52 Filipenses

 Filipenses


 Introdução[1]

1.Autor da carta

Paulo, o apóstolo. Esta é outra carta de prisão. Da mesma forma que Éfeso, a carta aos filipenses, foi reconhecida desde o início, pelos pais da Igreja, como sendo de autoria de Paulo.

2.Data e local da carta

A data depende de qual prisão está Paulo. Quase sempre se pensa que estava preso em Roma. A

menção de “guarda pretoriana” (1.13) e “os da casa de César” (4.22) poderiam definir que se trata da prisão em Roma. O fato é que em Éfeso também havia guarda pretoriana e escravos do governo romano os quais eram da casa de César. É provável que Paulo também tenha sido preso em Éfeso. Mas, considerando a grande aceitação que essa carta foi escrita da prisão em Roma, o ano 60 a.D. é o mais correto.

3.Cidade

Foi uma cidade importante do Império Romano, considerada uma porta de entrada da Europa em relação aos visitantes provenientes da Ásia. Localizada no Leste da antiga província da Macedônia, a 13 quilômetros do mar Egeu, no topo de uma colina. Sua origem remonta aos trácios, povo conquistado em 358 a.C. pelo rei Filipe da Macedônia. A cidade recebeu esse nome em homenagem ao seu conquistador. Em 108 a.C. passou ao controle romano. Em 42 a.C., foi palco da batalha de Marco Antônio e Otávio Augusto, que buscavam vingar a morte de Júlio César, contra Brutus e Cássio. Nove anos mais tarde, Otavio, futuro Augusto, venceu Marco Antônio e Cleópatra. Os veteranos dessas batalhas instalaram-se em Filipos, e a cidade acabou ganhando status de colônia romana e o Ius Italicum, o que a tornava uma réplica menor de Roma. Seus cidadãos tinham cidadania romana e possuíam inclusive direitos de propriedade equivalentes aos de uma terra em solo italiano. Os oficiais políticos eram descendentes dos soldados romanos, o que reforçava ainda mais o caráter latino da cidade, refletindo também seu pensamento e religião. Eram frequentes os cultos às divindades romanas, como Júpiter, Juno e Marte, e a antigos deuses italianos. As divindades gregas não tinham muito destaque. Persistia, porém, adoração a deuses trácios.

 

4.Objetivos da carta

1) Agradecer a oferta recebida, enquanto estava preso, por mãos de Epafrodito, vinda dos filipenses. Epafrodito levou essa oferta debaixo de muito sofrimento, pois ficou doente quase à morte (2.25,28, 4.14,18).

 

2) Colocar-se como exemplo de alegria, mesmo debaixo de sofrimento, a fim de incentivar os crentes (1.4, 4.4).

 

5.Versículo-chave da carta

Sendo que há um desafio a alegrar-se mesmo debaixo de sofrimento e prisão por causa do evangelho, um versículo que se encaixa bem nesse desafio é 4.4.

 

 

6.Tema e palavras-chaves

O tema é “Alegria no Senhor”. As palavras importantes dessa carta são: alegria, alegrar-se, regozijo, regozijar-se, prisões, cooperador e evangelho.

 

7.Dificuldades encontradas na carta

1) Parece que não importa a motivação, o que importa é a pregação do evangelho!? Não é isso que Paulo quer dizer. O que ele reconhece é que há falsos pregadores que invejam Paulo e querem prejudicá-lo, mas que não há como impedir que a Palavra de Deus se expanda, inclusive na cadeia. Portanto, importa, sim, como se anuncia a Palavra. O que não importa é se por causa da inveja pregadores são presos, pois o evangelho será anunciado na prisão também. Porém, há outras opiniões sobre o tema como se vê neste material no Capítulo 1, uma citação após o ponto 4 (1.15-19).

 

2) O Filho de Deus deixou de ser Deus ao esvaziar-se!? Jesus é o mesmo ontem, hoje e sempre. No entanto, para assumir um corpo humano e se identificar com o pecador, Ele precisou aceitar sobre Si mesmo algumas limitações, tais como necessidades fisiológicas, locomoção, convívio com pecadores, etc. Ao retornar para o Céu, evidentemente, Jesus reassumiu a glória que sempre foi Sua (2.7).

 

3) Os cães são animais ou o diabo!? Os judeus consideravam os gentios malditos. Eram como cachorros os quais não eram apreciados como animais domésticos como em nossos dias. Jesus disse para não jogar coisas santas aos cães e que os cachorros não deviam comer os pães da mesa dos filhos. Paulo usa esse tratamento depreciativo que os judeus usavam para os gentios e aplica aos judaizantes (3.2).

 

4) Se Paulo fazia tendas, por que esperava ofertas!? Esse foi um entendimento errôneo que muitos, atualmente, não corrigiram. Paulo só não recebeu ofertas das igrejas de Corinto e de Tessalônica. Das demais igrejas, o apóstolo não recusava ofertas, mas eram muito bem-vindas. Em Corinto não aceitavam a autoridade dele e, portanto, não achava bom receber ofertas, sendo que os falsos apóstolos estavam tirando dinheiro deles. Em Tessalônica, os crentes pararam de trabalhar porque corria um boato que Jesus estava chegando e não adiantava mais trabalhar. Para dar exemplo, Paulo trabalha pelo seu sustento (4.15-18).

 

8.Curiosidades encontradas na carta

1) Às vezes, esperamos que todos os crentes sejam maduros. Embora, seja o ideal, jamais atingiremos a maturidade completa, pois o Senhor ainda está desenvolvendo nossa semelhança com Cristo (1.6).

 

2) Um dia, até mesmo Satanás e os demônios exaltarão a Jesus Cristo como Senhor. Isso não significará a conversão universal, mas o reconhecimento universal da autoridade de Jesus (2.10).

 

3) Por um momento, pensamos que Paulo tinha dúvidas da sua ressurreição. No entanto, ele só quer enfatizar que até chegar o momento em que se entregará totalmente ao evangelho com sua própria vida, muitos sofrimentos o acompanharão. A expressão “para ver se de algum modo” expressa o desejo intenso de Paulo em se encontrar com Jesus, apesar de todo o sofrimento. Ele não duvida da ressurreição, senão não teria escrito 1 Coríntios 15, o capítulo da ressurreição (3.10).

 

4) Quando dois irmãos em Cristo não conseguem viver em harmonia, alguém deve intermediá-los com o fim de trazer a paz de volta. Somos um corpo e, por isso, é de interesse de todos que vivamos uma vida pacífica entre os irmãos (4.2-3).

Capítulo 1: O alcance do evangelho de Cristo

1.O apóstolo Paulo se dirige aos crentes em Filipos, de modo geral, mas também aos líderes. Um obreiro não pode perder o contato com os líderes, pois eles têm a influência espiritual necessária para passar a visão ao povo de Deus sobre a obra, suas alegrias e necessidades. A gratidão sempre esteve no coração de Paulo. Os irmãos têm uma parte muito importante no ministério do obreiro. Ele não deixa de orar pelos irmãos, seus cooperadores. A obra de Deus é gradual e ela avança com a comunhão entre os irmãos. Por isso, precisamos sempre de líderes nos apoiando na carreira cristã (v.1-6).

 

2.A participação dos crentes em Filipos no ministério de Paulo é muito íntima, pois já viram o quanto ele sofreu naquela cidade, sendo até preso. Agora, ele está preso novamente, mas em Roma. No entanto, Paulo não se perde em uma comiseração que não produz louvor e nem ajuda aos irmãos que continuam a obra. Ele atribui à graça de Jesus a força que possui no Senhor. Ele tem saudades dos irmãos e, agora preso, certamente isso fica bastante evidenciado. Mesmo preso, a preocupação de Paulo é que os crentes cresçam em Jesus, ganhando maior conhecimento e amor. O objetivo de Paulo é ver os crentes preparados para se encontrarem com o Senhor em maturidade (v.7-11).

 

“O conteúdo dessa oração toca na declaração temática de 1.5-6,30. A passagem vai do geral para o particular. De modo geral, Deus continuará a trabalhar neles a fim de aperfeiçoá-los para o evangelho. Mas, em resposta à obra de Deus neles, é imperativo que continuem a crescer nas qualidades específicas das virtudes cristãs pelas quais Paulo ora.”[2]

 

3.O conceito de derrota é algo a ser pensado bem, pois Paulo está preso e, para alguns, tudo deu errado. Mas não é assim que Paulo enxerga a situação. Ele está preso, mas a Palavra de Deus está livre. Ele sempre viveu para o evangelho, desde que conheceu a Jesus pessoalmente. O evangelho está avançando em um lugar improvável, na cadeia. Além disso, os que sabem que Paulo está preso por causa do evangelho, ganharam um novo ânimo para proclamar a verdade. Nem tudo é perfeito, pois há os que estão pregando com motivações erradas. Paulo jamais apoiou o erro, mas ele não pode ignorar que até de modo errado, o evangelho está sendo divulgado. Não precisamos nos preocupar em tentar corrigir todos os erros que vemos, pois essa é a prerrogativa de Deus, o autor do evangelho (v.12-17).

 

4.Ninguém consegue tirar a alegria do servo de Deus que está rendido ao Senhor. Até as provocações resultam em louvor a Deus para o que está confiando que Deus está cuidando. Paulo conta com as orações dos irmãos e deseja ficar livre da prisão por meio da oração. Ele é fiel no cumprimento do seu dever e isso é mais importante do que sua própria liberdade. A vida de Paulo consiste em fazer a vontade de Cristo e se vier a morrer, ele vê como lucro. Ele não é um amargurado da vida. Ele não é autodestrutivo e suicida. Ele apenas quer viver na terra de modo obediente Àquele com o qual se encontrará pessoalmente no céu. Enquanto isso, Paulo vive para Deus servindo aos irmãos (v.18-25).

 

 

 

 

 

“Enquanto a motivação é importante, no entanto, é mais importante que ‘de qualquer modo’ o evangelho (’Cristo’) seja ‘proclamado.’ Paulo crê que é melhor que pessoas com motivos impuros pregarem a Cristo (‘seja por pretexto ou em verdade’), do que não pregarem a Cristo de jeito nenhum. ‘O poder do evangelho, portanto, não depende do caráter do pregador.’ O julgamento de Paulo, aqui, a propósito, é um exemplo de buscar o melhor em vez de apenas o bom (cf. v.9-10).[3]

 

5.A alegria de Paulo é saber que os filipenses estão firmes no evangelho. Seria muito bom vê-los e presenciar essa vitória pessoalmente, mas se não for possível, Paulo não se entristece, pois não depende da presença física para experimentar a comunhão com os irmãos. Então, Paulo incentiva os irmãos a serem corajosos em Jesus, pois os inimigos se sentirão derrotados ao verem nossa convicção e amor pela Palavra de Deus. O privilégio de crer em Jesus é muito grande, assim como sofrer por Ele. É como se o testemunho fosse autenticado. O sofrimento é a prova daquilo que já está no nosso coração, ou seja, um amor sacrificial por Jesus. As lutas de Paulo sempre foram as mesmas. O sofrimento por causa do evangelho foi uma realidade do passado para que a Palavra chegasse até nós. Ainda hoje, há sofrimentos em lugares onde a força e influência da Palavra de Deus é fraca ou inexistente (v.26-30).

 

Capítulo 2: O exemplo máximo de humildade, Jesus

1.Os irmãos vivendo em união traz louvor a Deus e grande alegria no meio do povo de Deus. Não deveríamos deixar que assuntos muito menores roubem a alegria da fraternidade. O amor entre os irmãos deveria ser muito desejado por todos. Ao desejarmos o bem do nosso irmão, já estamos considerando-o superior a nós mesmos, pois o desejo carnal é sempre satisfazer-se a si próprio e deixar os nossos semelhantes em segundo plano. Há maneira de suprirmos nossas necessidades, mas também há como suprir outros. Sempre haverá no coração do crente fiel espaço para acolher outros. Jesus dormia, orava e tinha o seu tempo, mas Ele também vivia para satisfazer as necessidades dos outros. O auto esvaziamento de Jesus nos ensina como é possível deixar dos nossos interesses imediatos para dar atenção às necessidades de outros. Para isso, é necessário um objetivo bem claro na vida. Um esforço para ser bênção. O nosso exemplo é Cristo Jesus. Nem precisaremos morrer na cruz ou redimir pessoas. Apenas sermos o canal por onde o amor de Deus passe para alcançar os perdidos, os enfraquecidos, os sem direção, etc. As pessoas não se dobrarão a nós, mas dobrarão os joelhos diante de Jesus. Essa é nossa tarefa neste mundo, levar pessoas aos pés de Jesus (v.1-11).

 

“Toda a inimizade na igreja deveria acabar, escreve Paulo, em vista da ‘exortação em Cristo’, a ‘consolação de amor’, a ‘comunhão do Espírito’ e o ‘afeto e misericórdia’ que flui da participação dos filipenses em Cristo. É por causa dessas realidades da graça de Deus, comuns a todos os crentes, que Paulo pode exortar os crentes em Filipos a serem de uma só mente.”[4]

 

“São comentados os dois estados de Cristo; o de humilhação e o de exaltação. Cristo não somente assumiu a semelhança e o estilo ou a forma de homem, mas um estado humilde; não se manifestou com esplendor. Toda a sua vida foi uma vida de trabalho e sofrimentos, mas o passo mais humilhante foi morrer a morte de cruz, a morte de um malfeitor e de um escravo, exposto ao ódio e à zombaria pública.”[5]

 

2.A nossa salvação é completa em Jesus no fato de que Ele morreu uma única vez e, por isso, já temos a redenção eterna. No entanto, essa salvação produz em nós uma maturidade crescente. Nesse sentido, nossa salvação está se completando. A aceitação do sacrifício de Cristo por nós, pecadores, foi apenas o início de uma vida transformada e que vai se transformando a cada dia segundo a imagem de Jesus Cristo (v.12-13).

 

3.A vida do crente é superior na moralidade e nos relacionamentos. O crente em Jesus serve de luzeiro neste mundo. Os incrédulos deveriam ver nossa conduta e serem atraídos para Jesus. O mau testemunho enfraquece a luz. No entanto, não é necessária muita luz para um lugar escuro. Apenas poucos crentes conseguem fazer grande diferença em um mundo perverso. Cada crente deve buscar o desenvolvimento de sua fé e testemunho. O esforço de um pregador deve ser em ensinar a Palavra de Deus em sua totalidade, pois é a única maneira dos crentes serem fortalecidos em seu testemunho. No tribunal de Cristo, os prêmios dos crentes de bom testemunho já será uma premiação para os seus mestres. No caso de Paulo, o bom testemunho dos crentes já valerá todas as prisões e sacrifício de sua vida. A alegria será mútua (v.14-18).

 

4.Falando em bom testemunho e do exemplo máximo em Jesus, Paulo apresenta outros ótimos testemunhos de dedicação e crescimento na vida cristã. Tratam-se de Timóteo e Epafrodito. O apóstolo Paulo podia conhecer as motivações das pessoas pela direção de Deus e também pela observação. Evidentemente, ele não estava formando um grupo preferencial, mas somente relatando o que ele via na obra. Timóteo era aprovado e isso dava a Paulo a liberdade de dizer que ele era o único que se importava com os filipenses como o próprio Paulo. Aqui há uma generalização e não especificidade, pois Epafrodito, o qual será mencionado, também se preocupa com os filipenses (v.19-24).

 

5.Epafrodito quis levar a oferta dos filipenses para Paulo. No caminho, ou já no destino, ele ficou com muita saudade de casa. Além disso, Epafrodito ficou muito doente. Todos os que já viajaram, sabem como é difícil ficar doente longe de casa. Até mesmo para sair em viagem temos a preocupação de ficarmos doentes durante a viagem. Porém, temos que deixar tudo sempre nas mãos de Deus, o qual cuida em casa ou fora de casa, em nossa terra ou em terra estranha. Paulo se sentiria muito responsabilizado se Epafrodito morresse tentando servi-lo, mas Deus o poupou dessa tristeza. Paulo se sente responsável em enviar Epafrodito de volta aos filipenses. Ele fez uma menção honrosa ao ministério de ajuda de Epafrodito (v.25-30).

 

Lição 3: Cristo Jesus é tudo para o crente (capítulo 3)

1.Depois de várias exortações e exemplos de humildade e serviço, Paulo tem mais uma palavra aos crentes e esta já é conhecida nesta epístola, que é alegria. A palavra regozijar e seus derivados aparece 9 vezes e alegrar e seus derivados, 3 vezes. Portanto, este tema é bem enfatizado, 12 vezes em 104 versículos. A alegria sempre é no Senhor Jesus Cristo. Nele temos tudo o que precisamos para viver a vida cristã. Paulo sabe que é repetitivo, mas ele sabe que isto é segurança para os crentes. As pessoas inseguras emocionalmente não são alegres no Senhor (v.1).

 

2.Os judeus chamavam os gentios de cães e Paulo usa o mesmo termo, mas para os falsos mestres. Eles são maus obreiros e perigosos. No caso dos filipenses, os falsos profetas ensinavam que a circuncisão era exigida para seguir a Cristo. A circuncisão era um símbolo externo para os homens judeus que incluía todo o povo. Através dessa cirurgia o povo mostrava que pertencia ao Senhor e que desejava cumprir Sua vontade. Hoje, o nosso selo é a habitação do Espírito Santo. Passou disso, é legalismo e judaísmo. A marca do crente não é o que ele come ou qualquer sinal externo, mas a habitação do Espírito Santo (v.2).

“‘Cães.’ O judeu ortodoxo costumava chamar o gentio de ‘cão’, mas Paulo chama os judeus ortodoxos de ‘cães’! O objetivo do apóstolo não é insultar esses falsos mestres judeus, mas sim compará-los aos animais carniceiros que as pessoas decentes consideravam tão desprezíveis. Como cães, esses judaizantes mordiam os calcanhares de Paulo e o seguiam de um lugar para outro ladrando suas falsas doutrinas. Eram agitadores e infectavam as vítimas com ideias perigosas.”[6]

 

3.Se a circuncisão significa dedicação, então, podemos dizer com Paulo, nós somos a circuncisão, pois o símbolo revelava uma verdade maior. O crente dedicado serve a Deus em integridade, ou seja, em espírito. O crente não pode se gloriar nos esforços próprios, mas em Cristo Jesus. Ele é tudo para nós, pois Ele nos livrou da morte eterna e nos fez viver para Deus. O legalismo se orgulha dos atos externos praticados com o esforço próprio, enquanto o Espírito Santo nos faz exaltar a Pessoa de Cristo Jesus (v.3).

 

4.Se Paulo tivesse que competir na carne ele sairia em vantagem diante dos falsos profetas que confiavam na aparência. A seguir ele fornece uma lista de suas qualificações humanas diante dos judeus (v.4).

 

5.Ser circuncidado em qualquer idade revelava que o homem aceitara a lei de Moisés, mas ser circuncidado ao oitavo dia mostrava que ele era de família piedosa e já inteirada das leis judaicas. Paulo não abraçou a fé judaica tarde na vida, mas vinha de uma linhagem bem traçada. Ele era um hebreu legítimo da tribo de Benjamim, isto é, filho de Jacó com Raquel a quem amava de verdade. Paulo tinha o nome do primeiro rei de Israel, Saul. Paulo não era um judeu, filho de gregos ou gentio, mas um hebreu filho de hebreu. Ele era um fariseu, isto é, um separado para as coisas sagradas. Um fariseu era a pessoa mais respeitada entre os judeus, pois era um intérprete da Lei de Moisés. Os falsos mestres até queriam ter todo esse pedigree, mas estavam longe disto (v.5).

 

6.Paulo não era um judeu não praticante de sua religião, mas era extremamente zeloso, sendo um perseguidor de uma seita, como chamavam, que era contrária à lei de Deus, como pensavam. A Igreja era uma contaminação no meio do povo de Deus, este era o pensamento absoluto da época. Paulo agiu com justiça, segundo a lei, pois todo ensino falso deveria ser extirpado do povo, chegando mesmo a executar os hereges. Portanto, Paulo foi um fariseu irrepreensível, segundo a carne (v.6).

 

7.Se Paulo continuasse com esse discurso, logo pensaríamos que o judaísmo estava certo e nós errados, mas ele se apressa em dizer que todas essas qualificações são terrenas e carnais e, portanto, não valem nada para a vida cristã. Tudo isto foi um ataque contra os falsos mestres que pensam ser alguma coisa. Paulo não era um vencedor, pelo contrário, teve de perder tudo o que lhe era valoroso para ganhar um bem muito mais precioso que é Cristo Jesus (v.7).

 

8.A vida de fé consiste em entender o que devemos perder para podermos ganhar. Tivemos que perder nossos próprios conceitos de salvação para poder ganhar a salvação em Cristo. Isto exigiu fé. Às vezes, precisamos perder a saúde para ganhar uma nova visão do céu e da dependência com Deus. Isto exige fé. Outras vezes, perdemos o sustento para ganhar a confiança no Sustentador. Isto também exige fé. Em algumas vezes, perdemos o bom nome por um tempo para ganharmos a humildade. Isto exige fé. As “Missões de fé” perdem muita oportunidade de ganhar dinheiro, mas ganham obreiros valorosos e amizades com Igrejas fiéis. Mas isto exige fé por parte de seus membros. Jesus disse que quem perder a sua vida achá-la-á. Alertou também que não há proveito em ganhar o mundo inteiro e perder a vida (Mt 10.39, 16.26). Tanto em um caso como no outro se exige fé. Nada é de graça. Tudo exige um preço. Não existem servos de Deus fiéis sem que nunca tenham experimentado a perda em muitos aspectos de sua vida. Paulo foi um exemplo de perdedor, ganhador e homem de fé. Ele perdeu, mas ganhou. Sempre andou por fé. No final perdeu a vida para ganhar a coroa que lhe estava proposta. Foi o prêmio por viver pela fé (v.7).

 

9.No caso de Paulo houve perda para servir a Deus. Sempre há. Note que ele teve que tomar a iniciativa de considerar aquelas coisas como perda. Quando alguém quer servir a Deus, ele próprio deve decidir perder. Nem sempre Deus nos tira aquilo que não serve; nós somos os que devemos sacrificar. Saul preservou o rei Agague, mas ele mesmo devia matá-lo e não Deus. Samuel acabou fazendo o trabalho que devia ser de Saul (1 Sm 15.33). Não force ninguém a fazer aquilo que você deve fazer. A responsabilidade é sua ou você será rejeitado como foi Saul. Afinal, qual foi a perda para Paulo? A nossa perda está principalmente nas ambições financeiras e na posição diante das pessoas. Alguns pagam o preço de ser renegado quando se convertem; outros são perseguidos e torturados ou mortos. Para servir a Deus como missionário há alguma perda também. Para ser fiel haverá aflições. Cada crente deve analisar não somente aquilo que perdeu, mas aquilo que precisa perder para ser um bom discípulo (v.7).

 

“As vantagens do nascimento, da educação, da obediência externa à lei... talvez a esperança de honra e riqueza neste mundo. [A posição de Paulo] o elogiava diante dos governadores da nação; abria a ele um prospecto brilhante de distinção; asseguraria a ele funções de honra... e facilmente o satisfaria em todas as suas ambições.”[7]

 

8.Nunca é fácil abrir mão daquilo que nos faz sentir importantes. A segurança emocional de Paulo estava em sua posição e atividades, mas ao considerá-las como perdas ele precisava urgentemente se agarrar em uma nova fé que lhe preenchesse o vazio que ficaria. É um momento de escolha que cada pessoa tem. Cristo era excelente, ou seja, o conhecimento de Cristo estava acima das demais expectativas de Paulo. A conversão dele foi tão radical que ele chega a dizer que aquilo que ele perdeu era escória. Para ganhar a Cristo é necessário perder algumas coisas. O Senhor não compete com outros interesses. Ele só se revela aos que o amam de coração (v.8).

 

9.Na vida cristã não se perde simplesmente para que nos esvaziemos das ambições e desejos errados, mas toda a perda é com o objetivo de ganhar algo melhor. Todo sacrifício é uma perda, mas todo sacrifício focaliza algum ganho. O apóstolo Paulo perdeu suas ambições e status na sociedade para ganhar o conhecimento de Cristo. O que mostra que o conhecimento é superior à perda é o adjetivo “excelente”. O conhecimento de Cristo está acima de toda a ambição que um ser humano possa ter. É possível ganhar muito conhecimento bíblico e, ainda assim, não ganhar o conhecimento de Cristo, pois, esse conhecimento é a íntima ligação com Deus, através de um relacionamento espiritual. É preciso tempo gasto em reflexão, devoção, meditação. É o chamado “a sós com Deus”. O crente que não gasta tempo em meditação (que não “perde” tempo) não poderá nunca ganhar este conhecimento. É salvo, mas sem o entendimento da comunhão com Deus (v.8).

 

10.Acã não considerava os inimigos, mas gostava da capa dos inimigos. Alguns querem depositar de lado, mas não perderem totalmente. É como os que dizem que se converteram, mas ainda possuem ídolos do lar, pois lhe são relíquias da família. A perda é total ou não é perda. Paulo considerou como esterco. Nada disso aproveitava mais para o objetivo que agora tem em mente. Para ganhar a Cristo há de ter perdas irreparáveis. Aquelas coisas foram perdidas e perdas sempre custam algo de si mesmo. O ganho é a Pessoa de Cristo, mas até que venha a gozar de entendimento disso leva um tempo. Todo recém-convertido está em conflito. É uma mistura de alegria de ganhar a Cristo e desapontamento de perder algo. Para servir a Deus de todo o coração também. Sabemos que o ganho é grande, mas até chegarmos à maturidade dessa compreensão a sensação de perda é, algumas vezes, maior. O nosso pensamento deve ser: “Quanto mais o sirvo mais doce Ele é”[8] (v.8).

 

9.O apóstolo já tinha experimentado o que era viver pelos próprios esforços ou justiça própria, agora, ele encontra em Cristo uma nova justiça, a justiça que só vem por meio da fé em Cristo. É como uma roupa nova sobre para se apresentar diante de um supremo. Ele não possuía essa roupa, foi dada por Cristo, aliás esta roupa é Cristo. Paulo, agora vestido de Cristo, pode se apresentar a Deus sem condenação alguma, pois o Filho é aceito pelo Pai (v.9).

 

10.Como já foi visto para ganhar algo do conhecimento de Cristo é necessário sofrer alguma perda e isto exige fé. Paulo nos mostra em que consiste esta fé. Primeiro de tudo essa fé é necessária para a união com Cristo. Essa fé já foi exercida por todo o crente. Um dia, perdemos nosso antigo estilo de vida, que era de incrédulo e cremos unicamente em Jesus Cristo como Salvador. Neste aspecto não há mais nada para fazer. Deus não exige mais nada para a Salvação. Ele promete cuidar de mim para sempre. Ninguém me arrebatará de Sua mão (2 Co 5.17 e Jo 10.28). Não havia nenhuma justiça em nós mesmos. Perdemos o senso de justiça própria para ganhar a justiça de Cristo. Paulo teve que perder toda a consciência de autojustiça para ganhar a justiça de Cristo. Isto exigiu uma fé simples na Pessoa de Jesus Cristo e no Seu sacrifício em favor do pecador. Na vida cristã e no serviço do Senhor também é necessário fé. Simplesmente crer que apesar das perdas, o Senhor é suficiente para nós. Tudo o que precisamos, Nele obtemos. A fé consiste numa entrega total ao Senhor. Depois de perder tudo, Paulo não tinha mais como recuar (Jo 6.68, Mt 19.27-30). Quem não perder aqui por achar que não merece ser prejudicado acabará perdendo no tribunal de Cristo, pois sofrerá dano no dia das prestações de contas diante do Supremo Juiz (1 Co 3.15) (v.9).

 

Posso não ter dinheiro,

mas Nele tenho abundância.

Posso não ter saúde,

mas Nele tenho alegria.

Posso ter aflições,

mas Nele tenho consolo.

Posso ser perseguido,

mas Nele tenho refúgio.

Posso cair,

mas Nele tenho apoio para me levantar.

Posso pecar,

mas Nele tenho o perdão.

Posso morrer,

mas Nele tenho a ressurreição e a vida eterna.

 

11.O objetivo da fé em Cristo não termina com a mudança de endereço do inferno para o céu, mas vai além disso. O objetivo de Cristo para nós é que O conheçamos no dia a dia. Já sabemos que Cristo morreu e ressuscitou, mas precisamos saber que morremos e ressuscitamos com Ele. Estávamos em Cristo na Sua morte e na Sua ressurreição. Se Ele levantou para uma nova vida, nós também. Aqui está a vitória na vida cristã. Andar na fé, neste assunto, conforme aprendemos em Rm 6.11 (v.10).

 

“O poder de sua ressurreição; não o poder da doutrina simplesmente, que no terceiro dia, de acordo com as Escrituras, Jesus ressuscitou dos mortos, embora este fato também seja poderoso (cf. At 17.31; Rm 1.4; 4.25); porém o poder da vida ressurreta do Salvador, realizada na vida e trabalhos diários de Paulo (cf. Rm 8.10-11; 15.18-19; 2Co 4.7-11; 12.9).”[9]

 

12.Este versículo não mostra que Paulo duvidava de sua ressurreição, pois se assim fosse sua fé era inútil. Ele sabe que os justos serão ressuscitados literalmente, mas ele também sabe que até chegar este tempo ou seja, o da sua partida deste mundo, muitas aflições o rodearão. Não podemos nos esquecer que ao escrever esta epístola Paulo está preso. O que ele mais queria é estar com Cristo, mas por causa de seu ministério Deus estava poupando a sua vida, mas com muito sofrimento, daí a sua expressão de angústia e desejo de que chegue logo a ressurreição (v.11).

 

As repetições que fortalecem nossa fé (Fp 3.1-11)

1.A repetição do ensino sobre alegria (v.1)

2.A repetição do ensino sobre os falsos mestres (v.2-3)

3.A repetição do ensino sobre perder para ganhar (v.4-9)

4.A repetição do ensino sobre o sofrimento (v.10-11)

 

13.Paulo desejava muito estar com Cristo, pois como estamos vendo neste capítulo, Cristo é tudo. Porém, a plenitude de Cristo em nós e nós em Cristo, longe de pecado, só se dará na redenção de nosso corpo. Por isso, nenhum crente pode afirmar que já alcançou tudo o que poderia alcançar de Cristo. Não somos perfeitos, mas estamos prosseguindo para isto. Isto não deve ser desculpa para o pecado, pois nossos prêmios serão baseados em nossas obras, não as obras da justiça própria, mas do crescimento em Cristo que é a perfeição. Paulo buscava a graça e foi preso por ela. Ele se tornou um prisioneiro do amor de Cristo (v.12).

 

“Para não dar a impressão de que ele já tivesse chegado, Paulo indica cuidadosamente que ele ainda estava muito envolvido na corrida da vida. Essa advertência contra a má interpretação foi causada pela influência dos perfeccionistas complacentes que se propagava grandemente na igreja. Aquilo que Paulo não tinha ainda recebido era a experiência do conhecimento final e completo do seu Senhor (vs. 8-11). Perfeição define melhor o seu alvo. A perfeição aqui seria o pleno conhecimento e a conformidade perfeita.”[10]

 

14.É claro que Paulo estava à frente de muitos quanto ao conhecimento de Cristo, mas diante Dele Paulo ainda precisava crescer na perfeição. Só existe uma maneira de crescer no conhecimento e perfeição em Cristo e não são todos os crentes que desejam, pois se assim fosse, todos nós seríamos muito maiores na vida de fé e maturidade. É necessário fazer como Paulo, esquecer-se daquilo que nos faz sentir seguros neste mundo. Há mais adiante uma vida melhor, mesmo neste mundo. Esta é uma vida em busca da perfeição em Cristo que nos completa Nele mesmo. Ele é tudo em nós e tudo para nós (v.13).

 

15.Paulo queria atingir o alvo. Só há prêmio para quem chegar e assim mesmo em boa posição. Todos os crentes chegarão diante do Senhor, salvos e seguros, porém, há recompensas para quem chegar com maturidade. O chamado de Deus está em Cristo Jesus. Quem O aceita recebe uma vocação, a de andar nos propósitos Dele. Os melhores corredores serão premiados, mas isto não significa que podemos julgar isto aqui. A corrida não acabou para todos. Ainda precisamos atingir a marca de chegada (v.14).

 

16.Os que são perfeitos são aqueles que creem neste estilo de vida, ou seja, no prosseguimento ao alvo da maturidade em Cristo. Esse sentimento devia ser unânime nos crentes, mas, infelizmente, alguns ficam para trás, pois não querem deixar aquilo que lhes dá uma falsa segurança. Eles não pensam dessa maneira e Deus mostrará para estes que estavam errados, porém, será tarde para receber prêmios, não obstante serem salvos (v.15).

 

17.Nós devemos andar segundo a luz que temos. O nosso maior problema é que praticamos muito menos daquilo que sabemos ser o correto na vida cristã. Se já chegamos até um nível de conhecimento temos de valorizar praticando, pois senão até o que temos podemos perder. Quanto maior a luz, maior a responsabilidade. A nossa regra é de fé em Cristo e não no legalismo, mas a nossa fé não é particular. Todos devemos ter o mesmo pensamento e sentimento sobre como andar diante de Deus e dos homens (16).

 

18.O apóstolo Paulo é honesto no seu relacionamento com Cristo e para com o que crê, de tal forma, que pede que os crentes o imitem. Não só Paulo anda conforme Deus quer, mas ele incentiva a imitar os outros que estão andando da mesma forma que ele. Se Cristo é tudo para nós temos que ser honestos para viver uma vida consistente e coerente (v.17).

 

19.No meio dos crentes andam também aqueles que não são honestos, pois não amam a Cristo para andarem no caminho estreito. Paulo nunca escondeu isto dos crentes. Há muitos que não amam o Senhor e se dizem crentes e até mesmo fazem obras junto com os crentes. Estes falsos profetas fizeram Paulo chorar muitas vezes. Eles são inimigos da cruz. Todos os que não querem andar nos caminhos do Senhor, amando Suas palavras são inimigos da cruz. O atalho para uma vida mais fácil é um engano, pois onde não houver a cruz, não há Cristo (v.18).

 

20.No caminho dos falsos mestres há somente perdição. Tanto guiam outros à perdição como eles próprios estão neste caminho. Eles só pensam neles e em como satisfazê-los. O dinheiro está sempre envolvido nesses casos. Aquilo que é vergonhoso para o crente que busca a perfeição em Cristo, para os falsos mestres é glória. O pensamento e alvo deles estão nas coisas terrenas. Não amam as coisas do alto (v.19).

 

21.Nós não temos que imitar os seus caminhos, pois a nossa esperança está reservada no céu. É a nossa pátria celestial. O crente que não aguarda a volta do Senhor Jesus para buscar a Sua amada Igreja terá que conviver com uma vida com a perspectiva terrena apenas. Enquanto não será abençoada, acabará desviando outros de uma vida digna. Não há honestidade neles (v.20).

 

22.Não há motivo para o crente se sentir humilhado. Servir ao Senhor Jesus é uma honra. Um dia, seremos como Ele é. A perfeição que buscamos Nele será achada na redenção do nosso corpo. O poder sob o qual estamos é o poder de Jesus Cristo que a tudo sujeitará. O reino será Dele e nós reinaremos com Ele. Aqueles que o buscaram em sinceridade certamente gozarão de privilégios nesse governo. Na vida cristã temos de ser honestos em relação à nossa posição. Qualquer que seja a nossa posição diante dos homens não é nada comparado a estar em Cristo Jesus. Temos de ser honestos no relacionamento com Cristo. Se dizemos que O amamos temos de andar conforme Ele quer que andemos (v.21).

 

 

Capítulo 4: Conselhos para a vida cristã e sustento no ministério

1.Poucos conseguem ser bons mestres como o apóstolo Paulo. Paulo era muito direto quando havia atitudes erradas, mas muito amoroso e compassivo ao mesmo tempo. Após ter falado da gloriosa pátria celestial, Paulo dá vários conselhos pessoais e específicos para os filipenses. A Palavra de Deus ultrapassa os limites do tempo e alcança as nossas necessidades atuais como Igreja e como crentes individuais. Assim como era sincero para repreender, também o é ao dizer “amados” (v.1). Devemos amar uns aos outros de fato e de verdade. O amor faz sentir saudades. Paulo tinha o desejo de revê-los (“saudosos”, v.1). Quando amamos os irmãos temos o desejo de estar juntos. Paulo tinha alegria em tê-los como irmãos. Somos salvos pelo mesmo Redentor, pela mesma cruz. Quando alguém não vir outro motivo em alegrar-se no irmão, deve-se lembrar que é salvo pela mesma graça e unido num mesmo Espírito: isto renova qualquer amor e cria interesse um pelo outro. Os filipenses eram a vitória no ministério de Paulo (“coroa”, v.1). A partir daqui vêm os conselhos diretos de Paulo (v.1).

 

2.A exortação à firmeza sugere que haverá lutas e durezas. A vida cristã é um combate, só há firmeza no crente que permanece no Senhor. Com as forças do próprio ego (“Eu”) não conseguimos permanecer. Não temos forças apropriadas. A carne não produz nada de agradável a Deus. Portanto, depender do Senhor produz perseverança e a perseverança produz firmeza (v.1).

 

3.Para quem ouviu e aprendeu com Paulo não seria difícil atender a esse pedido feito de modo tão gentil. Alguns mestres têm uma maneira tão especial de ensinar algo tão difícil que se torna agradável cumprir sem murmuração. Isto é obra do Espírito Santo, muito mais do que do professor. Nada sabemos sobre essas pessoas, exceto que se chamavam Evódia e Síntique (nomes femininos), as quais eram de Filipos, que foram uma bênção naquele lugar, mas que agora estavam com algum problema de relacionamento, alguma discordância entre as duas. Não importa se as desavenças são por questões doutrinárias ou pessoais, o fato é que o Corpo todo de Cristo sofre. O problema não são as diferenças em si, e sim quando o amor e a unidade são afetados. É possível sentir o mesmo “no Senhor”, apesar das opiniões diferentes, pois diante Dele quem ficará em pé? Paulo apela para que alguém (Sízigo, nome próprio ou apenas companheiro) apazigue o problema entre as duas, pois outrora foram uma bênção para o Evangelho naquele lugar juntamente com Clemente e outros crentes (v.3). O ideal é que acertemos nossas diferenças sem precisar de terceiros, mas há muitas “Evódias” e “Síntiques” que precisam de intermediários para resolverem seus problemas e quando assim for, devem deixar resolver para o bem do Corpo de Cristo (v.2-3).

 

4.Se alguém depende de situações favoráveis para gozar da alegria interior, esse crente será instável, pois as situações mudam. Lembranças de pecados passados vêm (Paulo se lembrava de quando perseguia a Igreja). Aflições também vêm, e, às vezes, com muita violência (Paulo sofreu várias delas). Onde está a diferença, então? Está no que eu penso com mais frequência: Na Graça e Misericórdia de Jesus Cristo ou nos pecados passados? Na proteção e cuidado do Bom Pastor e Sua Soberania ou nas aflições? A alegria do crente está na Pessoa Maravilhosa do Senhor Jesus. A alegria no Senhor não é apenas um estado de bem-estar, mas um estado do desenvolvimento espiritual. O mundo dá alegria e paz, mas não vale a pena (Jo 14.27, 16.22). Um crente alegre, necessariamente, não prova que ele é desenvolvido na fé, pois a alegria pode não proceder do Senhor, mas das situações. Porém, um crente triste mostra que não é desenvolvido na fé, pois, certamente, sua alegria não está no Senhor, “em quem não há sombra de variação”. Este ensino tem muito maior valor para nós quando lembramos onde estava Paulo quando escreveu: preso nas frias cadeias de Roma (v.4).

 

5.A autodisciplina do crente deve envolver sua vida em um equilíbrio agradável de observar e imitar. Ninguém sente segurança ao lado de alguém ansioso, preocupado.  Por outro lado, ninguém se sente seguro ao lado de alguém despreocupado demais com a vida, pois isso não mostra responsabilidade. Por isso, a importância da moderação (equilíbrio). A tranquilidade diante de todos oferece segurança e bom testemunho. Nosso equilíbrio está no Senhor, assim como nossa alegria, conforme já vimos. O Senhor está perto tem dois sentidos: 1º) Logo Ele volta 2º) Ele nos observa de perto (v.5).

 

6.Claro que os crentes têm anseios nesta vida. O Senhor quer agradar-nos naquilo que também Lhe agrada (Sl 37.4-5).  Note que o Senhor nos agrada, quando somos agradáveis a Ele. Nunca pense que Deus está sempre contra aos nossos desejos! O remédio para a ansiedade é a oração confiante. Nossos pedidos já são conhecidos por Deus (Mt 6.8), mas para o nosso desenvolvimento espiritual e comunhão com Ele, o Senhor nos deixou o recurso da oração específica às nossas necessidades. Uma excelente maneira de orar é lembrar-nos das bênçãos com que Ele já nos presenteou no passado. Isto nos faz gratos e confiantes que Ele pode responder mais outra vez. O resultado da oração e confiança é a tranquilidade e descanso, ou seja, a Paz de Deus (o contrário da ansiedade). A paz é de Deus e não nossa. Ela é oferecida ao crente que descansou na oração. Essa paz vai além do intelecto humano, ela guarda a mente do crente, bem como as emoções e o espírito, enfim, toda a personalidade. Nenhum ladrão ou intruso roubará a paz da mente daquele que ora e confia no Senhor (Is 26.3) (v.6-7).

 

“Imagine não estar ‘laborioso’ jamais por nada! Isto parece impossível, todos temos preocupações em nosso trabalho, em nossos lares, no colégio. Mas Paulo nos aconselha trocar nossas preocupações em orações. Quer você preocupar-se menos? Então ore mais! No momento em que comece a preocupar-se, detenha-se e ore.”[11]

 

7.Alguns tentam ser felizes com um modelo de vida chamado “Pensamento Positivo”, como se alguém fosse capaz de controlar as situações da vida, através de um bom pensamento da mente. O ensino de Paulo é que somente aquele que tem a mente guardada pelo Senhor, pode pensar corretamente e tem condições de cultivar pensamentos nobres. Paulo não disse todas as coisas que devemos pensar, somente deu algumas sugestões. Resumimos assim: tudo o que edifica deve ser cultivado na mente e o que destrói a nós mesmos e aos outros devemos afastar da mente. Aqui é impossível fazer uma lista, pois depende do desenvolvimento e consciência de cada crente. Pessoas agem errado porque pensam errado. Geralmente ninguém faz o mal pensando no bem e tão pouco faz o bem pensando no mal. O homem não regenerado não pode educar a mente nas coisas de Deus sem que haja antes uma conversão, mas somente aquele que é transformado segundo a imagem de Cristo é que pode pensar como Ele (1 Co 2.14-16). Embora não aprendemos pessoalmente do apóstolo Paulo, conhecemos o que ele escreveu sob a orientação do Espírito Santo. Devemos imitar Paulo (v.8-9).

 

Os conselhos para a vida cristã (Fp 4.1-9

1.Firmeza no Senhor (v.1)

2.Unidade entre os irmãos (v.2-3)

3.Alegria no Senhor (v.4)

4.Moderação conhecida (v.5)

5.Oração e confiança (v.6-7)

6.Pensamento correto (v.8-9)

 

8.O obreiro precisa de sustento como qualquer pessoa precisa. Porém, o trabalho de alguns obreiros depende que outros o auxiliem enquanto faz a obra, sem se envolver com as coisas deste mundo, as quais, em relação ao trabalho são lícitas, mas tomam o tempo para que o obreiro realize uma obra distinta das dos demais crentes. Paulo é muito grato porque ele recebia sustento de algumas igrejas, inclusive desta, a igreja em Filipos (v.10).

 

9.O obreiro que veio de uma situação confortável, financeiramente, talvez tenha problema de adaptação para o novo estilo de vida, muitas vezes, cheio de privações. Por isso, Paulo teve que aprender, pois ele veio de uma situação privilegiada. O amor pelos perdidos é o grande motivador para que um obreiro aprenda a passar por privações. A confiança de Paulo estava, não nas igrejas mantenedoras, mas no Senhor. Podemos nos adaptar a tudo com o Senhor sendo o nosso fortalecedor (v.11-13).

 

10.Embora Paulo recebesse sustento das igrejas, nem todas se mantiveram constantes. Foi numa dessas situações que a igreja de Filipos ajudou Paulo. Sendo assim, se um obreiro terá Paulo como o seu modelo, e deve buscar esse padrão, ele não deve reclamar ou deixar o trabalho, mas adaptar-se e confiar que Deus usará alguém ou alguma igreja. Nem todos que prometem, conseguirão manter suas promessas, mas Deus jamais abandonará o obreiro (v.14-16).

 

11.Paulo não está pensando apenas em seu próprio sustento, mas no desenvolvimento espiritual daqueles que contribuem com ele. Paulo vê as ofertas como uma adoração por parte dos ofertantes e isso deixa o coração dele contente porque esses irmãos não estão deixando passar a oportunidade de servirem ao Senhor. Quando contribuímos com a obra de Deus, somos abençoados. O desejo, oração e certeza de Paulo é que os seus ofertantes seriam supridos com tudo o que precisarem (v.17-20).

 

“Nesse versículo, destaca-se o fato de que Paulo não era ganancioso. Ele estava mais contente com a ideia de que eles iam ser recompensados por Deus, por causa de seu donativo, que por ser o recipiente dele. Seu desejo de aumentar o fruto para crédito deles era maior que o prazer de receber deles ajuda financeira. É precisamente o que acontece quando contribuímos com dinheiro para a obra do Senhor. Tudo é registrado nos livros de contabilidade de Deus, e, num dia futuro, quem contribui será reembolsado cem vezes mais.”[12]

 

12.Paulo encerra a sua carta de modo simples, como sempre fazia. A conversão de familiares ou de escravos do imperador César, no caro Nero, chama muita atenção. Deus salva pessoas inseridas em algumas famílias e círculos sociais improváveis aos nossos olhos. A Palavra de Deus não tem limite social, econômico ou moral. A Palavra de Deus alcança a todos com o maravilhoso evangelho de Jesus Cristo (v.21-23).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Alegria em Filipenses (Fp 1-4)

1.Alegria em recordar dos irmãos (1.3-4)

2.Alegria porque o evangelho está sendo pregado (1.18)

3.Alegria da fé (1.25)

4.Alegria da unidade (2.2)

5.Alegria por sacrificar-se pela fé dos irmãos (2.17-18)

6.Alegria por notícias dos irmãos (2.19)

7.Alegria como lenitivo da tristeza (2.28)

8.Alegria por receber crentes como Epafrodito (2.29)

9.Alegria, no final de tudo (3.1)

10.Alegria roubada pelos inimigos da cruz de Cristo (3.18)

11.Alegria por causa de seus discípulos (4.1)

12.Alegria constante no Senhor (4.4)

13.Alegria pelo recebimento de oferta (4.10)

14.Alegria em toda a situação (4.11)

15.Alegria pela abundância (4.18)

 

Perdendo para ganhar (Fp 1-4)

1.Perdendo a liberdade para outros ganharem coragem para pregar o evangelho (Fp 1.14)

2.Perdendo a vida para ganhar a Cristo (Fp 1.21)

3.Perdendo o céu imediato para que os irmãos ganhem maturidade (Fp 1.22-26)

4.Perdendo a primazia para que os irmãos ganhem superioridade (Fp 2.3-4)

5.Perdendo a glória e a vida para resgatar os perdidos (Fp 2.5-8)

6.Perdendo seus interesses pelos interesses dos irmãos (Fp 2.19-22, Timóteo pensava nos filipenses)

7.Perdendo a saúde para auxiliar os obreiros (Fp 2.25-30 e 4.18, Epafrodito adoeceu para levar oferta a Paulo)

8.Perdendo o lucro deste mundo para ganhar Cristo (Fp 3.7-8)

9.Perdendo a perspectiva mundana para ganhar a perfeição em Cristo (Fp 3.12-16 veja quem perde Cristo para ganhar o mundo: Fp 3.18-21)

10.Perdendo dinheiro para aprender a viver contente (Fp 4.11-13)


Pércio Coutinho Pereira, 2020 – 1ª ed. 2010

 

Notas

 

1.     1.Informações técnicas, tais como data, local e autoria tiveram como fonte o livro “Introdução ao Estudo do NT” de  Broadus David Hale, JUERP, 1983, RJ

2.A elaboração das “dificuldades e curiosidades” foi desenvolvida por Pércio Coutinho Pereira

 

2.     The Theme and Structure of Philippians, pg. 239 – Fp 1.9-11 - Robert C. Swift (Bibliotheca Sacra - July-September 1984)

3.     Notes on Philippians, pg. 20 – Fp 1.18 Dr. Thomas L. Constable (Published by Sonic Light - 2014 Edition)

4.     Paul and Christian unity: a formal analysis of philippians 2:1-4, pg. 301-302 - David Alan Black (Journal of the Evangelical Theological Society - JETS 28/3 - September 1985)

5.     Comentário Bíblico de Matthew Henry – Ef 2.5-11 (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - 3ª Edição - 2003)

6.     Comentário Bíblico Expositivo do NT, pg. 109 – Fp 3.2 – Warren W. Wiersbe (Editora Geográfica – 1ª edição 2006)

7.     Albert Barnes' Notes on the Bible – Fp 3.7 - Albert Barnes (1798-1870) (extraído de e-sword version 12.0.1 – 2019)

8.     Letra de uma canção dos Cânticos Missionários da Missão Novas Tribos do Brasil

9.     Novo Comentário da Bíblia – Fp 3.10 (Editado pelo Prof. F. Davidson, MA,DD. Editado em Português pelo Rev. D. Russell P.Shedd, MA, BD, PhD – Edições Vida Nova – São Paulo – SP – 2000)

10.  Comentário Bíblico Moody – Fp 3.12 (Editado por Charles F. Pfeiffer – Imprensa Batista Regular 4ª impressão 2001)

11.  Comentarios de la Biblia del Diario Vivir – Fp 4.6 - Compilado por Maqui, (a)  Rabí Gamaliel, 1997 EDITORIAL CARIBE - Una división de Thomas Nelson - P.O. Box 14100 (extraído de e-sword version 12.0.1 – 2019)

12.  Comentário Bíblico Popular Antigo Testamento, pg. 476 – Fp 4.17 – William MacDonald (Editora Mundo Cristão – SP – 2ª ed. junho de 2011 – impresso na China)



[1] 1.Informações técnicas, tais como data, local e autoria tiveram como fonte o livro “Introdução ao Estudo do NT” de  Broadus David Hale, JUERP, 1983, RJ

2.A elaboração das “dificuldades e curiosidades” foi desenvolvida por Pércio Coutinho Pereira

 

[2] The Theme and Structure of Philippians, pg. 239 – Fp 1.9-11 - Robert C. Swift (Bibliotheca Sacra - July-September 1984)

[3] Notes on Philippians, pg. 20 – Fp 1.18 Dr. Thomas L. Constable (Published by Sonic Light - 2014 Edition)

[4] Paul and Christian unity: a formal analysis of philippians 2:1-4, pg. 301-302 - David Alan Black (Journal of the Evangelical Theological Society - JETS 28/3 - September 1985)

[5] Comentário Bíblico de Matthew Henry – Ef 2.5-11 (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - 3ª Edição - 2003)

[6] Comentário Bíblico Expositivo do NT, pg. 109 – Fp 3.2 – Warren W. Wiersbe (Editora Geográfica – 1ª edição 2006)

[7] Albert Barnes' Notes on the Bible – Fp 3.7 - Albert Barnes (1798-1870) (extraído de e-sword version 12.0.1 – 2019)

[8] Letra de uma canção dos Cânticos Missionários da Missão Novas Tribos do Brasil

[9] Novo Comentário da Bíblia – Fp 3.10 (Editado pelo Prof. F. Davidson, MA,DD. Editado em Português pelo Rev. D. Russell P.Shedd, MA, BD, PhD – Edições Vida Nova – São Paulo – SP – 2000)

[10] Comentário Bíblico Moody – Fp 3.12 (Editado por Charles F. Pfeiffer – Imprensa Batista Regular 4ª impressão 2001)

[11] Comentarios de la Biblia del Diario Vivir – Fp 4.6 - Compilado por Maqui, (a)  Rabí Gamaliel, 1997 EDITORIAL CARIBE - Una división de Thomas Nelson - P.O. Box 14100 (extraído de e-sword version 12.0.1 – 2019)

[12] Comentário Bíblico Popular Antigo Testamento, pg. 476 – Fp 4.17 – William MacDonald (Editora Mundo Cristão – SP – 2ª ed. junho de 2011 – impresso na China)

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