50 Gálatas

 Gálatas

Martelo, Horizontal, Tribunal, Justiça

 

Introdução[1]

1.Autor da carta

Paulo, o apóstolo, é o autor. O estilo direto, os argumentos bíblicos e a autobiografia do primeiro capítulo indicam que o apóstolo Paulo escreveu a carta aos gálatas. No final, faz uma autodefesa bem ao seu estilo, não aceitando acusações de falsos profetas.

2.Data da carta

52 a.D. Em Atos 18.23 diz que Paulo, indo para Éfeso, passou na Galácia. Isso foi na terceira viagem

missionária. Sendo assim, a carta teria sido escrita no ano 52 ou mais. Essa data se baseia na sugestão de que Paulo escreveu para a Galácia do norte. Há outra teoria que é a Galácia do sul. Nesse caso, Paulo teria escrito a carta após sua primeira viagem, quando Paulo fundou igrejas na Galácia (Atos 13 e 14). Se for assim, então, a carta seria de 48 a.D.

 

3.Local

O entendimento de onde Paulo escreveu dependerá de quando ele escreveu a carta aos gálatas. Se escreveu na terceira viagem missionária, então, deve ter escrito em Éfeso ou Corinto, cidades para onde estava indo conforme Atos 18.23. Outro argumento coloca a cidade de Antioquia como o local de onde Paulo escreveu essa carta. Após o Concílio ou Conferência de Atos 15, quando o assunto “judaizantes” foi colocado em pauta (Atos 15.35-36).

 

4.Cidade

Galácia era uma província romana que ocupava a parte central do que agora é conhecido como a Ásia Menor. Na sua parte norte-central, ficava a cidade de Ancira, agora chamada Ancara, capital da Turquia. Parece que, por volta de 278-277 a.C., um grande número de celtas da Gália ou gauleses, que os gregos chamavam de Galátai (daí o nome desta região), atravessaram o Estreito do Bósforo e se estabeleceram nesta região. Trouxeram consigo suas esposas e seus filhos, e evidentemente evitavam casar-se com o povo já existente ali, perpetuando assim suas características raciais durante séculos. Eles ainda falavam sua língua gálata, de origem celta, no tempo de Jerônimo (347–420 d.C.).

 

5.Objetivos da carta

1) Essa carta é de repreensão. Paulo não elogia os gálatas em nenhum momento, exceto, se entendermos que 3.3 é um elogio (“tendo começado pelo Espírito”). Ainda que fosse um elogio isto se dá no passado, ou seja, começaram bem, mas se desviaram. O mesmo ocorre com 4.15. A repreensão de Paulo sempre é para voltarem ao caminho correto. Os gálatas estavam cometendo um erro muito grande ao desprezarem a graça de Cristo Jesus para tentarem viver a vida cristã com esforços próprios.

 

2) O objetivo não é, de modo algum, acabar com os falsos profetas, pois eles sempre existirão. O objetivo também não é chegar a um acordo com os judaizantes, pois o evangelho não é negociável. O objetivo tampouco é proteger o evangelho, pois este já é vencedor e se sustenta pela sua própria essência. Cristo morreu e ressuscitou e isto é fato consumado e nada precisa ser acrescentado a essa verdade. Resta, portanto, saber qual realmente era o objetivo de Paulo escrever uma carta tão denunciativa.

 

3) O objetivo era proteger o rebanho de Deus contra os judaizantes que são lobos vorazes. Outro objetivo era levar os crentes a um nível mais alto de compreensão da verdade. Ainda, outro objetivo era conduzi-los à maturidade de um andar no Espírito que é o antídoto eficiente contra o veneno do legalismo.

 

6.Versículo-chave da carta

O versículo que revela o problema e traz a solução para o legalismo está em 2.16: “sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, mas sim, pela fé em Cristo Jesus, temos também crido em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo, e não por obras da lei; pois por obras da lei nenhuma carne será justificada”.

 

O versículo 2.20 é uma aplicação do princípio chave da dependência da graça de Cristo: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim”.

 

7.Tema e palavras-chaves

O tema ou assunto da carta é “Andar por fé e não por obras da lei”. Isto fica claro em toda a exortação de Paulo. As palavras-chaves são: obras, lei, graça, circuncisão ou circuncidar e andar.

 

8.Dificuldades encontradas na carta

1) Um anjo vindo do céu prega outro evangelho (1.8)? Se Paulo estivesse se referindo a anjo de Deus, é apenas uma hipótese sem nenhuma possibilidade. Seria apenas uma forma de Paulo enfatizar o absurdo. Não importa a fonte, um ensino errado sempre será um ensino errado.

 

2) Deus separa alguns antes de nascer (1.15)? É certo que Deus já conhece todos os dias de todas as pessoas. Profetas e juízes foram separados antes de nascer (Samuel, Sansão, João Batista). Sendo que a nação de Israel é eleita por Deus, é certo dizer que todo judeu é separado para o Senhor antes de nascer. Paulo estava falando de si mesmo como um judeu.

 

3) Decair da graça é o mesmo que perder a salvação (5.4)? Não, os crentes que caem da graça estão na condição de desobediência, pois, embora salvos, tentam viver a vida cristã por esforços próprios e aparência exterior.

 

4) Cada um leva sua carga (fardo) ou um deve levar a carga (fardo) do outro (6.2,5)? No versículo 2, a palavra grega é “baros” (peso) e no versículo 5 é “phortion” (carga). As palavras não resolvem a dificuldade. Na primeira “carga” refere-se a faltas dos irmãos. Um deve cuidar do outro repreendendo-se mutuamente quando necessário. No versículo 5, a “carga” refere-se à responsabilidade diante de suas próprias ações.

 

9.Curiosidades encontradas na carta

1) Provavelmente, Paulo recebeu instruções diretamente de Jesus Cristo durante três anos. Isso explica ele ter sido o guardião do mistério, mencionado em Efésios (Gl 1.17-18).

 

2) Paulo foi duro com Pedro, mas foi necessário, pois a discriminação é perniciosa na igreja (Gl 2.11-12).

 

3) Só no Novo Testamento sabemos que a Lei foi dada a anjos para entregarem a Moisés (Gl 3.19).

 

4) Possivelmente, Paulo tinha uma doença nos olhos. Os gálatas já foram muito amáveis com o apóstolo (Gl 4.13-15).

 

5) Paulo usa de ironia ao usar a palavra circuncisão (peritome = cortar ao redor) e mutilar (apokopto) (Gl 5.11-12).

 

6) A ordem dessa declaração não pode ser alterada. Não nos esforçamos para nos purificar e como recompensa ganhamos um andar no Espírito, pelo contrário, andamos no Espírito e Ele nos refreará de satisfazermos os desejos carnais pecaminosos (Gl 5.16).

 

Capítulo 1: O outro evangelho e o evangelho verdadeiro

1.Uma tribo de gauleses se instalou naquela província no 3º século a.C. e, por isso, ficou conhecida como Galácia. Talvez Paulo tenha escrito esta carta em Antioquia. Ele teria passado na Galácia depois do Concílio de Atos 15, no ano 50 a.D. Como a questão da circuncisão já havia sido tratada, ele teria argumentos e apóio aos gálatas. Ele começa a carta apelando para a autoridade apostólica recebida do próprio Deus. A saudação com a graça é tão importante para esta igreja legalista que estava tentando viver com os próprios esforços (v.1-5).

 

2.Diferente das outras cartas, aqui Paulo não começa com nenhum tipo de elogio, mas com uma repreensão. O legalismo e todas as formas de esforço próprio na vida cristã são chamados de “outro evangelho”. Paulo fala hipoteticamente de um anjo de Deus trazendo outro evangelho. Evidentemente isto jamais acontecerá, mas mostra a seriedade e a imutabilidade do evangelho. O evangelho está acima de qualquer igreja local e organização. Não devemos ser condescendentes com os falsos mestres. Eles são malditos, pois pervertem a mensagem celestial de confiar somente em Cristo Jesus para valorizar o esforço humano (v.1-9).

 

“Jerônimo pensa que Paulo está falando sobre o nome dos gálatas, o qual deriva da palavra hebraica Galath que significa caído, então, Paulo quis dizer: ‘Vocês são verdadeiros gálatas, ou seja, caídos no nome e no fato.’ Alguns acreditam que os alemães são descendentes dos gálatas. Pode ser. Os alemães não são diferentes dos gálatas em sua falta de constância. No início, nós alemães, somos muito entusiásticos, mas nossas emoções se esfriam e nós nos tornamos indolentes [preguiçosos, lentos]. Quando a luz do Evangelho veio a nós, muitos foram zelosos, ouviram os sermões avidamente e estimaram grandemente o ministério da Palavra de Deus. Mas agora que a religião tem sido reformada, muitos que, anteriormente, eram esses discípulos sérios, descartaram a Palavra de Deus, tendo se tornado displicentes como os tolos e incoerentes gálatas.”[2]

 

3.Em contraste aos falsos mestres, Paulo se coloca como exemplo de um servo que não quis agradar a si mesmo, mas transmitir a mensagem de Deus (v.10-11).

 

4.Este é um texto muito importante, pois fala de Paulo como um judeu. Lembremo-nos de que Paulo está advertindo os crentes contra os judaizantes. Portanto, ao se colocar como um judeu verdadeiro, Paulo mostra sua autoridade. A visão é a de um judeu, membro de uma nação eleita. Todo judeu é escolhido antes de seu nascimento, mas isto não significa salvação e, sim, chamado para uma missão e responsabilidade. Sabemos que houve falha de Israel, mas mesmo assim Deus não desistiu de Suas promessas para essa nação. Ainda é o povo escolhido que receberá atenção especial logo após o arrebatamento da Igreja. Paulo, falando como um judeu, se assemelha a Jeremias (ver Jeremias 1.5), a Sansão (Juízes 13.7) e a João Batista (Lucas 1.15). Agora, muito mais, não apenas como judeu, mas como apóstolo do Senhor Jesus Cristo, Paulo tem uma missão a qual recebe diretamente de Cristo Jesus nos desertos da Arábia por três anos. Paulo é o detentor e proclamador do mistério antes encoberto. Ele soube antes dos demais apóstolos a respeito do plano de Deus de unir judeus e gentios em um só Corpo, a Igreja. Deus dirigiu tudo perfeitamente que todos aceitaram a obra de Deus na vida de Paulo (v.12-24).

 

“Nosso estudo dos versículos 11-17 tem mostrado que a conversão de Paulo deve ser compreendida como envolvendo a) reconhecimento d Jesus ressuscitado como o Messias, o Senhor e Filho de Deus, b) a experiência de ser justificado pela fé sem as obras da lei, c) a revelação dos princípios básicos do evangelho e d) o chamado para ser um apóstolo dos gentios. Os versículos 11-17 constituem uma das seis passagens do Novo Testamento que descreve a conversão e chamado de Paulo (cf. Atos 9:1-7; 22:6-10; 26:12-16; 1 Cor. 9:1-2; 15:3-11).”[3]

 

Capítulo 2: A justificação pela fé em Cristo Jesus

1.Paulo visitou Pedro, não para aprender sobre a Igreja, pois ele já havia aprendido nos três anos com Jesus. O principal da Igreja, Pedro, e aquele que viria a ser o principal se encontram para ter comunhão. Depois de Paulo visitar seus familiares na Síria e Cilícia e trabalhar em Antioquia, volta para Jerusalém com Barnabé e Tito. Passaram-se quatorze anos. Paulo não estava obedecendo algum concílio ou determinação de alguma igreja, seja Antioquia ou Jerusalém. Ele foi movido pela revelação do Senhor. O modo que ele pregava aos gentios era aprendido com Jesus e todos os demais apóstolos deveriam seguir o mesmo exemplo. Os irmãos em Jerusalém respeitaram o conteúdo da mensagem do evangelho e não exigiram a circuncisão de Tito. Os crentes não deveriam retroceder por causa dos judaizantes. Paulo não tinha respeito pelos falsos irmãos que eram falsos mestres e não crentes. Paulo e Pedro não eram rivais, embora a tendência de seus ministérios era para grupos diferentes[4]. Todos concordaram que Paulo era um obreiro aos gentios, mas esperavam que ele se lembrasse dos judeus por onde fosse, sendo que muitos eram pobres, Paulo levantou ofertas nas províncias para ajudá-los em Jerusalém (2.1-10).

 

“Aqui aprendemos que o Evangelho não pertence a nós, mas a Deus, e que nós os homens somos apenas seus guardiães. Por esta razão temos que louvar a Deus. O apóstolo mostrou a sua disposição à caridade e o quão disposto estava para aceitar aos judeus convertidos como irmãos, ainda que muitos dos apóstolos dificilmente permitiriam igual favor a estes; porém, somente a diferença de opiniões não era um motivo justo para que não os ajudasse. Aqui está um padrão do amor cristão, que devemos sempre estender a todos os discípulos de Cristo.”[5]

 

2.Se havia problema por parte dos judaizantes, havia também entre os crentes, pois Pedro estava agindo como se fosse errado estar com os gentios e ficava com medo que os judeus o confundissem como aquele que dava importância a outro povo. Não era necessário isto, pois judeus e gentios crentes são irmãos em Cristo, sem qualquer barreira. Pedro e até Barnabé estavam de alguma forma sendo judaizantes e legalistas. Paulo explica que os crentes não andam segundo os próprios esforços, mas vivem debaixo da graça do Senhor Jesus que nos uniu. O legalismo é uma forma de edificar aquilo que já foi destruído, as obras da carne e da lei. A morte de Cristo operou a salvação e nos deu o privilégio de morrer com Cristo. Dessa forma, tudo vem Dele e nossas obras de justiça operadas pelo Espírito Santo retornam para o Senhor em glória  (2.11-21).

 

“Como devemos considerar a ação de Pedro? Ele sabia [sobre o assunto] (At 10.9-48, 11.1-18, 15.8-11). Aparentemente, a instabilidade de Pedro, um traço visto claramente durante o ministério terreno de Cristo, estava surgindo novamente. Mas para o seu crédito, parece que Pedro aceitou a repreensão de Paulo graciosamente. Ao fazer isso, ele confirmou sua própria integridade e a autoridade apostólica de Paulo. (Em 2 Pe 3.15, vemos como Pedro, anos mais tarde, revelou sua afeição pelo homem que o reprovou ao referir-se a ele como ‘como amado irmão Paulo.’”[6]

 

Capítulo 3: Abraão e a promessa, a lei e o aio

1.Segundo o comentarista Barnes, o capítulo 3 de Gálatas trata dos seguintes assuntos: “Uma severa reprovação aos gálatas por terem sido facilmente seduzidos... Ele [Paulo] apela a eles para mostrar-lhes que os grandes benefícios que receberam não foram em conseqüência à observação dos ritos mosaicos... Ilustração à doutrina da justificação pela fé... referindo-se a Abraão... A Lei pronunciou uma maldição a todos que estão debaixo dela...”[7]

 

2.O desafio da vida cristã é começar bem, prosseguir bem e concluir bem a carreira neste mundo. Os gálatas começaram bem, não estavam prosseguindo bem e para voltar ao caminho correto, Deus mandou Paulo para corrigi-los. É fácil deixar a graça de Deus e viver pelos próprios esforços, ou seja, pela Lei. As pessoas mostram os sintomas do desvio da graça para a lei, que é a tentativa de exercer a justiça própria para agradar a Deus, logo no início da vida cristã e por toda a vida. Os expositores da Bíblia precisam corrigir esta falha através do ensino. O crente que fica fascinado por outros temas deixar de pregar Cristo crucificado. Não há salvação fora dessa mensagem. Não há como vencer o pecado dia-a-dia se não nos considerarmos mortos com Cristo na cruz. O crente que fica fascinado pelo mundo foge da pregação da fé. Quem deseja novos rumos pode estar caindo num caminho muito perigoso, pois a vida do crente é baseada na fé (v.1-2).

 

3.O crente que fica fascinado por outras filosofias de vida rejeita a luta do Espírito contra a carne. A carne é cheia de enganos. É um modo de agir que não combina com o poder do Espírito Santo. O crente que fica fascinado pelas facilidades dos outros evangelhos não aceita o fato do sofrimento cristão. Para chegar à maturidade cristã sofremos muito. Não é em vão. Vale a pena, pois ganharemos a graça para cada dia (v.3-4).

 

4.O crente que fica fascinado com este mundo não consegue enxergar as maravilhas de Deus. Ninguém, exceto o nosso Deus, pode operar maravilhas. Tudo o que fazemos com o esforço próprio é apenas uma imitação muito fraca. É falso (v.5).

 

5.Portanto, desprezar a cruz, a fé, o Espírito, o sofrimento cristão e as maravilhas de Deus é fugir da simplicidade do Evangelho. É um sintoma do desvio da graça para a lei para viver a justiça própria. Não precisa ser judeu para ser um filho de Abraão, mas sim andar por fé, assim como ele andou. Deus disse para Abrão: “Sai da tua terra e da tua parentela para uma terra que eu te mostrarei.” Isto exigiu fé, pois Abrão não sabia que terra era esta e o que o aguardava. Todos os que levam a vida de fé a sério são filhos de Abraão. Todos os que crêem em Cristo como Salvador são filhos de Abraão (v.6-9).

 

6.Um sintoma do desvio da graça é não viver como Abraão. Ele saiu por fé, esperou o nascimento de Isaque por fé, pois Sara era estéril. Ele subiu a montanha para sacrificar o seu único filho por fé, esperando que se o matasse Deus ressuscitaria o seu filho. Qualquer que seja a ordem de Deus para a nossa vida, devemos obedecer por fé, pois Ele providenciará para que tudo tenha bom resultado. Parece estranho dizer isto, pois “maldição” é uma palavra indesejada para todos os crentes. Mas quando não vivemos dependendo da graça (do favor) de Jesus, estamos debaixo de uma maldição, que é a maldição da lei (v.10-12).

 

7.Todo o crente que deseja agradar a Deus com a sua própria justiça está errando o alvo da vida cristã. Cristo sofreu a maldição da cruz para que não soframos a maldição da lei. Não temos nada para oferecer a Deus que O agrade. Somente quando o Espírito Santo nos capacita para fazer a obra de Deus é que somos aceitos. Abraão exerceu fé e isto nos serviu de exemplo. Cristo morreu por nós e isto nos serve para nos capacitar para fazermos a Sua vontade. Pensamos que o crente desviado é aquele que não vem mais para a Igreja. Isto é verdade, mas não é toda a verdade. Podemos frequentar a Igreja e ainda assim nos desviarmos da graça de Jesus. Toda vez que fujo da simplicidade do Evangelho, não vivo como um filho de Abraão e vivo dependendo dos próprios esforços, da minha capacidade, estou me desviando da graça de Cristo e dependendo da lei e o resultado de viver debaixo da lei é maldição, sem poder agradar a Deus. Provérbios 15.10 pode ser visto como o castigo para o que se desvia da graça para a lei. (v.13-14).

 

8.Os que desejam criar regras próprias para serem aceitos por Deus estão correndo o grande perigo de infração da lei de Cristo. Ou seguimos as próprias leis que criamos ou aceitamos a lei de Deus em Cristo Jesus. Paulo passa a mostrar aos crentes e aos judaizantes a superioridade da graça em relação à lei. É claro que a lei teve o seu valor, pois ela vem do próprio Deus e, portanto, é santa. Porém, a lei já cumpriu o propósito que era conduzir pecadores desesperados até Àquele que podia salvá-los. Assim como nas leis humanas ninguém vai anulando aquilo que já foi ratificado, ou seja, confirmado, da mesma maneira não temos autoridade de substituir a graça dada por Deus por obras praticadas por nós mesmos (v.15).

 

“Falo como homem. Esta é uma expressão técnica, uma espécie de pedido de desculpas. A imutabilidade dos arranjos divinos estaria além de qualquer debate, mas Paulo acha que é necessário discutir o assunto para tomar inteiramente compreensível aos seus leitores. Mesmo nos arranjos humanos, uma vez confirmados, uma parte do convênio não pode, por si mesmo, deixá-lo de lado como se não mais vigorasse, nem pode lhe acrescentar algo como nos testamentos.”[8]

 

9.A graça de Deus ou o favor imerecido não surgiu como plano de última hora para salvar os pecadores, mas foi concedida a todos os pecadores desde o início. É evidente que nem todos aceitam a graça de Deus, mas os que recebem o presente de Deus sem obras próprias são salvos e se tornam filhos de Deus. Paulo nos esclarece que a promessa de Deus para Abraão não era simplesmente uma multidão de pessoas, mas Uma Pessoa que é Cristo Jesus. Quando muitos pensavam que o descendente de Abraão fosse Isaque ou Jacó, Paulo revela que é Cristo. Nele, todas as famílias da terra são abençoadas com a salvação (v.16).

 

10.A promessa de Deus feita a Abraão nada tem a ver com o regime da Lei de Moisés, pois foi feita 430 anos antes da instituição da Lei. A graça é superior à lei, pois veio antes da lei. É impossível ab-rogar, ou seja, anular a graça. O que Cristo fez na cruz nada tem a ver com as obras do homem. Ninguém é salvo porque fez alguma coisa, mas porque Cristo fez. O fato do pecador aceitar a salvação não significa que ele possa se orgulhar como se tivesse algum mérito. Ninguém tem mérito por estar morrendo de sede, caído no deserto, e alguém colocar uma jarra de água fresca na frente dele e ele tomar a água em grandes goles. É o que qualquer desesperado faria. O pecador não tem mérito por aceitar a salvação disponível em Cristo. Ele fez o que todo pecador desesperado deveria fazer (v.17-18).

 

11.A lei de modo algum pode anular a graça de Cristo.  Não há nada que o pecador possa fazer para ser salvo e não há nada que um crente possa fazer para se considerar mais salvo do que o seu irmão em Cristo. Além da lei não ter poder anular a graça, a lei é temporária, mas a graça é eterna. Paulo usa a expressão “até”, indicando que a lei foi temporária. A razão disso foi para mostrar ao pecador que ele não pode chegar até Deus tentando cumprir normas, ainda que divinas, pois ele se mostra falho em cumpri-las. Afinal de contas, não é uma blasfêmia falar que a lei é inferior à graça, sendo que ambas são dadas por Deus? A lei foi promulgada, ou seja, instituída por Deus. Ela foi entregue a anjos e estes entregaram para Moisés. Como pode não ser eterna? Paulo responde que a lei foi adicionada depois da graça concedida a Abraão por causa dos pecados. O quanto o homem tiver seus pecados em relevo mais poderá ver a graça de Deus. O objetivo é empurrá-lo para a graça totalmente sem esperança em si mesmo (v.19).

 

“Para que serve então a lei? Se, conforme Paulo afirma, a lei não anulou nem adicionou condições à promessa de Deus a Abraão, qual era o propósito da lei? Revelar o pecado no seu verdadeiro caráter de transgressão. O pecado existia antes da lei, mas o homem não o reconheceu como transgressão até o advento da lei. Transgressão e violação de uma lei conhecida. A lei foi dada à uma nação de pecadores. Nunca poderiam obter justiça por guardá-la porque não tinham poder para lhe obedecer. A finalidade da lei era mostrar aos homens quão pecaminosos eram; sendo assim, que pedissem a Deus que os salvasse por sua graça.”[9]

 

12.Há dois mediadores, mas apenas um Deus. Moisés é o mediador entre Deus e os israelitas e Jesus Cristo é o mediador entre Deus e todos os pecadores. Também não há dois métodos de salvação, a lei e a graça. A salvação sempre foi pela graça. O pecador recebe o favor de Deus, crê Nele e aceita fazer o que Ele manda como única maneira de ser salvo. Antes de Cristo, o pecador aceitava o modo de salvação instituído por Deus que era sacrificar um animal, crendo no Libertador que viria. Com a vinda de Cristo, o pecador aceita o modo de salvação instituído por Deus que é crer no sacrifício perfeito de Seu Filho, Jesus Cristo (v.20).

 

13.A lei e a graça não estão lutando entre si. Simplesmente a graça é superior à lei, pois a finalidade da lei era mostrar que o pecador precisava da graça de Deus para ser salvo e a lei cumpriu muito bem o seu papel. Se a lei pudesse salvar alguém, então a salvação não seria pela graça, mas pelos nossos méritos. Acontece que se dependêssemos de nossos méritos jamais seríamos salvos da ira de Deus (v.21).

 

14.A Palavra de Deus simplifica a situação dos pecadores. Não se faz a pergunta: “Quem precisa mais de salvação” ou “Quem é mais pecador?”, mas em vez de uma pergunta é feito um convite: “Venham todos vós que tendes sede e bebei da água viva”. Todos os pecadores foram colocados debaixo do pecado para que a graça fosse manifestada a todos (v.22).

 

15.Antes que crêssemos éramos tutelados pela lei, ou seja, tentávamos nos salvar através de nossos próprios esforços, mas só nos cansamos. Esta pode ser uma maneira de entender este versículo, porém, o mais provável é que Paulo se refira aos judeus antes de Cristo. A lei era a tutela, ou seja, a lei guardava a todos até que viesse Cristo. Os que praticavam os sacrifícios que a lei exigia estavam guardados, mas só até Cristo vir. Com a vinda de Cristo, o pecador deve decidir se O aceita ou não, pois a lei não pode ir além de Cristo (v.23).

 

16.A lei serviu de aio para o pecador. Aio é a tradução da palavra “pedagogos” que era um escravo ou pessoa de confiança que cuidava de um menino grego ou romano, educando-o ou disciplinando-o até que ele fosse maior de idade. O trabalho do aio incluía cuidar da moralidade do menino, levá-lo para a escola e ajudá-lo nos estudos. O aio era limitado no sentido de fazer o menino se tornar um bom caráter e estudioso, mas pelo menos o levava até a fonte. A lei de Moisés conduziu o povo de Israel e todos os demais que aceitassem a fé judaica até Cristo. A lei não tem como objetivo mudar o coração de ninguém, mas conduzir o pecador, apontando-lhe os pecados, até que não veja nenhum outro caminho, senão Cristo (v.24).

 

17.Com a fé depositada em Cristo, o crente não precisa mais da lei. Ele não despreza a lei como se ela fosse má, mas agradece a Deus por ter revelado o seu pecado por meio da lei. O menino, agora transformado em adulto, não fica com raiva do aio que o conduziu, pelo contrário, fica agradecido porque cumpriu a sua função. Porém, o aio não é mais necessário. Em Cristo, não precisamos mais da lei para nos revelar pecados, pois deles já fomos salvos (v.25).

 

18.Somente os crentes são filhos de Deus. Os que ainda confiam em seus próprios méritos para serem salvos não são filhos de Deus, pois a lei não gera filhos para Deus, mas apenas conduz pecadores desesperados até Cristo (v.26).

 

19.O crente é batizado em Cristo, ou seja, foi colocado dentro do Corpo de Cristo chamado Igreja. O presente que recebemos por essa nova posição foi a própria Pessoa de Cristo em nós. O crente está de roupa nova, ou seja, revestido de Cristo. A lei jamais podia fazer isto, somente a graça de Deus. A lei só mostra o pecado, mas a graça nos limpa dos pecados (v.27).

 

20.Assim Paulo conclui as suas comparações entre a lei e a graça. Não há diferença no Corpo de Cristo, pois todos somos pecadores redimidos pela graça, somos herdeiros da promessa feita a Abraão. Fomos abençoados no descendente de Abraão que é Cristo Jesus. A graça é superior à lei porque a lei não consegue anular a graça e a lei não é eterna como a graça. Mas isto não quer dizer que Deus tem uma corda com a lei e a graça nas pontas, lutando uma contra a outra. A lei teve a sua função e cumpriu muito bem. A graça sempre esteve presente salvando pecadores que deixaram de confiar em sua capacidade de cumprir a lei ou viver pelos próprios méritos (v.28-29).

 

Capítulo 4: A filiação do crente. As duas alianças

1.A menoridade quase não é diferente do que a escravidão, pois embora o menor seja dono de tudo não é dono de nada. Um herdeiro sem posse. Debaixo da lei do esforço próprio e debaixo do sistema do mundo não éramos filhos de Deus. Até o judeu sem Cristo não tinha filiação, pois nenhum judeu poderia chamar Deus de Aba, Pai. Podiam apenas dizer que Deus é o Pai da nação de Israel, mas não individualmente. Quando Cristo veio, no tempo certo ou na plenitude dos tempos, fez esta filiação de maioridade possível. O Espírito Santo é a certeza de novo relacionamento (v.1-7).

 

“Paulo se alicerça no fato de que em uma família nobre antiga, embora o menino, filho do senhor, fosse o herdeiro em potencial de tudo, não desfrutava dessa exaltada posição de herdeiro, vivia em estado de treinamento infantil, sob educação e disciplina, estando sujeito à orientação de algum escravo que tinha autoridade sobre ele. A lei, por conseguinte, conserva um indivíduo debaixo dessa baixa posição espiritual até que ele seja liberado pela graça, para que venha a participar nas grandes e elevadas bênçãos que estão envolvidas na lei.”[10]

 

2.Quem desejaria voltar a menoridade e abrir mão dos direitos de herdeiro? É tão bom ser filho com todos os direitos. Quando o crente quer viver com os próprios esforços está desprezando sua adoção e voltando a ser como um escravo. Fazíamos de nossas regras nossos deuses. Achávamos que se obedecêssemos a todas as regras agradaríamos ao deus legalismo. Paulo teme ter desperdiçado seu tempo, pois os gálatas estavam voltando aos rudimentos do mundo e do legalismo (v.8-11).

 

“As igrejas evangélicas possuem tipos diferentes de observância, e é errado ir além da Palavra de Deus e comparar, criticar ou condenar. No entanto, todos devemos ter cuidado com o espírito legalista que alimenta a carne, conduz ao orgulho e transforma um acontecimento exterior em substituto para uma experiência interior.”[11]

 

3.Paulo relembra aos gálatas como foram solícitos ao receberem a mensagem e o respeito para com o apóstolo. A doença nos olhos de Paulo é sugerida nesses versículos. Os falsos mestres estavam perturbando o entendimento dos gálatas e tudo com muito zelo. Por isso, devemos advertir os crentes que não fiquem simpatizados com os seguidores de seitas e ensinos errados. Eles são esforçados porque querem ganhar pessoas e manterem sua “salvação”. Tudo o que fazem é por motivos egoístas. O sistema de crença deles é todo apoiado em obras. Eles querem excluir, afastar e anular os crentes do evangelho verdadeiro e de Paulo. É bom que os gálatas sejam zelosos, mas não dos falsos mestres e sim zelosos do evangelho. Paulo fala com amor, mas o tom é de repreensão, pois já não são meninos no evangelho e, por isso, já deveriam ter aprendido que não se deve trocar a graça do Senhor Jesus por obras da lei que é o esforço próprio (v.12-20).

 

4.Já que os gálatas estão tão interessados na lei, a própria lei tem ensino suficiente de que estão errados. Paulo usa o recurso alegórico de Abraão, Agar e Sara que, de fato, representam dois pactos. A lei e a promessa, o esforço próprio e a graça. Agar representa o Sinai, a Lei e a Jerusalém terrena que atualmente está escravizada, ou seja, na época em que Paulo escreveu Roma ainda dominava Jerusalém. Sara representa a mãe dos salvos, a Jerusalém celestial. Assim como Ismael se tornou inimigo de Isaque, os judaizantes com seu ensino legalístico são inimigos dos crentes que vivem debaixo da graça. Um é escravo e outro é livre (v.21-31).

 

 

 

 

 

Capítulo 5: As obras da carne e o fruto do Espírito Santo

1.Cristo chama o crente para ser livre. A circuncisão seria uma volta à escravidão. Os gálatas não eram devedores a nenhum judeu, pois eram gentios. Nem mesmo precisavam se circuncidar para serem aceitos pelos amigos, como foi o caso de Timóteo que era meio-judeu. A circuncisão, embora, tenha vindo antes da Lei de Moisés foi o selo de obediência de toda a Lei. A circuncisão não era independente da Lei. Aceitando a circuncisão estariam aceitando um andar debaixo da Lei com todas as suas implicações. Se Cristo já cumpriu a Lei, morrendo a morte que a Lei exigia do pecador, por que voltar à escravidão? Este retrocesso é chamado aqui de “cair da graça”. Não se trata de perda da salvação, mas de um desvio da graça do Senhor Jesus para viver com os méritos próprios para agradar a Deus. O que conta no relacionamento com Cristo na vida cristã não é a circuncisão ou a incircuncisão e sim o andar pela fé na graça Dele (v.1-6).

 

2.Os gálatas não foram sempre legalistas. Quando começaram a ouvir os ensinos falsos se desviaram para confiar em si mesmos e suas próprias obras para agradar a Deus. O crente não tem imunidade contra os falsos ensinos, por isso, deve se manter debaixo da graça por fé, confiando que Cristo que habita em nós pelo Espírito Santo é quem opera a Sua vontade para glorificar a Deus. Não é o que eu tenho que fazer para agradar a Deus, mas aquilo que Ele fará através do crente que deposita sua fé Nele. Paulo afirma que os falsos mestres não ficaram sem a punição de Deus. Eles acusam Paulo de ser um judaizante, mas se isto fosse verdade ele não seria perseguido por eles. Se ele fosse um judaizante não deveriam se escandalizar com a mensagem da cruz. Paulo não é tolerante para com os judaizantes. Ele faz um trocadilho com a prática da circuncisão que é um tipo de mutilação, no versículo 12. O legalismo que é o andar debaixo da lei como forma de tentar agradar a Deus não produz o cerne da Lei que é o amor. Pelo contrário, onde entra o legalismo, a inveja e falta de amor aparecerão entre os irmãos. Parece que os gálatas estavam se devorando através do orgulho e inveja como se lê no último versículo do capítulo (v.7-15).

 

“Com sarcasmo, Paulo sugere que seus contraditores não se limitem a circuncidar-se, mas sim cheguem ao extremo de mutilar-se. trata-se de uma possível alusão a certos ritos pagãos praticados na Galácia, (p.e., castrar-se) e, possivelmente, refira-se também ao Dt 23.1, onde se exclui do povo de Deus ao que tenha sido assim mutilado.”[12]

 

3.Os próximos versículos talvez sejam os mais lidos e estudados desta carta. Há um antagonismo entre a carne e o Espírito. Aquilo que fazemos com nossos próprios esforços e aquilo que o Espírito faz em nós e através de nós por causa da submissão à Sua vontade por fé. A mensagem não pode ser invertida: “Andai pelo [ou no] Espírito, e não haveis de cumprir a cobiça da carne”. É o Espírito trabalhando em nós e não: “Não cumpram a cobiça da carne e como resultado andarão no Espírito”. Não podemos lutar contra a carne por esforços próprios e mesmo que pudéssemos não seria fé ou graça, mas esforço próprio e salário. A seguir, Paulo alista as 15 obras da carne, ou seja, tudo o que conseguimos produzir com o esforço próprio. Os que praticam as obras da carne não são cidadãos do céu. Se um crente as pratica não significa que perdeu a salvação ou que nunca foi salvo, mas lamentavelmente está andando como um indigente do inferno e não como um cidadão do céu. Por outro lado, o fruto do Espírito, com suas nove virtudes, mostra a unidade e não um estoque de coisas boas para praticarmos. Ou somos controlados pelo Espírito e temos todas as qualidades ou estamos em desobediência. Não se trata de imitar as virtudes do Espírito, mas de obedecê-lo. Podemos chamar este princípio de “Plenitude do Espírito”, conforme Efésios 5.18. A nossa identificação na morte com Cristo tornou possível agradarmos a Deus. Os gálatas, agindo por esforços próprios, estavam mostrando orgulho e inveja e evidentes obras da carne e não o fruto do Espírito (5.16-26).

 

“Deus está interessado em cada parte de nossas vidas, não só espiritual. Ao viver pelo poder do Espírito Santo, devemos render cada aspecto de nossa vida a Deus: emocional, física, social, intelectual, vocacional. Paulo diz: É salvo, portanto, viva de acordo a esta realidade! O Espírito Santo é a fonte de sua nova vida, de modo que caminhe com Ele. Não permita que nada ou ninguém mais determine seus valores e normas em qualquer área de sua vida.”[13]

 

Capítulo 6: A glória do crente na cruz de Cristo

1.Como o legalista jamais pensa em outros, mas apenas em si mesmo, o apóstolo Paulo apresenta testes para a vida cristã quanto ao relacionamento para com os que falham, para com os obreiros, para com os necessitados e para com o próprio apóstolo Paulo e Cristo. Ele começa a testar os gálatas quanto ao relacionamento para com aqueles que estão em falha na vida cristã. É necessário paciência e cuidado, pois a Lei de Cristo exige que levemos os pesos uns dos outros. Não podemos pensar que só os outros falham, nós também falhamos e precisamos da misericórdia dos irmãos. Se não agirmos assim seremos arrogantes. Por outro lado, cada um é responsável em cuidar de seu relacionamento com Deus (v.1-5).

 

“A queda de um irmão deveria ser, em qualquer situação, a ocasião de examinar o próprio coração e humilhar-se profundamente. Sentimentos de indiferença diante dele, muito mais de desprezo, provarão o prelúdio de uma queda pior para nós mesmos.”[14]

 

2.Outro relacionamento do crente é para com os que ensinam a Palavra de Deus. A igreja precisa sustentar esses irmãos, pois se dedicam a ensinar. Esse ensino é acompanhado de uma advertência sobre zombar de Deus. O mestre semeia ensino e o aluno semeia sustento para o mestre. Se o relacionamento for saudável, então a colheita será boa, mas se não for, as obras da carne prevalecerão (v.6-7).

 

3.O cuidado da igreja para com os necessitados é outro relacionamento que o legalista não quer se dedicar. Haverá recompensa no tempo do Senhor para os que ajudarem aos necessitados. É importante que a igreja se lembre de seus membros antes mesmo dos incrédulos (v.8-10).

 

4.Paulo termina falando do relacionamento com ele mesmo e com Cristo. Paulo não escrevia suas cartas, mas pedia para amigos escreverem. Normalmente, ele escrevia as saudações para que se tornasse mais pessoal. Por causa de seu problema de visão, as letras saiam grandes. Ele adverte os gálatas contra os falsos mestres que ensinam a circuncisão para não sofrerem perseguição dos judaizantes. Eles mesmos não guardam a Lei, mas querem que os gálatas se circuncidem como troféus diante dos amigos judaizantes. Os crentes não devem dar esse prazer para eles, pois o crente não vive de aparência. A glória de Paulo não é como a dos judaizantes. Ele se gloria em Cristo e não em seus discípulos. O que realmente vale é ser uma nova criatura, alguém que aceitou a cruz de Cristo e que morreu com Cristo também. O fato de ser circuncidado ou não, não conta para a santificação. Esta é a regra pela qual o crente anda. Aqui Paulo usa um termo para mostrar aos judaizantes que o verdadeiro crente é um verdadeiro israelita, pois somos filhos de Abraão que foi justificado pela fé. O apelo de Paulo a respeito de sua autoridade como apóstolo está no seu sofrimento por causa do evangelho. Ele é circuncidado, mas as marcas que ele menciona são as marcas de Cristo em seu corpo, ou seja, os açoites que sofreu por ser fiel a Cristo. A saudação final se refere ao espírito, pois sendo que estavam vivendo na carne com todo o legalismo, precisavam se santificar no espírito e não na aparência carnal (v.11-18).

 

“Ele não se gloria no fato de que as pessoas se circuncidavam ou se batizavam (1 Co 1.17). Ele não se gloria no fato de que eles fazem isso ou aquilo, que observam tempos e épocas, leis ritualistas sobre comida ou leis de ‘purificação’. Ele não se gloria em qualquer atividade deles. Ele não se gloria em atividade religiosa de qualquer tipo. Ele se gloria apenas em uma coisa: ‘na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo’ que liberta os homens e Naquele que morreu na cruz, o Senhor da glória que morreu e ressuscitou e naqueles que morreram na cruz com Ele e encontraram nova vida.”[15]

 

Da graça para o legalismo em Gálatas (Gl 1-6)

1.Da graça para outro evangelho (1.6-9)

2.De agradar a Deus para agradar aos homens (1.10)

3.Da liberdade para a escravidão (2.4)

4.De livre de aparências para uma vida de aparências (2.14)

5.De uma vida guiada pelo Espírito para uma vida vivida pela carne (3.4)

6.De conduzido por Cristo para guiado pela Lei (3.24)

7.De conhecendo a Deus para os rudimentos do mundo (4.8-11)

8.De filhos da promessa para filhos da escrava (4.28-31)

9.De uma boa corrida para uma estagnação (5.7-9)

10.Do amor aos irmãos para às intrigas e inveja (5.15,26)

11.Da modéstia para a presunção (6.3)[16]

12.De regras legalistas para uma regra simples e divina (6.15-16)


Pércio Coutinho Pereira, 2020 - 1ª ed. 2012

 

Notas

 

1.     1.Informações técnicas, tais como data, local e autoria tiveram como fonte o livro “Introdução ao Estudo do NT” de  Broadus David Hale, JUERP, 1983, RJ

2.A elaboração das “dificuldades e curiosidades” foi desenvolvida por Pércio Coutinho Pereira

2.     A Commentary on St. Paul's Epistle to the Galatians – Gl 1.6 - Martin Luther (Grand Rapids, MI: Christian Classics Ethereal Library – Publicado originalmente em 1539 na Alemanha - Grand Rapids: Zondervan – Essa impressão em 1939)

3.     Notes on Galatians, pg. 16 – Gl 1.11-17 - Dr. Thomas L. Constable (Published by Sonic Light - 2014 Edition)

4.     Poderíamos aplicar isto aos missionários que atualmente trabalharam na evangelização de judeus e outros que evangelizam muçulmanos. Ambos desejam a salvação dos dois povos.

5.     Comentário Bíblico de Matthew Henry – Gl 2.1-10 (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - 3ª Edição - 2003)

6.     Knowing God through Galatians – Gl 2.11-19 - Herb Vander Lugt (RBC Ministries - Grand Rapids, MI – 2003)

7.     Barnes New Testament Notes (The epistle to the Galatians) - Albert Barnes (Philadelphia 1869) The online Bible version 8.1 – 2000 – Publicado por Larry Pierce

8.     Comentário Bíblico Moody – Gl 3.15 (Editado por Charles F. Pfeiffer – Imprensa Batista Regular 4ª impressão 2001)

9.     Comentário Bíblico Popular Antigo Testamento, pg. 592-593 – Gl 3.19 – William MacDonald (Editora Mundo Cristão – SP – 2ª ed. junho de 2011 – impresso na China)

10.  O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo vol. 4, pg. 480 – Gl 4.1 – Russell Norman Champlin (Editora Candeia – São Paulo – SP – 1ª ed. 1995 - 10ª impressão outubro de 1998)

11.  Comentário Bíblico Expositivo do NT – vol. 1, pg. 925 – Gl 4.8-11 – Warren W. Wiersbe (Editora Geográfica – 1ª edição 2006)

12.  Notas da Biblia Reina-Valera (Biblia Hispanica) (1995) – Gl 5.12 (extraído de e-sword version 12.0.1 – 2019)

13.  Comentarios de la Biblia del Diario Vivir – Gl 5.25 - Compilado por Maqui, (a)  Rabí Gamaliel, 1997 EDITORIAL CARIBE - Una división de Thomas Nelson - P.O. Box 14100 (extraído de e-sword version 12.0.1 – 2019)

14.  The Preacher's Complete Homiletical Commentary – Gl 6.1-5 - Edited by the Rev. Joseph S. Exell - Published in 1892; public domain (extraído de e-sword version 12.0.1 – 2019)

15.  Dr. Peter Pett's Commentary – Gl 6.14 - Commentary Series on the Bible - Copyright 2013 (extraído de e-sword versão 12.0.1 – 2019)

 



[1] 1.Informações técnicas, tais como data, local e autoria tiveram como fonte o livro “Introdução ao Estudo do NT” de  Broadus David Hale, JUERP, 1983, RJ

2.A elaboração das “dificuldades e curiosidades” foi desenvolvida por Pércio Coutinho Pereira

 

[2] A Commentary on St. Paul's Epistle to the Galatians – Gl 1.6 - Martin Luther (Grand Rapids, MI: Christian Classics Ethereal Library – Publicado originalmente em 1539 na Alemanha - Grand Rapids: Zondervan – Essa impressão em 1939)

 

[3] Notes on Galatians, pg. 16 – Gl 1.11-17 - Dr. Thomas L. Constable (Published by Sonic Light - 2014 Edition)

[4] Poderíamos aplicar isto aos missionários que atualmente trabalharam na evangelização de judeus e outros que evangelizam muçulmanos. Ambos desejam a salvação dos dois povos.

[5] Comentário Bíblico de Matthew Henry – Gl 2.1-10 (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - 3ª Edição - 2003)

[6] Knowing God through Galatians – Gl 2.11-19 - Herb Vander Lugt (RBC Ministries - Grand Rapids, MI – 2003)

[7] Barnes New Testament Notes (The epistle to the Galatians) - Albert Barnes (Philadelphia 1869) The online Bible version 8.1 – 2000 – Publicado por Larry Pierce

[8] Comentário Bíblico Moody – Gl 3.15 (Editado por Charles F. Pfeiffer – Imprensa Batista Regular 4ª impressão 2001)

[9] Comentário Bíblico Popular Antigo Testamento, pg. 592-593 – Gl 3.19 – William MacDonald (Editora Mundo Cristão – SP – 2ª ed. junho de 2011 – impresso na China)

[10] O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo vol. 4, pg. 480 – Gl 4.1 – Russell Norman Champlin (Editora Candeia – São Paulo – SP – 1ª ed. 1995 - 10ª impressão outubro de 1998)

[11] Comentário Bíblico Expositivo do NT – vol. 1, pg. 925 – Gl 4.8-11 – Warren W. Wiersbe (Editora Geográfica – 1ª edição 2006)

[12] Notas da Biblia Reina-Valera (Biblia Hispanica) (1995) – Gl 5.12 (extraído de e-sword version 12.0.1 – 2019)

[13] Comentarios de la Biblia del Diario Vivir – Gl 5.25 - Compilado por Maqui, (a)  Rabí Gamaliel, 1997 EDITORIAL CARIBE - Una división de Thomas Nelson - P.O. Box 14100 (extraído de e-sword version 12.0.1 – 2019)

[14] The Preacher's Complete Homiletical Commentary – Gl 6.1-5 - Edited by the Rev. Joseph S. Exell - Published in 1892; public domain (extraído de e-sword version 12.0.1 – 2019)

[15] Dr. Peter Pett's Commentary – Gl 6.14 - Commentary Series on the Bible - Copyright 2013 (extraído de e-sword versão 12.0.1 – 2019)

[16] O leitor notou uma mudança da lógica no último ponto, pois até o momento foram apresentados argumentos do positivo para o negativo e, agora, como uma conclusão, partimos de uma regra negativa para uma regra positiva. Considere, portanto, o último ponto como uma refutação aos anteriores.

 

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