Jonas
Introdução[1]
1.Em 2 Rs 14.25 encontramos a profecia de Jonas sobre a expansão do reino na época de Jeroboão II. Esta mensagem certamente o fez muito popular, mas quando Deus chamou Jonas para pregar à cidade de Nínive, a capital do Império Assírio, o profeta se rebelou. A História nos fala que os assírios eram cruéis. Tinham várias maneiras de matar seus inimigos. As quatro maneiras principais eram as
seguintes:
1.Enterrar os inimigos vivos. 2.Esfolar os inimigos vivos, arrancando-lhes a pele toda. 3.Arrancando membros da face e de outras partes do corpo. 4.A terrível prática do empalamento, em que a vítima era perfurada viva em postes agudos, e ficava debaixo do sol por vários dias até morrer de hemorragia intestinal, inanição e desidratação. |
2.O pensamento de Jonas era: “É melhor desobedecer a Deus do que ver meus inimigos salvos da destruição”. Nos quatro capítulos desse livro, Jonas escreve suas experiências e as lições que aprendeu. Esta é a autobiografia mais sincera que já existiu, onde o autor, inspirado por Deus, não protege sua imagem e suas falhas em nenhum momento. Jonas significa “pombo”.
3.Foi escrito no 8º século a.C. Jonas viveu justamente na época anterior à invasão assíria e à queda de Israel no ano 722 a.C. Jonas veio logo depois de Eliseu. Alguns não atribuem a autoria do livro a Jonas, mas a algum escritor depois de 612 a.C., data em que Nínive foi destruída. Os argumentos são os seguintes:
1.O livro não menciona que Jonas teria escrito o livro. 2.O nome do rei assírio não é mencionado. Se fosse escrito na época do ocorrido certamente teria sido mencionado. 3.Jonas é mencionado na terceira pessoa. 4.Em Jonas 3.3 é subentendido que a cidade não existe mais. |
4.Jonas foi preservado dentro de um grande peixe e pregou aos habitantes de Nínive, sendo o primeiro missionário no estrangeiro. Cristo autenticou o ministério de Jonas. Alguns comentaristas creem que Jonas, chegou a morrer dentro do ventre do grande peixe, descendo ao Hades, lugar dos mortos, e sendo ressuscitado (Jn 2.1-10, Mt 12.38-42).
5.Alguns não creem que poderia ser literal esse incidente: um homem ser engolido por um peixe e sair vivo. Uma baleia dificilmente poderia engolir um homem, porque embora seja muito grande, a abertura de sua garganta é estreita e serve para engolir crustáceos e peixes pequenos. Além disso em Jn 1.17 e Mt 12.40, a melhor tradução não é baleia, mas monstro do mar ou apenas grande peixe (dãg gãdõl), talvez um tubarão gigante. O milagre, dizem alguns, não está no fato de Jonas ter sido engolido pelo peixe, mas em ter sido vomitado vivo à praia.
6.O abdomem de um animal assim possui diversas câmaras, “sujas” com emaranhados de algas e peixes e substâncias próprias do organismo do animal, além do que, pelo enorme tamanho dos pulmões, causa uma verdadeira “ventania” e compressão dos órgãos. Facilmente Jonas poderia morrer esmagado, afogado, intoxicado ou mesmo de pneumonia. Alguns anos passados um homem foi engolido por um peixe grande e escapou com vida, embora tenha perdido toda a pigmentação de sua pele. Apesar de toda a explicação científica da possibilidade de vida para Jonas, a nossa fundamentação é na Palavra de Deus, pois diz que ele foi engolido, permaneceu no ventre do peixe, foi vomitado à praia e, recuperou-se no tempo suficiente de sair e pregar para Nínive.
7.Enquanto o profeta não é aceito em sua própria terra, em terra estranha a recepção é tão calorosa que a cidade TODA se converteu. O “sucesso” do cristianismo, também, não foi por causa dos “bons ouvidos” judaicos, mas pela receptividade gentílica.
8.Uma questão muito conturbada para muitos são as referências que afirmam que Deus NÃO SE ARREPENDE e outras que mostram DEUS SE ARREPENDENDO. A seguir um quadro que tenta esclarecer esta questão.
O arrependimento de Deus
O sentido da palavra “arrependimento” (“metanoia”) é “mudança de mente”, “mudar de ideia”. Uma questão muito confusa para alguns são as referências no VT que afirmam que Deus NÃO Se arrepende e outras que mostram Deus Se arrependendo.
Deus não Se arrepende Deus Se arrependendo Nm 23.19, 1 Sm 15.29, Sl 110.4 Gn 6.6-7, Êx 32.14, 2 Sm 24.16
EXPLICAÇÃO: A mente de Deus embora seja constante, Suas atitudes variam de acordo com o comportamento do homem (Jr 18.8, Joel 2.13).
Note, por exemplo, a condição que Deus impôs sobre Nínive (Jn 1.2, 3.4,10). Por causa da mudança de comportamento de Nínive Deus mudou (arrependeu-se) sua atitude. |
9.Dentro daquele “monstro marinho” Jonas só conseguiu ver a grandeza de Deus e a sua oração consistiu de três aspectos.
1.Gratidão por Deus ouvi-lo, mesmo estando nas profundezas do mar (2.1-6) 2.Contrição compaixão pelas almas perdidas (2.7-8) 3.Arrependimento e entrega total aos planos de Deus (2.9-10) |
10.De fato, Jonas se arrependeu no ventre do grande peixe, foi à cidade de Nínive, pregou e as pessoas se converteram, mas ele ficou irado por isso, pois o seu desejo carnal, egoístico, era ver aquele povo perverso destruído e não salvo. Jonas gostou mais da mensagem de destruição do que a mensagem de salvação. A velha natureza é capaz de levar o crente a agir dessa forma (4.1-3). Deus, por fim, dá uma grande lição missionária para Jonas, mostrando que para ele (Jonas), uma aboboreira vale mais do que cento e vinte mil almas (4.4-11).
11.Numerosos casos têm sido narrados, em épocas mais recentes, de homens que sobreviveram depois de terem sido engolidos por certos tipos de baleias. A revista Princeton Theological Review de outubro de 1927 cita dois incidentes: um foi em 1758 e o outro em 1771, de um homem que foi engolido por uma baleia, sendo depois vomitado com pequenas lesões.
“Um dos incidentes mais notáveis é narrado por Francis Fox (Sixty-three Years of Engineering), que explica que este incidente foi cuidadosamente investigado por dois cientistas (um dos quais era M.de Parville, redator científico de Journal des Debats em Paris). Em fevereiro de 1891, o baleeiro Star of the East estava perto das Ilhas Falkland, e o vigia viu uma baleia grande e a quatro quilômetros de distância. Dois escaleres foram colocados na caçada, e dentro em breve um dos arpoadores conseguiu espetar a baleia. O segundo escaler, também, atacou a baleia, mas foi virado por um golpe da cauda e os tripulantes caíram no mar. Um foi afogado, mas o outro desapareceu sem sinal, seu nome era James Bartley. Depois de morta a baleia, a tripulação começou a trabalhar na remoção da gordura com machados e pás. Trabalharam o dia inteiro e durante parte da noite. No dia seguinte, fixaram ganchos na barriga, levando-a para o convés. Os marinheiros foram surpreendidos por algo lá dentro que dava sinais espasmódicos de vida, e logo descobriram o marinheiro perdido, engolido e desmaiado. Foi colocado no convés, e deram-lhe um banho de água do mar, que logo o despertou. No fim da terceira semana, tinha se refeito completamente do susto, voltando aos seus deveres... seu rosto, pescoço e mãos tinham sido alvejados até ficar um branco doentio, com a aparência de pergaminho. Bartley afirma que, provavelmente, teria continuado a viver dentro da sua ‘casa de carne’ até morrer de fome, porque seu desmaio foi causado por medo e não por falta de ar”.
12.Em Jonas 3.3 diz que para percorrer essa cidade levava três dias. A arqueologia registra que era uma cidade de cerca de 130 quilômetros de circunferência e seus muros cercavam jardins e pastagens.
13.Alguns comentaristas afirmam que o número de 120 mil pessoas que “não sabem discernir entre a mão direita e a mão esquerda” refere-se às crianças. Pusey calcula a população total de Nínive em 600 mil habitantes (Jn 4.11).
14.Esboço simples
I.A desobediência de Jonas - a lição da paciência de Deus (1) II.O arrependimento de Jonas - a lição do perdão de Deus (2) III.O arrependimento dos habitantes de Nínive - a lição do poder de Deus (3) IV.A rebelião de Jonas - a lição da misericórdia de Deus (4) |
Capítulo 1: Um crente em desobediência a Deus
1.Há muito que ser visto em Jonas capítulo 1, talvez o aspecto missionário seja o primeiro aspecto que se apresente como o mais óbvio. Porém, há três usos e costumes neste capítulo que vale a pena observar para entender melhor a mentalidade da época e dos pagãos. Tanto dos ninivitas quanto dos marinheiros. Há muitos usos e costumes entre a nossa sociedade que giram em torno de assuntos espirituais e superstição. Fazer o sinal da cruz, não passar debaixo de uma escada, dizer “saúde” quando alguém espirra, bater as taças para fazer “Tim-tim” e muitos outros usos e costumes. Enquanto estudamos os usos e costumes, também estudaremos a clássica chamada missionária de Jonas e sua fuga da vontade de Deus. Deus quis alcançar os ninivitas pagãos através de Jonas, que quer dizer pombo. Deus quer alcançar os povos através de seus filhos que estão na Igreja. Para alcançar os povos temos de enfrentar os seus usos e costumes não tão agradáveis para nós. Alguns são bem ridículos em nossa concepção, mas para eles tem sentido espiritual. Por que, por exemplo, alguns índios recolhem sua escada antes de dormir em suas casas acima do nível do chão? Para eles é de grande valor, pois acreditam que os espíritos maus sobem pelas escadas para buscar seus filhos (v.1)
2.Para alcançar os ninivitas Jonas deveria denunciar os terríveis usos e costumes bárbaros deles. Aqui é chamado “malícia”, ou seja, a malignidade, a crueldade e toda a perversidade. Deus rejeitava os seus usos e costumes. A obra missionária indígena sofre muita perseguição porque muitas pessoas da nossa civilização querem que os nativos continuem com seus costumes bárbaros de feitiçaria, sacrifícios humanos, mutilação e outras perversidades. Nínive era a capital da Assíria, um poderoso império da época. Uma cidade de cento e vinte mil homens, talvez com uma população total de quinhentos mil habitantes (Jn 4.11). A malícia dos ninivitas era de idolatria, assassinato, tortura e mentira (Jn 3.8, Na 3.1). Os ninivitas praticavam costumes bárbaros com os seus cativos. Arrancavam pele de seus prisioneiros, deixando-os morrer em agonia, mutilavam seus órgãos, arrancavam os olhos, nariz e orelhas. Essa crueldade era um costume que não motivava o profeta Jonas a pregar ali, seja por medo, seja por ódio e repugnância (v.2).
3.Jonas não estava disposto a pregar para um povo com costumes tão bárbaros. O crente tem todo o direito de não apreciar os costumes pagãos, mas se Deus mandá-lo pregar ali, o crente não pode desobedecer. Jonas se dispôs, mas para fugir. É difícil arrumar dinheiro para a obra de Deus, mas para fugir da obra de Deus as pessoas conseguem dinheiro. O profeta Jonas não estava fugindo da missão somente, mas estava fugindo do próprio Deus. Ninguém pode se esconder de Deus. Há muita repugnância nos costumes pagãos, mas se a Igreja do Senhor Jesus Cristo quiser cumprir a ordem da Grande Comissão terá de segurar o seu vômito e pregar o evangelho libertador a esses povos (v.3).
4.Os pagãos precisam da Igreja, pois de outra maneira nunca conhecerão a verdade do Evangelho. Deus queria usar Jonas e não desistiu dele, mesmo que ele desistiu de Deus. Aquela tempestade era para trazer Jonas de volta ao plano original de Deus. O Senhor está atrás de alguns servos desobedientes. Isto é misericórdia (v.4).
5.Aqui vemos um costume dos pagãos, o de clamar aos seus deuses. Em toda a história da humanidade, os homens aprenderam a clamar para entidades espirituais que eles mesmos criaram. Parece que nesse navio havia vários povos representados de diferentes nações. O único Deus verdadeiro não tolera a idolatria, por isso, é um costume que deve ser impedido através do ensino da Palavra de Deus e não através de nossas regras. Apesar de seus costumes e sua fé em deuses falsos, eles agiram de modo a saírem daquela situação desastrosa. Aliviaram a carga do navio. Jonas não estava preocupado com aquilo, aliás não estava preocupado nem com a própria vida. Um servo de Deus que sabe que pessoas estão clamando a deuses falsos e nada faz é muito indiferente e está em pecado. Não podemos dormir, enquanto pessoas morrem. Elas querem a ajuda do Deus verdadeiro. Será que os perdidos precisam avisar que eles estão perdidos e desesperados ou podemos ver isto por nós mesmos lendo a Palavra de Deus? (v.5-6).
“Jonas dormia profundamente. O pecado deixa a pessoa completamente tonta, e temos que considerar isto para que não suceda que, a qualquer momento, os nossos corações sejam endurecidos pelo engano que dele procede. O que é que os homens querem dizer, quando referem-se ao sono como a um pecado, quando a Palavra de Deus e as acusações de suas próprias consciências lhes advertem que se levantem e clamem ao Senhor, se quiserem escapar da miséria eterna? Não deveríamos nos advertir uns aos outros para que despertássemos, nos levantássemos e clamássemos ao Senhor nosso Deus, a fim de que Ele nos livre conforme a sua vontade?”[2]
6.Outro costume dos pagãos era lançar sortes para saber quem era o culpado. É claro que Deus não abençoa esta prática, mas aqui Deus permitiu para que Jonas se envergonhasse. O povo de Deus se utilizou dessa prática, mas Deus deixou em Sua Palavra bem claro que a sorte pode ser lançada, mas a direção certa vem Dele (ver Pv 16.33). Que vergonha para o crente quando em vez de ser luz está sendo culpado de pessoas se perderem. A vida do crente só serve se glorifica a Deus e ajuda as pessoas, senão não há razão dele viver (v.7).
7.Os pagãos têm o costume de clamar aos seus deuses falsos, mas não conseguem explicar a razão da existência, das calamidades e das doenças. Para eles tudo tem significado espiritual e neste caso estavam certos. Aquela tempestade era por causa da desobediência de Jonas. Aqueles homens fizeram uma verdadeira inquisição. Queriam saber tudo sobre o profeta fugitivo. A resposta de Jonas era digna, mas a situação era humilhante. Se ele era temente a este Deus criador do céu, do mar e da terra, ele deveria agir com mais temor (v.8-9).
8.Os pagãos são muito temerosos quanto aos assuntos espirituais, faz parte dos costumes deles. Agora, muito mais, sabendo que o Deus criador do céu, do mar e da terra estava fazendo aquilo. Até os pagãos estavam temendo a Deus e Jonas, o profeta de Deus, que devia fazer a vontade Dele estava fugindo. O costume de clamar a deuses falsos e lançar sortes é a demonstração de desespero em que se encontram as pessoas sem Cristo. Precisamos ir até elas e apresentar o Deus verdadeiro (v.10).
9.Um servo de Deus é reconhecido mesmo quando está em desobediência. Jonas era o único que podia dar esperança para aqueles pagãos, ainda que lhe custasse a própria vida. Triste estado do profeta! Ter que reconhecer publicamente, e diante dos incrédulos, a sua desobediência! Não precisamos passar por essa humilhação. Devemos servir ao Senhor e não esperar que algo trágico aconteça para, então, obedecermos (v.11-12).
10.Os homens não queriam sacrificar Jonas, pois vemos que se esforçaram muito para resolver a situação de modo pacífico. Às vezes, a nossa desobediência é facilmente resolvida com uma simples confissão a Deus somente; outras vezes, não é tão fácil assim. Agora clamaram ao Deus verdadeiro. Os incrédulos passam a imitar os crentes, mesmo não tendo conhecimento da revelação de Deus. É o reconhecimento de que Deus atua em nossas vidas e mais a ineficácia de seus deuses falsos. Os pagãos sabiam que jogá-lo no mar com aquela tempestade era morte certa e não queriam ser culpados da morte de um profeta do Deus verdadeiro. Os incrédulos já carregam culpa suficiente e não precisam carregar a nossa culpa. Devemos obedecer a Deus e nos responsabilizar pela pregação do evangelho a todos os povos (v.13-14).
11.Talvez os povos não conheçam o Deus verdadeiro por culpa de profetas fugitivos. Deus quer usar os seus servos para a expansão do Evangelho, mas alguns estão fugindo da responsabilidade de irem, contribuírem e orarem. Seria bom não ter esses crentes desobedientes em nosso meio e a paz e a obediência reinariam, mas não podemos esquecer que esses crentes desobedientes, em certa medida, somos nós próprios. Os pagãos têm o costume de oferecer sacrifícios aos seus falsos deuses, mas aqui mesmo tendo um conhecimento imperfeito do Deus verdadeiro, o que sabiam Dele já era o bastante para oferecer sacrifícios e prometeram obediência através de votos. Jesus disse que nações se levantarão e testificarão contra o povo de Israel, pois se fizessem os sinais que os judeus tiveram eles há muito teriam crido. Esses pagãos só precisam ouvir a mensagem salvadora de Jesus Cristo e a Igreja só precisa levar essa mensagem, os resultados virão com a atuação do Espírito Santo (v.15-16).
12.Quanto ao profeta Jonas a sua situação piorou e esta é outra parte da história. Os povos de diferentes crenças têm usos e costumes bárbaros, além da prática da idolatria. Eles estão aguardando uma mensagem melhor que lhes dê sentido nesta vida sem esperança. A Igreja deve enfrentar com coragem esses usos e costumes e levar-lhes a mensagem de Salvação. Quem não obedece, foge (v.17).
Um crente em desobediência a Deus (Jn 1) 1.Ele foge (v.1-3) 2.Ele tem um falso descanso (v.4-6) 3.Ele prejudica os que estão ao seu redor (v.7-10) 4.Quando ele reconhece que é um estorvo aos demais, a situação melhora para os prejudicados (v.11-17) |
Capítulo 2: A oração e o que ela revela sobre o homem
1.A oração mais fervorosa é aquela que o homem angustiado faz. As cavernas, os vales, os leitos de hospitais e as entranhas do peixe produzem as mais calorosas orações. Jonas que havia desobedecido a Deus e o admitiu, precisava agora dizer o que realmente estava no seu coração. Embora a oração da angústia não seja uma garantia de que o homem consertará o seu caminho, ela abre uma oportunidade de uma intimidade maior com Deus para buscá-Lo de verdade e faz o homem se esquecer de quem ele é e do que ele quer, exceto o livramento da angústia. A aflição extrema nos faz orar sem dificuldade. A angústia da alma abre mão do sono, da comida, dos amigos, das diversões e do orgulho. A angústia se esquece até mesmo do que levou o sofredor até aquele estado para clamar somente a Deus por Sua misericórdia. A angústia revela um homem que ora fervorosamente e a oração revela um homem que sofre de angústia. Quando angustiado, o homem reconhece que está profundamente afundado e oprimido. Quando seguro de si mesmo e sem angústia de alma, o homem se acha acima das ondas e senhor dos mares das situações da vida. Não é mal se sentir angustiado, se é para encontrar o Senhor nas profundezas do mar (v.1-3).
2.Ninguém que não se sente abandonado ora com fervor. As nossas orações mais sinceras estão ligadas a um senso de abandono. Nenhuma criança se lembra de seu pai quando está se divertindo com outras crianças. Os pesadelos e terrores noturnos é que fazem a criança correr para a cama de seus pais. Ninguém busca proteção quando se sente protegido. Ninguém busca companhia quando está rodeado da presença de amigos. Ninguém busca ao Senhor de verdade quando não se sente abandonado. Jonas se sentia jogado da presença de Deus e de Sua casa de adoração. Para quem estava fugindo para bem longe da Assíria e de Jerusalém, ele está com muita saudade do Templo. A igreja se torna refúgio para o crente sofredor. Talvez seja por isso que alguns abandonam a congregação, porque não se sentem totalmente abandonados no seu dia a dia. Talvez seja por isso que alguns não se debruçam diante da Palavra de Deus, porque não se sentem totalmente abandonados de Deus, mas não porque estejam muito íntimos de Deus e sim porque estão satisfeitos com suas próprias atividades e maneira de resolver os problemas da vida (v.4).
3.O maior abandono de Jonas não era de amigos ou de sua terra, pois ele era um fugitivo que queria se isolar de tudo e de todos. O maior abandono de Jonas era o da alma. Ficar sozinho com a própria alma é o maior senso de abandono, pois não sabemos como lidar com os problemas da alma. As atividades, diversões e rotina são um entorpecente da alma. Quando Deus nos abandona ou nos isola com a nossa própria alma através de alguma doença, algum desprezo ou tristeza, não sabemos como lidar com essa parte tão misteriosa do nosso ser. É por isso que os chamados “médicos da alma”, os psicólogos, são tão procurados, pois as pessoas não sabem o que fazer com uma alma silenciosa e abandonada. A sensação de abandono nos faz dobrar os joelhos e buscar o amado de nossa alma, Jesus. Ninguém ficará abandonado ao buscar ao Senhor, pois nosso nome está escrito na palma da mão Dele. Quando as pessoas precisam guardar uma informação importante elas escrevem até na mão para não se esquecerem. Deus não nos abandona, mesmo que uma mãe chegar a abandonar um filho (v.5-6 ver também Isaías 49.15-16).
4.Jonas, em sua angústia e abandono, buscou ao Senhor e creu que, mesmo não podendo estar no Templo, Deus levaria suas orações. A nossa oração chega até o Senhor, não importa onde estejamos. Nem sempre podemos estar com os irmãos ou com a Bíblia aberta, mas sempre o Senhor está pronto a ouvir o nosso clamor (v.7).
5.Nos momentos de oração íntima com Deus é que nos lembramos de que não vale a pena a busca de outro recurso que não seja Ele mesmo. Os ídolos não trazem a misericórdia de Deus até nós, mas só a afastam. Talvez Jonas estivesse pensando nos ninivitas e na idolatria daquele povo. Quem sabe ele estivesse prometendo ao Senhor que se saísse do ventre do grande peixe iria até Nínive e pregaria. Fazemos muitos votos quando estamos em situações difíceis. As camas de hospitais já ouviram muitas promessas de pessoas que prometeram para si mesmas, para os parentes e para Deus que se tornariam pessoas melhores ao saírem dali. Muitas promessas de novos missionários saíram dos hospitais, mas quantas dessas promessas foram cumpridas? Descobrimos na oração de angústia que somos ingratos ao Senhor e queremos resolver nossas pendências para com Ele. Algumas dessas orações são sinceras, mas outras são apenas uma tentativa de barganhar com Deus. De qualquer maneira, as aflições e as orações que elas provocam têm o poder de nos revelar como somos ingratos pelas coisas boas que Deus tem-nos dado (v.8-9).
6.Em algumas situações, Deus ouve nossas orações da maneira que desejamos, porém, outras vezes, precisamos aprender que não é como pensamos, mas como Deus quer. O objetivo das orações não deveria ser a fuga ou a libertação da aflição em si, mas um redescobrimento da nossa comunhão com Deus. Alguns que nem íntimos eram de Deus em oração aprenderam através dos sofrimentos. Outros que praticavam a devocional, mas se esfriaram, retornaram a esse tempo precioso através das angústias. Ainda há aqueles que jamais deixaram de seu tempo devocional, mas começaram a achar que Deus os abençoava por causa desse tempo, tiveram que aprender, através dos sofrimentos, que são as misericórdias de Deus, e não nossa oração em si, que nos mantêm vivos espiritualmente. O fato é que depois de sermos vomitados pelo grande peixe deveríamos nos tornar crentes mais conscientes da Pessoa de Deus e de Sua misericórdia (v.10).
“Jonas não tinha orado durante a tempestade e os marinheiros clamaram freneticamente aos seus deuses. Agora ele sentia o desespero de sua situação.... Obviamente a oração não foi escrita enquanto Jonas se encontrava dentro do peixe orando. Ela está toda no tempo passado, indicando o fato de ter sido registrada depois da experiência... Jonas pelo menos sabia a quem devia orar. Os marinheiros tinham os seus próprios e variados deuses mas os abandonaram quando descobriram como o Senhor era poderoso. Jonas, entretanto, sempre conhecera o verdadeiro Deus. Essa era a sua dificuldade. Ele sabia que Deus se preocupa com o homem e mesmo assim tinha fugido Dele. Agora que se encontrava em perigo, foi esse mesmo ar mor divino cheio de compreensão que o levou de volta a Deus.”[3]
A oração e o que ela revela sobre o homem (Jn 2) 1.Revela que o homem sofre de angústia de alma (v.1-3) 2.Revela que o homem sofre de uma sensação de abandono (v.4-6) 3.Revela que o homem sofre de ingratidão (v.7-10) |
Capítulo 3: Uma nova oportunidade para Jonas e para Nínive
1.Jonas teve uma segunda oportunidade que se assemelha à segunda oportunidade de vida, pois ele estava praticamente morto, dentro do ventre do grande peixe e Deus o perdoa da desobediência e o chama novamente para pregar a Nínive. Isto não significa que Jonas mudou de atitude completamente, pois vemos no final do livro a sua rebeldia surgindo novamente. As pessoas que fazem suas promessas e votos a Deus numa cama de hospital nem sempre mantêm seus planos quando saem de situações de aflição. A cidade era de mais ou menos 99 km, pois uma jornada de um dia são 33 km. Jonas não gastou 1 dia, mas o livro relata que já no primeiro dia ele pregava a mensagem de juízo ordenada por Deus. O tempo para a cidade se arrepender era generoso, 40 dias (v.1-4).
2.A cidade provavelmente não precisou dos 40 dias, mas logo ao ouvir a mensagem os habitantes se arrependeram. Até o soberano da nação aceitou a mensagem e mostraram nas vestimentas e no jejum que estavam lamentando os seus pecados diante de Deus. Os animais refletiram que a cidade estava em prantos. Eles admitiram diante de Deus que eram violentos. Deus se arrependeu do mal que faria à cidade, ou seja, mudou de ideia e não mais destruiria Nínive. O arrependimento de Deus, neste caso, se deu porque a nação aceitou a advertência de Deus. O arrependimento é uma mudança de mente em relação a algum assunto. Sendo que Deus deu a oportunidade de arrependimento à cidade e a cidade reagiu positivamente, então, Deus deixou de exercer a punição para presentear a nação com a misericórdia. Assim acontece em todas as épocas e entre todos os povos. A mão do Senhor jamais punirá o contrito de coração (v.5-10).
“Note-se a curiosa inclusão dos animais nesse jejum (7)... Jl 1.19-20. Os próprios animais do campo, que clamam ao Senhor, são objetos de Sua compaixão, conforme as últimas palavras do livro de Jonas nos informam.”[4]
Uma nova oportunidade para Jonas e para Nínive (Jn 3) 1.A mesma ordem e a mesma mensagem (v.1-4) 2.A mesma atitude de quem se converte (v.5-8) 3.A mesma misericórdia de Deus quando o pecador se converte (v.9-10) |
Capítulo 4: Descontentamento com as bênçãos de Deus
Jonas é o exemplo dos segredos do coração de muitos missionários cansados. Ele não conseguiu sentir alegria na conversão em massa do povo de Nínive. Ele sabia que isso aconteceria, pois conhecia o caráter misericordioso de Deus, inclusive ele foi alvo da bondade do Senhor. Jonas se cansou de viver. Ele não mais aguentava carregar o peso da hipocrisia. Deus o confrontou com este sentimento, mostrando o quão irracional estava sendo Jonas. Apesar da ira injustificada de Jonas, ele esperava a destruição da cidade. Embora ele tenha visto o arrependimento da cidade, talvez pensasse que não fosse genuíno. Deus ainda foi tão paciente com Jonas que o cobriu de sombra, mas não daria o prazer maligno para ele de ver a cidade de Nínive ser destruída. O Senhor mostrou que pode dar o bem, a sombra, mas também pode desfazer dela. Tudo vem do Senhor, mas Jonas só aceitava o bem. Ele preferia morrer a deixar de usufruir do prazer daquela sombra. Deus tentou mostrar a Jonas como ele estava sendo irracional, mas ele estava obstinado. Nem parecia o mesmo homem que orava de modo piedoso dentro do ventre do grande peixe. Assim somos nós em leitos de hospital, na cama da doença, nas dificuldades financeiras. Achamos que poderíamos sair das aflições pessoas melhores, mas nos deparamos com nosso egoísmo. Precisamos da misericórdia constante do Senhor. As pessoas não eram mais importantes para o missionário Jonas. A paixão pelas almas que se perdiam não afetava mais o seu coração. Roguemos ao Senhor da seara que mande mais trabalhadores para a Sua seara, mas também roguemos que Ele mantenha viva a chama missionária em nosso coração (v.1-11).
“… Jonas tem alternativas claramente definidas, pregar a Nínive ou rejeitar a ordem de Deus e sofrer o castigo. Embora ele tenha finalmente optado pela primeira, ele também enfrentou mais tarde a segunda alternativa, sua obstinação sempre frustrando o íntimo relacionamento buscado pelo Deus de amor. Esse orgulho persistente é o que Yavé mais detesta e é o que faz de Jonas uma personagem trágica.”[5]
Quando não estamos contentes com as bênçãos de Deus (Jn 4) 1.Irritamo-nos com a paciência de Deus para com o pecador (v.1-2) 2.Cansamo-nos da vida (v.3-4) 3.Esperamos o mal para as pessoas (v.5) 4.Tornamo-nos hedonistas, vivendo somente para os prazeres momentâneos (v.6-8) 5.Discutimos com Deus de modo irracional (v.9-11) |
Pércio Coutinho Pereira, 2020 – 1ª ed. 2015
Notas
1. Introdução
1.Explore the book - J.Sidlow Baxter
2.Merece confiança o AT? - Gleason L.Archer, Jr
3.Manual Bíblico - H.H.Halley
4.Estudo Panorâmico da Bíblia - Henrietta C.Mears
5.Christian Workers' Commentary on The Old e New Testaments - James M.Gray
6.Análise Bíblica Elementar - James M.Gray
7.O livro dos livros - H.I.Hester
8.Conheça sua Bíblia - Júlio Andrade Ferreira
9.A História de Israel - Samuel J.Schultz
10.Através da Bíblia - Myer Pearlman
11.Introdução ao Velho Testamento - H.E.Alexander
12.De Adão a Malaquias - P.E.Burroughs
13.O Novo Dicionário da Bíblia
14.Bíblia anotada pelo Dr. Scofield
15.Expository outlines on Old Testament - Warren W.Wiersbe
16.A Short introduction to the Pentateuch - G.Ch. Aalders
17.Comentários da Bíblia Vida Nova
2. Comentário Bíblico de Matthew Henry - Jonas, pg. 2 – Matthew Henry (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - 3ª Edição - 2003)
3. Comentário Bíblico Moody , pg.10-11 - editado por Everett F. Harrison (IBR – São Paulo – SP – 4ª impr. 2001)
4. Novo Comentário da Bíblia, pg.15 (Editado pelo Prof. F. Davidson, MA,DD. Editado em Português pelo Rev. D. Russell P.Shedd, MA, BD, PhD – Edições Vida Nova – São Paulo – SP – 2000)
- Death in Life: The Book of Jonah and Biblical Tragedy, pg. 16 - Branson L. Woodard (Grace Theological Journal vol. 11 Primavera de 1990)
[1] 1.Explore the book - J.Sidlow Baxter
2.Merece confiança o AT? - Gleason L.Archer, Jr
3.Manual Bíblico - H.H.Halley
4.Estudo Panorâmico da Bíblia - Henrietta C.Mears
5.Christian Workers' Commentary on The Old e New Testaments - James M.Gray
6.Análise Bíblica Elementar - James M.Gray
7.O livro dos livros - H.I.Hester
8.Conheça sua Bíblia - Júlio Andrade Ferreira
9.A História de Israel - Samuel J.Schultz
10.Através da Bíblia - Myer Pearlman
11.Introdução ao Velho Testamento - H.E.Alexander
12.De Adão a Malaquias - P.E.Burroughs
13.O Novo Dicionário da Bíblia
14.Bíblia anotada pelo Dr. Scofield
15.Expository outlines on Old Testament - Warren W.Wiersbe
16.A Short introduction to the Pentateuch - G.Ch. Aalders
17.Comentários da Bíblia Vida Nova
[2] Comentário Bíblico de Matthew Henry - Jonas, pg. 2 – Matthew Henry (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - 3ª Edição - 2003)
[3] Comentário Bíblico Moody , pg.10-11 - editado por Everett F. Harrison (IBR – São Paulo – SP – 4ª impr. 2001)
[4] Novo Comentário da Bíblia, pg.15 (Editado pelo Prof. F. Davidson, MA,DD. Editado em Português pelo Rev. D. Russell P.Shedd, MA, BD, PhD – Edições Vida Nova – São Paulo – SP – 2000)
[5] Death in Life: The Book of Jonah and Biblical Tragedy, pg. 16 - Branson L. Woodard (Grace Theological Journal vol. 11 Primavera de 1990)
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