e pediu desculpas por ofender e transgredir a lei (At 23.2-5 e Êx 22.28), mas aqui, Jesus não ofendeu Anás e, por isso, ao invés de pedir desculpas protestou contra o ato rude do policial do Templo. A pergunta era acusadora, pois não se podia achar nenhuma culpa em Jesus. Os judeus, apesar disso tinham suas consciências insensíveis (v.22-24).

 

9.Enquanto acontece o julgamento injusto de Jesus, Pedro está acompanhando ao longe. Quando Pedro começou a sentir-se mais à vontade, o parente de Malco fez uma pergunta fatal. Pedro negou mais duas vezes e o galo cantou. O registro de Mateus é emocionante neste episódio (Mt 26.75) (v.25-29).

 

10.Pilatos, o governador, queria saber do caso, pois tinha sido informado que levariam Jesus, como dá para perceber, sendo que estava pronto para atender naquele horário. Devemos lembrar também que os soldados romanos acompanharam a prisão de Jesus. O Sinédrio não preparou uma acusação formal, mas esperava que Pilatos aceitasse a palavra dos judeus de que se tratava de um malfeitor. Os judeus odiavam Pilatos, mas agora precisam da ajuda dele. O Sinédrio não queria que Pilatos julgasse o caso, mas simplesmente que ordenasse a execução. Pilatos queria julgar o caso, não porque era homem íntegro, mas porque não queria “dar o braço a torcer” para os judeus, portanto, o quanto pudesse iria dificultar aquele julgamento, não por amor a Jesus, mas por ódio aos judeus. Pilatos diz para os judeus julgarem segundo as suas próprias leis, mas ele sabia que os judeus já tinham julgado e decidido que Jesus devia morrer, mas estavam impossibilitados, pois a pena de morte era decidida pelo governador, o Pilatos. Se os judeus pudessem matá-lo seria por apedrejamento, se os romanos matassem seria por crucificação. A cruz é profética (v.30-32, ver Jo 3.14 e 12.32-33).

 

11.Pilatos mandou chamar Jesus no pretório. A pergunta que ele fez: “És tu rei dos judeus?” mostra que já haviam formulado a queixa. Qualquer um que afirmava ser rei nas províncias romanas era considerado um rebelde contra César. Jesus, dando chance a Pilatos para reconhecer a verdade, pergunta se Pilatos está ouvindo os boatos ou quer saber a verdade. Ao invés de Pilatos dominar a situação, Jesus é quem faz isto devido à sua tranquilidade (v.33-34).

 

12.Pilatos quer se ver livre de qualquer responsabilidade, tentando convencer Jesus de que os judeus é que têm acusação contra Ele. Para Pilatos só interessa se o caso é de alta traição contra o governo de Roma, por outro lado, perder a simpatia dos judeus era perigoso para a função de governador. Jesus não esconde que é rei, porém, dá uma dimensão diferente ao termo, o que não prejudicava em nada Pilatos. Para Pilatos, Jesus tratava-se de um fanático religioso e não de um subversivo perigoso (v.35-36).

 

13.Essa é a “boa confissão” que Jesus fez diante de Pilatos, conforme 1 Tm 6.13. “Tu o dizes” neste contexto é o mesmo que dizer “sim”. Jesus ampliou a resposta mostrando claramente a Sua missão. Ele foi totalmente justo diante de Deus e do mundo, mas esta condenação não teve nenhuma justiça. A pergunta de Pilatos: “Que é a verdade?” não passa de zombaria, pois Pilatos nem levou em consideração a confissão de que Jesus é rei. Não havia perigo em Jesus. Pilatos não esperou para ouvir a resposta sobre “o que é a verdade”. Se Pilatos não viu crime algum em Jesus, por que O está condenando? A única explicação é política. Ele queria o seu emprego diante de César e não queria confusão diante dos judeus (v.37-38).

 

14.Barrabás não era um ladrão apenas, mas um amotinador (Mc 15.7). Jesus era acusado por Roma de ser um subversivo em declarar-se rei, mas Jesus nunca participou sequer de um motim e muito menos matou alguém, mesmo assim os judeus preferem, e Pilatos concorda, libertar Barrabás a Jesus. Antes mesmo de sofrer os maus tratos físicos Jesus já estava sendo castigado. O seu amigo O traiu, o Sinédrio conspirou contra Ele e o político mais poderoso do território dos judeus O entregou à morte mesmo sem ver nenhum crime Nele. Se Pilatos ouvisse a sua esposa e o sonho que ela teve sobre Jesus, ele não teria que passar a eternidade lembrando de seu crime contra o Filho de Deus. Um escritor disse que Pilatos está no inferno lavando suas mãos, mas cada vez que a contempla depois de “lavá-la” as suas mãos ainda estão cheias de sangue.[21] (v.39-40).

 

Capítulo 19: O desejo do povo a respeito de Jesus. A crucificação de Jesus. O sepultamento de Jesus

1.Pilatos sabia da inocência de Jesus, por isso, pecou, deliberadamente, contra Deus e sua consciência e o conselho de sua mulher. Pilatos mandou açoitar Jesus. Fazia parte da crucificação os açoites como “preparação”, o que apressaria a morte na cruz, que costumava ser longos dias de sofrimento. A criatividade dos soldados foi usada de modo perverso e escarnecedor contra o Filho de Deus. Jesus era o “Rei dos Judeus”, por isso, trataram de “equipar” o rei: Um rei precisa de coroa. Improvisaram uma de espinhos. Um rei precisa de um manto. Vestiram-No com uma capa de exército romano, que é cor púrpura, a cor do manto real. Um rei precisa de um cetro. Deram-Lhe um caniço, conforme o registro de Mateus. Um rei precisa ser reverenciado. Os vários soldados interpretaram os papeis de súditos reais. Cada um se achegava diante do “rei” com toda a “reverência”. O cetro era um caniço, que é uma cana que nascia no pântano, conhecida como junco (v.1-3).

 

2.Pediam a pena máxima contra os criminosos de sedição contra Roma: “crucifica-O”. Pilatos zomba dos judeus quando diz: “Crucifiquem vocês”, pois só Roma podia fazer isto. Pilatos lançou a responsabilidade para os judeus. Em Mt 27.19, mostra que a própria esposa de Pilatos o alertou, pois teve um sonho a respeito. Em Lucas diz que Pilatos reuniu as autoridades judaicas, os guardas judaicos e o povo, mas todos só viam uma solução para o crime de Jesus: crucificação. Os judeus se responsabilizavam pela execução de Jesus dizendo: “O sangue Dele pode cair sobre as nossas cabeças e sobre nossos filhos” (Mt 27.25-26) (v.4-7).

 

3.Os oficiais romanos eram cruéis e insensíveis, mas guardavam firmes as superstições sobre os deuses e sua vingança e neste ponto que Pilatos ficou amedrontado e tentou por todos os modos convencer os judeus a não votarem pela crucificação. Jesus, que tinha o domínio da situação muito mais que Pilatos, responsabilizou os judeus por maior pecado. Os judeus rebatiam toda a tentativa de Pilatos soltar Jesus e chegavam a ameaça-lo dizendo: “Não é amigo de César”. Pilatos tentou pela última vez salvar Jesus, mas foi em vão, por isso, covardemente entregou-O para ser crucificado (v.8-12).

 

4.“Parasceve” significa “véspera do sabá”. Os judeus estavam na véspera de importante evento: a Páscoa. Os judeus estavam tão odiosos contra Jesus e tão felizes da decisão de Pilatos que até esboçaram um louvor a Roma: “Não queremos este como rei”, “Nosso rei é César”. Marcos diz “hora terceira” e João “hora sexta” e Mateus “hora sexta”. Jesus foi crucificado às 9 horas da manhã (hora terceira, Marcos 15.25). As trevas vieram ao meio dia (hora sexta) e duraram até às três da tarde (hora nona), quando Ele entregou Seu espírito. Portanto, Jesus ficou na cruz por 6 horas (v.13-16).

 

5.Simão, o cirineu, ajudou Jesus, não por voluntariedade, mas porque foi obrigado pelos soldados, pois Jesus estava muito debilitado fisicamente e era inútil os soldados forçarem Jesus para levar a cruz, e os soldados jamais levariam a cruz, por isso, pegaram um estrangeiro, não era nem romano, nem judeu e nem grego, mas um africano de Cirene, um porto situado no norte da África. Era comum carregar só o travessão, sendo que a estaca já estava posta no local da crucificação. “Gólgota” é uma palavra hebraica e “Calvária” latim, que têm o mesmo significado (“caveira”). Ficava fora dos muros da cidade de Jerusalém. Era uma colina com a aparência de um crânio (v.17).

 

6.Jesus ficou na cruz por três horas (ou seis?). Era a preparação da páscoa, certamente os judeus mandariam quebrar-Lhe as pernas para apressar Sua morte, pois, sendo execução judaica não podiam deixá-Lo exposto durante a Páscoa e depois de morto não podiam deixar o corpo exposto durante a noite. Era comum escrever em uma placa os atos do criminoso e colocá-la no cume da cruz ou no pescoço do criminoso. Todos os que assistiam podiam ler em sua própria língua. Em alguns quadros atuais tem o acróstico INRI (Jesus Nazareno Reis dos Judeus) (v.18-22).

 

7.Os soldados repartiram entre si as vestes de Jesus, que se resumia em um par de sandálias, as roupas externas e o cinto. A capa era valiosa e, por isso, foi sorteada (Sl 22.18). Não queriam rasgá-la e aproveitar o pano, mas um dos quatro ficou com a valiosa túnica. As vestes do crucificado pertenciam aos seus carrascos. Eram quatro (At 12.4) (v.23-26).

 

8.Estavam ao pé da cruz, pelo menos quatro mulheres: Maria, mãe de Jesus, Maria, irmã da mãe de Jesus, também conhecida como Salomé, mãe dos filhos de Zebedeu, portanto, mãe de João (Assim, João, o escritor e Jesus seriam primos), Maria Madalena, Maria, mulher de Clopas (também conhecido como Alfeu), que era mãe de Tiago, o menor. Jesus dá um protetor àquela que cuidou Dele e o gerou. Sendo que José não estava mais vivo e os irmãos de Jesus não estavam ali, Jesus escolheu a melhor pessoa para cuidar de Sua mãe, João, que provavelmente era o sobrinho da mãe de Jesus. João foi o único discípulo que teve a coragem, junto com as mulheres, de presenciar aquela cena (v.25-27).

 

9.Jesus estava com muita sede, não por causa do clima, pois o sol se escondeu durante todo o tempo da crucificação, mas se esforçou muito, fisicamente, e estava bem desidratado, pois perdeu muito sangue, causando-Lhe também uma anemia profunda. Deram vinagre para Jesus e ele aceitou. Era usado para os soldados beberem de vez em quando. Não deve ser confundido com “vinho e mirra”, os quais Jesus rejeitou, pois era entorpecente para aliviar a dor (Mt 27.45 e Mc 15.23). Jesus não quis trocar a dor consciente pelos nossos pecados por um estado de torpor, enganoso. Aqueles soldados cruéis sentiram algum tipo de compaixão por Jesus. Um deles chega mesmo a crer em Jesus como Salvador (v.28-29).

 

10.Tetelestai ou Totelestai! Aqueles gregos que queriam ver Jesus já podiam ver e desfrutar a vida eterna! O mundo todo podia, a partir daí, experimentar uma nova compreensão da vida. A seguir os usos comuns da palavra “Totelestai” (“está consumado”), o qual já está bem solidificado em quase todos os comentários bíblicos, tornando-se um tema de domínio público: Quando um comerciante vendia algo e o cliente pagava todas as prestações. Era carimbado na última prestação: “Totelestai”. Quando um capitão trazia seu barco carregado de mercadoria a um porto, dizia: “Totelestai”. Quando um soldado voltava de uma missão, dizia ao superior: “Totelestai”. Jesus na cruz, esmagando a cabeça de Satanás (Gn 3.15), diz: “Totelestai”. Jesus Cristo não foi morto no sentido restrito do termo, mas entregou a Sua vida, rendeu o espírito (v.30).

 

“A Escritura é clara. A menos que alguém confie em Cristo somente para obter o céu, ele está tão perdido como uma pessoa que nunca ouviu do Evangelho. Por quê? Porque na cruz Jesus Cristo realizou o pagamento completo. Ele providenciou o caminho para o céu.”[22]

11.Uma pergunta que surge na mente de muitos: Jesus morreu na Páscoa? Sim, sendo Ele o Cordeiro pascal, essa era a data para morrer, porém, Jesus morreu 3 horas da tarde e a Páscoa, propriamente dita, começava às 6 horas da tarde. A profecia de Sl 34.20 é cumprida na morte de Jesus (ver também Êx 12.6, Nm 9.12). João foi testemunha ocular da profecia cumprida. Outra profecia que foi cumprida nesse momento foi a de Zc 12.10 (ver Ap 1.7). As marcas nas mãos (pulsos), nos pés e no lado seriam prova incontestável para os discípulos (v.31-37).

 

12.José de Arimateia era um membro do Sinédrio (Mt 27.57), por isso, teve acesso fácil ao governador. Antes, José de Arimateia ocultou-se, amando mais a glória deste mundo, mas agora revela a sua preferência por Jesus, mesmo depois de ter morrido. Embora aloés e mirra não fossem caros como o nardo puro, uma quantidade assim, somente um rico podia fornecer. Quantidade grande assim era para sepultamento real. Evidentemente, não se trata de mumificação e embalsamento egípcios, que era muito avançado. No caso do sepultamento judaico, não era para adiar a putrefação, mas simplesmente um ato de respeito para com o falecido. José de Arimateia tinha um sepulcro ali perto. O objetivo era sepultá-Lo, mesmo faltando todos os preparativos, pois fariam depois do sábado da Páscoa (v.38-42).

 

Capítulo 20: A ressurreição de Jesus Cristo. Jesus aparece para Maria Madalena, aos discípulos e a Tomé

1.Não foi preciso completar os preparativos, pois o corpo de Jesus não estava mais no sepulcro. Maria Madalena foi até o lugar do sepulcro. Em Lc 8.2 diz que Maria Madalena possuía 7 demônios. Isso explica a devoção e gratidão que tinha para com Jesus, o Libertador de sua alma. O único pensamento de Maria Madalena era que alguém teria roubado o corpo de Jesus. Se os discípulos fossem roubar o corpo para insinuar que Seu mestre ressuscitara, teriam muita pressa e levariam o corpo com as faixas, as quais são difíceis para não dizer impossível de deixá-las como se estivessem enroladas no corpo. Mesmo que os soldados estavam vigiando o túmulo, a pedra foi removida. Em Mt 28.11-15 mostra a astúcia dos líderes religiosos diante da incontestável ressurreição de Jesus. Enquanto os outros discípulos creram na ressurreição porque viram Jesus Cristo ressurreto, João creu logo que chegou ao sepulcro e viu que este estava vazio (v.8). No v.9 vemos que o entendimento deles, ainda era muito limitado. Isso concorda com Jo 2.22. O v.10 diz que os dois voltaram “para casa” (v.1-10).

 

2.Maria Madalena continuou perto do sepulcro, chorando. Chorou pela morte de Jesus e pelo desaparecimento de Seu corpo. Talvez Maria Madalena pensou que se continuasse ali, alguém apareceria e daria alguma informação. Maria Madalena sentia muito amor por Seu mestre, mas não parou para pensar que Ele poderia ter ressuscitado. Os dois anjos não foram assustadores, pois Maria Madalena agiu normalmente. Um à cabeça e o outro aos pés do lugar onde estava Jesus. Isso lembra os dois querubins no propiciatório. Maria Madalena responde com muita tristeza porque estava chorando. Ela nem esperou para ouvir o que os anjos tinham a dizer. Ao voltar-se para trás, sem ouvir se os anjos tinham algo para dizer, depara-se com Jesus e sem reconhecê-Lo, pensou ser o jardineiro. O jardim era de José de Arimateia e, sendo um homem rico, mantinha jardineiros para cuidar do imenso jardim. Maria Madalena foi a primeira a falar e testemunhar da ressurreição, mas não foi a primeira a crer. O primeiro a crer na ressurreição de Jesus foi o discípulo amado, João, o escritor deste evangelho (v.11-18).

 

3.Se era difícil reconhecer Jesus com o corpo glorificado, as marcas dos pregos nas mãos (pulsos) e no lado era provas incontestáveis da crucificação. A glorificação do corpo de Jesus levanta algumas dúvidas sobre a identificação Dele. Às vezes os discípulos reconhecem outras vezes, não. Nem mesmo pela voz ou maneira de falar reconheciam se Ele mesmo não Se identificasse. Jesus, nessa visita, usa duas vezes a palavra “paz”: a primeira vez foi para acalmá-los e a segunda vez para prepará-los para a grande comissão. Jesus soprou o Espírito Santo sobre os discípulos. Não se pode dizer que é a habitação do Espírito Santo nos discípulos, pois isto acontecerá para todos os crentes dez dias adiante. Na criação do homem Deus soprou o fôlego de vida. Agora, Jesus sopra nos discípulos uma nova fase para a humanidade. Na comissão que os crentes têm, o alvo são os descrentes. Quem perdoa ou não é Deus, através dos apóstolos. Isso acontece “naturalmente” através da pregação do Evangelho. Quando o crente prega o evangelho e alguém aceita, os pecados são perdoados e é como se o crente estivesse perdoando aqueles pecados. O contrário também é verdade: quando o crente prega e alguém rejeita, os pecados não são perdoados e é como se o crente estivesse retendo o perdão (v.19-23).

 

“Ele disse: ‘Recebei o Espírito Santo’, demonstrando assim que a vida espiritual e a habilidade deles para realizarem a obra derivaria e dependeria somente Dele. Toda a Palavra de Cristo que seja recebida por fé no coração, virá acompanhada deste sopro divino; e sem este não há luz nem vida. Nada se vê, se conhece, se discerne ou se sente da parte de Deus a não ser por meio deste.”[23]

 

4.O termo “os doze” é apenas um título, pois era assim no começo, mas agora são onze, mas o termo continua. A questão de tocar nos ferimentos de Jesus, embora possa ser vista como incredulidade de Tomé não era algo sem fundamento, pois as marcas da cruz eram as provas que todos precisam para identificar Jesus. A Bíblia não diz nada que Tomé tenha colocado o dedo nas feridas de Jesus e, por isso, não devemos afirmar isto, é muito provável que Tomé creu, apenas vendo Jesus. Os apóstolos tiveram muitos privilégios, mas não tiveram o grande privilégio que temos: crer sem nunca ter visto! Tomé demorou a crer, mas quando isto aconteceu fez a mais profunda declaração do grupo (v.24-29).

 

5.Jesus fez muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Alguns estão escritos nos outros evangelhos, mas outros não estão em nenhum registro, pois Jesus operou muitos sinais enquanto esteve na terra. Os sinais que foram registrados neste Evangelho e, também nos demais, são mais do que suficientes para a salvação dos leitores (v.30-31).

 

Capítulo 21: Jesus toma refeição na praia com os discípulos. O diálogo com Pedro

1.Todos os onze viram e creram na ressurreição de Jesus. Neste episódio, João relata o que aconteceu com sete dos discípulos. Para reconhecer Jesus ressuscitado era necessário que Este abrisse o entendimento das pessoas. Certamente era humilhante para um pescador dizer que nada pescou, mas não tinham outra resposta no momento. Talvez João tenha lembrado de um milagre muito semelhante tempos atrás (Lc 5.1-11). Ao mesmo tempo que estavam diante de Seu mestre conhecido e íntimo, Jesus para os discípulos era um “estranho”, diferente deles, pois voltou da morte. Mesmo assim, ninguém perguntou quem era, pois sabiam que, de fato, era Jesus. Jesus ofereceu a eles pão e peixe. Jesus foi cortês e hospitaleiro e serviu aos discípulos. Era a terceira vez que Jesus aparecia aos discípulos. O peixe passou a ser o símbolo do cristianismo, devido à familiaridade dos discípulos e Jesus com as pescarias e por causa do acróstico “Ichtus” que significa: Jesus Cristo Filho de Deus Salvador. Esta palavra em grego significa “peixe” (v.1-14).

 

2.Após a refeição, Jesus estava caminhando com Pedro pela praia (v.20). A pergunta de Jesus é muito difícil. Como Pedro saberia se amava Jesus com mais intensidade que os outros discípulos? Talvez, Jesus não esteja exigindo que Pedro saiba isto, mas sim que saiba que o amor dele precisa crescer. Muito tem-se dito sobre o amor “Ágape” e “Fileo”. “Ágape” seria o amor por excelência, superior ao amor ”Fileo”. “Ágape” seria o amor de Deus, o amor de um relacionamento perfeito. A ideia de que o amor “fileo” é inferior precisa se basear em textos bíblicos originais. Devemos comparar as referências bíblicas encontradas com as respectivas palavras. Se as palavras “ágape” e “fileo” funcionam nas páginas do N.T. como sinônimos, então, não há necessidade de fundamentar um ensino de “amor superior, de Deus, e amor inferior, dos homens”. Vejamos oito vezes onde a palavra “fileo” aparece[24]. Bastará para começarmos a pensar seriamente.

 

1)     Jamais alguém pensaria que o Pai teria um amor inferior por Seu Filho, Jesus Cristo. No entanto, em Jo 5.20 a palavra para descrever este relacionamento é “fileo” e não “ágape”.

2)     O amor de Jesus por Marta e Maria é descrito em Jo 11.3-6 como “fileo” e não “ágape”.

3)     O amor de Jesus por João, é descrito como “fileo” e não “ágape” em Jo 13.23 e 20.2.

4)     O amor do Pai para com os crentes é “fileo” e não “ágape” em Jo 16.27.

5)     A maldição está para os que não amam ao Senhor Jesus Cristo em 1 Co 16.22. A palavra é “fileo” e não “ágape”.

6)     O amor dos crentes cretenses por Paulo era “fileo” e “não “ágape” (Tt 3.15).

7)     Jesus repreende a todos os que ama (Ap 3.19). Neste texto, Jesus ama com amor “fileo”e não “ágape”.

 

Pedro recebeu a comissão de cuidar do rebanho de Jesus Cristo. Jesus anima Pedro, dizendo que a responsabilidade dele é seguir o Senhor e ser fiel à sua missão de cuidar do rebanho. Quanto a João, Pedro não precisa saber os planos de Deus para ele. Podemos dizer que João viu o céu antes de morrer, conforme todo o livro de visões do Apocalipse (v.15-23).

 

3.João fala de si mesmo na terceira pessoa do singular. Alguns comentaristas dizem que os v.24-25 foram escritos por outra pessoa, mas não precisamos aceitar isto, pois João sempre fala de si mesmo assim neste Evangelho. Não foi escrito neste evangelho e nem nos demais evangelhos tudo o que Jesus fez (v.24-25).

 

Os impedimentos à vida abundante (Jo 16-21)

1.A falta de compreensão da Missão do Espírito Santo (16.7-15)

2.A falta de oração (16.23-24)

3.A falta de compreensão da paz nas aflições (16.33)

4.A falta de compreensão da essência da vida (17.3)

5.A falta da santificação pela Palavra (17.17)

6.A falta da compreensão da unidade divina e os seus membros (17.21)

7.A falta de compreensão do grande Eu Sou (18.6-8)

8.A falta de convicção e testemunho (18.25-27)

9.A falta de compreensão de que o reino de Jesus não é deste mundo (18.36)

10.A falta de compreensão da verdade (18.38)

11.A falta de aceitação do verdadeiro Rei (19.3,6,15)

12.A falta de compreensão sobre a ressurreição de Jesus (20.8-10,13,15,25,27-29, 21.4)

13.A falta de leitura dos evangelhos (21.24-25)


Pércio Coutinho Pereira, 2020 – 1ª ed. 1991

 

Notas

 

1.     1.Informações técnicas, tais como data, local e autoria tiveram como fonte o livro “Introdução ao Estudo do NT” de  Broadus David Hale, JUERP, 1983, RJ

2.     Introdução e Comentário (João), pg. 36 – Jo 1.1 – F.F. Bruce (Ed. Mundo Cristão – SP – 1ª ed. 1987)

3.     The structure of the Gospel of John based upon his stated purpose - Ron Merryman

http://gracebiblestudies.org/Resources/Web/www.duluthbible.org/g_f_j/Structure_of_John.htm 23/08/2019

4.     Bad news for good people and good news for bad people or “Ye Must Be Born Again!”  (John 3:1-21) - Pastor-teacher Dennis Rokser  http://gracebiblestudies.org/Resources/Web/www.duluthbible.org/g_f_j/Good_News.htm 23/08/2019

5.     Alguém já disse que mais uma maneira de envolvimento com a obra é divulgando as necessidades e informações dos campos e dos obreiros.

6.     Knowing God through John – Jo 4.46-54 - David Egner (©1989 RBC Ministries -Grand Rapids, MI)

7.     Gospel according to St. John - Frederick Louis Godet http://biblecentre.net/comment/nt/flg/john/john455.html (1 of 2) 01/08/2003

8.     Comentário Bíblico de Matthew Henry – Jo 6.15-21 (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - 3ª Edição - 2003)

9.     Comentário Bíblico Moody – Jo 7.3-9 – (Editado por Charles F. Pfeiffer – Imprensa Batista Regular 4ª impressão 2001)

10.  Problem Passages in the Gospel of John - Part IX: The Woman Taken in Adultery (John 7:53 - 8:11): Exposition - Zane C. Hodges, pg. 41 (Bibliotheca Sacra - January-March 1980)

11.  ©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda (não foi anotada a data de publicação)

12.  E se for verdade? – Examinando quatro perguntas espirituais importantes – Martin R. De Haan II (RBC Ministries, Grand Rapids, Michigan – 2002)

13.  Contextual and genre implications for the historicity of Jo 11.41b-42 - W. Bingham Hunter, pg. 69 (Copyright 1997 by The Evangelical Theological Society and Galaxie Software, março de 1985)

14.  Novo Comentário da Bíblia – Mc 12.1 (Editado pelo Prof. F. Davidson, MA,DD. Editado em Português pelo Rev. D. Russell P.Shedd, MA, BD, PhD – Edições Vida Nova – São Paulo – SP – 2000)

15.  Notes on John, pg. 221 – Jo 13.10-11 - Dr. Thomas L. Constable (Published by Sonic Light - 2014 Edition)

16.  Expositions of Holy Scripture (João), pg. 368 – Jo 14.30-31 – Alexander Maclaren (1826-1910) (Grand Rapids, MI: Christian Classics Ethereal Library)

17.  Abiding Is Remaining in Fellowship: Another Look at John 15:1-6 - Joseph C. Dillow, pg. 44 (Copyright 1997 by Dallas Theological Seminary and Galaxie Software)

18.  The Convicting Ministry of the Holy Spirit (John 16:8-11) (CTS Journal (Winter 1995), a publication of Chafer Theological Seminary, Fountain Valley, CA.

19.  Coments on the Gospel of John – Jo 17.1-9 - Leslie M Grant

(http://biblecentre.org/content.php?mode=7&item=207 28/08/2019)

20.  Comentário Bíblico Moody – Jo 18.10-11 – (Editado por Charles F. Pfeiffer – Imprensa Batista Regular 4ª impressão 2001)

21.  Oswald Smith – O país que eu mais amo

22.  John 19:30 - R. Larry Moyer

23.  (http://www.gracebiblestudies.org/resources/web/www.duluthbible.org/g_f_j/John19_30.htm 28/08/2019)

24.  Comentário Bíblico de Matthew Henry – Jo 20.19-25 (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - 3ª Edição - 2003)

25.  Ágape e Filéo - Pércio Coutinho Pereira – Estudo simples preparado tendo por base as ocorrências das respectivas palavras gregas no NT por volta de 1992

 



[1] 1.Informações técnicas, tais como data, local e autoria tiveram como fonte o livro “Introdução ao Estudo do NT” de  Broadus David Hale, JUERP, 1983, RJ

[2] Introdução e Comentário (João), pg. 36 – Jo 1.1 – F.F. Bruce (Ed. Mundo Cristão – SP – 1ª ed. 1987)

[3] The structure of the Gospel of John based upon his stated purpose - Ron Merryman

http://gracebiblestudies.org/Resources/Web/www.duluthbible.org/g_f_j/Structure_of_John.htm 23/08/2019

[4] Bad news for good people and good news for bad people or “Ye Must Be Born Again!” (John 3:1-21) - Pastor-teacher Dennis Rokser http://gracebiblestudies.org/Resources/Web/www.duluthbible.org/g_f_j/Good_News.htm 23/08/2019

[5] Alguém já disse que mais uma maneira de envolvimento com a obra é divulgando as necessidades e informações dos campos e dos obreiros.

[6] Knowing God through John – Jo 4.46-54 - David Egner (©1989 RBC Ministries -Grand Rapids, MI)

[7] Gospel according to St. John - Frederick Louis Godet http://biblecentre.net/comment/nt/flg/john/john455.html (1 of 2) 01/08/2003

[8] Comentário Bíblico de Matthew Henry – Jo 6.15-21 (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - 3ª Edição - 2003)

[9] Comentário Bíblico Moody – Jo 7.3-9 – (Editado por Charles F. Pfeiffer – Imprensa Batista Regular 4ª impressão 2001)

[10] Problem Passages in the Gospel of John - Part IX: The Woman Taken in Adultery (John 7:53 - 8:11): Exposition - Zane C. Hodges, pg. 41 (Bibliotheca Sacra - January-March 1980)

[11] ©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda (não foi anotada a data de publicação)

[12] E se for verdade? – Examinando quatro perguntas espirituais importantes – Martin R. De Haan II (RBC Ministries, Grand Rapids, Michigan – 2002)

[13] Contextual and genre implications for the historicity of Jo 11.41b-42 - W. Bingham Hunter, pg. 69 (Copyright 1997 by The Evangelical Theological Society and Galaxie Software, março de 1985)

[14] Novo Comentário da Bíblia – Mc 12.1 (Editado pelo Prof. F. Davidson, MA,DD. Editado em Português pelo Rev. D. Russell P.Shedd, MA, BD, PhD – Edições Vida Nova – São Paulo – SP – 2000)

[15] Notes on John, pg. 221 – Jo 13.10-11 - Dr. Thomas L. Constable (Published by Sonic Light - 2014 Edition)

[16] Expositions of Holy Scripture (João), pg. 368 – Jo 14.30-31 – Alexander Maclaren (1826-1910) (Grand Rapids, MI: Christian Classics Ethereal Library)

[17] Abiding Is Remaining in Fellowship: Another Look at John 15:1-6 - Joseph C. Dillow, pg. 44 (Copyright 1997 by Dallas Theological Seminary and Galaxie Software)

[18] The Convicting Ministry of the Holy Spirit (John 16:8-11) (CTS Journal (Winter 1995), a publication of Chafer Theological Seminary, Fountain Valley, CA.

[19] Coments on the Gospel of John – Jo 17.1-9 - Leslie M Grant

 (http://biblecentre.org/content.php?mode=7&item=207 28/08/2019)

[20] Comentário Bíblico Moody – Jo 18.10-11 – (Editado por Charles F. Pfeiffer – Imprensa Batista Regular 4ª impressão 2001)

[21] Oswald Smith – O país que eu mais amo

[23] Comentário Bíblico de Matthew Henry – Jo 20.19-25 (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - 3ª Edição - 2003)

 

[24] Ágape e Filéo - Pércio Coutinho Pereira – Estudo simples preparado tendo por base as ocorrências das respectivas palavras gregas no NT por volta de 1992

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